Este documento faz parte do Repositório Institucional do Fórum Social Mundial Memória FSM memoriafsm.org
FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO NA ARGENTINA BREVE RELATO <b>a crise do neoliberalismo na Argentina e os desafios para o movimento global</b> <b><i>emilio Tadei CLACSO (membro do Comitê Organizador FStA) </b></i> O Fórum Social temático Argentina, realizado em Buenos Aires entre os dias 22 a 25 de agosto, constituiu o primeiro passo no processo de internacionalização do Fórum Social Mundial e terá continuidade durante o ano 2002 com a realização de outros fóruns temáticos, nacionais e regionais. O sucesso do FSt Argentina constitui um claro indício da legitimidade política que tem cobrado, em um nível internacional, a luta contra a mundialização neoliberal e, em particular, o Fórum Social Mundial como processo de articulação dos movimentos e organizações sociais. A proposta de realizar um Fórum Temático na Argentina surgiu do Comitê Internacional do FSM perante a necessidade de denunciar a catástrofe social produzida por duas décadas de permanentes políticas neoliberais, assim como também difundir, a nível internacional, a riqueza das experiências de luta e resistência das organizações populares argentinas. Essa proposta foi recebida de forma entusiástica pelo Comitê de Mobilização do Fórum Social Mundial na Argentina quem teve sob a sua responsabilidade a organização do mesmo. Baseado na discussão realizada no seio do Comitê de Mobilização na Argentina do FSM e com a conformidade dos representantes do Comitê Internacional do FSM, o Fórum temático na Argentina teve por objetivos analisar a crise do regimen político, econômico e social neoliberal na Argentina e difundir internacionalmente as experiências de resistência e luta popular em nosso pais, promover os processos de convergência e articulação dos diferentes movimentos e organizações sociais e populares na Argentina, estreitar os vínculos entre representantes do movimento internacional e a Argentina, promover a articulação das lutas continental contra a ALCA. O processo de "construção" e organização do FSM na Argentina inspirou-se nos princípios de horizontalidade e pluralidade que animam o FSM promovendo a participação e o debate democrático de todas as organizações e indivíduos que somaram-se a esta construção coletiva. Este espírito de democracia e pluralidade que caraterizou a organização do Fórum na Argentina foi, sem dúvida, uma das claves do sucesso do mesmo. Memória FSM memoriafsm.org 1
Mais de 600 organizações sociais, movimentos, coletivos, sindicatos e ONG's aderiram à convocatória do FSM na Argentina e somaram seus esforços para a organização do mesmo. Durante o processo de organização o Comitê de Mobilização do FSM na Argentina viu-se enriquecido com a participação de vários coletivos juvenis, assembléias de bairro e movimentos de trabalhadores desempregados ("piqueteiros") que somaram seus esforços sob a consigna que "um outro mundo e outra Argentina são possíveis". <b>a primavera de Porto Alegre em Buenos Aires</b> A maciça participação na marcha de abertura do FSM na Argentina antecipou a numerosa presença durante os quatro dias do Fórum que ultrapassou as expectativas do Comitê de Mobilização na Argentina. Sob as bandeiras "Não ao neoliberalismo, Não à ALCA" mais de 10.000 pessoas percorreram as ruas de Buenos Aires compreendidas entre a Praça de Maio e a Praça Houssay, coração das atividades do FSM na Argentina. A grande participação de delegações de América Latina e internacionais foi um claro sinal da solidariedade com as lutas argentinas e do interesse gerado pela crise argentina no mundo todo. Um maciço ato realizado na Praça Houssay abriu formalmente o Fórum com a participação de João Felício (Brasil) e Evo Morales (Bolívia) - entre outros delegados internacionais - que manifestaram a sua solidariedade com as lutas do povo argentino. Durante os três dias (sexta, sábado e domingo) mais de 20.000 pessoas participaram nas mais de 300 atividades e oficinas auto-geridas organizadas pelas organizações que convocaram o evento. Durante as noites da sexta feira 23 e sábado 24 milhares de pessoas assistiram aos 10 paneis centrais realizados nas Faculdades de Ciências Sociais, Medicina, Farmácia e Odontologia da Universidade de Buenos Aires e na barraca central do Fórum. Esses paneis estiveram direcionados a analisar as causas e conseqüências da crise na Argentina e as resistências e as alternativas que foram expostas e analisadas por militantes de organizações sociais da Argentina e por delegados internacionais. A participação de representantes de organizações africanas, asiáticas e européias nas mesas de debate contribuiu para a ampliação das discussões para uma esfera mais global, trazendo para o FSM na Argentina algumas das questões que pautarão os Fóruns Sociais regionais da Ásia e da Europa, como o recrudescimento das campanhas militares dos Estados Unidos em muitos países asiáticos sob pretexto de combate ao terrorismo e o fortalecimento da direita européia. Memória FSM memoriafsm.org 2
Além do evento em Buenos Aires, também ocorreram atividades descentralizadas nas províncias de San Luis, Entre Ríos, Santa Fe, San Juan, Corrientes e Chaco, mas avaliase que todas as províncias foram representadas no FSM na Argentina através da participação de numerosos delegados. Os espaços de discussão foram compartilhados por grupos indígenas, sindicalistas, desempregados, feministas, professores, pequenos empresários, estudantes, cujas experiências e expectativas enriqueceram os debates, intercâmbios e articulações que tiveram lugar no Fórum. Numerosas atividades culturais (música, teatro, vídeo, fotografia, etc. ) organizadas por coletivos juvenis colocaram de manifesto a riqueza da produção cultural alternativa surgida da experiência das lutas sociais nos últimos tempos. Em um clima de fraternidade e solidariedade foram apresentadas e discutidas um incontável número de experiências sociais alternativas surgidas como respostas populares à crise do modelo neoliberal. As experiências de fábricas auto-geridas pelos trabalhadores, a produção pública de medicamentos, os empreendimentos solidários dos agrupamentos de trabalhadores desempregados, a luta contra os transgênicos, as experiências de auto-organização social das assembléias populares nutriram os debates ao redor da construção de uma sociedade solidária. A Assembléia Nacional contra a ALCA, realizada o dia Sábado 23 na Faculdade de Medicina, constituiu uma inestimável ocasião para a discussão sobre as modalidades que adotará a campanha contra a ALCA na Argentina e sua articulação com as campanhas no restante dos países da América Latina. Essa Assembléia, que contou com a participação de numerosos companheiros da América Latina, avançou na articulação de iniciativas e ratificou a importância das Jornadas de Resistência Continental contra a ALCA que se desenvolverão de 27 de outubro a 1 o de novembro 2002 na cidade de Quito, Equador. A luta contra a ALCA - enquanto principal estratégia norte-americana de domínio econômico da América Latina-, a militarização dos conflitos sociais, como o plano Colômbia, e a intensificação das campanhas militares norte-americanas no resto do continente, e o debate sobre o não pagamento da dívida externa dos países em desenvolvimento constituem eixos muito importantes de uma nova articulação latinoamericana. A Assembléia de Movimentos Sociais que encerrou os debates do FSM na Argentina o dia Domingo 25, juntou os múltiplos debates que tiveram lugar durante os três dias do Foro e ratificou a importância de consolidar os espaços de convergência das lutas e dos movimentos sociais. Mais de 60 companheiros e companheiras de diferentes movimentos e regiões do pais e do exterior fizeram uso da palavra, enriquecendo o debate sobre as lutas e as alternativas ao neoliberalismo. Além da ratificação da importância da luta continental contra a ALCA, acordou-se na necessidade de consolidar a experiência do Fórum Social Mundial na Argentina e de aderir à Memória FSM memoriafsm.org 3
mobilização do 30 de agosto sob o lema "Que saiam todos", exigindo a renovação de todos os mandatos para as próximas eleições nacionais na Argentina. Ao som da música do Fórum Social Mundial na Argentina, os delegados internacionais saudaram o sucesso do Fórum com o compromisso de nos reencontrarmos nos próximos encontros da convergência regional e internacional. Os resultados da primeira experiência de uma grande atividade do processo Fórum Social Mundial fora do Brasil superou todas as expectativas e foi um passo fundamental na concretização de sua mundialização e do fortalecimento das lutas de seus participantes em todos os níveis (local, latino-americano e mundial). <b>mais informações</b> e a cobertura em espanhol das diversas atividades podem ser encontradas no site do FStA, <a href="http://www.forosocialargentino.org">www.forosocialargentino.org</a> ou diretamente no site <a href="http://www.lavaca.org">www.lavaca.org</a> Memória FSM memoriafsm.org 4