INTRODUÇÃO A atividade agrícola é considerada um marco na história da humanidade. No entanto hoje na maior parte do mundo a agricultura, como base da vida social e econômica, vem sendo repensada. Para Graziano da Silva (1998) a agropecuária moderna e a agricultura de subsistência dividem espaços com um conjunto de atividades ligadas ao lazer, turismo, moradia, prestação de serviços e até a indústria, reduzindo cada vez mais os limites entre o rural e o urbano no País. O meio rural brasileiro, e em particular no Estado de São Paulo, não deve mais ser considerado somente como um espaço de produção agropecuária. A crescente diversificação das atividades agrícolas necessita estar presente no espaço rural do País, e de maneira orientada deve-se dar oportunidade para que o interessado e dono de terras desenvolva suas atividades de maneira a preservar o meio ambiente, favorecendo empregos. O turismo, se visto como elemento de integração da população urbana ao meio rural, com vistas ao enriquecimento humano de ambas as partes, tendo como base a reconstrução, manutenção e valorização do patrimônio natural e cultural, contribui no respeito aos valores biológicos, físicos e culturais do espaço promovendo, assim, a cooperação entre municípios e aumentando os intercâmbios e contatos sócio-culturais em geral. O turismo aqui é enfatizado como uma nova fonte de investimentos para o produtor gerar empregos e diversidade qualitativa em áreas com desemprego, como as rurais, devendo ser encarado como uma possibilidade real e atual. Para redescobrir a paisagem rural é preciso mostrar ao visitante um local que lhe sugira lazer alternativo, paisagem contemplativa e que lhe dê oportunidade de conhecer o que se passa naturalmente no meio rural. A sociedade vai ser levada a valorizar a paisagem rural como estratégia de desenvolvimento local, uma vez que o comportamento atualmente dominante é tratar o rural apenas como um resto nãourbano (Veiga et al. 1997). O processo de uso deste espaço com outras atividades que não a agropecuária ganha importância em um contexto em que o ritmo de vida urbana, em condições de crescente deterioração da qualidade de vida, tem atribuído ao campo um valor ecológico e até mesmo um valor às raízes. É fundamental que os órgãos governamentais se preocupem com políticas ambientais e de planejamento do uso do meio rural promovendo o bem social e o desenvolvimento ordenado do território. Várias causas concorrem para que o setor agrícola do Vale do Paraíba esteja em processo de decadência. Dentre elas estão o descaso do poder público local; ocupação desordenada do espaço rural 1
(antes plantações de arroz, hoje portos de areia); a evasão do homem do campo por falta de política agrícola definida somando-se a esta a falta de capacitação para enfrentar o mercado globalizado. O Município de Caçapava vem enfrentando sérias dificuldades sócio-econômicas e ambientais, necessitando planejar o seu futuro para crescer em qualidade e promover o desenvolvimento ordenado do território, para, assim, garantir melhor qualidade de vida aos seus moradores com vistas ao resgate do patrimônio histórico do Município, respeitando os espaços rurais e naturais. Caçapava, que atrai indústrias de grande porte, é a mesma cidade que com hospitalidade, e ainda sem grandes marcas de violência, serve de cenário para o lazer dos moradores e vizinhança e abriga manifestações locais, principalmente no mercado municipal onde se encontram cesteiros, figureiras, farinheiras, raizeiros além dos produtos do campo. Há preocupação com o futuro do Município e o estado das áreas rurais e naturais em 10, 20 ou 30 anos? A urbanização é tão notável que as transformações profundas na paisagem agropecuária da região do Vale do Paraíba são evidentes. No artigo Futuro vai unir... (2001) fala em conurbação; num período de 20 anos a região terá seus municípios unidos naturalmente sem se pensar em termos de preservação ambiental. Precisa-se reivindicar que esta paisagem seja preservada, portanto é necessário buscar alternativas, que sejam ordenadas mediante um planejamento e um controle na ocupação. As atividades no meio rural apresentam-se como um elemento turístico positivo de preservação e revitalização do espaço e da cultura de uma localidade ou região, visto pois o mesmo poderá fazer o turista retornar ao passado procurando suas raízes, ou buscar a vivência com a intimidade do meio rural, como no caso da concepção apresentada para o entorno do Núcleo de Guamirim (Piedade) situado entre as rodovias Presidente Dutra e Carvalho Pinto. Neste contexto o turismo na área rural, que quando bem planejado pode se constituir numa atividade potencial de renda, emprego e desenvolvimento das comunidades, favorecendo o crescimento e a economia local auxiliando na preservação da diversidade biológica, como também, melhorando a utilização dos recursos disponíveis atenuando os desequilíbrios regionais. Percebe-se, de modo geral, que o turismo é uma atividade que tem crescido consideravelmente no mundo todo, em particular (o turismo) no meio rural. Contudo, quando mal explorado e sem planejamento, tem causado degradação de muitas áreas naturais. É preciso muito cuidado com a atividade turismo pois se for mal esplorada e sem planejamento só trará prejuízos à paisagem local. Primeiramente há de se entender o que é turismo no meio rural para depois verificar se o local tem potencial, se este espaço vai ser preservado e se a cultura da comunidade local vai ser respeitada. 2
A necessidade de se conhecer a dinâmica do processo de uso e cobertura vegetal do espaço rural e identificação de potenciais de turismo deste Município torna-se importante no processo de decisão de ordenação territorial, visto que somente com o acompanhamento das mudanças ocorridas ao longo do tempo é que se torna possível uma análise sobre a dinâmica de mudança e organização do espaço em questão, para que haja sustentabilidade do uso entre os recursos disponíveis e o turista é necessário desenvolver metodologias dinâmicas que proporcionem o uso planejado do território. Diante da necessidade de se planejar o turismo nesta área, a tecnologia de sensoriamento remoto em conjunto com a tecnologia do geoprocessamento ingressam como ferramentas de suporte de grande importância para a tomada de decisões sobre as questões urbanas, rurais e ambientais. Câmara e Davis (2000) mostram que o geoprocessamento apresenta uma enorme capacidade para realizar a coleta, manuseio e análise de grande quantidade de informações, principalmente, se baseado em tecnologia de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), de custo relativamente baixo e atendendo às exigências de integração rápida dos dados digitais, cartográficos, cadastrais e procedimentos de planejamento municipal. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS Cabe nortear o processo desta pesquisa no sentido de apontar diferentes formas de mudanças no espaço rural do Município e elaborar recomendações com princípios de desenvolvimento sustentável para o turismo, sem contudo descaracterizar a região. Foi utilizado neste trabalho, como área de estudo, o entorno do Núcleo de Guamirim (Piedade), Município de Caçapava, Estado de São Paulo. O direcionamento de turismo no meio proposto poderá servir de referência para estudo de outros espaços rurais e naturais no Município. Com este objetivo geral pretende-se alcançar também os seguintes objetivos específicos: 1) identificar o espaço rural de maneira potencial para o processo de ocupação turística recreativa, usando como suporte os recursos disponíveis de geoprocessamento; 2) proceder um levantamento das condições existentes do meio físico natural, sócio-econômico, histórico e cultural e elementos ligados às atividades agropecuárias que indiquem potencialidades ao desenvolvimento do turismo na área em estudo; 3) indicar possibilidades para ocupação do referido espaço rural e 4) contribuir com recomendações que possam assegurar o planejamento estratégico do desenvolvimento sustentável do turismo na localidade. A escolha dessa área do Município de Caçapava para objeto de estudo é relevante, uma vez que o Núcleo de Guamirim (Piedade) é tradicional por seu conjunto de atributos paisagísticos, arquitetônicos e históricos e pela criação de novas alternativas de lazer como os tradicionais alambiques do 3
Município com cachaças famosas e pesqueiros. Neste espaço situam-se fazendas, chácaras e sítios produtivos que hoje vêm sofrendo os impactos da crise econômica. Somente com a atividade agropecuária não é mais possível ocupar de forma produtiva todas as pessoas que vivem do trabalho nas áreas rurais. É também muito forte a presença do processo de urbanização com o parcelamento e loteamento das propriedades como forma de aumento do valor da terra e consequentemente o risco de perda da cultura regional rural local. Este patrimônio natural e histórico de grande potencial necessita ser respeitado e valorizado através de ações de planejamento para seu uso adequado. Neste sentido assume-se como hipótese deste trabalho que a integração entre a atividade agrícola e novas formas de ocupação dentro do espaço rural, fazendo com que as atividades que antes eram típicas do setor de produção agropecuária, possam mesclar-se. Acredita-se que neste contexto, a agricultura e turismo compactuados no mesmo espaço enquanto atividade humana tornem as migrações internas desmotivadas face à melhoria das condições de vida da população rural local. As atividades econômicas predominantes no âmbito deste estudo são a agrícola, a turística e o lazer, existindo, porém, outras atividades que compartilham desta mesma unidade espacial, sendo elas: residencial, industrial, comercial, etc. Este trabalho será significativo para a compreensão da reestruturação do espaço rural na região e na transformação do sistema de produção agrícola, trazendo consigo respostas para esta transformação. Assim sendo, espera-se poder apontar recomendações para o desenvolvimento ordenado do turismo rural, no referido espaço do Município, levando-se em consideração a abordagem do desenvolvimento sustentável, direcionadas a todos os proprietários, técnicos, investidores no turismo no meio rural, empresários, instituições governamentais, não governamentais e consultores ligados ao turismo rural, verificando procedimentos e produzindo informações que evitem tomadas de decisões sem embasamento científico adequado. Sugestões também deverão ser apontadas por este trabalho no domínio geral da ocupação do uso da terra e desenvolvimento do turismo, no Município de Caçapava. O escopo desta pesquisa é relevante dada à existência de poucos trabalhos do gênero, com destaque para o trabalho, Turismo rural: um modelo brasileiro (Zimmermann, 1996), considerado pioneiro no Brasil, cuja primeira experiência documentada ocorreu em Lages (SC) há pouco mais de 14 anos. Importante acréscimo é o trabalho, Contribuição para o planejamento agroturístico na área de proteção ambiental de Sousas e Joaquim Egídio (Campinas) de Hammes (1998), que apresenta um banco de dados cartográficos e digitais utilizando um SIG trazendo o cruzamento de informações agrícolas e ambientais, facilitando o monitoramento da dinâmica espaço - temporal e impactos decorrentes do agroturismo a partir da identificação georreferenciada de uso da terra. 4
Contribui também neste contexto o trabalho de Bissoli (1999), Planejamento turístico municipal com suporte em sistema de informação, que traz uma metodologia de banco de dados para a oferta, demanda e pesquisa de opinião pública turística de pequenos municípios, servindo de subsídios à tomada de decisões para formulação de plano de desenvolvimento turístico municipal. Essas contribuições são importantes e podem ser a base de um processo de reestruturação do espaço rural na região. Na literatura internacional, as experiências vivenciadas resultam em apoio conceitual e na adoção de metodologias e estratégias diversificadas, conforme as especialidades locais e seus recursos físicos e humanos, documentadas quase que exclusivamente através de casos, em países da Europa. A concretização deste trabalho poderá contribuir para a dinamização do desenvolvimento regional, considerando o turismo na área rural como uma nova alternativa ao desenvolvimento no Vale do Paraíba, e em especial, o Município de Caçapava. ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho é composto de uma introdução, seis capítulos e suas conclusões e dois apêndices. Os capítulos 1 e 2 trazem um embasamento através da revisão bibliográfica, uma análise da literatura especializada nacional e internacional centrada nas transformações ocorridas nos espaços rurais, e o elemento turismo como força de reestruturação, apresentando subsídios para alcançar o primeiro objetivo proposto. O Capítulo 1 discute o reflexo do setor agrícola mundial no País, considerando as forças de mudanças em decorrência da crise da agricultura brasileira e suas conseqüências no Vale do Paraíba. O Capítulo 2 destaca o turismo na área rural como elemento influenciador da reestruração do espaço rural. Estudos de casos são levantados revendo elementos de reestruturação dos setores agrícolas e discussão dos conceitos sociais da vida rural e do consumo do turismo. Pretende-se com a combinação dessas informações criar uma metodologia para análise do papel do turismo no desenvolvimento local, a partir de estudos de casos que possam funcionar como força de mudança, no referido espaço no Vale do Paraíba. Desta forma, o elemento turismo viria como uma força de reestruturação desses espaços. No Capítulo 3 os aspectos considerados importantes para a caracterização do Município são a localização geográfica e inserção regional da área de estudo. Levanta-se a atual dimensão da área a ser trabalhada no Município e verificam-se alterações ao longo da história, bem como: características do solo e do clima importante para as atividades em estudo (turismo e agropecuária); os principais recursos hídricos existentes nas divisas e no interior da área; vegetação e a paisagem; identificação da infra-estrutura básica de acesso urbano e rural, (as vias de transporte no Município, destacando-se os pontos importantes para área de estudo), assim como, uma análise da formação histórica, através de 5
dados relevantes para compreensão do processo de transformações sociais e econômicas, pelo qual passou o Município de Caçapava desde sua fundação. Apresenta-se condições para o desenvolvimento do segundo objetivo proposto. Outro aspecto considerado é o desenvolvimento sócio-econômico. Verifica-se a evolução e tendência dos setores em estudo, que tenham estado em atividade no Município no passado e atualmente (investimentos e resultados); políticas apontando as decisões passadas que servem de base objetiva para futura discussão e estratégias de ação; perspectivas econômicas; problemáticas; pontos fortes e fracos das oportunidades e os riscos do cenário atual afim de entender como a atividade de turismo poderia ser inserida nesse cenário. Também observa-se a existência de políticas, planos ou programas públicos ou privados e sua relação com a atividade de turismo local. O capítulo 4 apresenta a metodologia utilizada para desenvolvimento deste trabalho e como um SIG pode agilizar todo o processo de espacialização e cadastramento dos atributos referentes a cada propriedade. Capítulo 5 envolve procedimentos de identificação da área rural e natural com potencialidade para o turismo verificando como foi o processo de ocupação da terra e quais as mudanças significativas ao longo do período analisado. Identifica-se a capacidade do espaço rural local em constituir-se em espaços de mudança, isto é, gerar, difundir e absorver inovações que promovam o desenvolvimento endógeno, principalmente porque deve-se apoiar sobre os elementos intrínsecos ao local e regional, isto é, o aproveitamento das potencialidades e oportunidades do Município. Os resultados apresentados formalizam o terceiro objetivo proposto. No capítulo 6 é concluído o estudo apresentando recomendações que permitam nortear o desenvolvimento ordenado do turismo, no espaço rural do Município de Caçapava, levando em consideração a abordagem do desenvolvimento sustentável. Com base na análise dos dados, torna-se possível identificar tendências e perspectivas futuras para os setores estudados, visando formular algumas recomendações a serem discutidas e avaliadas pela comunidade local, atingindo o quarto objetivo proposto. Estas recomendações deverão ser direcionadas a todos os investidores no turismo rural incluindo: proprietários, técnicos, empresários, instituições governamentais e não governamentais e consultores ligados ao turismo na área rural. Nos Apêndices A e B são apresentados o mecanismo de busca no banco de dados Caçapava e o relato da experiência através de entrevistas informativas, com pessoas representativas do Município. 6