O SISTEMA PLANTIO DIRETO GANHA ESPAÇO NO MEDIO NORTE E NORTE DE MATO GROSSO

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Transcrição:

O SISTEMA PLANTIO DIRETO GANHA ESPAÇO NO MEDIO NORTE E NORTE DE MATO GROSSO O SISTEMA PLANTIO DIRETO Os solos da região tropical têm como característica, em estado natural, estarem sempre cobertos. Especificamente na região do Cerrado, existe maior abundância de cobertura vegetal na época das chuvas (outubro a abril) e, em menor quantidade na época da seca (maio a setembro). O uso da técnica de preparo do solo, denominado sistema convencional, tem como característica a quebra da estrutura do solo, o rompimento da rede de agregados, a incorporação da matéria orgânica (palha) e com isto, provoca sua rápida mineralização (queima da matéria orgânica do solo). O sistema plantio direto (SPD) ou sistema semeadura direta (SSD) veio para imitar a natureza, ou seja, manter o solo sempre coberto. Este sistema apresenta histórico de uso no Brasil desde os anos 70. No início, aqueles que começaram a utilizá-lo eram chamados de preguiçosos, porque deixavam de preparar o solo. Assim, com o advento dos herbicidas, tornou-se possível a implantação de culturas sem o revolvimento do solo. O SPD tem como pré-requisitos três pontos básicos: o não revolvimento do solo na ocasião da semeadura, a utilização de plantas de cobertura para proteger o solo e melhorar sua fertilidade e a adoção de um sistema de rotação de culturas. Inicialmente foi introduzido como método de controle de erosão nos solos do Sul do Brasil, entretanto, trouxe inúmeras modificações no sistema-solo, a maioria benéficas, as quais vêm sendo estudadas ao longo dos anos, devido à sua importância e complexidade. A consequência de uma correta adoção do sistema provoca a melhoria nas características físicas, químicas e biológicas do solo, tendendo a um equilíbrio ao longo do tempo. Há o incremento e formação de uma camada superficial de resíduos vegetais que se tornam nutrientes disponíveis ao longo do tempo, o que pode resultar em ausência de resposta a aplicação de fertilizantes. Isto já foi comprovado em vários estudos. Na região do Triângulo Mineiro, em uma área manejada a oito anos em SPD, a aplicação de 70 kg ha - 1 de N em cobertura no milho em diferentes épocas ou a ausência desta não resultou

em incrementos na produtividade da cultura, com média excelente para a época, de 8.380 kg ha -1 de grãos (Lange, 2008). Na função de professor e pesquisador, sempre comentei com meus colegas e alunos que os estudos com SPD nunca irão se esgotar e sempre serão dinâmicos, pois hoje ainda não é possível encontrar uma área com histórico de uso SDP com 100 anos e, quando esta for cultivada por tal tempo, para que ela seja igual a outra área, teoricamente, todos os manejos, adubações, correções, rotações, etc, devem ser iguais, para que possam ser chamadas de semelhantes. Assim, o SPD é único em cada local que é implantado e, por isso receitas prontas não se encaixam nele. Adequações e alterações se fazem necessárias em relação a manejos importados. Mais recentemente o SDP encontrou novos aliados para a conservação do solo e melhoria da fertilidade o sistema integração lavoura pecuária (ILP) e o sistema integração lavoura pecuária floresta (ILPF). O ILP é um sistema em que se usa o SPD combinando ao cultivo de grãos com forrageiras, mais frequentemente as braquiárias (milho safrinha mais capim consorciado), sendo o últimos utilizados com a finalidade de patejo na época de seca e formação de palha para posterior semeadura da soja. Já no ILPF, o componente florestal entra, sendo em alguns casos a lavoura mantida por dois ou três anos seguida de pastagens e animais, os quais se beneficiam tanto da pastagem que cresce em solo fertilizado, aproveitando o efeito residual, como do conforto térmico propiciado pelas árvores. Para o SPD e ILP, com menos intensidade para o último, já existem na literatura diversos trabalhos discutindo e evidenciando os benefícios. O Médio Norte e Norte Matogrossense e o SPD No Médio Norte e Norte do Estado de Mato Grosso, estes sistemas vem sendo instalados pelos produtores e, como de costume, os consultores e a pesquisa busca adequá-los a realidade regional e buscar resultados que os viabilizem. Em relação a pesquisa, instituições como universidades e mais recentemente a Embrapa já se instalaram e vem gerando resultados promissores. Os solos da região Médio Norte apresentam características muito semelhantes aos solos do Cerrado, com baixos teores bases trocáveis (Ca, Mg e K), baixos teores de

P, elevada acidez e toxidez por Al, consumindo, quando em estágio natural ou de pastagem degradada, entre 3 a 5 toneladas de calcário por hectare para elevar a saturação por bases a 50% (dados médios). Já mais na região Norte, além da cidade de Sinop, onde a vegetação predominante é a floresta, os solos apresentam melhores características químicas, com teores de bases trocáveis mais elevados, menor toxidez por Al e, consequentemente, menor dose de calcário para a correção (1-2 ton ha -1 ). Ou seja, se há um aumento da distância de transporte para o calcário, que vem de Nobres MT, a dose diminui com esta. É possível encontrar áreas de floresta com saturação pro bases (V%) próximo a 60-70%. Assim, desde 2006, realizamos pesquisas na área de solos na região, focando sistemas conservacionistas. Como devem saber, as dificuldades em regiões novas e em instituições novas sempre são grandes pela falta de pessoal, verba, infraestrutura e outros, o torna a pesquisa mais difícil de ser conduzida, mas também prazerosa ao se conseguir um resultado suado. A figura 1 mostra os dados de precipitação da cidade de Alta Floresta (norte do estado), onde se observa que as chuvas cessam por 4-5 meses. Nos meses de chuva a temperatura é mais amena e as condições para crescimento, principalmente das gramíneas, é ótima. No Médio Norte, as chuvas caem com menor intensidade, em torno de 1800-2000 mm ano -1, com semelhante distribuição. Figura 1. Pluviosidade média mensal na região de Alta Floresta - MT. Média histórica de 1977 a 2009. Pluviosidade anual média: 2.243 mm. Dados coletados na estação meteorológica da INFRAERO, Alta Floresta - MT.

Dentre os estudos realizados com o uso do SDP, ILP e ILPF na região, alguns se destacam, como o projeto Produção de pasto e palha na época da seca em pequenas propriedades rurais utilizando o sistema de integração lavoura pecuária, entre setembro de 2007 a outubro de 2008, na Fazenda Americana, de propriedade do Sr. Clóvis Pattel e cultivada pelo Sr. Valdemar Gamba, conseguiu-se evidenciar o potencial da integração como produtora de palha ou capim. Testaram-se os consórcios entre culturas produtoras de grãos e braquiária brizanta cv Marandu. Os tratamentos testados foram: 1- arroz mais braquiária semeada 30 dias após a semeadura do arroz, transversalmente à linha de arroz juntamente com o N de cobertura; 2- milho mais braquiária simultânea, misturada ao fertilizante de semeadura; 3- milho mais braquiária semeada antecipadamente (junto com o N de cobertura), em pré-semeadura, na superfície do solo, cinco dias antes da semeadura do milho; 4- sorgo mais braquiária simultânea, idem milho; 5- sorgo mais braquiária antecipada, idem milho; 6- soja mais braquiária simultânea. O trabalho mensurou a produtividade de grãos, de silagem de milho ou sorgo (sorgo com possibilidade de dois cortes), capim sendo pastejado a 30 cm de altura por duas ocasiões (26/04/2008 e 28/10/2008), e o montante de palha final que teríamos para o SPD. Apesar da área não apresentar uma caracterização especifica de uma área de SPD, pois o histórico é pastagem até 2006, preparo da área em setembro de 2006, semeadura do arroz, pousio, e então semeadura direta dos tratamentos em novembro de 2007. Os resultados do trabalho mostraram que ao final do processo, integrando capim mais culturas chegou-se a produzir, em média, 40 ton ha -1 de massa seca no intervalo de um ano (Tabela 1), incluindo grãos ou silagem, palha residual, capim que poderia ser pastejado e palhada final sobre o solo antes da semeadura de uma nova cultura. Ressalta-se que no caso especifico da soja, o capim no final do ciclo da cultura de grãos já apresentava competição e possivelmente atrapalharia a colheita mecanizada. Tabela 1. Balanço da produtividade de massa nos sistemas testados (ton ha -1 ). Consórcios Grão ou silagem Palha residual MMS capim Restos 33% (palha residual) Resíduos (D-E) Balanço de MMS 1-Arroz+braq. def. Gr 2,03 2,36 17,57 10,13 0,78 9,35 28,95 2-Milho+braq.ant. Si 13,13 23,71 4,99 0,00 4,99 41,83 Gr 5,75 8,14 18,57 13,53 2,69 10,84 35,16 3-Milho+braq.sim. Si 16,15 27,08 2,32 0,00 2,32 45,55

Gr 6,77 7,26 14,80 28,30 2,40 25,90 47,47 4- Sorgo+braq.ant. Si 20,60 11,72 15,68 0,00 15,68 48,00 Gr 5,13 13,79 12,84 17,16 4,55 12,61 30,58 5- Sorgo+braq.sim. Si 27,16 14,27 7,23 0,00 7,23 48,66 Gr 5,49 13,96 10,96 25,44 4,61 20,83 37,28 6- Soja+braq. sim. Gr 2,55 2,33 25,50 10,20 0,77 9,43 37,48 Média 10,48 7,97 17,70 13,50 1,58 11,92 40,1 COLUNAS A B C D E F A+C+F Dados convertidos para 0% de umidade. Os dados referentes a MMS-capim referem-se a colheitas realizadas em 26/04/2008 e 28/10/2008, com cortes acima de 30 cm. Os dados referentes a silagem do sorgo referem-se a colheitas realizadas em 15/02/2008 e 26/04/2008 (rebrota). Restos: referentes ao material encontrado abaixo de 30 cm, em 28/10/2008, inclusive uma quantidade de palha residual que ainda estava sobre o solo. Resíduos: em 28/10/2008 ainda existia palha residual das culturas, portanto considerou-se que 33% de material ainda estivesse sobre o solo, já que o mesmo não foi retirado do campo na ocasião da colheita. Os dados de MMS-Balanço, referem-se a soma de grãos ou silagem, MMS capim e resíduos. (dados do autor ainda não publicados). Na mesma época deste estudo, o produtor realizou a ILP em uma área, onde cultivou arroz no primeiro ano (safra 2006/07), arroz no segundo ano seguido de milho safrinha integrado com braquiária. Nesta ocasião realizamos outro experimento com doses e fontes de N em cobertura no milho, variando de 0 a 75 kg ha -1 e adubação de base com 400 kg ha -1 do formulado 04:24:12 (NPK) misturado com 10 kg ha -1 de sementes de Brachiaria brizantha cultivar Marandu, no sulco da semeadura, abaixo da semente de milho. A produtividade do milho variou de 5,0-8,0 ton ha -1, sem diferença para as fontes. Na sequência, os animais foram soltos na área e o resultado pode ser observado nas fotos abaixo, comparando duas áreas (Figura 2).

Figura 2. Área de pastagem reformada com semeadura direta de arroz seguida de semeadura de milho mais braquiária misturada ao fertilizante. As fotos foram tiradas em agosto de 2008, na época de extrema seca. Pode-se notar a pastagem abundante (3 fotos) e a última, a área vizinha, onde a pastagem está degradada. Este potencial de produção de massa também foi mensurado na região de Sorriso MT, em um sistema que integrou o milho safrinha à braquiária (Brambilla, 2009), onde se produziram quantidades próximas a 15-20 t ha -1 de matéria seca em aproximadamente 170 dias. Ficou evidente no estudo que dependendo do hibrido de milho usado na integração e da forma como a braquiária é introduzida (linha, entrelinha) a competição provoca redução de produtividade. Observou-se ainda que um solo bem coberto apresenta valores próximos a 200 perfilhos por m 2 de braquiária (valor também confirmado em outros estudos). Tabela 2. Produtividade de grãos (PG), massa seca residual do milho (MS), número de perfilhos da braquiária (NP), matéria seca residual após pastejo simulado abaixo de 0,25m (COB), matéria seca acima de 0,25m (PAST), matéria seca total da brachiaria (MSTB) e matéria seca total das culturas (MST) em modalidades de consórcio de milho com Brachiaria ruziziensis em sistema de semeadura direta. Sorriso MT. (2007/2008).

TRAT PG MS NP COB PAST MSTB MST t ha -1 m 2-1 t ha MBL 4,1 b 4,16 c 119,0 c 2,47 b 6,31 c 8,8 c 12,95 b MS 5,3 a 7,3 a x x x x 7,29 c BS x x 253,2 b 5,77 a 14,4 a 20,2 a 20,20 a MBE 3,3 c 6,05 b 145,5 c 3,11 b 5,8 c 8,92 c 15,20 b MBLE 2,7 c 5,53 b 318,7 a 3,98 ab 9,2 b 13,2 b 18,74 a CV (%) 9,14 9,60 6,57 22,56 9,88 13,38 10,69 Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. (MBL) milho com brachiaria na mesma linha de semeadura no espaçamento de 0,45 m; (MS) milho solteiro no espaçamento de 0,45 m entre linhas; (BS) brachiaria solteira no espaçamento de 0,45 m entre linhas; (MBE) milho no espaçamento de 0,90 m e brachiaria na entre linha; (MBLE) milho com espaçamento de 0,90 m com brachiaria na linha e entre linha de semeadura. E com o passar dos anos, novos sistemas vem sendo testados na região, onde o SPD sempre está presente como técnica de conservação de solo e de melhoria de sua fertilidade química, física e biológica. Na cidade de Nova Canaã do Norte MT foi instalado em janeiro de 2009 uma Unidade de Referência de Tecnologia (URT), buscando estudar a integração lavoura pecuária floresta (ILPF) no bioma amazônico, numa parceria firmada entre a Embrapa, UFMT Sinop, UNEMAT Alta Floresta, Fazenda Gamada e empresas privadas. Neste estudo estão sendo testadas diferentes espécies florestais como eucalipto, pinho cuiabano ou paricá, teca e pau-balsa em diferentes configurações integradas num primeiro momento com espécies produtoras de grãos como arroz, feijão, soja e milho. O período de cultivo das espécies produtoras de grãos adequou-se ao crescimento e desenvolvimento das espécies florestais, até que as mesmas suportassem a entrada de animais na área, o que ocorre entre 2 e 3 anos após seu plantio, período este variável para cada espécie testada. Após o cultivo dos grãos, já com a fertilidade do solo construída, devido a efeito residual dos fertilizantes deixados pelas culturas, a pastagem pode ser estabelecida. Como se observa abaixo, na figura 3, o SPD é usado sempre que possível e adequasse de forma simples tanto na instalação como na condução das culturas, favorecendo os resultados promissores que já são observados. Para a região Norte do estado, onde o relevo é um pouco ondulado

e a criação de gado prevalece na maioria dos casos sob pastagem degradada, este sistema poderá se tornar um grande aliado na melhoria do solo e do ambiente, devido aos diversos benefícios por ele propiciado e pela diversidade de técnicas conservacionistas que integra. Figura 3. Área de pastagem dessecada para semeadura do arroz em ILPF, no primeiro ano (janeiro de 2009). Na sequencia observa-se o plantio direto de feijão em meio às florestais e em fevereiro de 2010, a colheita da soja em meio ao renques de eucalipto. Após a colheita da soja, o milho ou sorgo foi semeado juntamente com capim (ILP), o qual ficou como remanescente para pastagem dos animais. É evidente o efeito da sombra na qualidade visual do capim na época da seca, assim como o conforto térmico oferecido pelas espécies florestais aos animais em pastejo.

Na região do Médio Norte, em função das propriedades apresentarem grandes dimensões, variando de 500-1000 ha até 10.000-15.000 mil ha ou mais, a dificuldade de semear o capim em meio ao milho safrinha ainda é um entrave ou pela falta de equipamentos, já que muitos produtores já não possuem mais semeadoras/adubadoras, e sim apenas semeadoras, com sistema para distribuição para sementes de milho e soja ou pela necessidade de semeadura do milho safrinha em tempo recorde, para não perder os benefícios das chuvas de final de ciclo. Assim, alternativas vem sendo criadas pelos produtores, entre elas a aplicação aérea da semente da braquiária, peletizada ou não, sobre a cultura da soja a ser dessecada. A ideia é fazer com que a semente já seja inicialmente coberta pelos resíduos da soja e, na sequência, enterrada ainda pelo solo revolvido no momento da semeadura do milho safrinha. Porém, nem tudo são mil maravilhas. O SPD ainda não é conduzido de forma adequada na região, excesso em alguns casos, pois não existe na maioria das propriedades um planejamento do sistema de rotação, sendo usada a sucessão soja/milho safrinha na maioria dos casos sem a implantação do capim em meio ao milho. Isto tem trazido sérios problemas químicos, físicos e biológicos ao solo. Tudo se inicia com a incorreta instalação do SPD, sem uma adequada incorporação de calcário em profundidade, seguida do grande vilão, a compactação superficial que é encontrada em todo o MT. Com os tratos culturais da soja, colheita da soja, semeadura, adubação e tratos culturais do milho realizados sobre o solo úmido se favorece a compactação, pois não há palha sobre o solo para amortecer o impacto do tráfego de maquinário pesado. Com solo compactado, a entrada de ar, o que para as plantas é respiração de raízes e alimento para bactérias fixadoras de nitrogênio (O 2 e N 2 ) fica reduzido. E a cadeia de problemas continua, pois nesta situação calcário não percola, a raiz não cresce em profundidade e com isto a maioria das lavouras não tem perfil de solo. Na crença de que o calcário não desce, muitos produtores realizam a gradagem leve após a calagem, para melhorar sua reação e descida.

Mas esta realidade vem mudando e alguns produtores já utilizam o SPD aliado a ILP e tem se aproveitado dos benefícios, principalmente fazendo perfil e reduzindo a compactação. Resta para a pesquisa, como de costume ir atrás ou junto, montando experimentos em que se estudem os sistemas e deles se retirem os dados para evidenciar os benefícios de um correto programa de manejo da fertilidade e da conservação do solo em SPD. BIBLIOGRAFIAS LANGE, A. ; CABEZAS, Waldo A R Lara ; TRIVELIN, Paulo C O. Recuperação do nitrogênio das fontes sulfato e nitrato de amônio pelo milho em sistema semeadura direta. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v. 43, p. 123-130, 2008. BRAMBILLA, J. A. ; LANGE, A. ; BUCHELT, A. C. ; MASSATOTO, J. A.. Produtividade de milho safrinha no sistema de integração lavoura-pecuária na região de Sorriso, Mato Grosso. Revista Brasileira de Milho e Sorgo. v. 8, p. 263-274, 2009. *ANDERSON LANGE, Graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Lavras (2000), Mestre em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela UFLA (2002) e Doutor em Ciências (Energia Nuclear na Agricultura) pelo CENA/USP (2006). Atuou como Professor Adjunto na UNEMAT, de 2006 e 2009, em Alta Floresta MT. Atualmente é professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop. Trabalha com Manejo da Fertilidade do Solo em Sistemas Conservacionistas Integrados. Experiência em Fertilidade, Adubação e Conservação do Solo, atuando principalmente nos seguintes temas: Sistema Semeadura Direta, Manejo do Nitrogênio e Fósforo no Cerrado, nas culturas do Milho e Feijão, Manejo de Pastagens, Integração Lavoura- Pecuária e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, com noções de Microbiologia do Solo.