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(3) - 10ª Câmara Cível AI nº /2014 decisão - fl. 1

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de. AGRAVO DE INSTRUMENTO n /8-0 0, da Comarca de SÃO

Transcrição:

ACÓRDÃO Registro: 2012.0000433177 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0142976-16.2012.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante STM INDUSTRIAL LTDA, é agravado DIRETOR EXECUTIVO DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTARIA DE SAO PAULO DEAT. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores AMORIM CANTUÁRIA (Presidente sem voto), CAMARGO PEREIRA E RONALDO ANDRADE. São Paulo, 21 de agosto de 2012. Marrey Uint RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº 15.931 Agravo de Instrumento nº 0142976-16.2012.8.26.0000 Comarca: SÃO PAULO Agravante(s): STM INDUSTRIAL LTDA. Agravado(s) : DIRETOR EXECUTIVO DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA DE SÃO PAULO - DEAT Agravo de Instrumento Pedido de liminar para suspensão de exigibilidade de crédito tributário com oferecimento de precatórios vencidos e não pagos Admissibilidade Recurso provido. Cuida-se de Agravo de Instrumento tirado contra r. decisão acostada às fls. 237/238, da lavra da Dra. Carmen Cristina F. Teijeiro e Oliveira que indeferiu pedido de liminar para suspender a exigibilidade do crédito tributário em face do oferecimento de crédito de precatório vencido. Alega o Agravante que o valor oferecido é maior que o do crédito e que os precatórios estão vencidos e não foram

3 pagos pela Fazenda do Estado o que autoriza a concessão da liminar. Deferido o efeito suspensivo/ativo (fls. 241) foram os autos à mesa para julgamento. É o relatório. Este Relator tem pautado suas decisões no sentido de admitir o pagamento de débitos tributários com precatórios judiciais. Hugo de Brito Machado (O Direito de Compensar e o artigo 170-A do CTN, in Grandes questões atuais do direito tributário, 5º vol, São Paulo: Dialética, 2001) diz: Se todos são iguais perante a lei, não se pode admitir que à Fazenda Pública seja reservado o privilégio de cobrar o que lhe é devido, sem pagar o que deve. E não se venha invocar o interesse público em defesa de tese contrária, pois o mais fundamental interesse público consiste precisamente na preservação da ordem jurídica, na obediência à Constituição, e na abolição de privilégios. O Estado, enquanto ente soberano, não se confunde com a Fazenda Pública, ou Estado pessoa, titular de relações jurídicas. Já está superada, felizmente, a idéia de que o soberano governante pode ignorar os direitos que ele próprio promete garantir. (...) A exclusão da compensação, de tão absurda, é desprovida não só do amparo jurídico, mas também e especialmente do amparo da moralidade. Qualquer que seja a concepção de moral que se adote, nela ninguém encontrará apoio para a pretensão de receber os nossos créditos sem pagar os nossos débitos. Extrai-se a conclusão, portanto, que o que não

4 pode permanecer é o constante inadimplemento que hoje se vê por parte dos Entes Federados pelo não pagamento de seus precatórios. Ademais, a intenção da Constituição Federal, em seu art. 78, ao excluir o poder liberatório de tributos aos créditos de natureza alimentícia foi de que tais créditos deveriam ser pagos com preferência. Pagos com preferência de forma integral e imediata. Porém, o que ocorre, hoje em dia, é exatamente o inverso, sendo que os créditos de natureza alimentícia não têm sido pagos, enquanto os precatórios comuns, também não pagos, obtêm poder liberatório de tributos numa verdadeira inversão da ordem constitucional. E isso, por culpa exclusiva das Fazendas de modo que os créditos de natureza alimentar também podem ser aceitos para liberação de débitos fiscais. A Fazenda do Estado tem deixado de cumprir as condenações judiciais que determinam o pagamento de quantias pelo Poder Público, numa verdadeira afronta ao direito do credor e desrespeito ao Estado Democrático de Direito. O Estado, em uma espécie de devo, não nego, pago quando puder, afronta a Carta Magna, debocha das sentenças judiciais e do próprio Poder Judiciário, incentivando a inadimplência oficial, mas ao executar, escolhe (ainda que a indicação esteja no rol dos bens penhoráveis) o bem com maior liquidez para satisfazer mais rápido o seu crédito. Kiyoshi Harada em brilhante artigo no site

5 http://direito.memes.com.br/jportal/portal, acena com a possibilidade de compensação tributária de precatórios alimentares: Com o advento da EC nº 30/2000 foi inserido o art. 78 ao ADCT para decretar a moratória de precatórios não-alimentares, com as exceções aí previstas, para pagamento em até 10 parcelas anuais. O seu 2º dispõe: As prestações anuais a que se refere o caput deste artigo terão, se não liquidadas até o final do exercício a que se referem poder liberatório do pagamento de tributos da entidade devedora. Está claro como a luz solar que se trata de preceito auto-aplicável, que permite ao credor da parcela do precatório descumprida compensar com o tributo devido à entidade política devedora, sem prejuízo do pedido de seqüestro previsto no seu 4º. A falta de inclusão orçamentária da verba requisitada na forma do 1º do art. 100 da CF, também, é motivo de seqüestro consoante prescrito no citado 4º. Absolutamente insustentável a posição contrária. Não se pode entender como uma norma de natureza concreta deva depender de regulamentação para irradiar seus efeitos. Os precatórios alimentares, por serem privilegiados, nunca foram atingidos pelas moratórias decretadas até hoje. As condenações de natureza alimentar, na dicção do art. 100 da CF, pressupõem pagamento imediato, sem necessidade de inserção de precatório na ordem cronológica. Porém, na prática, evoluiu para formação de fila autônoma para atender as condenações por alimentos, com apoio da jurisprudência do STF, porque impossível financeiramente pagar a todos os credores da espécie em um mesmo momento. Contudo, o fato de terem ficado a salvo de parcelamento não pode significar que esses precatórios privilegiados não têm prazo de pagamento, e muito menos que não há sanções nos casos de inadimplência. Seria uma interpretação própria de adepto do positivismo extremado, que nega a função da Justiça e contraria o bom-senso. Incogitável a punição do credor que o constituinte quis privilegiá-lo. Por isso, a jurisprudência está evoluindo para o seqüestro de rendas no caso de preterição no direito de precedência de precatórios alimentares, verificada a partir do confronto das ordens cronológicas dos precatórios de natureza alimentar com os de natureza não-alimentar. Em 11-9-2007, o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Des. Celso Limongi, em extensa e bem fundamentada decisão, determinou o seqüestro de rendas do Município de Santo André,

6 porque os precatórios alimentares inseridos nas ordens cronológicas nºs. 2/99, 66/99, 10/99, 7/99 e 8/00 não haviam sido pagos, enquanto outros precatórios mais recentes submetidos ao regime da EC nº 30/00 tiveram o pagamento do primeiro décimo (Processo nº 135.144.017-00). O STJ, também, permite o confronto das duas espécies de precatórios para o efeito de apuração de eventual preterição da ordem cronológica (RMS nº 21.477. Rel. Min. José Delgado, j. em 17-10-2006). Aliás, se não fizer esse confronto jamais haverá hipótese de quebra de ordem cronológica de precatório alimentar, bastando que se paralise o seu pagamento, como fez a Prefeita do Município de São Paulo, Marta Teresa Suplicy, no período de 2001 a 2004. A fila de precatório alimentar simplesmente ficou paralisada desde os precatórios de 1998, enquanto os de natureza não-alimentar tiveram a suas parcelas pagas. Isso lhe valeu a condenação por ato de improbidade administrativa, conforme decisão proferida, em 12-5-2008, pela 9ª Vara da Fazenda Pública da Capital (Proc. 1993/053.04.033.717-3- ação civil pública de responsabilidade por ato de improbidade movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo). Se fosse possível prevalecer a astuta interpretação literalista do Direito, os precatórios alimentares poderiam ficam sem pagamento por um, dois ou três séculos sem causar quebra da ordem cronológica, bastando a paralisação da fila respectiva enquanto avança a outra fila de precatórios não-alimentares, como aconteceu no Município de São Paulo. Ora, se o precatório alimentar preterido acarreta seqüestro na linha da jurisprudência atual, parece lógico que ele possibilita, também, a compensação do crédito com o tributo devido à entidade política devedora, como acontece com a parcela de precatório não-alimentar descumprida. Destoa do bom-senso a interpretação literal, que leva a atribuir ao precatório privilegiado menos direito do que ao precatório não privilegiado, submetido ao regime conhecido como calote do precatório. De fato, a leitura do caput do art. 100 da CF, a seguir transcrito, não deixa dúvida quanto ao privilégio conferido pelo legislador constituinte ao crédito de natureza alimentar: À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. A clareza lapidar do texto dispensa maiores comentários. Se prescinde

7 da expedição de precatório é porque a Constituição impõe pagamento imediato. Se o número grande de credores da espécie, decorrente de postura governamental de calotear seus servidores públicos, tornou impossível o pagamento de todos eles, de uma só vez, conduzindo à formação de fila específica, por óbvio, essa espécie de precatório alimentar há de ter precedência sobre os precatórios não-alimentares. Afinal, ele representa verbas alimentares ilegalmente subtraídas ao longo do tempo, dos legítimos titulares, causando situações de desconforto para si e seus familiares. A inversão que vem ocorrendo na prática, é inconstitucional, imoral e intolerável, ocasionando a morte de milhares de credores, sem a percepção das verbas obtidas ao cabo de mais de cinco anos de discussão judicial. Impõe-se um novo posicionamento da jurisprudência permitindo a compensação do crédito alimentar constante do precatório com os tributos devidos à entidade política devedora, como forma de fazer a Administração Pública cumprir os princípios proclamados no art. 37 da CF. Além disso, não se pode deixar de admitir os precatórios por não serem moeda corrente. Ora, a Constituição federal tem primazia sobre as demais leis e ela conferiu aos precatórios o poder liberatório dos débitos tributários. Mesmo sendo caso de parcelamento ou possibilidade de pagamento com desconto, não pode a lei limitar a intenção da constituição. A questão ficou bem mais clara com a edição da EC nº 62/09 que trata da matéria em alguns tópicos: Alterações no art. 100, da Constituição Federal 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,

8 ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos 2º e 3º. Artigos 5º e 6º da EC 62/09 Art. 5º Ficam convalidadas todas as cessões de precatórios efetuadas antes da promulgação desta Emenda Constitucional, independentemente da concordância da entidade devedora. Art. 6º Ficam também convalidadas todas as compensações de precatórios com tributos vencidos até 31 de outubro de 2009 da entidade devedora, efetuadas na forma do disposto no 2º do art. 78 do ADCT, realizadas antes da promulgação desta Emenda Constitucional. Percebe-se que no 13, o credor perde o benefício da preferência dos 2º e 3º, e perde, também, a restrição de oferecimento de débitos de natureza alimentar como forma de compensação de tributos. Verifica-se, também, que todas as compensações de tributos ficam convalidadas. Ora, a intenção da EC 62/09 é clara no sentido de possibilitar a compensação de tributo. Logo, não recepcionou o dispositivo da nova Lei do Mandado de Segurança que tenta impedir sua vontade. Porém, em sede de liminar, a nova Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 12016/09) diz: Art. 7 o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos

9 documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito; III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. 1 o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento, observado o disposto na Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. 2 o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. 3 o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença. 4 o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento. 5 o As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461 da Lei n o 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. No entanto, a Emenda Constitucional é hierarquicamente superior à Lei nº 12.016/09. Desse modo, a vontade da EC não pode ser limitada pela Lei nº 12016/09. Por qualquer ângulo que se examine a questão, é possível a compensação de débitos tributários com precatórios. Se é possível a compensação, muito mais, ainda, oferecer-se esses precatórios para se suspender a exigibilidade do crédito tributário em mandado de segurança.

10 liminar o que se faz agora. Portanto, também é possível a concessão da Em face do exposto, dá-se provimento ao recurso. MARREY UINT Relator