Finis mundi Laura Gallego García



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Tradução Célia Regina R. de Lima Temas História medieval; Companheirismo; Aventura; Diferenças religiosas e culturais Guia de leitura para o professor Série Vermelha nº 4 272 páginas 2008996275077 O livro Uma antiga profecia conta que na passagem do ano 999 para o ano 1000 o mundo iria acabar. No entanto, somente o monge Michel tem condições de impedir que isso aconteça. Ele tem o livro de um sábio ermitão que diz que, se alguém reunir três talismãs os Olhos do Passado, do Presente e do Futuro, o mundo estará salvo. Acompanhado de Mattius, um jogral ambulante, de memória prodigiosa e profundo conhecedor da geografia européia, e da jovem Lucía, Michel parte em busca dos talismãs. Mas os três não estão sozinhos nessa empreitada. García, membro de uma confraria de adoradores do Satã, é capaz de tudo para se apoderar dos três Olhos, a fim de que o Demônio instaure seu poder na Terra. A autora nasceu em Valência, na Espanha, em 1977. Ela faz parte da nova geração de escritores espanhóis. Estreou na literatura com a publicação de Finis mundi, aos 21 anos. Formada em filologia hispânica pela Universidade de Valência, a autora já publicou outros livros para o público infantil e juvenil. Além da literatura, ela trabalha com direção de desenhos animados para a televisão.

Mergulhando na temática stonehenge é considerado o mais importante monumento pré-histórico do Reino Unido. Estima-se que foi construído há 5 mil anos e até hoje não se tem certeza da sua finalidade. Muitos estudiosos acreditam que ele servia como um altar para cerimônias em homenagem ao sol e para rituais Druidas. Alguns relatos históricos contam que os Druidas, sacerdotes celtas que habitaram a região da Inglaterra durante o período do Império Romano, faziam seus rituais em Stonehenge. Porém, o mais provável é que não foram eles quem construíram o altar de pedras e apenas herdaram a tradição e os costumes dos primeiros moradores do lugar. Diversas pedras de Stonehenge têm desenhos ou inscrições feitas por antigas civilizações. Bibliografia sugerida: PILETTI, Nelson. Toda a história. São Paulo, Ática, 1996. BÉDIER, Jean. O romance de Tristão e Isolda. São Paulo, Martins Fontes, 1997. PATATIVA DO ASSARÉ. Cordel Patativa do Assaré. Introdução e seleção de Sylvie Debs. São Paulo, Hedra, 2000. Sugestão de sites na internet: www.santiago.com.br witcombe.sbc.edu/earthmysteries/ Interpretando o texto Caminhando com Michel Ano 997, vésperas do milênio: a Europa vive sob o domínio do Sacro Império Romano-Germânico, com sede em Aix-la- Chapelle, Germânia. O mosteiro de Saint-Paul, na Normandia, França, onde vive o monge Michel, de 16 anos, é destruído por húngaros. Único sobrevivente, ele foge com um precioso manuscrito, que contém as profecias de um ermitão sobre o fim do mundo na passagem do milênio. A maneira de impedir essa destruição é invocar o Espírito do Tempo com a ajuda de três amuletos desaparecidos: o Olho do Presente, o Olho do Passado e o Olho do Futuro. O monge decide seguir as pistas deixadas pelo ermitão e salvar a humanidade. Nessa missão de três anos, tem a ajuda de Mattius e de Lucía. Mattius é um jogral, cantor e músico ambulante. Michel, educado dentro dos princípios monásticos, sente um certo preconceito contra ele, pois lhe fora ensinado que jograis eram pessoas que não mereciam confiança. Aos poucos, tornam-se amigos e companheiros de viagem: Michel convence o cético Mattius a acompanhá-lo, pois este domina a geografia da Europa Medieval e lhe servirá de guia. Saem da Normandia e atravessam o norte da França em direção à Germânia. O relacionamento entre os dois é, no início, de protetor e protegido; Mattius é mais velho, experiente, conhece os perigos e as incertezas da vida secular, acostumado a percorrer a Europa, imersa em guerras internas, miséria e opressão. Michel, culto e letrado, tendo sempre vivido entre as paredes do mosteiro, é frágil e inexperiente. Aos poucos essa relação se consolida e amadurece. Michel torna-se mais maduro e menos inseguro, apto a acompanhar o jogral em suas andanças pelos povoados e seus perigos. Michel é o mentor da missão e Mattius, o estrategista. Com base na profecia, localizam o Olho do Presente no túmulo de Carlos Magno em Aix-la-Chapelle. Da Germânia vão até a Ocitânia (sul da França); cruzam os Pirineus e seguem o caminho das estrelas até Santiago de Compostela, local ancestral de peregrinação, no oeste da Espanha, onde, segundo os pergaminhos, encontrariam o Olho do Futuro. São perseguidos por García, membro de uma confraria de adoradores de Satã, que também quer apoderar-se dos três Olhos para invocar o Demônio e instaurar seu poder na Terra. Nesse

ponto da narrativa, inicia-se o confronto entre o Bem e o Mal, o que confere tensão à trama. Em Santiago, conhecem Lucía, que os ajudará a localizar o segundo Olho. O suspense cresce, pois García continua a ameaçar a missão e tenta roubar-lhes os dois amuletos. Mattius é ferido, mas os três conseguem fugir. A narrativa prossegue e, depois dos muitos perigos que na época uma viagem poderia trazer, os personagens cruzam o Canal da Mancha até a Britânia (Inglaterra), em busca do terceiro Olho, o do Passado. Na travessia, conhecem uma misteriosa dama normanda. Michel instrui Lucía a fugir para Stonehenge, o Círculo dos Druidas, onde está o terceiro Olho. Ela chega no último dia do milênio, predito último dia do mundo, e o encontra. Nesse momento, chega a dama normanda, a grande vilã da história, que quer apoderar-se dos amuletos para obter a imortalidade e a onisciência. García aparece e a mata. Mattius e Michel chegam e enfrentam García, que também morre na luta. O monge invoca o Espírito do Tempo. Através dos Olhos, Lucía vê o Passado, Mattius, o Presente e Michel, o Futuro. Só se vê a destruição do homem pelo homem em todos os tempos; segundo o Espírito, o mundo não tem salvação e precisa ser destruído. Michel manifesta sua esperança no ser humano e oferece sua vida em troca de uma nova chance para a humanidade. O Espírito concorda, mas cobra seu preço: o monge morre e Lucía e Mattius ficam juntos, pois descobrem que se amam. Caminhando por entre os temas O tema central da obra é o esforço para a superação de obstáculos de concretização de um ideal ou missão. O tempo e o espaço são elementos fundamentais para se compreender a natureza e a dimensão dos conflitos que os personagens têm de enfrentar. Dentro dessas duas linhas condutoras, abrem-se várias questões significativas a serem analisadas. A superação de obstáculos e a solidariedade. A força narrativa de Finis mundi baseia-se no conflito do personagem principal: Michel assume a missão de salvar o mundo e, em benefício dele, entregar a própria vida. Há muitas histórias de heróis e homens idealistas que perderam suas vidas em favor de um ideal ou sonho. Pode-se começar a pensar em Jesus, continuar com Ghandi, na Índia, Tiradentes, no Brasil, e Martin Luther King, nos EUA. Sugere-se discutir as seguintes questões: por que Michel tem tanta determinação? O que leva uma pessoa a crer em seus ideais a ponto de defendê-los com a própria vida? Ainda há pessoas assim?

Mattius, a princípio cético em relação às profecias, passa a crer nelas e a ajudar Michel, sofrendo as conseqüências dessa escolha. Como dois seres humanos tão diferentes podem se tornar amigos? O que os leva a serem solidários um com o outro? Podese discutir com os alunos: como as pessoas enfrentam ou deixam de enfrentar dificuldades e medos por causa dos amigos? Até que ponto a amizade pode ou deve conduzir as pessoas? Também pode-se pôr em debate a questão: é importante para as pessoas desenvolver o princípio da força espiritual, a crença e a defesa de ideais, os valores da amizade, perseverança e solidariedade? Vivendo na Idade Média. As noções históricas de tempo no cenário da Idade Média, centrais na estrutura narrativa, são fundamentais para a compreensão da sustentação da trama. As invasões na Península Ibérica. Após o século III, ocorre a fragmentação do Império Romano, com a chegada de tribos dos chamados povos bárbaros, aqueles que viviam fora dos limites do Império e não tinham a cultura romana: eram os vikings, vindos da Dinamarca, os germanos e, mais tarde, os húngaros, da Europa Oriental, entre outros. Após 476, data da queda oficial do Império Romano, inicia-se a Idade Média (século V a século XV). Levantar hipóteses sobre a vida nesse ambiente, entender como vivia o povo é sempre uma boa estratégia para fomentar o interesse dos alunos. Como seria a vida dos humildes dependentes dos poderosos? Quais seriam as melhores e piores profissões da época? Os mosteiros. Pode-se investigar como era a vida nos mosteiros. Qual sua importância cultural para a época? Os monges levavam vida em comum, faziam votos de pobreza, castidade e obediência. Eram o único grupo letrado da sociedade, com acesso a livros. Por isso, os mosteiros tornaram-se centros culturais. Um dos mais famosos foi o Mosteiro de Cluny, fundado em 910, ordem religiosa a que pertence o personagem Michel. Um projeto intertextual poderia ser desenvolvido com o filme O Nome da Rosa, que retrata muito bem esse aspecto da Idade Média e também mescla história e ficção. A difusão da cultura oral. Muito antes da invenção da imprensa, os livros eram reproduzidos nos scriptorium, pelo processo da cópia manuscrita em folhas de pergaminho, trabalho que Michel fazia no mosteiro. A partir dessa realidade da época, pode-se comentar: como então se propagavam as manifestações literárias, as façanhas de heróis e os fatos históricos entre o povo? Deve-se lembrar que a cultura oral foi

de grande importância e seus agentes de difusão eram os jograis, como Mattius, cantores e recitadores nômades e músicos ambulantes que divulgavam nos povoados e castelos um repertório musical e literário nas línguas locais. Será que a profissão de jogral encontraria lugar ainda nos dias de hoje? É interessante lembrar repentistas e poetas da literatura de cordel que, também em determinadas regiões do Brasil, cantam histórias de amor e grandes façanhas. Eles poderiam ser considerados herdeiros dessa cultura oral? Para esse trabalho de intertextualidade e permanência de valores, a leitura da obra do poeta Patativa do Assaré é um caminho fértil, com a possibilidade de comparação entre textos de narrativas antigas oralizadas (Tristão e Isolda, trechos da Canção de Roland) com poemas de cordel de Assaré (O Padre Henrique contra o Dragão da Maldade). As línguas na Idade Média e a formação do português. A profissão de Mattius lhe confere mobilidade existencial e conhecimento. Ele domina e veicula centenas de cantares, poemas e contos orais nos dialetos e línguas da época: occitano, provençal, castelhano, galego, catalão, grego, toscano. O latim era a língua oficial do Império mas, a essa época, só era usado nos mosteiros e na corte, e se modificava na boca dos variados povos da Europa Ocidental, gerando novos dialetos que, mais tarde, dariam origem às línguas neolatinas, entre elas o português. Ao conjunto desses dialetos, deu-se o nome de romances ou romanços, termo mencionado por Mattius, que não falava o latim, só romanços. Solicitar um levantamento das línguas neolatinas (quais e quantas são) e das origens do português, com o panorama das condições histórico-culturais da Península Ibérica, pode ser um projeto instigante e produtivo. As grandes religiões. Michel é um monge católico, seguidor do Cristianismo, mas tem seus próprios preconceitos. Com a invasão dos árabes, o Islamismo chega à Península e é temido por todos; a narrativa menciona também o Judaísmo e o preconceito sofrido por judeus, como ocorreu com o personagem Isaac. Sugere-se um debate sobre a intolerância religiosa que leva a conflitos e que pode conduzir ao fanatismo. O fato de se ter determinada religião dá a alguém o direito de considerar as outras menos verdadeiras? Até onde radicalismos de qualquer espécie podem prejudicar as relações entre pessoas e povos? Como vencer preconceitos em relação às religiões, culturas e etnias? Uma possibilidade de enriquecimento seria entrevistar o professor de História e os colegas sobre o assunto.

Mergulhando na temática Navegando pelo tempo / História e ficção 300 Início das invasões bárbaras 467 Data convencional do início da Idade Média (Alta Idade Média) 800 Coroação de Carlos Magno como imperador romano 814 Morte de Carlos Magno em Aix-la-Chapelle 890 Invasões dos húngaros na Europa Ocidental 910 Fundação da Ordem de Cluny na Borgonha, região da França atual, movimento reformista contra a intervenção dos senhores feudais na escolha e nomeação dos abades 962 Coroação de Óton I, o Grande, como imperador, dando início ao Sacro Império Romano-Germânico, com sede em Aix-la-Chapelle (Aachen, em alemão), Germânia, atual Alemanha 973 Óton II torna-se imperador 983 Óton III torna-se imperador aos 3 anos de idade 991 Invasão dinamarquesa na Britânia (Inglaterra) 997 Michel abandona o mosteiro destruído e com Mattius, vai até Aix-la-Chapelle em busca do primeiro amuleto 998 Já de posse do Olho do Presente, os dois amigos percorrem o caminho de Santiago de Compostela e chegam até Finisterra, na Galícia 999 Junho de 999 De posse do Olho do Futuro, partem para a Britânia Dezembro de 999 Lucía chega a Stonehenge 31 de dezembro de 999 invocação do Espírito do Tempo 1000 A Ordem de Cluny propõe a Trégua de Deus, movimento que procurava combater a verdadeira mania de guerrear existente na época Mattius e Lucía voltam para a Normandia

dialogando com os alunos Antes da leitura Sugerem-se as atividades: Explorar o título: expressão latina que significa o fim do mundo. Encaminhar uma discussão sobre a existência de profecias em torno do Apocalipse, mencionando, por exemplo, Nostradamus, o mais famoso profeta do futuro. Cartomantes, videntes, horóscopos e mapas astrológicos na previsão do futuro têm alguma valia? Existem profecias que se cumprem? É possível crer nelas? Levantamento de experiências pessoais. Combinar uma leitura por capítulos. Antes de iniciar cada capítulo, desenhar para os alunos o panorama da Idade Média em que se insere a narrativa, apresentando-lhes uma linha do tempo e um mapa, contextualizando os principais fatos que influenciam a narrativa: as invasões bárbaras, os mosteiros, a limitação de acesso à leitura, a difusão oral da cultura etc. A partir desses dados, fazer a leitura das duas páginas iniciais, nas quais esses dados já são apontados concretamente. Durante a leitura Sugerem-se as seguintes atividades: Após a leitura do Livro I, retomar linha do tempo e mapa e comentar alguns aspectos: 3 As condições de vida na Idade Média: as muralhas das cidades, as invasões e as pilhagens, as doenças, as festas populares, o comércio e os artesãos, as dificuldades de locomoção etc. 3 O amadurecimento do personagem: Michel passa a respeitar Mattius e a perceber que as coisas no mundo não eram como tinham-lhe contado no mosteiro (pp. 38 e 53). Quanto e como podemos crescer com nossas próprias experiências? 3 Santiago de Compostela: já na Idade Média, milhares de cristãos iam em peregrinação ao santuário, em Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha. O nome Compostela, acredita-se, originou-se da expressão latina campus stellae (campo de estrelas). Até hoje, peregrinos anônimos ou famosos refazem esse caminho. Quais seriam as motivações que levam pessoas de diferentes lugares do mundo a convergirem para essa rota ancestral: espírito religioso-cristão, misticismo, busca interior, superação de limites pessoais ou uma grande aventura?

Após a leitura do Livro II, é possível comentar: 3 O preconceito que Lucía sofre por ser mulher e querer ser jogralesa (p. 66). Preconceitos contra as mulheres em determinadas profissões ainda existem? 3 A importância do ponto de vista na narrativa. Há um narrador onisciente que conhece tudo sobre todos. Como seria a história contada do ponto de vista de Lucía? Quais seriam as conseqüências desse enfoque para a estrutura da narrativa? Depois da leitura Sugerem-se as seguintes atividades: A estrutura narrativa: 3 Como se processa o arranjo dos fatos na dinâmica de construção da trama? 3 Como é construído o suspense? Como o escritor consegue criar expectativas, captar e manter a atenção do leitor? 3 A divisão em capítulos é importante na estruturação da história? 3 O final é previsível ou imprevisto? 3 O que há de ficção e o que há de verdade histórica na trama? Como a autora equilibrou essas duas forças? Uma sobreviveria sem a outra? Da Idade Média à vida contemporânea: 3 Michel leva três anos para cumprir sua missão. Como seria hoje? O que mudou de 997 a 2004? Quais as invenções que transformaram o mundo desde então? 3 O homem é o lobo do homem (Thomas Hobbes 1588/1679). O sacrifício de Michel, que lembra outro ocorrido no começo do mesmo milênio (o de Jesus Cristo), valeu a pena? Mudou alguma coisa desde então, ou o homem continua a destruir seu semelhante? 3 Como vivemos hoje? De um lado, guerras, intolerância, violência, radicalismos; de outro, famílias unidas pelo amor, pessoas idealistas, ONGs. Será que a humanidade tem salvação? O que seria salvar a humanidade? Elaboração do guia Laiz Barbosa Carvalho; coordenação Ivone Daré Rabello; revisão pedagógica e preparação Miró Editorial