MÉTODO DE INVESTIMENTOS E ESTRATÉGIA OPERACIONAL PARA ESPECULAÇÃO DE CURTO PRAZO EM MERCADOS FUTUROS AGROPECUÁRIOS



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Transcrição:

MÉTODO DE INVESTIMENTOS E ESTRATÉGIA OPERACIONAL PARA ESPECULAÇÃO DE CURTO PRAZO EM MERCADOS FUTUROS AGROPECUÁRIOS Joao Guilherme Penteado (UEPG ) joao.penteado@praisce.com.br Pedro Paulo de Andrade Junior (UTFPR ) pedropaulo@utfpr.edu.br Rosangela de Fatima Stankowitz Penteado (UTFPR ) zanza2007@gmail.com A possibilidade de maior rentabilidade por meio de operações com derivativos financeiros atrai a atenção dos investidores que buscam ferramentas para composição e maximização do retorno de uma carteira de investimentos. Nesse contexto, estee artigo tem por objetivo apresentar a rentabilidade de um método de investimento e estratégia operacional de especulação de curto prazo em mercados futuros agropecuários. Para tanto, foi elaborado um modelo, com base na Análise Técnica, aplicado ao ativo Milho Campinas Futuro em 60 operações por um período de 17 meses, comparando os resultados com o retorno do Índice Bovespa e a da Taxa Selic. Os resultados demonstraram que a rentabilidade do método proposto superou em mais de vinte vezes o retorno dos índices de referência. Palavras-chaves: Mercado futuro, BM&FBovespa, milho futuro, especulação financeira, investimentos, commodities

1. Introdução As possibilidades de rentabilidades acima da média através dos derivativos financeiros têm chamado a atenção dos investidores. Dissonante da alavancagem permitida, o mercado de futuros é largamente utilizado para estratégias de hedge, que objetivam a proteção do participante de um determinado mercado físico ou financeiro contra variações adversas de preços, moedas e taxas (BM&FBOVESPA, 2012). Porém, há indícios de que a alavancagem presente nos derivativos, mais precisamente nos mercados futuros, seja alvo de especulação financeira por investidores e instituições comuns ao mercado de capitais. Esses buscam operar a tendência de preços do mercado com o intuito de obter lucratividade. Com o objetivo de apresentar a rentabilidade de um método de investimento e estratégia operacional de especulação financeira de curto prazo para um ativo específico, comparando com os principais índices de referência utilizados no mercado brasileiro. Para alcançar esse objetivo estudou-se a Análise Técnica. Com o advento do Homebroker, iniciado no Brasil em 1999, o mercado foi democratizado. Através da plataforma de negociação online (Homebroker), pessoas comuns, sem vínculo às instituições financeiras, tiveram seu ingresso ao mercado de capitais facilitado e assim, o mesmo vem apresentando crescimento significativo, em volume financeiro, ano após ano. De acordo com dados do software Nelogica ProfitChart (2013), o volume de movimentação financeira da Bolsa de Valores de São Paulo em Janeiro de 1999 foi de aproximadamente 6.478,0 milhões de reais. Já, o volume financeiro de Janeiro de 2013 indica aproximadamente 115.922,12 milhões de reais. Um crescimento de 1789,46% no período. Com o aumento da liquidez e do número de pessoas físicas ingressando nos mercados ao longo das últimas décadas, o swing trade, determinado por uma entrada e uma saída em uma operação de compra ou venda de um ativo ao longo de poucos dias ou semanas, tornou-se comum e viável em diversos tipos de papéis. Desta forma, permitindo que pessoas físicas comuns pudessem se especializar neste tipo de negociação tornando-se profissionais de Swing 2

Trade e especulação financeira, mesmo sem possuírem vínculo a uma instituição financeira específica. Visando esse mercado de alto risco e alta alavancagem permitida pela BM&FBovespa e pelas corretoras brasileiras, o mercado de futuros chama a atenção dos especuladores. Podendo-se utilizar alavancagem acima de vinte vezes em alguns ativos, é um mercado promissor, onde uma estratégia de rentabilidade positiva pode trazer grandes lucros, bem como uma estratégia que apresenta rentabilidade levemente negativa, pode fazer com que o investidor perca o capital em um curto espaço de tempo, caso não haja um manejo de risco adequado. Nesse contexto, surge o seguinte questionamento: Como um método de investimento e estratégia operacional de especulação financeira de curto prazo pode alavancar a rentabilidade em mercados futuros? 2. Referencial teórico Para entender mercados futuros é necessário conhecer a definição de bolsa de valores. Para Assaf Neto (2001) é um mercado organizado onde são negociadas ações (a menor parte de uma empresa) de organizações de capital aberto, assim como outros instrumentos financeiros. Dos negócios realizados em uma Bolsa de Valores são formados índices para acompanhamento do comportamento dos preços de segmentos e setores de mercado, mais conhecidos como benchmark. Segundo Fontes (2007), um índice de mercado é uma referência para análise do comportamento dos preços de determinado grupo de ações ou setores específicos. O Índice Bovespa (IBOV) é uma carteira hipotética de ações que serve como principal indicador de desempenho médio das ações mais negociadas no pregão. Para manutenção da representatividade, há reavaliação da carteira a cada quatro meses. Para nova avaliação utilizam-se os últimos 12 meses, quando são verificadas alterações na participação de cada ação. (BM&FBOVESPA, 2012). As estratégias desenvolvidas neste artigo são voltadas à operação dos contratos futuros de commodities, sendo testadas diretamente no ativo Milho Campinas (CCM). Esse apresenta a maior liquidez e características apropriadas às operações de Swing Trade. É um derivativo financeiro pertencente à categoria dos Mercados Futuros. Segundo a BM&FBovespa (2012): 3

O mercado futuro é o segmento dos mercados de derivativos baseado em operações realizadas em pregão de bolsa, com contratos padronizados (contratos futuros) tendo em vista que: derivativos são instrumentos financeiros que têm seus preços derivados do preço de mercado de um bem ou de outro instrumento financeiro. Dentre os principais derivativos do mercado futuro, o Míni Índice, o Índice Futuro e o Dólar Futuro apresentam maior liquidez e volume, sendo a cotação destes contratos definida pela expectativa do mercado. Essa expectativa precifica o ativo de acordo com o valor esperado do mesmo na data de vencimento do contrato, no caso, o valor teórico do Índice Bovespa e a cotação do dólar respectivamente. O Milho Campinas é um derivativo agrícola negociado com vencimento nos meses ímpares do ano, que visa definir a cotação da saca de milho na data de vencimento do contrato. Para este estudo, as operações nos contratos de Milho Campinas foram realizadas entre Agosto de 2011 e Janeiro de 2013. Portanto, o papel a ser negociado possuiu diversas siglas através dos meses de acordo com o seu vencimento. Começando por CCMU11, onde CCM é o contrato a ser negociado, U se refere ao mês de Setembro, e 11 ao ano de 2011. Após o contrato U11, vieram os contratos X11, F12, H12, K12, N12, U12, X12 e F13. De acordo com a BM&FBovespa (2013), o contrato padronizado do Milho Campinas é composto por 27 toneladas métricas ou 450 sacas de 60 Kg e sua cotação é em Reais por 60 kg líquidos (uma saca). Assim, supondo que a cotação atual fosse de R$ 30,00 por saca, o valor de um contrato de milho seria de R$ 13.500,00. Para aplicação e desenvolvimento das técnicas foram utilizados conceitos de Análise Técnica, incluindo interpretações e estudos prévios elaborados pelos autores. De acordo com Murphy (1986) existem três premissas básicas que fundamentam a análise técnica segundo a Teoria de Dow: as cotações de mercado descontam tudo que envolve a empresa e o setor, seja no âmbito político, econômico ou psicológico; os preços movem-se em tendências e, por último, a história é cíclica, portanto, o comportamento passado das cotações se repete no futuro. Para Ehrman (2004), a análise técnica representa a elaboração de um modelo complexo que remove o fator humano do momento de decisão ou execução de um investimento. Sendo assim, pode ser definida como uma linha de pensamento que defende a ciclicidade do 4

mercado, afirmando que tendências de preços e situações de mercado possuem determinado grau de previsibilidade, o qual pode ser confirmado através do estudo estatístico do histórico do ativo de forma a propiciar um market timing adequado para realizar um investimento. Estudos de Sato (2002) e Saffi (2003) demonstram que a Análise Técnica não possui a capacidade de, com consistência, obter retornos superiores às estratégias comuns de longo prazo baseadas em Buy & Hold, ou seja, comprar e esperar a valorização do papel. O suporte aos preceitos da Análise Técnica é dado por Cunha (2002), com o estudo dos gráficos de candlesticks; Santos, Costa e Silveira (2003), com a percepção dos padrões de dependência obtida em seus experimentos e Guimarães (2011) através da utilização de estratégias compostas de médias móveis. Utilizando ferramentas estatísticas, Wolwacz e Recziegel (2013) analisaram o retorno do IBOV de 1980 a 2010 comparativamente às operações de seis meses ao ano utilizando-se de um ditado de Wall Street: Sell in May and go away que significa Venda em Maio e vá embora. Segundo o estudo, foram formuladas duas carteiras, uma considerando a compra de uma carteira que seguisse o IBOV de 1980 até 2010 e outra, formulada da mesma maneira, comprada no início de Novembro e vendida ao final do próximo mês de Abril. Os recursos ficariam mantidos em caixa durante o restante do ano até nova compra a ser realizada em Novembro. A conclusão foi de que enquanto o Ibovespa deflacionado (IPCA) apresentou retorno médio anualizado de 10,25%, a carteira de Novembro a Abril deflacionada (IPCA) apresentou retorno médio anual de 15,53%. Demonstrando ainda, menores índices de drawdown bem como redução do número de retornos negativos em cada mês e ano. Dado o cunho especulativo das estratégias deste trabalho e do ditado alvo de estudo de Wolwacz e Recziegel (2013) é necessário a conceituação do termo. De acordo com o dicionário online Michaelis (2013), a palavra especulação tem sua origem do latim speculatione e dentre seus significados, destacam-se: Operação comercial que visa não apenas ao lucro ordinário do ramo, mas, sobretudo, aos das flutuações conjeturais do preço das mercadorias, ou ainda, pode ser definida como Operação financeira sobre valores sujeitos às oscilações do mercado. 5

Segundo Kaldor (1939), especulação é a compra ou venda de mercadorias objetivando a revenda ou recompra em uma data futura, motivada pela expectativa de antecipação de uma mudança nos preços em vigor. Essa visão vai ao encontro de Keynes (1936) que define especulação como sendo a atividade de antecipar ou prever a psicologia do mercado. Para Strong (1993) a especulação é o ato de comprar ou vender um ativo na expectativa de obter ganhos rápidos através das oscilações na cotação desse ativo. Sendo assim, por intermédio da especulação, busca-se antecipar a tendência de evolução dos preços para obter lucros. Para tanto, propõe-se um método e estratégia operacional de especulação financeira de curto prazo para alavancar a rentabilidade em mercados futuros. 3. Método proposto O método proposto envolve uma estratégia pré-determinada aplicada ao ativo Milho Campinas no período de agosto de 2011 a janeiro de 2013, abordando as oscilações de preços com o objetivo de rentabilizar essa volatilidade. O método é composto por 2 setups, que são estratégias operacionais pré-definidas, para proporcionar segurança emocional ao investidor. É um composto de pequenas regras que orienta o investidor a comprar ou vender a commodity Milho Campinas. Foi testado em 60 operações realizadas ao longo de dezessete meses para que a amostragem fosse adequada e a sua rentabilidade pudesse ser analisada. A rentabilidade foi comparada aos principais índices de referência do mercado brasileiro, o Índice Bovespa e a Taxa Selic. O gráfico utilizado para a execução das operações foi o de Candlesticks no período diário. Cada candle, barra que apresenta as informações de cotação durante determinado período de tempo, equivale a um dia de pregão. Figura 1 Gráfico de candlestick. 6

Fonte: Penteado et. al., 2012 p. 5 As barras (candles) representam as cotações de abertura, fechamento, máximas e mínimas em um período de tempo. O candle se torna vermelho quando a cotação de fechamento ocorre abaixo da cotação de abertura, verde quando o preço de fechamento ocorre acima do preço de abertura. 3.1 Definição de 3-bar-net-line Para Stowell (1995), 3-bar-net-line é o conceito de tendência definido da seguinte forma: Quando os preços estão subindo: Encontra-se a cotação máxima da tendência de alta. Esta é conhecida como Barra 1. Olhando à esquerda, nos candles passados, encontra-se a mais recente mínima que esteja abaixo da mínima da Barra 1. Este é denominado Barra 2. Olhando à esquerda novamente, procura-se pela mínima mais recente abaixo da mínima da Barra 2. Denominada Barra 3. Traça-se uma linha horizontal junto à mínima da Barra 3. A tendência é altista até que um candle feche abaixo da linha traçada. Quando os preços estão caindo: Encontra-se a cotação mínima da tendência de baixa. Conhecida como Barra 1. Olhando à esquerda, nos candles passados, encontra-se a mais recente máxima que esteja acima da máxima da Barra 1. Este é denominado Barra 2. 7

Olhando à esquerda novamente, procura-se pela máxima mais recente acima da máxima da Barra 2. Denominada Barra 3. Traça-se uma linha horizontal junto à máxima da Barra 3. A tendência é baixista até que um candle feche acima da linha traçada. 3.2 Estratégia (setup) 1 adaptação da 3-bar net line Para as operações com o Milho Campinas foi alterado o conceito de Stowell para enquadrar a estratégia ao comportamento do ativo. Para definir a tendência do Milho, utilizou-se o seguinte padrão: delimitou-se a constituição da 3-Bar-Net-Line a sete pregões, utilizando o gráfico diário. Formando-se a 3-Bar-Net-Line quando os preços estão subindo, no momento em que a cotação do ativo romper a linha horizontal junto ao valor da máxima da Barra 1, aciona-se uma compra, pressupondo que a tendência de alta foi confirmada. Da mesma forma, se o padrão da 3-Bar-Net-Line for gerado enquanto os preços estiverem caindo, no momento em que a cotação do ativo romper a mínima da Barra 1, aciona-se uma venda, pois a tendência baixista foi confirmada. Quando não há padrão definido nos sete candles mais recentes, não existe operação prevista. Assim, aguarda-se até que o padrão seja formado e então, inicia-se uma nova operação no rompimento do padrão. Figura 2 Pontos de compra e venda através da estratégia 1 8

Fonte: adaptado de Nelogica ProfitChart (2012) Essa estratégia mostrou-se eficaz quando aliada ao comportamento do ativo em operação. Porém, apresenta uma falha peculiar, quando há a formação de um candle de expressão em sentido contrário ao da tendência, a formação de um novo padrão gera entradas atrasadas. Exemplo: os preços vêm caindo há alguns dias, onde já existe a formação do padrão de queda, e no dia seguinte ocorre uma forte alta, com um candle expressivo em sentido contrário ao da tendência, podendo gerar uma inversão de tendência. Figura 3 Candle de expressão contra a tendência 9

Fonte: adaptado de Nelogica ProfitChart (2013) Nesse caso, até que a formação do padrão altista ocorra, perde-se parte da nova tendência altista, gerando entradas atrasadas e consequentemente, há redução do lucro ou mesmo prejuízo na operação seguinte. 3.2 Estratégia (setup) 2 canal de médias móveis Para não perder uma mudança de tendência brusca e se adaptar rapidamente à nova realidade durante as operações foi desenvolvida uma estratégia secundária, que serve como suporte e auxilia a estratégia principal visando à melhoria da rentabilidade em operações com commodities. O setup 2 é composto por um canal de duas médias móveis exponenciais de 9 períodos. Uma média móvel é traçada pelas cotações máximas e outra pelas cotações mínimas de cada candle, de modo a captar uma mudança brusca de tendência. As entradas acontecem da seguinte forma: a) Em tendência altista, segundo a definição da Estratégia 1, quando um candle de expressão é formado em sentido contrário e seu fechamento está próximo de ocorrer abaixo da linha inferior do canal de médias, ainda durante o pregão, dá-se entrada em uma operação vendida. b) Em tendência baixista, segundo a definição da Estratégia 1, quando um candle de expressão é formado em sentido contrário e seu fechamento está próximo de ocorrer acima da linha superior do canal de médias, ainda durante o pregão, dá-se uma entrada em uma operação comprada. 10

Em ambos os casos a entrada em nova posição deve ocorrer apenas após as 15h, visto que as negociações no Milho se encerram às 15:30h. A seguir a figura 4 ilustra um exemplo de utilização da estratégia. Figura 4 Exemplo de entrada segundo a estratégia 2 Fonte: adaptado de Nelogica ProfitChart (2013) Embora exista tendência altista segundo a estratégia 1, o fechamento de um candle abaixo da média móvel composta pelas mínimas diárias, representada pela linha vermelha, indica o início de uma operação vendida. 3.3 Gestão de risco e controle de perdas O risco, definido como qualquer medida numérica de incerteza por Duarte Júnior (2005), é minimizado, na gestão do risco desse método utilizando duas estratégias. Uma denominada Stop Loss, que é um controle de perdas, onde se delimita a perda máxima da operação em andamento e o outro, útil tanto para proteção do capital perante uma grande perda quanto para proteção dos lucros auferidos em uma operação positiva, denominado Stop Móvel. Para Elder (2009), o controle de risco é estabelecido pelo gerenciamento inteligente do capital, sendo reflexo da psicologia saudável do operador. O gerenciamento de risco é essencial para que o trader (operador) realize suas operações, reduzindo assim, o peso e a preocupação com as perdas, que são de fácil controle e menor impacto sobre o capital. Dentro desse método de operações, foi definido como stop loss máximo o valor de R$ 0,40 por saca, ocasionando uma perda máxima na operação de um contrato de R$ 180,00, desconsiderando taxas, corretagem, impostos e emolumentos. Para o controle de perdas foi estabelecido que: 11

a) Em caso de operação de compra: se a distância entre a mínima do candle anterior ao que gerou o ponto de entrada e o próprio ponto de entrada for menor que os R$ 0,40/saca, estabelecido como limite de perda, o stop loss deve ser posicionado R$ 0,01 abaixo dessa mínima, para reduzir um possível prejuízo. b) Em caso de operação de venda: se a distância entre a máxima do candle anterior ao que gerou o ponto de entrada e o próprio ponto de entrada for menor que os R$ 0,40/saca estabelecido como limite de perda, o stop loss deve ser alocado R$ 0,01 acima dessa máxima, para reduzir um possível prejuízo. Demarcado o controle de perdas no início da operação, o método de saída e proteção de lucros ocorre através do acompanhamento do stop loss de acordo com as mínimas (em caso de compra) ou máximas (em caso de venda) dos candles seguintes no período diário. Exemplificando: supondo uma compra realizada em R$ 30,00 com stop loss em R$ 29,60 e considerando que o próximo pregão seguisse o movimento altista, formando uma mínima diária de R$ 29,80, o stop loss seria alterado para o valor de R$ 29,79. Dessa forma, transforma-se o controle de perdas fixo em um stop móvel. Se no pregão seguinte a cotação cair até R$ 29,50, a operação é fechada em R$ 29,79 realizando prejuízos de R$ 0,21 por saca, reduzindo a perda em R$ 0,19 por saca. Da mesma forma, se o movimento altista tivesse sequência, alterar-se-ia o stop de acordo com as regras já expostas até que em determinado pregão houvesse a perda da mínima anterior, acionando o controle de risco e fechando a operação em um prejuízo menor que R$ 0,21 por saca ou realizando lucro. Figura 5 Exemplo de operação de venda 12

Fonte: adaptado de Nelogica ProfitChart (2013) A figura 5 demonstra uma operação vendida que resultou em lucro bruto de R$ 0,70 por saca. 4. Resultados e aplicação do método proposto Após 60 operações, executadas entre 21 de Agosto de 2011 e 17 de Janeiro de 2013, os resultados obtidos são apresentados nas tabelas a seguir. A Tabela 1 demonstra o índice de acerto das estratégias aplicadas. Tabela 1- Índice de acerto Número de Trades Índice de acerto em % Acertos 37 61,67 Erros 22 36,67 Breakeven 1 1,66 Total 60 100 Fonte: dados da pesquisa (2013) As estratégias obtiveram um índice de acerto em torno de 60%, sendo que cada operação considerou o fechamento da posição com lucro ou prejuízo. A Tabela 2 apresenta o resultado bruto médio por saca e o resultado financeiro médio por operação. Apresenta ainda, a correlação entre o lucro médio e o prejuízo médio por operação. Tabela 2 Retorno médio por operação Resultado Bruto médio por saca por operação Resultado médio financeiro líquido de taxas por operação por contrato 13

Lucro R$ 0,90 R$ 431,51 Prejuízo R$ (0,26) R$ (148,80) Retorno médio por operação R$ 0,46 R$ 131,68 Fonte: dados da pesquisa (2013) As tabelas 3 e 4 demonstram os resultados financeiros finais obtidos após a conclusão das operações. Tabela 3 Resultados obtidos Faturamento Corretagem Lucro Bruto Imposto de Renda R$ 12.460,50 R$ 4.559,52 R$ 7.900,98 R$ 1.185,15 Fonte: dados da pesquisa (2013) Multiplicando-se os valores de retorno médio por operação pelo número de trades efetuado, chega-se aos resultados auferidos na Tabela 3. O método obteve uma elevada rentabilidade, no entanto os custos operacionais com corretagem representaram aproximadamente 36,59% do faturamento. Tabela 4 Comparativo entre faturamento e lucro líquido Lucro líquido Faturamento bruto (%) Lucro líquido (%) R$ 6.715,84 623,03% 335,79 Fonte: dados da pesquisa (2013) Descontando os custos operacionais e o imposto de renda, o método operacional apresentou lucro líquido de 335,79% no período, representando uma rentabilidade média mensal aproximada de 19,75% ao mês. A Tabela 5 compara a rentabilidade do método relacionada à taxa Selic e ao desempenho do Índice Bovespa no período. A comparação não considera o desconto de Imposto de Renda. Tabela 5 Comparativo com os índices de referência Método proposto Selic Ibovespa 395,05% 12,15% 18,75% Fonte: dados da pesquisa, Banco Central do Brasil, BM&FBovespa (2013) É perceptível a diferença de rentabilidade proporcionada pela alavancagem dos mercados futuros. A mesma pode ocasionar perdas elevadas, acima do patrimônio líquido do operador caso a estratégia se mostre deficitária no longo prazo. 14

A Figura 6 demonstra a curva de capital ao longo das operações. Figura 6 Montante de rentabilidade líquida em 2013 Fonte: dados da pesquisa (2013) Embora a Figura 6 demonstre volatilidade elevada na curva de capital ao longo do período, percebe-se a evolução positiva do montante. 5. Considerações finais O modelo de investimento proposto apresenta técnicas operacionais fundamentadas em ferramentas de Análise Técnica aplicadas ao ativo Milho Campinas Futuro. A confrontação dos resultados e a observação do desenvolvimento da curva de capital denota que as operações alavancadas, quando positivas, trazem ao operador a possibilidade de retorno elevado. O método apresentou uma rentabilidade de 395,05% enquanto o Índice Bovespa valorizou em 18,75% e a Taxa Selic obteve retorno de 12,15%. Desta forma, os resultados do método superam os retornos dos índices de referência em mais de vinte vezes. Comprovando a sua eficiência no que tange a aplicação adequada da Análise Técnica em mercados alavancados, especificamente, no ativo Milho Campinas Futuro. Assim, abre-se espaço para análises futuras comparativas que comprovem a rentabilidade de longo prazo do método em anos posteriores. Também há a necessidade de desenvolvimento 15

de novas estratégias para diversos ativos ou testes do mesmo modelo de operação em outros ativos. Referências ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Histórico das taxas de juros. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/?copomjuros. Acesso em 25/02/2013. BM&FBOVESPA. Contrato futuro de milho. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/download/agro/contrato-futuro-de-milho.pdf acessado em 15/02/2013. CUNHA, J. Hipótese de mercados eficientes: utilização de padrões candlesticks e simulação bootstrap. Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2002. DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS ONLINE. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=especula%e7%e3o. Acesso em 15/03/2013. DUARTE JÚNIOR, A. M. Gestão de riscos para fundos de investimentos. São Paulo, Prentice Hall, 2005. EHRMAN, D. Equity trading techniques. Futures Magazine. p. 32-34. Chicago, Maio, 2004. ELDER, A. Aprenda a operar no mercado de ações. 11. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. ELDER, A. Aprenda a vender e operar vendido: lucre com a bolsa em alta ou em queda. 5. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. FONTES, R. E. Construção de um índice agrícola para o mercado derivativo de commodities agrícolas na BM&F. Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2006. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GUIMARÃES, D. P. G. É possível bater o Ibovespa com Análise Técnica no Mercado Futuro? Revista de Administração Contemporânea, v. 15 n. 5. Curitiba, Set/Out. 2011. KALDOR, N. Speculation and economic stability. The review of Economic Studies, vol. 7, nº 1. p. 1-27. 1939. KEYNES, J. M. General theory of employment, interest and Money. Harcourt Brace Jovanovich, New York. 1936. MURPHY, J. Technical analysis of the futures markets. New York Institute of Finance, N.Y. 1986. PENTEADO, J. G. et. al. Contratos de mini índice futuro do Ibovespa: estratégia operacional. II Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção. Ponta Grossa, Paraná. 2012. STRONG, R. A. Portfolio construction, management & protection. South-Western Cengage Learning. 5. ed. Mason, Ohio. 2009. SAFFI, P. A. C. Análise Técnica: sorte ou realidade? Revista Brasileira de Economia, v. 57 n. 4, 953-974. Rio de Janeiro, Out/Dez. 2003. 16

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