OLIVEIRA, Fábia A. S. Acadêmica do curso de Bacharelado em Geografia e Aluna pesquisadora do Grupo de Estudos Territoriais GETE, Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, fabialessandra.geo@gmail.com PRZYBYSZ, Juliana Doutoranda em Gestão do Território do Programa de Pós-Graduação em Geografia e Pesquisadora do Grupo de Estudos Territoriais GETE, Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, juliana.przybysz@gmail.com SILVA, Joseli M. Orientadora, Professora do Departamento de Geôciências e Pesquisadora do Grupo de Estudos Territoriais GETE, Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, joseli.genero@gmail.com AS RELAÇÕES DE PODER, GÊNERO E SEXUALIDADES ENTRE DISCENTES E DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG, PARANÁ. INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem como cunho central analisar como o corpo discente compreende as relações entre poder, gênero e sexualidades na interação cotidiana entre discentes e docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG. Partindo do pressuposto de que toda construção social é simultaneamente espacial, tal pesquisa se justifica pelo fato de que a combinação de elementos como gênero, idade e hierarquia pode vir a constituir espaços de constrangimentos no ambiente acadêmico. A administração de uma universidade pública é organizada hierarquicamente a partir das relações de poder construídas dentro da mesma, podendo ser considerada uma espacialidade branca, burguesa e machista, onde existe a discriminação de gênero e relações de poder a serem compreendidos. A masculinidade hegemônica se consolida pela ideia de superioridade que é simbolicamente reconhecida e aceita nas práticas culturais cotidianas, sendo construída
em oposição à feminilidade e outros tipos de masculinidades que não correspondam ao sujeito ideal (CONNEL, 1987, 1995). O espaço é conceito corrente na ciência geográfica, sendo compreendido de diversas formas. Segundo Corrêa (1993), o espaço urbano é resultante das relações sociais, bem como elemento fundamental para o mantimento das mesmas. Para estabelecer a relação entre espaço, gênero e poder, é necessário compreender o espaço para além de sua materialidade e de seu papel enquanto produtor de relações capitalistas de produção. Partindo da perspectiva cultural, o espaço pode ser compreendido por Silva (2000) como produção das relações sociais resultantes não somente das formas materiais e funcionais que mantêm o modo capitalista de produção, mas também são marcadas pelos códigos e símbolos que se constroem na vida cotidiana e que estabelecem um sentido particular no processo de produção da cidade. Para Duncan (1990), as espacialidades da cidade recebem e transmitem informações através da expressão de linguagem, tendo um discurso legível a partir de organizações sociais, que por meio destas, várias práticas sociais seriam comunicadas, negociadas e desafiadas. Neste sentido, o espaço é vivenciado de diferentes formas dependendo dos papéis culturais desempenhados pelas pessoas. Frente ao exposto, o gênero, portanto, passa a ser um elemento fundamental neste contexto, pois segundo Butler (2006), o mesmo é resultado da produção de diversos fatores que dão evidência às ações dos atores sociais através do espaço. A partir de ações repetitivas dos sujeitos sociais no espaço geográfico, em conjunto com outros sujeitos, o gênero se coloca de maneira naturalizada e, sendo assim, sujeitos não enquadrados no padrão de 'normalidade' sofrem segregação sócio-espacial. Para a autora, a dicotomia de gênero (feminino/masculino) restringe o sujeito pesquisador à visibilidade de outras formas de gênero não inseridas neste contexto. Corroborando com o mesmo pensamento, Silva (2009) traz que o gênero assume uma posição política e agrega a dimensão social e cultural da diferença sexual sob a perspectiva da construção social.
A vivência de relacionamentos entre pessoas que envolvem a sexualidade e o poder se desenvolve no ambiente universitário, fortemente organizado por uma hierarquização entre pessoas. A combinação dos elementos gênero, idade, hierarquia podem constituir espaços de constrangimentos e devem ser investigados. As relações verticalizadas entre professores e alunos é reflexo de um sistema de educação tradicional construido historicamente pela sociedade capitalista moderna. Dentro da sala de aula, o professor é a autoridade máxima e, portanto, tem autonomia para ministrar a disciplina e conduzir os alunos à sua maneira. OBJETIVO Este trabalho tem o objetivo de analisar como o corpo discente compreende as relações entre poder, gênero e sexualidades na interação cotidiana entre discentes e docentes da Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG. METODOLOGIA Para atender o objetivo apontado foi usado como metodologia a escolha dos cursos, dentre os setores de conhecimento da UEPG, que apresentam a maior porcentagem de discentes mulheres e homens que se matricularam nos anos de 2009 a 2010 e que possivelmente se formarão em 2014 (Gráfico 01) e dos cursos com a maior porcentagem de docentes homens e mulheres (Gráfico 02). De acordo com os dados fornecidos pelo Programa de Graduação da Universidade Estadual de Ponta Grossa - PROGRAD, atualmente a universidade possui seis setores de conhecimento, sendo eles, Ciências Agrárias e de Tecnologia; Ciências Biológicas e de Saúde; Ciências Exatas e Naturais; Ciências Humanas, Letras e Artes; Ciências Jurídicas e Ciências Sociais Aplicadas, somando o total de trinta e oito cursos presenciais de graduação.
Gráfico 01 - Porcentagem de discentes do gênero feminino e masculino que ingressaram nos anos de 2009 2010 2011. Org.: OLIVEIRA, 2014. De acordo com o Gráfico 01, o curso de Engenharia de Computação possui a maior porcentagem de homens, com o total de 91,7%.; já o curso de Pedagogia possui a maior porcentagem de mulheres, totalizando 94,3%. Nesta pesquisa, entretanto, serão considerados para análise os cursos que apresentam porcentagem acima de 80% de discentes separados por gênero. São eles: Engenharia de Computação, Bacharelado em Informática, Licenciatura em Música, Engenharia de Alimentos, Enfermagem, Farmácia, Pedagogia, Serviço Social e Turismo.
Gráfico 02 - Porcentagem de docentes do gênero feminino e masculino dos cursos de graduação. Org.: OLIVEIRA, 2014. No Gráfico 02, observa-se que os cursos que apresentam porcentagem acima de 80% de docentes separados por gênero são os de Agronomia, Engenharia de Materiais, Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, Pedagogia e Serviço Social. Frente ao exposto, serão entrevistados(as) aluno(as) de treze cursos diferentes a partir de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas contendo questões abertas e fechadas sobre os conceitos-chave de poder, gênero e sexualidades que darão respaldo à pesquisa. RESULTADOS PRELIMINARES A pesquisa se encontra na fase exploratória, com aplicação de entrevistas semiestruturadas com as(os) discentes dos treze cursos escolhidos. Já foram entrevistados
vinte discentes dentre estes cursos, e as entrevistas geradas já estão em processo de transcrição para que seja feita a análise de discurso. Atualmente, no âmbito científico da Geografia Brasileira, há poucas abordagens sobre sexualidade e gênero, notadamente no espaço universitário. Com isso, esta pesquisa pretende dar visibilidade a expressão dos discentes em sua vivência na universidade. BIBLIOGRAFIA BUTLER, Judith. Deshacer el Género. Barcelona: Paidós Ibérica, 2006. Cap. 2, 67-88p. CONNEL, Robert. Gender and power. Cambridge: Polity Press, 1987.. Maculinities. Sydney: Allen e Unwin, 1995. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. Rio de Janeiro: Ática, Cap. II, 1993. DUNCAN, James. The City as Text The Politics of Ladscape Interpretation in the Kandian Kingdom. New York: Cambridge University Press, 1990. SILVA, Joseli Maria. Cultura e Territorialidades Urbanas Uma Abordagem da Pequena Cidade. Revista de História Regional, v. 2, n. 5, p. 9 37, 2000.. Geografias feministas, sexualidades e corporalidades: desafios às práticas investigativas da ciência geográfica. In: SILVA, Joseli Maria; ORNAT, Marcio Jose; CHIMIN JUNIOR, Alides Babtista (Orgs.). Geografias Subversivas: discurso sobre espaço, gênero e sexualidades. Ponta Grossa: Editora Toda Palavra, 2009, p. 93-113.