COMPORTAMENTO TÉRMICO DE ARGILAS PLÁSTICAS DO RIO GRANDE DO NORTE: OTIMIZAÇÃO DAS CURVAS DE QUEIMA



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XXI ENTMME - Natai-RN, novembro 2005. COMPORTAMENTO TÉRMICO DE ARGILAS PLÁSTICAS DO RIO GRANDE DO NORTE: OTIMIZAÇÃO DAS CURVAS DE QUEIMA R.P.S. Dutra 1, M.L.V.N. Moraes 1, U.U. Gomes 1, R.M. Nascimentol.2, D.M.A. Melo 1, C.A. Paskocimas 1 2 1- Programa de Pós-(iraduaçiio cm Ciência c En genharia de Materiais- Universidade Federal do Rio Grande do Norte- Campus Universitário- s/n. CEP. 59072-970- Natal -RN E-mail: rpsd(íllccet.ufrn.br 2- Programa de Pós-Graduação cm Engenharia Mecânica- Universidade Federal do Rio G rande do Norte- Campus Unive rsitário - s/n. CEP. 59072-970. CP. 1524 - Natal - RN RESUMO A caracterização térmica de argilas é uma das inforn1açõcs importantes na avaliação do comp01tamento térmico destas matérias-primas durante a etapa de queima cm fornos industria is. Neste trabalho, fo i util izada a técnica de análise térmica para determinação das propriedades tisicas de uma série de argi las do Estado do Rio Grande do Norte. Por meio desta técnica, é possível determinar as faix as de temperaturas em que processos físicos c químicos importantes ocon-cm durante o aquecimento. Com base no conhecimento do comportamento tém1ico das amostras de argil as é possível elaborar curvas de queima mais adequadas para obtenção dos produtos, bem como, programar ciclos de queima mais rápidos. A uti li zação de ci clos de queima rápida permite obter um duplo benefício: aumento da produtividade c redução do consumo cspecílico de energia durante a etapa de queima. Neste trabalho foi realizado este tipo de estudo para três argilas do Rio Grande do Norte. Deste modo, a partir de um conjunto de curvas de análise térmica, é possível desenvolver curvas de queima industriais que pennitam um melhor aproveitamento dos recursos de forno. Para isso, utilizou-se a Tcrmogravimctria c a Análise Térmica Diferencial no estudo das argilas pertencentes a diferentes jazidas de indústrias de cerâmica vermelha do Rio Grande do Norte. Os resultados indicam que existe uma grande va ried dc de eventos térm icos, resultantes de diferentes transformações tisicas e químicas, que caracteri zam um comportamento complexo destas matérias-primas naturais. Estes eventos, no entanto, foram utilizados para orientar a delinição de curvas de quei ma para os fornos industriais. PALAVRAS-CHAV E: argilas; análise térmica; cerâmica vermelha; curvas de queima. 409

R.P.S. Dutra, M.L.V.N. Montes, U.U. Gomes, R.M. Nascimento. D.M.A. Melo, C.A. Paskocimas I. INTRODUÇÃO O principal objetivo cm elaborar uma curva térmica. também denominada de curva de queima, é determinar as htixas de temperatura e m que o aquecimento ou o resfriamento deve ser acelerado ou retardado cm função das transformações tisico-químicas que o materia l soli c. bem como identificar a temperatura máxima de queima e relacionar as temperaturas com as propriedades adequadas e necessárias para um bom desempenho dos materiais. No processo de fabricação de produtos da indústria de cerâmica vennclha, durante a operação de queima, é muito importante controlar o aquecimento c o resfriamento das peças submetidas a um tratamento térmico, isto é, a velocidade com que a temperatura aumenta ou diminui. Fssc cuidado se deve cm virtude das variações dimensionais das peças e das reaçõcs características das matérias-primas durante os intervalos de tempo, signi ficando que se os tempos adequados não forem obedecidos, poderão ocorrer problemas nas peças sintcrizadas, tais como: fissuras, deformações e quebras das peças, sendo estes um grande problema a tua! das indústrias de ccrümica. Cada matéria-prima tem uma curva térmica característica, (kpcndcnte da sua composição e que deve ser seguida durante toda a etapa de queima, evitando-se uma queima nüo apropriada c consumo demasiado de energia. Uma curva de queima bem definida está dirctamente relacionada com a qualidade do produto final, aumento da produtividade c redução do consumo especifico de cnergia térmica. Dentre as técnicas que podem auxiliar na construção de uma curva de queima, os métodos tcrmoanalíticos, entre eles a análise térmica é um dos mais apropriadas. O fato deve-se a possibilidade de monitorar a perda ou ganho de massa (ex. Termogravimetria), as mudanças 11sicas c químicas (ex. An[tli sc térmica diferenc ial c Calori metria exploratória diferencial), as variações dimensionais (Tennodilatometria), as características mecünicas (Análise termomccânica), dentre outras, todas cm função de uma temperatura controlada ou de um tempo monitorado. De um modo gera l, os métodos tcnnoanaliticos süo muito importantes no estudo do comportamento térmico das massas cerâmicas durante o todo o processo de queima (Rced, 1995). Um làto comprovado atualmcnte é o uso da análise térmica no estudo c caracterização dos materiais argilosos. BaiTetO (2003) fez um estudo por análise térmica da caracterização de tuna argila csmectitica c após sua transformação para organofiliea, enquanto Zanfolim (2003) utilizou a análise térmica na caracterização de argil as de lvinhema-ms, dentre muitos outros. Quando um material argil oso é submetido a um tratamento tl!rmico, cm altas temperaturas, verifica-se uma mudança permanente c irreversível. De acordo com Barba ct ai. ( 1997) durante a queima de materiais argilosos podem ser produz idas transformações que não al teram a composição química, tais wmo variações alotrópieas ou de inversão, sinterizaçào do material c mudanças de estados sólido-líquido c líquido-gasoso, com também transfom1ações que alteram a composição química, como a oxidação da matéria orgânica c decomposiçào/desidroxização do material argiloso. Os principais intervalos de temperatura c as principais causa dessas translimnações são: (I) I 00 "C - 160 "C: perda de água livre, absorvida pela argila com preenchimento capilar ou adsorvida na superllcic externa dos argilomincrais; (2) 200 "C- l!oo "C: decomposiç<lo de hidróx idos c outros minerais que contem água na sua estrutura; (3) 305 "C- 4 10 "C: combustão da matéria orgânica; (4) 500 "C- 1200 "C: decomposição de sulfatos, carbonatos, entre outros compostos que contém oxigênio; (5) 565 "C - 575 "C: transição de làsc do quartzo-a para o quartzo-0; (6) Superior a XOO "C: destruição da estrutura cristalina; (7) Superior a X50 "C: recristalização da estrutura cristal ina e sinteri zação. (Santos, 19X9 c Barba. 1997). Este trabalho tem como objctivo principal elaborar curvas de queima adequadas para obtenção dos produtos da indústria de cerâmica vermelha de acordo com a massa cerâmica de três argilas do Estado do Rio Grande do Norte, visando: ( I) ter o conhecimento térmico da matéria-prima utili zada pela indústria ; (2) determinar as faixas de temperaturas em que os processos tlsicos e químicos importantes ocorrem; (3) implementar c iclos de queima mais rápidos c cticientes; (4) aumentar tia produtividade c redução do consumo específico de energia durante o processo de queima das indústrias; (5) desenvolver curvas de queima industriais que permitam um melhor aproveitamento dos recursos de forno. Para isso. utilizou-se a Tcrmogravimctria (TGA) c a Anúlise Térmica Difcn:ncial (DTA), como também a perda de massa ao logo (PF) c a retraç:lo linear de queima (Rlq) cm sete temperaturas d iicrcntcs. 2. MATERIAIS E MÉTODOS As matérias-primas utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho fimun três argilas de di versas indústrias de ccràmica vermelha do estado dl> Rio Cirande do Norte, as quais limtm wlctadas nos rcspcctivns pútios cm diferentes locais, totalizando, aproximadamente. 15 Kg. 410

XXI ENTMME- Natal-RN, novembro 2005. No laboratório, depois de homogeneizadas por quartcaçào, as três argilas foram secas naturalmente por 48 h e destorroadas manualmente. As amostras submetidas à Termogravimctria e a Análise Térmica Diferencial fomm classilicadas por granulometria inferior a 0,074 mm referente à peneira Al3NT n"200, acondicionadas cm recipientes plásticos e levadas para o Laboratório de Análise Térmica c Materiais da UFRN, enquanto as amostras submetidas aos ensaios de perda de massa ao fogo (PF) c rctração linear de queima (RLq) foram secas em estufa elétrica por 24 h, adicionado lo % de água e conformados corpos-de-prova. Foi utilizado uma matriz retangular com dimensões de 6 cm x 2 cm c uma pressão de conformação de 25MPa, conforme esquema da Figura I. Para cada amostra foram conformados 70 corpos-de-prova. Em seguida, os corpos-de-prova foram secos em estufa (110 c por 24 h) e queimados cm um fomo elétrico, em atmosfem oxidante, com uma taxa de 5 "C/min. Foram utilizadas sete temperaturas de queima, de 650 c a 1250 c, com variação de I 00 c entre elas. Secagem Umidade Figura I: Esquema do desenvolvimento do trabalho. As análises termogravimétricas fomm realizadas utilizado um equipamento de fabricação da Shimadz11, modelo TGA-50, em atmosfera a ar c taxa de aquecimento de I O "C/min. A análise térmica diferencial foi realizada utilizado um equipamento de fabricação da Perkin Elmer. modelo DTA 1700, em atmosfera a ar e taxa de aquecimento de I O ctmin. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 2 apresenta as curvas térmicas (TGA c DTA) e os valores da perda de massa ao fogo (PF) e retração linear de queima (RLq), em relação à temperatura de queima, da primeira argila (A-1). Como o foco principal do trabalho não é a identificação do argilomineral que pertence da argila, pois seriam necessárias outras análises complementares, principalmente a difração de raios-x, os comentários da análise térmica são focadas para construção das curvas de queima. Observa-se na curva termogravimétrica (Figura 2a) que a amostra A-1 perde uma quantidade de massa considerável com a elevação da temperatura. Este evento é comprovado pelo ensaio de perda de massa ao logo realiatdo nos corpos-de-prova, o qual na temperatura de 950 c tem perda de 7,28 o/o. Com esse resultado, é possível estimar que esta argila possui uma considerável quantidade de argilominerais. 411

R.P.S. Outra, M.L.V.N. Moraes, U.U. Gomes, R.M. Nascimento, D.M.A. Melo, C.A. Paskocimas Quanto à curva térmica diferencial (Figura 2b) foi constatado, no piéo 1, do tipo endotérmico, que a argila possui água absorvida e adsorvida. Pela intensidade do pico, esta água não deve influenciar na táxa de aquecimento do ciclo de queima. Na temperatura de 370 c (2), o pico exótémuco retere-se à oxidação da matéria orgânica, que pelo mesmo motivo, não deve alterar a taxa de aquecimento. No entanto, o pico endotérmico n. 4, o qual pode estar sobreposto pela elinj.inação da água estrutural e pela transição de fase do quartzo, merece uma atenção especial. Nesse ponto, a taxa de aquecimento deve ser mais lenta e, se possível, utilizar um pequeno patamar para reorganização estrutural do material. Caso não seja possível realizar um patamar, deve-se praticar a menor taxa de aquecimento. A temperatura mlvdma de processamentq para esta argila, não deve ser superior aos 950 c devido à elevação na retração acima desta temperatura, com patamar de sinterização de 120 minutos. " O fenômeno de rctração linear é geral para todos os corpos sólido submetidos a elevadas temperaturas devido ao aumento das vibrações térmicas. Porém, quanto maior a quantidade de argilominerais na argila, maior será a retração linear e a perda ao fogo (Barba et al.,1997). Desta forma, a queima indicada para a argila I segue a curva da Figura 2d. (a) l '$,(b) I S.tt A I I A-I DTA I I i to I l;l 1,.'00 J, 85 "---------------------------------- m m m * m m m m m T.,.,rq 1.064---+-------------+---------l l.le 110 1M ) t 4,_ "'' tio 691 "''"O 1!0 T- <'CI (c) (d) PF RLq T( C) (%) (%) _, -!\ - -. 650 4,71 0,07 750 5,70 0,07 850 6,90 0, 18 i - _,, ft. -- 950 7,28 0,51 1050 7,58 3,14 liso 7,74 6,76 1250 Fundiu Fundiu Figura 2: (a) TG, (b) DTA, (c) PF e RLq, (d) curva de queima, para a argila I. A Figura 3 mostra as curvas térmicas (TGA e DT A) c os valores da perda de massa ao fogo (PF) e retração linear de queima (RLq), em relação à temperatura de queima, da segunda argila (A-2). Observa-se na curva termogravimétrica (Figura 3a) que a amostra tem uma maior perda de massa em relação à argila I (Figura 2a), devido, possivelmente, a uma maior quantidade de argilominerais. Outro fato que pode ter contribuído para essa elevada perda de massa, principalmente nas baixas temperaturas de queima, é o tipo de argilomineral, o qual pode ter uma capacidade inaior de armazenamento de água absorvida e adsorvida. Na temperatura de 950 c, a perda de massa foi de 9,67 %, e a retração linear foi de 2,22% (Figura 3c). 412

XXI ENTMME- Natal-RN, novembro 2005. Quanto à curva ténnica diferencial (Figura 3b) foi constatado, no pico I, do tipo endotérmico, um sinal bem mais intenso do que o da curva térmica diferencial da amostra A-I. Desta fonna, a taxa de aquecimento para a amostra A-2, do inicio do ciclo, até a temperatura de 160 c deve ser mais baixa prua que os gases evaporados pela eliminação dos dois tipos de águas não prejudiquem a estrutura do material. Na temperatura próxima aos 370 c (pico 2), aparece um pico exoténnico referente a Ollidaçilo da matéria orgânica, que também deve altef3i a taxa de aquecimento devido sua forte intensidade. Segundo Blasco et ai. (1990) é fundamental que durante a queima as peças permaneçam por um período suficiente no intervalo que ocorre uma maior taxa de oxidação do material orgânico. Da mesma fonna, a taxa de aquecimento deve ser compat(vel com a quantidade e natureza da matéria orgânica presente. O pico endotérmico n. 3, da mesma maneira que para a argila I, merece uma atenção especial devido à possibilidade de sobrcposiç.ão do pico eodoténnico da eliminação da água estrutural e do pico endoténnico da transição de fase do quartzo. A temperatura máxima de processamento para a segunda amostra (A-2), ollo deve ser superior aos 900 "C devido à elevação da retraçilo do material. O patamar fmal de sinterização na temperatura de 900 "C deve ser de I 20 minutos. Com isso, a curva de queimo indicada para essa amostra é representada na Figura 3d, cruacterizada pela menor taxa de aquecimento no inicio do ciclo e temperatura final inferior a da amostra A-I, implicando em um maior tempo total de queima. (a) (b) A.% TI;\ -Al PTA l (c) JliO JH - T-("('J.... (d)_. toe. 110 :90,. T-('<.1 "". -. T( q 650 750 850 950 1050 1150 1250 PF RLq (%) (%) 6,42 0,52 7,27 0,59 8,87 0,99 9,67 2,22 9,86 7,01 9,81 7,63 Fundiu Fundiu.'-n-c.-,_, Figura 3: (a) TG, (b) DTA, (c) PF e RLq, (d) curva de queima, para a argila 2. A Figura 4 apresenta as curvas ténnicas (TGA c DTA) e os valores da perda de massa ao fogo (Pf) e rctração line3i de queima (RLq), em relação à temperatura de queima, da terceira argila. 413

R.P.S. Outra, M.L.V.N. Moraes, U.U. Gomes, R.M. Nascimento, D.M.A. Melo, C.A. Paskocimas Nota-se na curva tem10gravimétrica (Figura 4a) que a amostra n. 3 (A-3) apresenta uma perda de massa muito pequena com a elevação da temperatura, comprovado pela perda de massa de apenas 2,92 % na temperatura de 950 c e 3,10% na temperatura de 1150 c, indicando que esta argila possui uma quantidade de minerais acessórios (não plásticos) elevada. Essa grande quantidade de minerais acessórios pode trazer problemas para a confonnação do material. Desta forma, isso pode indicar que essa matéria-prima pode ser meuos adequada para situações que necessitem de alta plasticidade de confom1ação. A melb.or utilização para essa argila, possivelmente, seria como um material corretor de plasticidade, adicionado a wna outra argila de alta plasticidade. Deste modo, optou-se por não realizar a curva de queima para esse material. "' (a) -. - - - - A-J u"l_ " l I I (c). uo, 4tlt '1'-.( nrc.i., TO,\ -., *"' (b) MOI A.J v li 1: glm ;;; (d) ""!!t I lo -r- ("C) 110 lj o 4.,,..,.;.,. Dt:A T ("C) PF J'Y 650 1,94 750 2,30 850 2,72 950 2 92 1050 3,16 ll50 3 10 1250 Fundiu RLq (o/ -0 33-0,25-0,41-0 48-0,35 1,46 Fundiu Material não adequado para ser processado separadamente Figura 4: (a) TG. (b) DTA e (c) PF e RLq, para a argila 3. 4. CONCLUSÕES As curvas térnúcas das amostras exibem uma grande variedade de eventos, resultantes de diferentes transformações tisicas e químicas, que caracterizam um comportamento complexo destas matérias-primas naturais. Foi possível identificar as principais transformações nas amostras estudadas e elaborar curvas de queima mais apropriadas às transformações. A temperatura máxima de queima da amostra A-I deve ser de 950 C. Acima desta temperatura o material sofre wna elevada retração volumétrica e perda de massa. A temperatura máxima de queima da amostra A-2 deve ser de 900 C, pelo fato desse material conter uma quantidade de argilonúnerais e materiais fundentes maior que a amostra A-1. 414

XXI ENTMMF - Natai-RN. novembro 2005. Uma curva de queima bem delinida proporciona uma mdhor qualidade ao produto tina!, aumento da produti vidade da indústria c redtu,:o do consumo cspecitico de energia térmica. 5. AGRADECIMENTOS A CAPES c ao CNPq pelo auxílio linanceiro. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência c Engenharia de Materiais e ao Laboratório de Materiais da UFRN. 6. REFERÊNCIAS Barba, A., lleltrún, V., Fcliu. C., Garcia, J., Ginés, 1-'., Súnchcz, E., Sanz, V. Materias primas para la fabricación de soportes de baldosas cerámieas, Instituto de Tecnologia Ccnimiea, Espanha, 1997. Barreto, E.P., et ai. Caracterização de argila verde dara natural c organolilica por análise ténnica. Anais do 47" Congresso Brasileiro de Cerâmica. João Pessoa. p. 22!\2-2294, 2003. Blasco, A., Barba, A., Negre, F., Escardino A. Obtaining materiais with a high specific surfàcc arca and variable AI/Si atomic ratio from kaolin: I, lntluence of thc nature of thc kaolin and the heating cycle to which it is subjected. Br. C eram. Trans. J, n.l N, p.2x-31, 1990. Rccd, J.S., Principies ofceramic Processing, John Wiky & Sons, lnc., 2nd edition, Ncw York, 1995. Santos, P.S., Ciência e Tecnologia de Argilas, Ed itora Edgard Blucher Ltda, 2a.ediçào, vo l. I. São Paulo, 1992. Zanfolim, A.A Salvetti, A. R.: Saraiva. E.S. Caracterização ténnica e mineralógica da argila de lvinhcma!ms. Anais do 4 7" Congresso Bras i I e iro de Cerâmica. João Pessoa. p. 2 1 X7-2191, 2003. 415