EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DA 6ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Recurso de Apelação n.º: 70070432448 Processo n.º: 001/1.13.0283178-0 ITAÚ SEGUROS S/A e SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S.A,, já qualificadas nos autos, nos autos da Ação de Cobrança interposta por IRANI MARIA PIEROZAN ENRICONE, processo registrado sob número em epígrafe, vêm por sua advogada signatária opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO em face do r. acórdão proferida no processo em questão, nos termos do art. 494, I e 1.022, CPC, pelos fatos e fundamentos que passa a expor. I DA EXISTÊNCIA DE OMISSÃO Alega o autor que foi vítima de acidente de trânsito ocorrido em 21/04/2002, o que teria acarretado sua invalidez permanente, vindo a Juízo pleitear o recebimento da indenização do Seguro Obrigatório DPVAT, pleiteando o valor de 40 salários mínimos nacionais. Proferida sentença de extinção do feito por reconhecimento da ocorrência de prescrição, optou a parte autora por apelar, sendo parcialmente provido seu recurso nos seguintes termos: APELAÇÃO CÍVEL. SEGUROS. DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE. PRESCRIÇÃO AFASTADA. Considerando a data do sinistro, o pagamento de indenização do seguro obrigatório DPVAT deve observar o valor máximo de 40 (quarenta) salários mínimos vigente à época da liquidação do sinistro (pagamento parcial administrativo). Apelo parcialmente provido.
Ocorre, no entanto, que há evidente omissão na decisão proferida. Veja-se que o acórdão, apesar de reconhecer o direito do autor ao recebimento de indenização relativa ao Seguro DPVAT e de reformar o teor da decisão, não define com clareza em que parâmetros está fixada a condenação, conforme passará a se expor. Veja-se, neste sentido, que a decisão nada mais fez do que reconhecer o direito do autor ao Seguro e determinar que a condenação deve observar a graduação das lesões, sem, contudo, estabelecer parâmetros quanto ao termo inicial da correção monetária e juros, além de inexistir fixação quanto às custas processuais e honorários advocatícios. Em não sendo sanadas as omissões acima apontadas, resta impossível às requeridas promover o pagamento da condenação, eis que completamente inexatos os parâmetro em que restou fixada a obrigação. Clara, portanto, é a omissão apontada, eis que o acórdão acolheu parcialmente o recurso do autor sem apontar quais os parâmetros de correção monetária, juros, custas e honorários advocatícios. II DA CORREÇÃO MONETÁRIA Acaso superados os tópicos acima abordados, a correção monetária deverá ter incidência a partir da data de propositura da presente ação, em respeito à legislação que regulamenta a matéria. Conforme se constata na Lei do Seguro DPVAT, existe dispositivo que disciplina expressamente a correção monetária a incidir sobre o valor da indenização, qual seja o art. 5º, 7º, de acordo com o qual: Art. 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado. ( ) 7º Os valores correspondentes às indenizações, na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e juros moratórios com base em critérios fixados na regulamentação específica de seguro privado. 2
Sendo assim, existe previsão legal expressa no sentido de que o valor da indenização sofresse correção monetária APENAS na hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da respectiva obrigação pecuniária. Entendeu o legislador por determinar que a correção monetária incida sobre o montante a ser pago A PARTIR DO MOMENTO EM QUE A OBRIGAÇÃO (POR PARTE DO SEGURADOR) SE TORNOU EXIGÍVEL (e, destarte, o valor já deveria compor o patrimônio do beneficiário). Portanto, não se justifica a incidência de correção monetária ANTES DE ANGULARIZADA A RELAÇÃO PROCESSUAL ENTRE A PARTE AUTORA E A SEGURADORA, exista ou não pagamento na via administrativa. Nesse sentido, ressalta a demandada que o atual posicionamento do STJ quanto ao início do prazo prescricional para ajuizamento das demandas referentes ao seguro DPVAT, contando-o apenas a partir do momento da ciência da incapacidade permanente, abre margem para a discussão acerca da incidência da correção monetária, uma vez que SE A PRETENSÃO DO AUTOR SÓ EXISTE QUANDO CONFIGURADA A INVALIDEZ PERMANENTE, OBVIAMENTE NÃO SE PODE ATUALIZAR O VALOR DA INDENIZAÇÃO A PARTIR DE DATA ANTERIOR À DO SURGIMENTO DA PRETENSÃO (data do sinistro). Portanto, da análise do entendimento acima exposto, DESCABE A INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE A DATA DO SINISTRO, uma vez que nessa data sequer resta caracterizada a pretensão do autor (receber indenização por estar acometido de invalidez permanente). Igualmente, cumpre fazer referência ao disposto no art. 1º da Lei nº 6.899/81, que determina a aplicação da correção monetária nos débitos oriundos de decisão judicial e dá outras providências: Art 1º - A correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive sobre custas e honorários advocatícios. 1º - Nas execuções de títulos de dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar do respectivo vencimento. 2º - Nos demais casos, o cálculo far-se-á a partir do ajuizamento da ação. Nesse sentido é o enunciado da súmula nº 14 do Superior Tribunal de Justiça 3
Arbitrados os honorários advocatícios em percentual sobre o valor da causa, a correção monetária incide a partir do respectivo ajuizamento. Dessa forma, em caso de eventual condenação, torna-se imperativo a observância dos dispositivos acima citados, incidindo a correção monetária a partir do ajuizamento da ação. III - DOS JUROS LEGAIS Apenas a título argumentativo, necessário lembrar o enunciado da Súmula 426 do Superior Tribunal de Justiça, publicada em 13 de maio de 2010: Os juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação. Mais objetivamente, vemos a aplicação da referida Súmula em recente julgado do Superior Tribunal de Justiça em voto exarado pelo Ministro Sidnei Beneti, referente a Reclamação de nº 5.272 SP. Segue: RECLAMAÇÃO. DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃO PROLATADO POR TURMA RECURSAL ESTADUAL E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). COMPLEMENTAÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. CITAÇÃO. SÚMULA 426/STJ. 1.- É assente na jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte o entendimento segundo o qual, mesmo nas ações em que se busca o complemento de indenização decorrente do seguro obrigatório - DPVAT -, por se tratar de ilícito contratual, os juros de mora devem incidir a partir da citação, e não da data em que efetuado o pagamento parcial da indenização. 2.- Aplicação da Súmula 426/STJ: "Os juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação". 3.- Reclamação procedente, cessada a suspensão liminar dos processos sobre a matéria, os quais deverão retomar o andamento, com observância da jurisprudência ora confirmada. Esse também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal. Tendo o seguro DPVAT natureza contratual e cobrado via ação de conhecimento, incide a Súmula 163 do STF: Sendo a obrigação ilíquida, contam-se os juros moratórios desde a citação inicial. O Novo Código Civil também traz essa determinação em seu artigo 405: Contam-se os juros de mora desde a citação inicial. 4
Assim, em caso de eventual condenação: os juros devem ser fixados as partir da citação, mesmo que exista pagamento administrativo, conforme entendimento dos Tribunais Superiores e da atual legislação. IV - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Havendo entendimento diverso por Vossas Excelências, mister se faz a fixação dos honorários em percentual mínimo, sob pena de violação do disposto no artigo 85, 2º, do CPC. Senão vejamos: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...) 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos: I o grau de zelo do profissional; II o lugar de prestação do serviço; III a natureza e a importância da causa; IV o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. Ora, a demanda não apresenta nenhum grau de complexidade, e nem mesmo exige um grau de zelo demasiado pelo patrono do autor, tornando-se, assim, injustificável a fixação dos honorários em patamar maior ao de 10%. Além disso, estando o autor sob o pálio da AJG, os honorários advocatícios não poderão ultrapassar 15% do líquido apurado em sede de execução da sentença, conforme lei 1.060/50. Nada obstante, em caso de acolhimento parcial do pedido do autor, o emérito Juízo deve atentar para aplicação ao disposto no art. 86, do CPC, senão vejamos: Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas. Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários. Ou seja, sucumbindo em parte mínima a ré, descabe a condenação da requerida na integralidade dos ônus sucumbenciais, nos termos do artigo supracitado. 5
V DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer sejam conhecidos os presentes Embargos de Declaração, dando-lhes provimento para que seja sanada a omissão apontada nos termos supracitados, estabelecendo-se os critérios de correção monetária, juros e honorários advocatícios em conformidade com a argumentação acima exposta. Por derradeiro, requer, ainda, sejam feitas as anotações necessárias para que seja observado o nome do patrono da presente, Dr. Gabriel Lopes Moreira, OAB/RS 57.313, para efeito de intimações futuras, exclusivamente sob pena de nulidade. São os termos em que pede deferimento. Porto Alegre/RS, em 10 de outubro de 2016. LISANDRA DA SILVA DE OLIVEIRA OAB/RS 99.825 6