UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ NATAL - RN 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Betânia Maria Franklin de Melo. NATAL - RN 2014

WALTER CLÁUDIO DE BRITO LIMA ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO NO COLÉGIO SALESIANO SÃO JOSÉ Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. APROVADA EM / / BANCA EXAMINADORA Prof.ª Dr.ª Betânia Maria Franklin de Melo Orientadora Prof. Me. Juliano Antônio Ferreira Xavier Membro da banca Prof. Dr. Álvaro Barros Membro da banca

AGRADECIMENTOS A Deus Pai todo poderoso, o criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis a minha gratidão primeira pelo dom da vida. A minha mãe, Sra. Maria Regina de Brito Lima pelas orações e cuidados maternos e ao meu pai, Sr. Walter Barbosa de Lima (in memory) pelo exemplo de simplicidade e serenidade que me deu ao longo de sua vida. A minha querida esposa, Têmis Lima e filhos, Davi Isaias e Maria Cecília pelas renúncias de minha presença em prol da construção desse trabalho. A minha orientadora, Prof.ª Dra. Betânia Maria Franklin de Melo pela disponibilidade, acolhimento, firmeza e seriedade. A todos os professores da EMUFRN pela formação técnica e pedagógica musical que recebi ao longo desses anos de estudo. Ao bibliotecário Everton Rodrigues Barbosa pelas orientações a respeito de formatação e normatização. Ao Prof. Mário Sérgio de Oliveira, Coordenador geral do Colégio Salesiano São José, pela disponibilização de fotografias da escola utilizadas neste trabalho, bem como ao Padre José Mauro da Silva, Diretor do referido Colégio, pelo apoio e incentivo ao nosso trabalho.

Sem dedicação e entusiasmo nada de positivo se obtém em arte. Robert Schuman.

RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar o processo de ensino coletivo de violão desenvolvido no Colégio Salesiano São José na cidade de Natal/RN. Através disto, ampliar e aprofundar conhecimentos na área do ensino coletivo do instrumento centrado nos autores: Cristina Tourinho e Flávia Cruvinel. As informações acadêmicas e complementares dão subsídio a essa modalidade de ensino musical dentro da educação básica. Alguns aspectos históricos e atuais são mencionados diante das experiências que se justificam pela literatura estudada, numa relação entre a prática de ensino alicerçada à pedagogia musical. Os métodos e filosofias são adaptados ao fazer musical dos alunos, descrevendo alguns trabalhos desenvolvidos por eles entre os anos de 2010 e 2014. Elabora-se nesta construção uma experiência de conteúdo musical e coletivo. Palavras - chave: Música. Ensino coletivo. Violão. Colégio Salesiano São José.

ABSTRACT This paper aims to present the process of collective learning guitar developed at St. Joseph Salesian College in Natal. Through this, broaden and deepen knowledge in the collective teaching focused on authors: and Flavia Cristina Tourinho Cruvinel instrument area. Academic and additional information give subsidy to this type of music teaching in basic education. Some historic and current aspects are mentioned on the experiences that are justified by the literature study, a relationship between teaching practice grounded in musical pedagogy. The methods and philosophies are adapted to making music students, describing some work done by them between 2010 and 2014. It elaborates on this building an experience of musical content and collective. Keywords: Music. Collective education. Guitar. Salesian College St. Joseph.

LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 - Ginásio Salesiano anos 50... 16 Fotografia 2 - Ginásio Salesiano anos 60... 16 Fotografia 3 - Fachada principal do Colégio... 18 Fotografia 4 - Fachada lateral do Colégio... 18 Fotografia 5 - Sala de música: primeiro ambiente... 20 Fotografia 6 - Sala de música: segundo ambiente... 20 Fotografia 7 - Sala de música: terceiro ambiente... 20 Fotografia 8 - Aula coletiva de violão... 23 Fotografia 9 - Apresentação da Orquestrinha no Parque das Dunas de Natal/RN... 31 Fotografia 10 - Recital 2012. Homenagem a Luiz Gonzaga... 33 Fotografia 11 - Intervalo festivo. Tema: Copa do mundo no Brasil... 33 Fotografia 12 - Festa dos ex-alunos no Colégio São José... 33 Fotografia 13 - Inauguração da sala de música Padre Mauro... 33 Fotografia 14 - Recital temático sobre o dia do músico... 33 Fotografia 15 - Inauguração da sala de música Padre Mauro... 33 Fotografia 16 - Apresentação da Orquestrinha São João Bosco no Parque das Dunas de Natal/ RN... 44 Fotografia 17 Recital temático sobre música de cinema... 44 Fotografia 18 Inauguração da sala de música Padre Mauro: Descerramento da placa com o novo nome da sala... 45 Fotografia 19 Recital temático sobre o dia do músico... 45

LISTA DE FIGURAS Figura 1 Sistema de leitura por números... 26 Figura 2 Sistema PIMA puxado... 27 Figura 3 Sistema PIMA dedilhado... 27 Figura 4 Sistema de setas... 27 Figura 5 O diagrama... 28 Figura 6 Sistema de leitura por cifras... 29

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 2 O ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO... 11 2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES... 11 2.2 ALGUNS PRINCÍPIOS... 12 2.3 ALGUNS BENEFÍCIOS... 14 3 O CONTEXTO DE ENSINO... 16 3.1 UM RECORTE HISTÓRICO DO COLÉGIO SALESIANO... 16 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR NA ATUALIDADE... 18 3.3 A SALA DE MÚSICA... 19 3.4 A ESCOLINHA DE MÚSICA... 20 3.4.1 Organização e funcionamento... 22 4 A EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA... 23 4.1 AS AULAS... 23 4.1.1 O violão... 25 4.1.2 As melodias e a escrita alternativa... 26 4.1.3 O ritmo e a escrita alternativa... 27 4.1.4 Os acordes e a escrita alternativa... 28 4.1.5 A progressão harmônica e a escrita alternativa... 29 4.1.6 A opção pela música popular... 30 4.2 A ORQUESTRINHA SÃO JOÃO BOSCO... 32 4.3 AS APRESENTAÇÕES PÚBLICAS... 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 36 REFERÊNCIAS... 37 APÊNDICE... 40 APÊNDICE A Plano de curso... 41 ANEXO... 43 ANEXO A - Fotografias... 44

10 1 INTRODUÇÃO "O ensino coletivo de instrumento musical pode ser uma importante ferramenta para o processo de socialização do ensino musical, democratizando o acesso do cidadão à formação musical" (CRUVINEL, 2008, p. 5) 1. Em um país com oportunidades reduzidas de trabalho como é o nosso, a prática do ensino coletivo de violão deveria ser difundida e aplicada em diversos contextos, pois os seus resultados estão para além do artístico e musical. Nesse trabalho, procuramos afirmar sua importância e eficácia através das evidências encontradas na literatura estudada e na nossa experiência no Colégio Salesiano São José. No primeiro capítulo diversificamos nossa abordagem em algumas considerações sobre o tema estudado, na escassez de material de pesquisa, como também nos princípios, benefícios e um dos objetivos do ensino coletivo de violão na educação básica. Não nos detivemos nos aspectos históricos e gerais desta metodologia de ensino, nem tão pouco na origem, pois o foco da monografia se encontra na prática do ensino de violão no Colegio Salesiano São José, considerando nossa ação nesta escola como pioneira no ensino coletivo sistematizado. No segundo capítulo descrevemos o contexto de ensino em alguns dos seus aspectos históricos, acontecimentos que narram transformações pelas quais o Colégio Salesiano passou, quais sejam: as reformas educacionais e estruturais. Sua infraestrutura ampla e moderna no momento atual, sua organização, a sala de música com sua história particular e a Escolinha de Música como atividade extra curricular também estão imersos nesta parte. No terceiro capítulo, relatamos a nossa prática no ensino coletivo de violão, o processo de ensino-aprendizagem e alguns aspectos didáticos metodológicos. O instrumento também é apresentado em seus aspectos pedagógicos musicais. Por fim descremos o uso das escritas alternativas, a opção pela música popular, as apresentações públicas e a criação da Orquestrinha São João Bosco. 2 1 Documento online não paginado. Paginação atribuída de acordo o software visualizador e leitor de PDFs Adobe Reader. 2 Grupo criado para fins de prática de conjunto em novembro de 2012 pelo autor desta monografia e aprovado pelo Padre José Mauro, Diretor do Colégio Salesiano São José.

11 2 O ENSINO COLETIVO DE VIOLÃO 2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Segundo a Professora e pesquisadora Flávia Cruvinel (2004), a inserção da prática do ensino coletivo de instrumentos musicais nos diversos espaços formais e não formais de educação musical deveria ser tarefa dos educadores musicais. Como vemos: [...] os educadores musicais deveriam buscar viabilizar e propor políticas educacionais para a inserção do ensino coletivo de instrumento musical nas instituições de ensino formal, escolas de ensino básico e especializado e entidades de ensino não formal como as ONGs, Casas de Cultura e Projetos Sociais no sentido de defender uma escola crítica e transformadora, ligada ao esforço coletivo de democratização da sociedade. (CRUVINEL, 2004, p. 35) Segundo a autora, pode-se ainda afirmar que o ensino coletivo é um meio pelo qual a oportunidade de se aprender a tocar um instrumento musical é socializada, numa perspectiva democrática de que todos podem estudar música. Atrelado a esta prática esta o êxito das ações pedagógicas e sociais. Como nos afirma: "O ensino coletivo é uma importante ferramenta para o processo de democratização do ensino de música. Alguns programas ligados a essa filosofia de ensino vêm surgindo no país, alcançando êxito, tanto na área pedagógica quanto na social" (CRUVINEL, 2005, p. 19). Segundo a pesquisadora Cristina dos Santos Tourinho (2004), a partir de seus precursores, o ensino coletivo agora esta se expandindo por toda parte, porém ainda com pouca literatura científica disponível para subsidiar a sua prática. Assim lemos: As iniciativas brasileiras de Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves e do Prof. José Coelho, seguidas por Alda Oliveira, Diana Santiago e Maria Isabel Montandon agora estão brotando por toda parte e ai reside o nosso grande desafio neste encontro: fornecer subsídios para que o ensino coletivo de instrumentos musicais cresça e apareça como uma oportunidade real de ensino (TOURINHO, 2004, p. 42). No caso específico do ensino coletivo de violão, não obstante o avanço das pesquisas desenvolvidas, o acesso direto a fonte científica de alguns materiais está condicionado e restrito à convivência com os seus respectivos autores.

12 2.2 ALGUNS PRINCÍPIOS Pontuamos aqui algumas idéias baseadas na obra de Tourinho (2008) chamadas de princípios do ensino coletivo e que podem ser aplicados nas diversas famílias dos instrumentos musicais. Como princípio um, destacamos que todos tem a condição de aprender a tocar um instrumento musical. Neste, não há teste de seleção, e outros parâmetros são aplicados com fins de classificação e nivelamento. Assim vemos: O teste seletivo e a idéia de ensinar apenas alunos talentosos dá lugar a uma classificação que tem outros parâmetros, tais como interesses e horários comuns, idade e repertório. (TOURINHO, 2008, p. 2). Consideramos na questão dos nivelamentos das turmas um outro princípio citado de maneira indireta pela autora, o dos remanejamentos de alunos. Ela assim sugere: "Assiduidade acoplada a velocidades diferentes de aprendizado requer um remanejamento semestral, segundo nossa sugestão." (TOURINHO, 2007, p. 4). Destacamos mais um princípio, a possibilidade de todos poderem aprender com todos. Sobre este princípio a autora explica: "Para o estudante, o professor é o modelo, a pessoa que toca com facilidade,orienta, possui domínio de técnica, enquanto que os demais colegas atual como espelhos, refletindo (ou não) as dificuldades individuais de cada elemento do grupo." (TOURINHO, 2008, p. 2). Nesta perspectiva entende-se que: o professor é a referência da meta a ser alcançada, enquanto que os colegas são reflexos das dificuldades ou avanços compartilhados no grupo. Neste contexto de relação professor-aluno, aluno-aluno, subentende-se ainda que a aprendizagem possa acontecer também por colaboração. Aprender pela observação, interação e imitação é mais um dos princípios do ensino coletivo. Nesta perspectiva, a autora argumenta: "Pode-se argumentar em favor do ensino coletivo que o aprendizado se dá pela observação e interação com outras pessoas, a exemplo de como se aprende a falar, a andar, a comer" (TOURINHO, 2007, p. 2). Neste sentido, quanto à leitura, ela pode ser realizada pela compreensão dos códigos ou pela imitação no ver e ouvir o professor. A autora expande e correlaciona esta idéia: A partitura no ensino coletivo, ou não está presente nas aulas iniciais, onde o trabalho é feito por imitação, ou é apresentada de forma funcional, isto é, serve para um resultado específico e imediato (TOURINHO, 2007, p. 2).

13 Portanto, a explanação anterior de Tourinho pressupõe que o fazer deve preceder o saber no ensino coletivo. E, conforme Almeida afirma, temos: " 'O fazer musical' deve preceder sempre 'o saber musical'. Não há nenhuma justificativa sociopsicopedagógica, nem econômica e prática que nos autorize a pensar o contrário" (ALMEIDA, 2004, p. 27). Tourinho na mesma linha do pensamento anterior ainda relata o assunto: A concepção de ensino coletivo está aqui conceituada como transposição inata de comportamento humano de observação e imitação para o aprendizado musical. Professores de ensino coletivo levam em consideração o aprendizado dos autodidatas, que se concentram inicialmente em observar o que desejam imitar. A imitação está focada no resultado sonoro obtido e não na decodificação de símbolos musicais. [...] Junto com musicalizar está implícito o conceito de desenvolver a percepção auditiva mais do que decodificar símbolos musicais. (TOURINHO, 2007, p. 2). Outro princípio diz respeito ao planejamento da aula. Esse é feito em função do grupo, respeitando o ritmo de aprendizagem, as possibilidades e dificuldades de cada um, favorecendo a distribuição de tarefas de acordo com preferências e competências. (TOURINHO, 2008). Quanto ao ritmo de aprendizagem Almeida acrescenta: "Para o pedagogo, cada aluno tem o seu tempo de aprendizado, e a boa didática recomenda que se deva respeitar o tempo de aprendizado de cada um." (ALMEIDA, 2004, p. 19). Montandon acrescenta um outro princípio: o do envolvimento ativo. Na aula coletiva ninguém pode ficar isolado ou inativo, o professor deve providenciar para que todos sejam protagonistas no fazer musical, mesmo que cada um realize diferentes atividades. A autora explica: [...] na aula em grupo, todos devem estar envolvidos e ativos todo tempo, mesmo que com atividades diferentes. (MONTANDON, 2004, p. 47). Outro princípio refere-se ao tempo do professor. Este deve ter disponibilidade para administrar o progresso dos alunos faltosos, comunicando-se com eles e providenciando momentos de encontro individual antes ou depois das aulas para equilibrar novamente a turma. A autora aconselha: "Um telefonema, um pequeno apoio individual como reforço antes ou depois da aula contribui para reparar estes problemas." (TOURINHO, 2008, p. 4).

14 Diante desta exposição de princípios destacados para o ensino coletivo, finalizamos com um dos objetivos definidos pela autora para a educação básica: Ensino coletivo na escola regular deve ter em mente não a formação do músico com as funções específicas do instrumentista, mas a possibilidade de oferecer um fazer musical concreto, que vá ao encontro da expectativa da maioria dos estudantes, que quer manipular um instrumento [...] (TOURINHO, 2004, p. 42). 2.3 ALGUNS BENEFÍCIOS Considerando as evidências e os efeitos benéficos ao longo de nossa experiência com o ensino coletivo de violão no Colégio Salesiano, ressaltamos sua eficiência como ferramenta pedagógica e sua ação transformadora na literatura estudada. Por conseguinte, evocamos essa metodologia nos pensamentos dos autores que coadunam com essa filosofia e prática de ensino. Acredita-se que o rendimento do aluno iniciante é maior dentro da aula coletiva do que na aula tutorial. De acordo com essa crença, Tourinho e Barreto (2003) afirmam: Vários anos de experiência no ensino do instrumento, tanto em grupo quanto individual, nos levam a acreditar que o rendimento do aluno iniciante é maior dentro de um grupo, com colegas que atuem como referência, e com a ajuda de um professor capacitado para lidar com as competências individuais e coletivas. (TOURINHO; BARRETO, 2003, p.7, grifo nosso) Segundo Alda Oliveira, o ensino coletivo é mais motivador e o aluno aprende mais em menos tempo. Vejamos: "O ensino coletivo é mais estimulante para o aluno iniciante devido ao seu maior desenvolvimento em menos tempo de aula, em decorrência das técnicas pedagógicas usadas no ensino coletivo." (OLIVEIRA, 1998 apud CRUVINEL, 2005, p. 20). Ainda de acordo com Oliveira, o ensino coletivo promove a motivação, a solidariedade nas dificuldades e evita desestímulos: O aprendizado musical em grupo é agradável pelas seguintes razões: o aluno percebe que suas dificuldades são compartilhadas pelos colegas, evitando desestímulos; o aluno se sente logo no início dos estudos, participante de uma

15 orquestra ou de um coral e, ao conseguir executar uma peça, sua motivação aumenta. (OLIVEIRA, 2002 apud CRUVINEL, 2005, p. 78). Neste sentido, Cruvinel (2004) aborda os efeitos benéficos do ensino coletivo em sua dissertação de mestrado. Vejamos: Tomando como base os resultados apresentados pela autora, na dissertação de mestrado Efeitos do Ensino Coletivo na Iniciação Instrumental em Cordas: A Educação Musical como meio de Transformação Social, percebeu-se: a melhora na disciplina, na organização, na cooperação, na solidariedade, no respeito mútuo, na concentração, no desempenho técnicomusical, na consciência corporal, na assimilação e acomodação dos conteúdos, na interação entre os alunos despertando a socialização, a motivação, entre outros; o desenvolvimento do repertório de maneira mais rápida; o desenvolvimento do ouvido harmônico do aluno; a economia de tempo, já que se trabalham os mesmos aspectos e princípios instrumentais e/ou musicais com todos os iniciantes; o maior rendimento; a baixa desistência por parte dos alunos; melhora da autoestima, maior estímulo, desinibição, ou seja, a mudança de comportamento dos alunos envolvidos no processo de aprendizagem em grupo. (CRUVINEL 2004, p. 69-70 apud CRUVINEL, 2003). Dentre os benefícios elencados pela autora, observamos em nossa prática musical com o ensino coletivo de violão no Colégio São José, alguns que consideramos mais relevantes, quais sejam: a melhora da autoestima, a baixa desistência por parte dos alunos, a motivação, o maior rendimento, a economia de tempo e a desinibição. Esta relevância se dá por fatos que se relacionam com tais benefícios encontrados na prática pedagógica.

16 3 O CONTEXTO DE ENSINO 3.1 UM RECORTE HISTÓRICO DO COLÉGIO SALESIANO De acordo com o professor, historiador e sociólogo Itamar de Souza, em 1932, a família do empresário Juvino Barreto e da Sra. Inês Barreto - casal da alta burguesia natalense - faz uma importante doação de seu patrimônio em forma de testamento aos religiosos Salesianos. Tratava-se de um imóvel situado a Avenida Junqueira Aires no bairro Ribeira desta capital, constando de um grande sobrado de dois andares superiores e terreno medindo quinze mil quinhentos e vinte e um metros quadrados (15.521 m²). Era uma verdadeira chácara com pomar, palmeiras imperiais, jardins e cacimba para assegurar o abastecimento de água da propriedade denominada "Vila Barreto" 3. Vale ressaltar que a casa doada era o bem de maior valor econômico e sentimental da família. (SOUZA, [2005?]). Fotografia 1 - Ginásio Salesiano anos 50 Fotografia 2 - Ginásio Salesiano anos 60 Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José. Em 1936, após os entendimentos de praxe mantidos pela família dos doadores com a ordem Salesiana, o Padre José Selva - então Inspetor Salesiano do Norte do Brasil - enviou os primeiros religiosos para receberem a propriedade doada e iniciarem os trabalhos educacionais. (ibid., [2005?]). 3 No sentido italiano da palavra significa casa requintada.

17 As primeiras ações educativas dos Salesianos em Natal foram: o oratório festivo - encontro de cunho sócio educativo religioso - que reunia semanalmente jovens e crianças pobres da periferia de Natal para realização de atividades esportivas, oficinas, brincadeiras e formação religiosa. O funcionamento de aulas noturnas gratuitas de alfabetização para rapazes do comércio e ajudantes de oficina também compunham o leque das primeiras ações educativas. (ibid., [2005?]). Além do oratório festivo e das aulas gratuitas do curso noturno, os Salesianos abriram o Externato São José para alunos do curso primário. O curso completo compreendia quatro séries, com quatro aulas de 45 minutos cada, iniciada às 7 horas. Alguns alunos pagavam pequenas contribuições, enquanto outros estudavam gratuitamente. Este foi o segundo passo na trajetória educacional dos salesianos em Natal. (ibid., [2005?]). Em 1959, para adaptar-se às necessidades dos alunos e da sociedade, implantaram o curso ginasial, ocupando o turno da manhã, enquanto o curso primário permanecia à tarde. Ascender a esse patamar do ensino significava a expansão da obra Salesiana no território Potiguar. (ibid., [2005?]). Com a reforma do sistema educacional brasileiro, de acordo com a lei 5.692 de 11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971), a escola primária e ginasial passou a se chamar 1º grau, e após ter cursado esse grau de escolaridade, o aluno deveria ingressar no 2º grau, organizado em três ou quatro séries anuais. Este nível escolar destinava-se a formação integral do adolescente e a sua habilitação profissional. E, para adaptar-se às exigências desta reforma, a Casa Salesiana de Natal tomou as providências criando também o 2º grau, que começou a funcionar em janeiro de 1973, e o antigo Ginásio Salesiano passou a chamar-se Colégio Salesiano São José. (ibid., [2005?]). Ao lado das reformas educacionais que aconteceram nesse período aconteciam também as reformas de infraestrutura, dentre elas a construção da primeira sala reservada para fins musicais. Vejamos: "fora inaugurado com muita simplicidade o pavilhão complementar com garagem, depósitos, oficinas e sala do conjunto musical". (SOUZA, [2005?], p. 80, grifo do autor). A correspondência dos trabalhos educacionais dos Salesianos com as expectativas dos pais dos alunos ao longo dos anos resultou em um elevado conceito e prestígio da referida escola no meio da sociedade natalense, tornando-a uma referência em matéria de educação até aos dias atuais, levando várias gerações a buscar formação

18 integral de qualidade nos moldes do trinômio que fundamenta a essência da educação Salesiana: a razão, a religião e a cordialidade. 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR NA ATUALIDADE Fotografia 3 - Fachada principal do Colégio. Fotografia 4 - Fachada lateral do Colégio. Fonte: Arquivos do Colégio Salesiano São José (2004). Localizado a Rua Largo Dom Bosco Nº 335, Ribeira, na cidade do Natal/ RN, o Colégio Salesiano São José é atualmente uma Escola Católica de direito privado prestadora de serviço público da rede particular de ensino que trabalha com a educação básica do primeiro ao nono ano do ensino fundamental e da primeira a terceira série do ensino médio, onde o tradicional e o moderno se congregam. Sob a direção do Padre José Mauro da Silva, da coordenação geral do Prof. Mário Sérgio de Oliveira e da administração do Sr. Francisco Sérvulo Francelino, o colégio organiza-se em coordenações, departamentos e setores assim distribuídos: pedagógico, esportes, apoio, arte cultura, recursos humanos, secretaria, financeiro, multimídia, comunicação e informática. Disponibiliza também, serviços de orientação religiosa, educacional e psicológica, além de contar com uma ampla infra estrutura onde encontramos portaria e segurança 24h, estacionamento, recepção, enfermaria, capela, residência, cozinha, refeitório, cantina, quadras poliesportivas, piscina, banheiros, ginásios, almoxarifado, biblioteca, laboratórios, livraria, gráfica, auditórios e salas de aula.

19 3.3 A SALA DE MÚSICA Dentre as salas de aula mencionadas está a Sala de Música. Em seus primórdios, esta funcionava em um espaço simples ao lado da biblioteca. A chegada do Padre José Mauro da Silva à Casa Salesiana em 1999, trouxe uma visão empreendedora e modernidade na infra-estrutura da escola. Com o advento da reforma do poliesportivo Padre Prata em 2004, a sala de música passa a localizar-se agora ao lado do departamento de esportes, em lugar mais visível e de fácil acesso, ganha mais espaço e um pequeno tratamento acústico para atender as necessidades da época. Sobre essas obras e acontecimentos afirma-se: "Em quinto lugar, destacamos a ação modernizadora do Pe. José Mauro, cujas obras se fazem presentes em todos os setores deste colégio, desde que esse sacerdote assumiu a direção deste colégio, em 1999." (SOUZA, [2005?], p. 95). A partir de 2010, com a chegada do autor deste trabalho monográfico, a sala é aparelhada com novos e modernos equipamentos de som para melhorar a qualidade dos ensaios da Banda Dom Bosco 4 e aulas da Escolinha de Música. Em 2011, com a sistematização do ensino coletivo já implementada, tem seus instrumentos musicais totalmente recuperados e renovados, além de receber mais um professor de música para atender as demandas da Escolinha em fase de expansão. Em 2012, fruto do trabalho que já se consolidava, passa por uma grande reforma estrutural ganhando três novos ambientes totalmente climatizadas, independentes, com tratamento acústico, beleza e design. No primeiro ambiente realizam-se as aulas de teclado e violão; no segundo ambiente temos a sala técnica, onde acontecem às gravações e edições de áudio além de atividades de apreciação, e no terceiro ambiente as aulas de bateria, guitarra e contrabaixo. Aí os professores de música, Walter Lima e Renato Ortiz 5, desenvolvem suas atividades e tem ao seu dispor diversos recursos didáticos, dentre eles instrumentos musicais tais como: violões, teclados, baterias, contrabaixos, guitarras e equipamentos de som como amplificadores, equalizador, caixas de som e mixer, além de computador, monitores de referência, software de gravação, edição de áudio e de partituras, dentre outros. Sobre essa questão complementa-se categorizando: "Entre as muitas funções da organização de uma instituição como a escola, está à questão dos recursos didáticos, que podem ser 4 Pequeno grupo musical pré-existente no Colégio São José composto por apenas cinco alunos. 5 Professor assistente de música entre os anos de 2011 e 1º semestre de 2014.

20 classificados em espaciais, tecnológicos e financeiros." (GONÇALVES, 2008, p.179 apud FANFANI, 2001, p.40). Em sua inauguração realizada em 16/11/2012, o Reverendo Padre Diretor foi homenageado, pois a antiga sala de música passa a chamar-se agora Sala de Música Padre Mauro. Na seqüência do cerimonial houve o descerramento da placa com o novo nome da sala, palavra de pais, alunos, coordenadores, professores e direção da escola, bênção, visitação, apresentação musical e cokctail. Fotografia 5 - Sala de música: Fotografia 6 - Sala de música: Fotografia 7 - Sala de música: 1º ambiente 2º ambiente 3º ambiente Fonte: O Autor (2014) 3.4 A ESCOLINHA DE MÚSICA Ligada ao departamento de Arte e Cultura a "Escolinha de Música" 6 é uma atividade de ensino de instrumentos musicais opcional que acontece em caráter extra curricular 7 e que adota a prática do ensino coletivo por determinação da administração escolar. Conta com dois profissionais do ensino de música e oferece aulas de bateria, contrabaixo, guitarra, teclado e violão, sendo este último o instrumento mais procurado pelos alunos. Ainda sobre essa e outras atividades musicais dentro da escola regular ressalta-se: "Portanto, as escolas deveriam promover programas de música com enfoques diferenciados, como aulas de instrumento, coral ou conjunto musical, atividades estas que interessam muito aos alunos." (BASTIÃO, 2010, p. 17). A escolinha recebe alunos iniciantes e intermediários na faixa etária entre 11 e 16 anos de idade, esse aluno não precisa dispor do instrumento musical para realizar as aulas no colégio e sim para praticar em casa. Trabalhamos do mais simples ao mais elaborado com os alunos de acordo com suas habilidades, competências e nível de 6 Nome dado pelos gestores do colégio as aulas de instrumentos musicais. 7 O caráter extracurricular das aulas de violão nesse contexto específico significa uma atividade opcional, complementar e não obrigatória.

21 aprendizagem, alternando entre o conteúdo programático e o conhecimento prévio dos alunos. Com relação às competências e habilidades observa-se que: "[...] no contexto educacional, oportunizar desafios compatíveis com habilidades torna-se importante para despertar nos alunos crenças sobre suas capacidades, estabelecerem objetivos e domínio de tarefas mais complexas." (PIZZATO, 2010, p. 42 apud MAEHR et al, 2002). O conhecimento prévio dos alunos é válido para o processo de ensino aprendizagem de acordo com Louro. Vejamos: "[...] os próprios conteúdos trazidos pelos alunos podem passar a servir de tema para o processo de aprendizagem." (LOURO, 2008, p. 271). O objetivo do trabalho não são as realizações geniais e virtuosísticas no instrumento, haja vista que essa conduta inibe a autoconfiança dos alunos para a aquisição de modestas habilidades segundo Schafer. Assim confirmamos: "A síndrome do gênio na educação musical leva freqüentemente a um enfraquecimento da confiança para as mais modestas aquisições." (SCHAFER, 1991, p. 280). Tão pouco a ênfase na leitura e escrita musical tradicional como fim último. Neste sentido Swanwick se posiciona: "Diferentemente de Kodály, entretanto, não acho que a capacidade de ler e escrever seja o objetivo final da educação musical; é, simplesmente um meio para um fim, quando estamos trabalhando com algumas musicas." (SWANWICK, 2003, p. 69, grifo nosso). O autor ainda complementa: "Ser capaz de dizer em música somente o que podemos escrever em notação nega tanto a expressividade como o discurso musical dos alunos" (SWANWICK, 2003, p. 115). Fialho na mesma linha de pensamento comenta: No que se refere à leitura e escrita musical entende-se que saber música não é só saber ler e escrever [...] (FIALHO, 2008, p. 109 apud SOUZA 2001, p. 215). Formar músicos instrumentistas fica a cargo das escolas especializadas, quando surge alguma vocação, de pronto encaminhamos. Nessa perspectiva Tourinho (2007, p. 1). 8 observa que: É possível afirmar que parte dos estudantes que inicia o aprendizado de um instrumento não se profissionaliza ou nem mesmo pensa neste aspecto. Cruvinel (2004, p. 33) ainda complementa: "Não devemos olhar uma criança ou um iniciante como um futuro profissional." Por outro lado a maioria dos jovens estudantes do Colégio São José vislumbram outras profissões, e a música através do ensino coletivo de violão é concebida como parte da formação integral, iniciação instrumental e um meio pelo 8 Documento online não paginado, paginação atribuída de acordo com o software visualizador e leitor de PDFs Adobe Reader.

22 qual também se educa. A partir dessa realidade conclui-se que: "A música é importante para o ser humano e sociedade independe da profissão que ele seguirá." (CRUVINEL, 2004, p. 33). Conscientes desta realidade, adotamos algumas práticas que encontram consonância com a realidade de ensino, priorizando o fazer musical direto e atendendo as expectativas de manipulação do instrumento por parte dos alunos. O nosso foco é colocar o aluno em contato com o fenômeno da música, ampliar seus horizontes, resgatar valores, formar o senso crítico, estético e seletivo e ao mesmo tempo desenvolver conceitos e habilidades básicas ao instrumento. 3.4.1 Organização e funcionamento Os cursos são pagos e desenvolvidos no período de nove meses consecutivos, de março a novembro, com um pequeno recesso escolar de duas semanas entre os meses de junho e julho, devido às festas juninas. Os dias e horários de funcionamento são de segunda à quinta, das 11h40min. ás 14h10min. e das 17h50min. ás 19h30min., exceto em dia de feriado nacional, estadual, municipal, de caráter religioso ou civil, ou ainda outro determinado pela escola. As turmas são formadas por até quatro alunos por questões de espaço físico e quantidade de instrumentos disponíveis, e obedecem aos critérios de idade, horários disponibilizados para cada nível escolar e habilidade prévia no instrumento musical. As inscrições são feitas a cada início de semestre se houver disponibilidade de vaga e horários, pois as mesmas são limitadas ao número de alunos por turma. As aulas são ministradas para cada grupo de interesse numa periodicidade de dois encontros semanais, em dias alternados e com duração de 50 minutos cada. O aluno é pagante e tem um limite de 25% de faltas do total de aulas do ano letivo, ultrapassado esse limite, o aluno será considerado desistente e terá a sua vaga colocada em disponibilidade. O professor deve ter algum tipo de formação ou prática na área musical, deve ser polivalente em instrumentos musicais, ter conhecimentos básicos sobre sonorização, informática e disponibilidade para assessorar e participar de eventos dentro e fora da escola. A conclusão dos trabalhos e atividades da escolinha de música se dá através de um recital que acontece na penúltima semana de novembro, onde os alunos de todas as

23 modalidades tocam juntos para uma platéia formada por pais, parentes, amigos e professores de outras áreas de conhecimento. 4 A EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA 4.1 AS AULAS Fotografia 8 - Aula coletiva de violão. Sala de música do Colégio Salesiano São José. Fonte: O Autor (2014) Para iniciar ou aperfeiçoar as habilidades dos alunos ao violão, as aulas são planejadas e ministradas de acordo com a resposta às atividades propostas e o resultado das vivências musicais escolares, partindo sempre do experimentar para o saber. As lições são de dificuldades progressivas, onde o aluno aprende desde melodias, acordes e batidas simples, até melodias, acordes e ritmos tecnicamente mais complexos. A cada lição realizada o aluno aprende uma nova melodia, um novo ritmo, um novo acorde ou um novo elemento musical, exercitando também os já aprendidos. Desta forma evolui gradativamente ampliando o seu conhecimento. A aplicação dos aspectos rítmicos, melódicos e harmônicos da música é realizada de acordo com a idade, evidenciando o elemento musical apropriado para cada faixa etária de acordo com Friedenreich: Portanto, enquanto antes dos sete anos a criança é essencialmente rítmica, após o livre desabrochar do corpo elétrico, dos sete aos quatorze anos, ela desenvolve o sentido para a melodia. Com a libertação do corpo astral, entre os 14 e os 21 anos, o jovem demonstra um especial interesse pela harmonia

24 sonora, e só com o advento da maior idade começa a despertar o interesse pela forma musical. (FRIEDENREICH, 1990, p. 78) Durante esses anos ministrando aulas de violão no Colégio Salesiano, observamos também que a motivação em freqüentar as aulas, o permanecer na Escolinha ao longo do ano e o interesse pelo estudo do instrumento está baseado em cinco pontos: o ensino em grupo, o fazer musical direto, a música popular, o senso de competência e o bom humor. Sobre o bom humor lemos: "A relação bem humorada e harmônica entre professor e aluno atua diretamente no desempenho das atividades, bem como na disciplina em sala de aula." (DRUMMOND, 2009, p. 7). Partindo da mesma linha de raciocínio e na certeza de resultados positivos é nos dito: "Neste sentido, certamente bons resultados serão obtidos utilizando-se o bom humor pois, a par da seriedade do trabalho pedagógico, o educador precisa desenvolver também um sadio senso humorístico." (FRIEDENREICH, 1990, p. 24). Sobre o senso de competência pode-se supor segundo Pizzato: "[...] o interesse é supostamente influenciado pelo senso de competência, de dificuldade e do esforço exigido para aprender [...]" (PIZZATO, 2010, p. 45). Por outro ângulo, ainda segundo a autora, observa-se também que: "[...] atividades nas quais os indivíduos sentem-se muito competentes e são pouco exigidos podem levar à sensação de tédio e, conseqüentemente, ao baixo interesse." (PIZZATO, 2010, p. 46 apud ECCLES et al, 1983). Analisando-se as citações anteriores, percebe-se uma clara correlação entre o senso de competência do aluno e o interesse pelas atividades propostas. Conclui-se então segundo a autora, que essa relação é um princípio motivação fundamental para os alunos. Vejamos: Contudo, o conjunto de dados apresentados também aponta para a importância das propostas de ensino desafiadoras e compatíveis com as capacidades dos alunos. Ou seja, tarefas nem muito fáceis, nem muito difíceis, mas que exijam esforço, investimento do aluno, pois esse é considerado um princípio motivacional fundamental. (PIZZATO, 2010, p. 46). As músicas trabalhadas e o repertório escolhido podem mudar sempre que necessário, para que haja um aprendizado significativo e motivador. Nessa linha de raciocínio compreende-se que: "[...] um "professor reflexivo" é um profissional

25 autônomo, que se questiona, toma decisões e cria durante a sua ação pedagógica. Observando seus próprios alunos, as situações educativas com seus limites e potencialidades, criando e experimentando alternativas pedagógicas - inclusive elaborando materiais de ensino próprios [...]" (PENNA, 2010, p. 29). 4.1.1 O violão Este instrumento é considerado popular entre os jovens e economicamente mais acessível que outros instrumentos. O violão era um dos instrumentos que o Colégio São José dispunha em quantidade, e para tanto o adotamos para a prática do ensino coletivo. Dentro desse entendimento a autora argumenta: "O violão, por ser um instrumento de baixo custo, é passível de ser adotado como opção de ensino instrumental na escola básica. Além do baixo custo, pode ser transportado com facilidade, é fácil para aprender os primeiros acordes, e o mais importante, muitas crianças e adolescentes gostariam de tocar violão." (TOURINHO, 2008, p. 7). Num primeiro momento, em se tratando de alunos que estão tendo o seu primeiro contato com o violão, nós apresentamos o instrumento mostrando cada uma de suas partes e a importância de se estabelecer uma postura correta para uma boa execução. Mostramos também algumas maneiras de produzir som no instrumento, seja dedilhando, tangendo, puxando ou batendo em suas cordas. Num segundo momento abordamos assuntos referentes a marcas, modelos, manutenção e contextos musicais em que são utilizados. Em seguida recomendamos a higienização das mãos e explicamos como usar o afinador eletrônico. Neste momento associa-se o nome de cada corda do violão com algumas letras do alfabeto que representam as notas da afinação padrão, pois o afinador só reconhece as alturas dos sons desta forma. E num terceiro momento explicamos sobre o uso das mãos esquerda e direita, suas convenções e nomenclatura dos dedos utilizados. Abordaremos esse assunto detalhadamente mais adiante dentro das escritas alternativas.

26 4.1.2 As melodias e a escrita alternativa "A notação musical convencional é um código extremamente complicado, e para dominá-lo são necessários anos de treinamento" (SCHAFER, 1991, p. 307). No fragmento de texto acima, o autor aborda a complexidade e o fator tempo no aprendizado da notação musical tradicional. Sabe-se que no contexto da escola regular não se dispõe de tanto tempo para o ensino de música e que a complexidade não corresponde à busca pela praticidade e a ansiedade dos alunos em manipular um instrumento. Neste sentido se fez necessário a criação e/ou utilização de escritas alternativas, objetivando resultados a curto e médio prazo para a satisfação das expectativas de pais, alunos e escola. Schafer (1991, p. 307, grifo do autor) ainda assiná-la e complementa o exposto: "O ideal, o que precisamos, é de uma notação que pudesse ser aprendida em dez minutos, após os quais, a música voltasse a seu estado original - como som. O sistema de leitura por números é a escrita alternativa utilizada por nós para o estudo e compreensão de como tocar as melodias no violão. Figura 1 - Sistema de leitura por números Exemplo: Como ler: 30 = Sol 3 13 13 = Sol 4 Corda Casa * O número zero representa a corda solta Fonte: O autor (2014) Como se vê na figura acima, definimos a altura das notas em oitavas diferentes através de números, onde a dezena significa à corda e a unidade a casa que deve ser tocada.

27 4.1.3 O ritmo e a escrita alternativa A mão direita é responsável pelo ritmo no violão, a simbologia utilizada para a representação dos dedos utilizados nessa mão são as iniciais dos nomes de cada dedo, as letras são P,I,M,A, significando consecutivamente polegar, indicador médio e anelar. Organizamos a escrita alternativa para essa mão de três formas, para atender a execução do dedilhado, do puxado e do batido que são bastante utilizados na música popular. Para o dedilhado e o puxado utilizamos o sistema que denominamos de PIMA. A letra "P" dentro do círculo e abaixo da linha horizontal significa tocar com o dedo polegar em um dos três bordões do violão conforme o acorde em questão. As letras minúsculas "i", "m" e "a" acima da linha horizontal, significa tocar com os dedos indicador, médio e anelar as três primeiras ou a 2ª, 3ª e 4ª cordas do violão de acordo com a indicação do professor. O alinhamento das letras determina o tipo de execução, letras alinhadas verticalmente significa puxar as cordas indicadas ao mesmo tempo, letras em alinhamento vertical diferente significa dedilhar as cordas indicadas. A ordem vertical das letras minúsculas altera a seqüencia dos dedos a serem utilizados. Lê-se de baixo para cima e da esquerda para a direita: Figura 2 - Sistema PIMA puxado Fonte: O autor (2014) Figura 3 - Sistema PIMA dedilhado Fonte: O autor (2014)

28 Para os ritmos batidos utilizamos o sistema de setas para cima e para baixo indicando o movimento e a direção da mão direita como um todo para a realização do estilo musical proposto: Figura 4 - Sistema de setas Fonte: O autor (2014) A técnica e o como fazer, o andamento, a dinâmica, a expressão, o caráter e outros elementos musicais em todas as escritas alternativas descritas são geralmente aprendidos pela observação e imitação, de acordo com Ramos: "O que vale na repetição é o binômio olhar e fazer. A freqüência e a repetição se interligam formando um procedimento único no aprender música." (RAMOS, 2008, p. 82) 4.1.4 Os acordes e a escrita alternativa O diagrama é a escrita alternativa utilizada para o estudo e a compreensão das formas dos acordes. De acordo com posição da figura abaixo, as linhas verticais significam as cordas do violão, da direita para a esquerda temos a contagem das cordas de acordo com a afinação padrão: 1ª mi, 2ª si, 3ª sol, 4ª ré, 5ª lá e 6ª mi, sendo esta última duas oitavas abaixo com relação à primeira; as linhas horizontais são os trates; os números brancos são os dedos da mão esquerda de acordo com a convenção: 1 para indicador, 2 para médio, 3 para anelar e 4 para mínimo; o "x" é a corda que deve ser abafada ou não tocada, a bolinha preta abaixo dos diagramas é o baixo do acorde e as brancas são as cordas que podem ser tocadas para completar o acorde em questão. A letra maiúscula acima dos diagramas é a cifra 9 de cada acorde. 9 Recurso utilizado na música popular para representar acordes através de letras, sinais, números e abreviações.

29 Figura 5 - O diagrama Fonte: Dicionário de acordes. Cifra club. 4.1.5 A progressão harmônica e a escrita alternativa Na aplicação da harmonia temos o sistema de leitura por cifras, onde o aluno é levado a ler e interpretar as progressões harmônicas de músicas mais complexas que não consegue memorizar. Neste ponto em especial são introduzidos elementos da escrita tradicional tais como: semibreves para um acorde em um compasso quaternário, mínimas para dois acordes por compasso, semínimas para quatro acordes por compasso, sinais de repetição como ritornelo, pausas, casas de primeira e segunda vez, fermata, entre outros. Segundo Ermelinda Paz: "Antes de ter conhecimento de nota, de altura, o aluno deverá ter conhecimento e vivência da rítmica, que é a primeira linguagem musical do aluno." (PAZ, 2000, p. 258). E como vimos pelo texto e pela ilustração, é o primeiro elemento musical da notação tradicional a ser introduzido. Apesar da fusão da escrita alternativa da música popular com os códigos da escrita tradicional proporcionar mais precisão e entendimento na leitura, percebe-se, entretanto que: "Para a cultura da música popular, a notação seria desejável e até mesmo casual, por não ser determinante na sua produção e aprendizagem" (ARROYO, 2001, p. 65). Figura 6 - Sistema de leitura por cifras Fonte: O autor (2014)

30 A partir do sistema de leitura por cifras descrito por nós e de acordo com Schafer, temos: "Uma tarefa especial dos educadores musicais deveria ser a de inventar uma nova ou mais notações, que, sem se afastar tão radicalmente do sistema convencional, possam ser dominadas rapidamente [...]" (SCHAFER, 1991, p. 311). 4.1.6 A opção pela música popular Optamos por trabalhar um repertório de música popular com os alunos, buscando principalmente aquelas músicas que resistiram ao tempo e evitando aquelas de conteúdo literário impróprio. Por ser uma categoria musical marcada pela transmissão oral de seus padrões e formas, a música popular é bem aceita entre os jovens. Segundo Fialho (2008, p. 109 apud SOUZA et al., 2002, p. 343-344): "[...] muitas práticas musicais contemporâneas entre jovens e crianças são aprendidas oralmente, como é comum na tradição da música popular ou na nova oralidade que os meios de comunicação apresentam". Arroyo confirma a oralidade da música popular no processo de ensinoaprendizagem concebendo os códigos escritos como não determinantes na prática deste gênero musical. Vejamos: "Por outro lado, a construção do conhecimento relativo às práticas das músicas populares é marcadamente oral. O papel do domínio dos códigos escritos é aceitável, mas não determinante nessa prática." (ARROYO, 2001, p. 65). Diversificamos também os estilos, a época e a nacionalidade para facilitar a aproximação do aluno com a música em termos gerais. O foco na música popular como campo de interação e aproximação é a uma ação que facilita o processo de ensino aprendizagem segundo aponta a mesma autora: "De qualquer modo, o foco na música popular faz sentido, visto ser essa a música com a qual a maioria dos jovens interage." (ARROYO, 2005, p. 25-26). Transcrito para a linguagem instrumental, o repertório quase sempre é arranjado ou adaptado para a instrumentação do grupo. É escolhido de maneira a equacionar a significância para os alunos com os objetivos do trabalho e etapas do processo de ensino-aprendizagem. Começando com as músicas mais simples do cancioneiro regional como Asa Branca de Luiz Gonzaga, Luar do Sertão do Catulo da Paixão Cearense, Felicidade de Lupicínio Rodrigues, músicas natalinas como Jingles Bells, Noite Feliz e Boas Festas, temas de desenhos animados e filmes como The godfather,

31 Chariots fire, The pink panther, Harry Potter, passando pela música nacional como Aquarela de Toquinho, o Sítio do pica-pau amarelo, Garota de Ipanema, Wave, Aquarela do Brasil, internacionais como Yesterday, Here comes the sun, How deep is your love, Dust in the wind, Tears in heaven, e New york new york, o repertório vai se expandindo em número de músicas e grau de complexidade. Trechos de obras da música erudita mais populares tais como: Ode a alegria de Beethoven, o Minueto em sol e Jesus alegria dos homens de Bach também são trabalhados com os alunos. Esses trechos dos clássicos da música erudita são fontes de ricos aspectos rítmicos e melódicos para iniciantes que nem sempre são encontrados na música popular. Essa última mais rica em sincopes e contratempos. O repertório também é trabalhado na perspectiva de ampliar conceitos, vivências e conteúdos musicais, além de contribuir para o acervo musical das apresentações. Muitas outras músicas são utilizadas nesse processo pela necessidade de ampliação do repertório. Uma das estratégias de ampliação é colocar peças com conteúdo técnico igual ou parecido na escolha de outros materiais. Nessa perspectiva, a autora afirma: "[...] o objetivo último do ensino de arte na educação básica (aí incluída a música) é ampliar o alcance e a qualidade da experiência artística dos alunos, contribuindo para uma participação mais ampla e significativa na cultura socialmente produzida [...]" (PENNA, 2010, p. 30 apud PENNA, 2008, p. 97). Ainda nesse entendimento Schafer (1991, p. 296) nos lembra: "Temos, porém, uma outra obrigação, que é continuar a ampliar o repertório, que é onde falhamos miseravelmente."

32 4.2 A ORQUESTRINHA SÃO JOÃO BOSCO Fotografia 9 - Apresentação da Orquestrinha no Parque das Dunas de Natal/ RN Fonte: Lago (20/10/13) Por iniciativa do autor desta monografia no ano de 2012, tendo como auxiliar o Prof. Renato Ortiz e tomando por base as formações instrumentais dos recitais, o "broken consort" 10 chamado "Orquestrinha São João Bosco" foi criado para atender à necessidade de um espaço para a prática de conjunto, responder a demanda de um número cada vez maior de alunos tocando vários instrumentos e desvincular o nosso trabalho musical do entretenimento. Reúne os alunos de bateria, contrabaixo, guitarra, teclado e violão melhor preparados musicalmente. Alunos que tocam outros instrumentos tais como violino e flauta transversal também participam do trabalho. Sob a nossa batuta, os ensaios acontecem sempre às sextas-feiras nos horários de 12h30min. às 14h10min. e das 17h50min. às 19h30min. Cerca de vinte alunos dos turnos matutino e vespertino participam desses ensaios. Como exemplos de espaços para compartilhar tarefas musicais com outros instrumentos, ai incluído o violão, a autora sugere: "Devemos pensar também na formação de corais, grupos musicais, orquestras e broken 10 Terminologia da música instrumental inglesa do século XVI usada a partir do final da renascença para designar um grupo de instrumentos musicais formado por mais de uma família.