Manual de Boas Práticas



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Transcrição:

Câmara dos Solicitadores Manual de Boas Práticas A Venda Executiva (Parte I) Lisboa, Abril de 2012

I Introdução Metodologia A Câmara dos Solicitadores tem por missão, inter alia, a formação dos agentes de execução. Esta formação profissional deverá ser, tanto quanto possível, uma formação contínua. De resto, o artigo 4.º, alínea f), do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril, na redacção do Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro, determina que esta Câmara deverá promover o aperfeiçoamento profissional dos solicitadores. Esta formação profissional traduz a necessidade de aperfeiçoar os conhecimentos teórico-práticos dos solicitadores agentes de na prática dos actos, diligências e operações da acção executiva, atenta a responsabilidade (civil, disciplinar e criminal) que sobre estes profissionais pode recair na decorrência da delegação de poderes públicos em que são investidos para a prática de actos, diligências e operações da acção executiva, que atingem o património dos executados. Nas execuções para pagamento de quantia certa, a venda executiva dos bens penhorados tal como a penhora é uma fase essencial deste tipo de execuções. Ela importa a transmissão para terceiros (ou para o exequente ou credor reclamante) dos bens ou direitos que foram objecto de anterior penhora. A preparação e a efectivação da venda executiva é atribuída ao agente de execução no modelo desjudicalizado de acção executiva instituído em 2003, embora possa haver a intervenção incidental do juiz no seu iter processual (p. ex., assistir à abertura das 1

propostas em carta fechada; autorizar a venda antecipada dos bens penhorados, ordenar que a venda seja efectuada no tribunal da situação dos bens etc.). A fase processual da venda executiva implica, por conseguinte, a realização de actos preparatórios (v.g., avaliação dos bens penhorados, publicitação dos anúncios; acesso aos bens penhorados por parte de interessados na venda executiva), do acto de transmissão propriamente dito (v.g., abertura das propostas, deliberação sobre as propostas; aceitação da proposta) e actos subsequentes ou, noutra perspectiva, actos de conclusão do procedimento complexo de integração e perfeccionamento (v.g., cumprimento das obrigações tributárias a que a transmissão dê lugar; emissão do título de transmissão, pedido de remição dos bens; cancelamento dos registos dos direitos que caducam com a venda executiva). Tal como nas outras fases da acção executiva, a sequência dos actos conducentes à venda é susceptível de gerar eventuais irregularidades e, inclusivamente, nulidades processuais com consequências desastrosas para todos os intervenientes no processo, bem como para o agente de execução: p. ex., anulação da venda, responsabilidade disciplinar, civil e/ou criminal do agente de execução. O presente Manual de Boas Práticas pretende apenas iluminar e esclarecer alguns pontos específicos controvertidos do regime jurídico aplicável à alienação executiva de bens ou direitos penhorados em execuções comuns, relativamente aos quais se constata existir uma total ou insuficiente falta de tratamento jurisprudencial ou doutrinal. O método utilizado consiste na formulação e resposta a quesitos sobre a temática da alienação executiva, os quais foram 2

previamente seleccionados pelo Colégio da Especialidade da Câmara dos Solicitadores. A formulação de tais quesitos têm na sua origem, tanto a preocupação dos actuais agentes de execução que os postularam precipuamente à Câmara dos Solicitadores, na sequência dos problemas que enfrentam no diuturno exercício da sua actividade, quanto a preocupação do Colégio da Especialidade em fornecer aos agentes de execução informações e esclarecimentos sobre pontos controvertidos atinentes a esta fase da acção executiva. A discussão sobre tais quesitos teve lugar em duas Conferências organizadas pela Câmara dos Solicitares, sobre a temática da venda executiva, que tiveram lugar no grande Porto, no dia 26 de Novembro de 2011 e em Lisboa, no dia 10 de Dezembro de 2011, em cujos debates, para além do público, formado maioritariamente por agentes de execução, participaram: - O Dr. Virgínio da Costa Ribeiro, Juiz nos Juízos de Execução do Porto; - O Dr. Orlando Sérgio Rebelo, Juiz nos Juízos de Execução do Porto; - A Prof. Doutora Elizabeth Fernandez, Professora da Escola de Direito da Universidade do Minho,; - O Dr. Armando A. Oliveira, do Colégio da Especialidade; - A Dra. Maria João Calado, Juíza nos Juízos de Execução de Lisboa; - A Dra. Ana Paula Albuquerque, Juíza nos Juízos de Execução de Lisboa, e - O Prof. Doutor João Paulo Remédio Marques, Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. A síntese, a sistematização, o enquadramento jurídicodogmático e a redacção das respostas a estes quesitos foi efectuada 3

pelo Prof. Doutor João Paulo Remédio Marques, com base num texto disponibilizado pelo Colégio da Especialidade, tendo em conta os debates e as sínteses resultantes das referidas conferências. Por forma a contemplar todas as opiniões e por existirem entendimentos diversos sobre algumas das respostas dadas, serão apresentadas as posições do Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro e do Dr. Juiz Orlando Sérgio Rebelo, respectivamente. 4

II Questionário e respostas aos quesitos 5

1. Tendo-se frustrado a venda por propostas em carta fechada e requerendo o exequente (ou credor reclamante) a adjudicação do bem, deve ser dada publicidade ao requerimento de adjudicação? A publicidade do requerimento de adjudicação tem um momento próprio: ele deve ser apresentado até à abertura de propostas em carta fechada. Uma vez frustrada a venda através de proposta em carta fechada a venda deverá, em regra, ser feita por negociação particular. Pretendendo o exequente ou um credor a adjudicação de um bem para pagamento da divida e encontrando-se a venda a ser feita por negociação particular, o pedido deve ser atendido como uma proposta de compra, notificando-se as partes da proposta, adjudicando-se o bem se, no prazo de 10 dias não for apresentada proposta de valor superior. Se já tiver sido acordada a venda por negociação particular, antes da respetiva formalização pode ser considerado o pedido de adjudicação se exceder o preço acordado com o proposto pelo adquirente por negociação particular. A venda não é sustada até que se encontre proposta superior à oferecida pelo exequente (ou credor reclamante). Todavia, deve atender-se à existência de preferente legal ou convencional neste último caso, com eficácia real, que se apresente a exercer este direito, bem como um remidor (artigo 912.º do CPC). Ainda que a adjudicação seja efetuada, isso não impede que o titular de direito de uma destas preferências deduza ação de 6

preferência, se a sua notificação tiver sido preterida (artigo 892.º, n.º 4, do CPC). Se o valor for superior a 70% do valor base, o agente de execução está em condições de fazer a imediata adjudicação, nos termos da última parte do n.º 3 do artigo 877.º do CPC. É, porém, duvidoso, se a adjudicação tem, nestes casos, que respeitar a percentagem de 70% do valor base dos bens. Observe-se, por outro lado, que, de harmonia com a proposta de revisão do Código de Processo Civil que se encontra, atualmente, em discussão pública, na venda por propostas em carta fechada, prevê-se que o exequente, se estiver presente no acto de abertura das ditas propostas, pode manifestar vontade de adquirir os bens a vender, abrindo-se logo licitação entre si e proponente do maior preço; se o proponente do maior preço não estiver presente, o exequente pode cobrir a proposta daquele (artigo 893.º, n.º 5 da proposta de revisão do CPC), aplicando-se as regras gerais de caução e depósito, sem prejuízo das regras de dispensa do depósito aos credores do artigo 887.º (artigo 893.º, n.º 6 da proposta de revisão do CPC). O Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro, em As Funções do Agente de Execução, Almedina, Coimbra, 2011, p. 150-151, sustenta que deverá ainda entender-se, por interpretação extensiva do disposto no artigo 877º, nº 3, que o pedido de adjudicação poderá ser apresentado depois de frustrada a venda por meio de propostas em carta fechada, sem necessidade de nova publicitação, desde que o proponente ofereça montante igual ou superior ao fixado no artigo 875º, nº 2 do CPC. Neste caso haverá apenas que observar o respetivo contraditório. Justifica ainda esta posição em obediência ao princípio da economia processual: a venda já foi publicitada por aquele valor e não obteve qualquer proposta. Por outro lado, a 7

referida posição não contraria o disposto no artigo 875º, nº 4 do CPC, segunda parte, uma vez que neste apenas se impõe que se aguarde pela data para a abertura de propostas já designada. 8

2. Inexistindo depósitos públicos e leilão eletrónico, deve a venda dos bens móveis ser feita, em primeira mão, através de propostas em carta fechada? Só aos bens imóveis é imposta a venda por carta fechada (n.º 1 do artigo 889.º do CPC), podendo ainda esta ser imposta quando se trate de venda de empresa de valor superior a 500 UC (n.º 1 do artigo 901.º, idem), cabendo, nestes casos, ao Juiz determinar se a abertura de propostas é feita perante este, ou só perante o agente de execução. No que aos bens móveis diz respeito, a venda deverá ocorrer em depósito público ou equiparado, sempre que os bens tenham para ai sido removidos (n.º 1 do artigo 907.º-A do CPC). Não tendo os bens sido removidos para depósito público ou equiparado, designadamente, atenta a não existência de depósitos públicos ou equipados, a venda poderá ser feita: a) Por proposta em carta fechada; b) Negociação particular; c) Estabelecimento de leilão; d) Leilão eletrónico. Refira-se na proposta de revisão do CPC, a venda por negociação particular passa a ser a modalidade regra quando o bem a vender tenha valor inferior a 4 UC (artigo 904.º, alínea g), da referida proposta de revisão). A venda em estabelecimento de leilão só deverá ocorrer se o agente de execução assim o entender, atentas as características do 9

bem, no sentido de dever ser preterida a venda por negociação particular (alínea b) do nº 1 do artigo 906.º do CPC). Se, porém, o exequente, o executado ou um credor reclamante com garantia real sobre os bens a vender propuser a venda em estabelecimento de leilão e não houver oposição dos restantes interessados (artigo 906.º, n.º 1, alínea a), do CPC), deve seguir-se esta modalidade de venda executiva, pois a venda pode ser efetuada nos termos acordados entre estes sujeitos processuais, incluindo a venda por negociação particular (artigo 904.º, alíneas a) e b), idem) 1. A venda do bem móvel por negociação particular é imposta, tornando-se obrigatória, quando todos estiverem de acordo nessa modalidade de venda executiva (artigo 904.º, alíneas a) e b), idem). A venda em leilão eletrónico deverá ser realizada quando se frustra a venda em carta fechada, em depósito público, ou quando o agente de execução entenda preferível à venda em por negociação particular ou à venda por carta fechada (artigo 907.º-B do CPC). Não existindo depósito público e leilão eletrónicos, restam assim duas hipóteses para a venda de bens móveis: a) Venda por carta fechada; b) Negociação particular; c) Venda em estabelecimento de leilão. Não sendo a venda por propostas em carta fechada imperativa, poderá o agente de execução decidir pela venda dos bens por negociação particular. 1 Tb., neste sentido, VIRGÍNIO DA COSTA RIBEIRO, As Funções do Agente de Execução, Coimbra, Almedina, 2011, p. 154. 10

Caso opte pela venda por propostas em carta fechada, importa decidir se esta tem lugar no tribunal (perante o Juiz) ou no escritório do agente de execução. Sendo a lei omissa quanto a esta, devemos apelar ao sentido que o legislador pretendeu dar, sendo para tal relevante: a) A venda de estabelecimento comercial (de valor superior a 500 UC) só ocorre perante o juiz se este assim o determinar (artigo 901.º-A do CPC); b) A abertura de propostas em resultado de requerimento de adjudicação (quando não se trate de imóvel ou estabelecimento comercial de valor superior a 500 UC) é sempre feita perante o agente de execução, que desempenha as funções reservadas ao juiz (n.º 3 do artigo 876.º do CPC). Devemos, assim, entender que a abertura de propostas na venda de bens móveis é feita perante o agente de execução. Vale dizer, em resumo: Quando não se aplique o artigo 903.º do CPC (venda direta), nem o artigo 906.º, n.º 1, nem, enfim, o artigo 901.º-A, todos do CPC, não existe modalidade legalmente determinada para a venda de direitos ou de bens móveis. Na venda de bens móveis que não hajam sido removidos para depósito público e inexistindo leilão eletrónico, o agente de execução poderá decidir por uma das seguintes modalidades (artigo 886.º-A, n.º 2, do CPC): Venda por propostas em carta fechada, a ser efetuada perante o agente de execução; Venda por negociação particular; Estabelecimento de leilão. 11

3. Se no momento da abertura de propostas, o executado efetuar o pagamento da divida, procede-se à abertura das propostas ou susta-se de imediato a execução? O artigo 916.º do CPC estatui que Em qualquer estado do processo pode o executado ou qualquer outra pessoa fazer cessar a execução, pagando as custas e a dívida ; e efetuado o depósito susta-se a execução, a menos que ele seja manifestamente insuficiente, e tem lugar a liquidação de toda a responsabilidade do executado. Por sua vez o artigo 917.º refere que Se o requerimento for feito antes da venda ou adjudicação de bens, liquidar-se-ão unicamente as custas e o que faltar do crédito do exequente e Se já tiverem sido vendidos ou adjudicados bens, a liquidação tem de abranger também os créditos reclamados para serem pagos pelo produto desses bens Dispõem, ainda, o n.º 4 do artigo 917.º do CPC que: O requerente deposita o saldo que for liquidado, sob pena de ser condenado nas custas a que deu causa e de a execução prosseguir, não podendo tornar a suspender-se sem prévio depósito da quantia já liquidada Importa, pois, considerar três momentos: A data da abertura das propostas; A apresentação do requerimento nos termos do artigo 916.º. A liquidação da responsabilidade; O prazo para ser feito o depósito do valor liquidado. 12

Parece não restar dúvidas que o pedido de liquidação de responsabilidade suspende de imediato a execução. O legislador, consciente de esta figura pode ser usada com carácter meramente dilatório, só permite a sua aplicação uma única vez (n.º 4 do artigo 917.º do CPC). Assim, surgindo este o pedido de liquidação (ou verificando o pagamento) no acto da abertura de propostas, ou mesmo após a publicidade da venda, deverão ser suspensas todas as diligências, sendo certo que, com vista a não tornar absolutamente inúteis os actos praticados, bem como a minimizar os efeitos de uma utilização abusiva deste expediente, a diligência de abertura de propostas deverá ser adiada até que se verifique se foi ou não pago o valor liquidado. As propostas que tenham sido apresentadas ficarão a aguardar o termo do prazo, procedendo-se à abertura de propostas caso não se venha a verificar o pagamento, ou restituindo-se estas aos proponentes caso a execução se venha a extinguir pelo pagamento. De referir que nos termos do n.º 4 do artigo 893.º do CPC as propostas apresentadas só poderão ser retiradas se a abertura for adiada por mais de 90 dias. Deverá, no entanto, distinguir-se consoante seja o exequente a informar que o executado (ou alguém em seu nome) já lhe pagou, ou seja o executado (ou outrem, em seu nome) a apresentar-se ao agente de execução ou à Secretaria a fim de pagar o montante exequendo. Neste último caso, a obrigação exequenda deverá ser paga na totalidade, bem como as custas. No primeiro caso, a execução deverá ser sustada e deve liquidar-se a responsabilidade do executado. Se este não pagar as custas, a venda deverá prosseguir. 13

O Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro, pondera ainda que, para a resposta a esta questão interessa considerar se o pagamento foi feito diretamente ao exequente ou se no âmbito do processo. No primeiro caso, junto o requerimento, observar-se-á o disposto no artigo 916º, nº 5 e 917º, nº 1: apesar de apenas estar paga a dívida exequenda, a execução deverá ser sustada (dando-se sem efeito a venda) e liquidar-se-á a responsabilidade do executado. No segundo caso, aplicar-se-á o disposto no artigo 916º, nºs 1, 3 e 4: apresentando-se o executado (ou outra pessoa) na secretaria do tribunal ou perante o AE, para obstar à realização da venda terá o mesmo de proceder ao pagamento da dívida e das custas, pelo que estas deverão ser calculadas e depositadas de imediato, sem o que a venda não deverá ser sustada. 14

4. E se o executado efetuar o pagamento da dívida antes de ser emitido o título de transmissão? Tratando-se de venda por proposta em carta fechada (seja por venda ou por requerimento de adjudicação), importa apurar o alcance do disposto no artigo 917.º do CPC, quando este refere Se o requerimento for feito antes da venda ou adjudicação de bens. Pergunta-se assim se deve ser considerado que o bem se acha vendido após a abertura de propostas (e respetiva aceitação), ou se somente deve considerar-se vendido após a emissão do título de transmissão, sendo o momento que marca a transferência do direito de propriedade (ou de outro direito real de gozo). Poderá conceber-se que a venda ou adjudicação só se pode considerar efetuada após a emissão do título de transmissão, relevando para tal as seguintes circunstâncias: a) Abertas as propostas, tem as partes a possibilidade de reclamar de qualquer irregularidade (a exercer no acto, se presentes, ou no prazo geral de 10 dias contados da notificação da ata). b) O proponente está obrigado ao depósito do preço ou, estando deste dispensado, a efetuar o pagamento dos créditos reclamados e custas; c) Tem o proponente que fazer prova do cumprimento das obrigações fiscais; d) Pode ainda o proponente não cumprir com o pagamento, procedendo-se a nova venda (com consequências para o proponente faltoso); 15

e) Existe uma consequência quando o pedido de liquidação é feito após a venda, no caso a liquidação tem de abranger também os créditos reclamados para serem pagos pelo produto desses bens (artigo 917.º, n.º 2 CPC). Assim, sendo efetuado o requerimento previsto no artigo 916.º do CPC após a abertura de propostas e antes de emitido o título, poderá julgar-se que o agente de execução deverá sustar a execução, liquidando a responsabilidade do executado incluindo a quantia exequenda, custas e créditos reclamados. Esta decisão de sustação deverá ser notificada a todas as partes (incluindo o proponente), juntando desde logo liquidação da responsabilidade do executado. Se decorrido o prazo de 10 dias para proceder ao depósito do valor liquidado o executado não o fizer, o agente de execução deverá então emitir o título de transmissão. Sendo pago o valor liquidado e não havendo outros valores a ser pagos, o agente de execução deverá extinguir a execução, restituindo ao proponente os montantes que hajam sido por estes entregues. Todavia, é também legítimo objetar dizendo que a venda já se considera efetuada após a aceitação de alguma proposta (a de maior preço ou a que for votada nos termos do artigo 894.º, n.º 2, do CPC). Por outro lado, mesmo antes da aceitação da proposta já existe um negócio jurídico preliminar, que a antecede, o qual pode ser sujeito a execução específica (art.º 898.º, n.º 1, alínea c) do CPC). Na verdade, o proponente (ou preferente) deverá depositar a totalidade ou a parte do preço em falta (artigo 897.º, n.º 2), sob pena da aplicação das sanções previstas no artigo 898.º (caducidade da venda e sua substituição pela aceitação da proposta de valor inferior ou efetuá-la através de modalidade mais adequada; em alternativa, liquidar a responsabilidade do proponente ou preferente remisso, 16

arrestando os bens suficientes para garantir o pagamento do valor em dívida). Não se esqueça., igualmente, que este auto de abertura e aceitação da proposta permite logo efetuar o registo provisório da transmissão (artigos 48.º, n.º 2, e 92.º, n.º 1, alínea h), ambos do Código do Registo Predial), impedindo uma transmissão paralela em sede de execução fiscal. O título de transmissão permite, por outro lado, efetuar a conversão do registo provisório no registo definitivo da aquisição. Além de que este auto de abertura e aceitação de proposta serve de título executivo pela dívida do preço em falta e pelas despesas resultantes do seu não pagamento. Vale isto por dizer que os momentos subsequentes à aceitação da proposta são, quanto muito, momentos extrínsecos de um procedimento complexo de alienação executiva. Mas o depósito do preço é aquele momento que marca a data em que os bens são adjudicados ao proponente ou ao preferente (artigo 900.º, n.º 1, do CPC), ainda que o título de transmissão somente seja emitido após o pagamento dos impostos s que houver lugar. Sendo assim ao ser concebido que o pagamento voluntário da obrigação exequenda e as custas, num momento em que os bens já se encontram vendidos (ou seja, após a aceitação de alguma proposta ou exercício do direito de preferência) aplicar-se-á o disposto no n.º 2 do artigo 917.º do CPC: a liquidação abrange as custas e os créditos reclamados para serem pagos pelo produto dos bens vendidos. Nesta outra perspetiva não se susta a execução. Fazse a referida liquidação e emite-se o título de transmissão. Quer dizer: nesta outra maneira de ver o problema o agente de execução não deve restituir ao proponente (ou ao preferente) os montantes que tenham sido por este entregues. 17

5. Na venda por propostas em carta fechada verifica-se que a proposta mais alta não vem acompanhada do valor devido (cheque ou garantia bancária). Deve ser concedido prazo para o proponente juntar o pagamento? Importa neste caso saber a falta de caução consubstancia uma mera irregularidade processual ou se se trata de um formalidade insanável. A imposição de junção de caução às propostas foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, e resultou, como refere, como refere LEBRE DE FREITAS da frequência da apresentação de propostas aceites, mas não seguidas do depósito determinado. Refere ainda o mesmo professor que o DL 38/2003, desdobrando em dois números o artigo anterior, passou a exigir, no n.º l, a entrega dum cheque visado no valor correspondente a 20% do valor base dos bens (art.º 886.º-A-2b) ou uma garantia bancária no mesmo valor e a referir, no n 2, que o depósito a fazer nos 15 dias subsequentes (...) é em parte ou na totalidade consoante a opção (cheque ou garantia) tomada", salientado que o cheque visado constitui, ao mesmo tempo, à semelhança do sinal do contratopromessa (art.440.º Código Civil 2442-2 Código Civil) garantia do preço e, para o proponente aceite, início do seu pagamento, a ter em conta no cálculo de remanescente a depositar. Igualmente escreve LOPES DO REGO, que o n.º1 reinstitui a exigência de prestação imediata, pelo proponente (ou preferente) de uma garantia pecuniária, que assegure a seriedade na 18

consumação da proposta apresentada (que a reforma de 1995/96 havia eliminado) 2. A apresentação (juntamente com a proposta) da caução mostra-se assim um requisito indispensável, não devendo assim ser aceite qualquer proposta que a apresente, não devendo sequer fazer-se constar da ata qual o valor proposta, mas tão só a indicação do proponente e dos motivos da rejeição da proposta (o proponente, não estando presente no acto da abertura), terá necessariamente que também ser notificado da decisão. Todavia, se todos os interessados estiverem presentes e ninguém suscitar a questão ou se todos concordarem em aceitar assim a proposta, julga-se que não haverá nulidade processual, conforme decorre ( a totalidade ou a parte do preço em falta o itálico é nosso) 3. No mais, admite-se que, nesta hipótese, o juiz suspenda a diligência por um curto período (p. ex., uma hora), permitindo que o proponente ou preferente diligenciem a junção do cheque em falta ou a constituição imediata da garantia bancária. Observe-se que, tendo sido aceite alguma proposta, o proponente é notificado para, no prazo de quinze dias, depositar o preço devido. Quando o depósito não seja realizado nesse prazo, ou bem que: (a) a secretaria procede à liquidação da responsabilidade do proponente, é ordenado o arresto de bens deste e ele é executado no próprio processo, conferindo-se, assim, ao tribunal um meio mais célere para a cobrança do que é devido; ou bem que (b) o tribunal, ouvidos os interessados, determina que a venda fique sem efeito e que se realize nova venda, à qual não é admitido o proponente 2 Conferir Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães proc. n.º 2206/04.4TBFAF-D.G1 (http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/0/9b89dd07b9e54c93802575f40038eef3?opendocument) 3 No mesmo sentido, VIRGÍNIO DA COSTA RIBEIRO, As Funções do Agente de Execução, cit., 2011, p. 155. 19

relapso, que fica responsável por cobrir a diferença do preço e por pagar as despesas que originou 4. Por conseguinte, a ineficácia da venda executiva não decorre automaticamente da falta de depósito do preço no prazo legal de quinze dias 5. Não pode, porém, adotar-se tertio genus, não previsto na lei, qual seja a de rejeitar uma proposta que já havia sido aceite e aceitar outra, sem audição dos interessados na venda 6. A proposta de revisão do CPC que está, atualmente, em discussão pública determina, porém, no proposto n.º 1 do artigo 897.º, que os proponentes devem juntar obrigatoriamente com a sua proposta, como caução, um cheque visado, à ordem do agente de execução ou, nos casos em que as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça, da secretaria, no montante correspondente a 5% do valor anunciado ou garantia bancária no mesmo valor o itálico é nosso. O Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro, sustenta que o legislador não estabeleceu qualquer sanção para a falta de apresentação do cheque caução, assim como não o impôs como condição da sua admissão (artigo 894º, nº 3, a contrário. Atendendo ao estatuído na parte final do nº 2 do artigo 897º, deverá concluir-se que a falta de apresentação de cheque visado não constitui fundamento para a recusa liminar da respetiva proposta, devendo a mesma ser submetida à apreciação dos interessados nos termos gerais (artigo 894º). Tratando-se da proposta mais elevada, deverá o AE proceder 4 No mesmo sentido, cfr. TEIXEIRA DE SOUSA, Miguel, Acção Executiva Singular, Lisboa, Lex, 1998, p. 371. 5 Cfr. o acórdão da Relação do Porto, de 1/6/2006, proferido no processo n.º 0632700, disponível in http:// www.dgsi.pt. 6 Neste sentido, veja-se, também, o acórdão da Relação do Porto, de 6/12/2011 (FERNANDO SAMÕES), proc. n.º 4486/05.9TBSTS-A.P1, in http://www.dgsi.pt. 20

de acordo com o estabelecido no artigo 897º, nº 2 (notificar o proponente para proceder ao depósito no prazo de 15 dias) ou 898º. (aceitar outra proposta, dar sem efeito a venda ou liquidar a responsabilidade do proponente). 21

6. Após a abertura de propostas, o proponente vem declarar que pretende que o título de transmissão seja emitido a favor de uma terceira entidade. Pode o agente de execução aceitar este pedido? Sem prejuízo das questões fiscais que possam estar subjacentes, designadamente em sede de liquidação de IMT 7, IS e IRS (mais valias) e no que respeita ao exercício do direito de preferência, parece-nos que é admissível a substituição do adquirente no título de transmissão. Em primeiro lugar, e numa certa perspetiva, uma vez aceita a proposta, passa o adquirente a beneficiar do direito de adquirir, ou seja, passa a ter uma expectativa de aquisição de determinado bem, expectativa essa que é transmissível 8 ou mesmo passível de ser objeto de penhora (artigo 860.º-A CPC). Na verdade, ainda que se entenda que o proponente desfruta de um direito de adquirir que apenas se perfecciona com a passagem do título de transmissão, não deixa de ser verdade que ele já goza do direito de alienar essa posição jurídica subjetiva. 7 Refira-se que, face ao teor do n.º 1 do artigo 8.º do Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT) nos termos do qual são ainda isentas do IMT as aquisições de imóveis por instituições de crédito ou por sociedades comerciais cujo capital seja directa ou indirectamente por aquelas dominado, em processo de execução movido por essas instituições ou por outro credor, bem como efectuadas em processo de falência ou de insolvência e ainda, as que derivem de actos de dação em cumprimento, desde que, em qualquer caso, se destinem à realização de créditos resultantes de empréstimos feitos ou fianças prestadas, é o juiz do processo executivo a entidade competente a quem compete declarar a isenção de IMT por parte do adquirente de imóvel que dela goze, nos termos dos arts. 8.º, n.º 1, e 10.º, n.º 6, alínea b), do referido Código do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT), pois que "o tribunal competente para a acção é também competente para conhecer dos incidentes que nela se levantem" (artigo 96.º, n.º 1, do CPC) neste sentido, veja-se o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 26/01/2006 (ARAÚJO DE BARROS), proc. n.º 05B3448, in: http://www.dgsi.pt. 8 Coloque-se por hipótese o falecimento do proponente. O direito em causa transmite-se aos herdeiros e pode mesmo ser objecto de partilha. 22

Sendo requerida a emissão do título de transmissão a favor de pessoa diversa do proponente, deverá o agente de execução notificar as partes do respectivo pedido, bem assim notificar os proponentes para comprovarem a liquidação das obrigações fiscais, designadamente pela transmissão do direito, em moldes idênticos aos aplicáveis à transmissão de posição em contrato de promessa de compra e venda. As coisas passam-se da mesma forma à luz de uma outra perspetiva dogmática de ver a questão. Vale dizer, se for entendido que o proponente já é o adquirente após a aceitação da proposta, por maioria de razão (a fortiori) poderá ser emitido o título de transmissão a favor de uma outra pessoa indicada por esse proponente. Isto dito para além dos casos de ocorrência do falecimento ou da reorganização societária (p. ex., fusões, cisões, constituição de Sociedade Gestora de Participação Social em favor de quem o proponente pede que seja emitido o título de transmissão) do adquirente, ocorrida entre a data da aceitação da proposta e a data da emissão do título de transmissão. Pois, também nesses casos parece perfeitamente justificável que este título seja emitido em favor dos adquirentes inter vivos ou mortis causa do proponente ou preferente. Veja-se o lugar paralelo do artigo 56.º, n. 1, do CPC, sendo certo que o título executivo for subscrito por alguém que não irá ser o concreto executado. Por outro lado, se a venda for efetuada por negociação particular, nada parece obstar a que o agente de execução ou a pessoa que ficar incumbida de a realizar, incluindo um media dor oficial na venda de imóveis (art.º 905.º, n.º s 1, 2 e 3 do CPC) combine com o potencial adquirente que este se reserva na faculdade de designar uma outra pessoa que assuma a sua posição contratual, como se o contrato tivesse celebrado com esta última 23

(contrato para pessoa a nomear: artigo 452.º e segs. do Código Civil; sendo que, após a designação pelo proposto, efetuada no convencionado ou prazo de cinco dias subsequentes à celebração da compra e venda) os efeitos da venda processam-se como se a pessoa nomeada fosse o contraente originário, adquirindo este nomeado todos os direitos e obrigações emergentes do contrato. E nada também afasta a possibilidade de a pessoa encarregada de realizar a venda combinar com o proposto adquirente que o negócio é feito em nome de pessoa que posteriormente será designada: neste caso, a venda só produzirá efeitos em relação à pessoa prevista se esta a ratificar ou se o interveniente (proposto adquirente) tiver poderes de representação. 24

7. Tendo o exequente requerido a adjudicação do bem e feita a devida publicidade, verificou-se que não foram apresentadas propostas de valor superior. No entanto, o exequente não apresenta os comprovativos de liquidação das obrigações fiscais nem efetua o pagamento das custas. Como deve atuar o agente de execução? Não concorrendo no processo outros credores, cabe exclusivamente ao exequente impulsionar o processo, podendo o executado requerer o levantamento da penhora decorrido seis meses (veja-se o disposto no artigo 847.º do CPC) da inércia do exequente. Se no entanto existirem outros credores reclamantes, poderá o exequente ver-se confrontado com a obrigação de indemnizar, uma vez que o bem poderá ser vendido ficando este obrigado ao pagamento do diferencial do preço, nos termos do disposto no artigo 898.º do CPC. Assim, numa primeira via de solução, deve o agente de execução manifestar no processo a falta de impulso processual, notificando todas as partes de tal facto, ficando o processo a aguardar o decurso dos prazos de interrupção e deserção da instância. Todavia, crê-se que o cumprimento das obrigações fiscais não é elemento constitutivo da factis specie complexa (e de formação sucessiva) da alienação executiva. Ora, uma vez pago o preço dos bens devem-se ter estes por transmitidos, transferindo-se a sua propriedade para o adquirente. Porém, o título de transmissão não pode ser emitido e o registo da aquisição não pode ser efetuado definitivamente enquanto não forem cumpridas as obrigações fiscais. Isto porque o artigo 900.º do CPC aplica-se à adjudicação dos bens (artigo 878.º). 25

Pode, no mais, admitir-se que, em sede de venda por negociação particular, mesmo que a lei não exija a forma escrita, esta externação das declarações de vontade deve ser observada, cabendo a elaboração de documento particular. O Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro, entende que a venda judicial deverá ser considerada um ato complexo, integrada por várias circunstâncias, só devendo ter-se por concluída no momento em que se procede à adjudicação (artigo 900º), sendo que esta só deverá ter lugar depois de pagas as custas (neste caso, as custas também são preço) e satisfeitas as obrigações fiscais. A falta de pagamento das custas (que, como se disse, neste caso, fazem parte do preço ), parece não obstar a que se proceda de acordo com o estabelecido no artigo 898º, devidamente adaptado. Já no caso de faltar a observância das obrigações fiscais, esta circunstância poderá ser um obstáculo à adjudicação, mas também não repugna que o impasse seja ultrapassado com a participação do facto à Administração Tributária. 26

de venda? 8. Estando pendente oposição podem prosseguir-se as diligências Se a oposição recebida não tiver efeito suspensivo cf. art.º 818.º do CPC o agente de execução pode continuar a praticar todos os actos na ação executiva e prosseguir com as diligências de venda. De acordo com o disposto no n.º 4 do art.º 818.º Quando a execução prossiga, nem o exequente nem qualquer outro credor pode obter pagamento, na pendência da oposição, sem prestar caução. Assim, pode o agente de execução prosseguir com as diligências de venda, mas não pode proceder ao pagamento ao exequente ou a qualquer outro credor sem o comprovativo de que estes prestaram caução. A prestação de caução terá de observar ao regime estabelecido nos artigos 981.º e seguintes do CPC, cabendo ao juiz julgar os termos do incidente apresentado. Este incidente tem carácter urgente. O n.º 5 do artigo 890.º do CPC esclarece qualquer dúvida remanescente, pois dispõe que se a sentença que se executa estiver pendente de recurso ou estiver pendente oposição à execução ou à penhora, faz-se menção do facto no edital e no anúncio. Regime, este, que deverá ser articulado com o do artigo 909.º, n.º 1, alínea a), de harmonia com o qual a venda fica sem efeito se for anulada ou revogada a sentença que se executou ou se a oposição à execução ou à penhora for julgada procedente. 27

A Comissão de Revisão do Processo Civil propôs a modificação dos n.ºs 3 e 4 do artigo 693.º-A, nos termos que seguem: 3. Sendo a caução prestada por fiança, garantia bancária ou seguro-caução, a mesma manter-se-á até ao trânsito em julgado da decisão final proferida no último recurso interposto, só podendo ser libertada em caso de absolvição do pedido ou, tendo a parte sido condenada, provando que cumpriu a obrigação no prazo de trinta dias a contar do trânsito em julgado. 4. No caso previsto na segunda parte do número anterior, se não tiver sido feita a prova do cumprimento da obrigação no prazo aí referido, será notificada a entidade que prestou a caução para entregar o montante da mesma à parte beneficiária, aplicando-se, em caso de incumprimento e com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 860.º, servindo de título executivo a notificação efectuada pelo tribunal. Este proposto regime aplica-se à prestação de caução no quadro da oposição à execução, pois adita-se, igualmente, um novo n.º 6 ao artigo 818.º do CPC, segundo o qual: Quando seja prestada caução nos termos do n.º 1, aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos números 3 e 4 do artigo 693.º-A ; outrossim, se aplica este regime da prestação de caução à execução na pendência de recurso, já que o legislador também se propõe alterar o previsto no n.º 5 do artigo 47.º do CPC, de acordo com a seguinte redação: Quando se execute sentença da qual haja sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo, sem que a parte vencida haja requerido a atribuição do efeito suspensivo, nos termos do n.º 4 do artigo 692.º, nem a parte vencedora haja requerido a prestação de caução, nos termos do n.º 2 do artigo 693.º, o executado pode obter a suspensão da execução, mediante 28

prestação de caução, aplicando-se, devidamente adaptado, o n.º 3 do artigo 818.º e os n. os 3 e 4 do artigo 693.º- A. Em termos gerais, o Dr. Juiz Orlando Sérgio Rebelo concorda com a resposta apresentada pelo Colégio da Especialidade. Entende no entanto ser de precisar que, nesta matéria, se distinga entre as diligências da venda propriamente ditas das diligências com vista ao pagamento ( vide arts. 872º e seguintes, do CPC). Apenas em face do pagamento é que há que atender ao disposto no art.º 818º, nº 4, do CPC: para obter pagamento, estando pendente a oposição (ou seja, sem que tenha ocorrido o trânsito em julgado da sentença proferida no processo de oposição à execução), o exequente ou qualquer outro credor tem de prestar caução. No demais, há que atentar na regra prevista nos nºs 1 e 2 do art.º 818º, do CPC casos em que a execução fica suspensa seja pela via da alegação da impugnação da genuinidade da falsidade da assinatura, acompanhado de elemento que constitua princípio de prova; prestação de caução pelo executado no apenso respetivo, através do incidente respetivo e só após a respetiva decisão final a proferir pelo Tribunal e a demonstração da efetiva prestação da caução (vide art.º 988º a 990º, do CPC) o que exige a sua prestação e não a mera oferta -; e os casos previstos no citado nº 2. 29

9. Estando a execução baseada em sentença não transitada em julgado (pendente de recurso com efeitos meramente devolutivos), podem prosseguir-se com as diligências de venda? Sim. Se o recurso interposto tiver efeito meramente devolutivo a execução não se suspende, podendo o agente de execução praticar todos os actos de natureza executiva, nomeadamente procedendo à venda do bem penhorado. Acresce que o artigo 47.º n.º 3 determina que enquanto a sentença estiver pendente de recurso, não o pode o executado ou qualquer credor ser pago sem prestar caução. Resulta, portanto que, pode o agente de execução praticar o acto de venda e com o produto dela pagar ao executado ou qualquer credor, desde que estes prestem caução. E como o fazem? Através do incidente de caução previsto no art.º 981.º, cabendo ao juiz julgar os termos do incidente apresentado. Se o bem penhorado for vendido por negociação particular aplicar-se-á o disposto no artigo 905.º. E resulta do n.º 5 que Estando pendente recurso da sentença que se executa ou oposição do executado à execução ou à penhora, faz-se menção disso no acto de venda, sendo que da venda pode ser encarregado o agente de execução (vide n.º 2), sem prejuízo da venda efetuada ficar sem efeito se for anulada ou revogada a sentença que se executou cf. o artigo 909.º n.1 alínea a), do CPC. Em conclusão, sendo o título executivo uma sentença contra a qual foi interposto recurso ordinário com efeito meramente devolutivo pode um bem nela penhorado ser vendido nos termos acima expostos. 30

Se ao recurso da sentença proferida, tivesse sido atribuído efeito suspensivo, a sentença proferida não constituiria título executivo, não podendo propor-se ação executiva por inexistência de um pressupostos específicos da ação executiva cf. artigo 47.º n.º 1, do CPC. O Dr. Juiz Virgínio da Costa Ribeiro, considera que a resposta a esta questão é idêntica à da resposta anterior (1.8). Porém, importa distinguir as diligências destinadas à venda daquelas que têm por finalidade proceder à adjudicação, uma vez que esta, constituindo um meio de pagamento (cfr. artigo 872º), executando-se sentença ainda em recurso ou estando pendente oposição à execução, não deverá ser efetuada, sobrestando-se na prática do ato até que a sentença exequenda transite em julgado ou seja proferida sentença no apenso de oposição, transitada em julgado, a não ser que o adjudicatário preste caução nos termos já referidos. 31

10. Tratando-se de uma execução movida exclusivamente contra um dos cônjuges, tendo sido penhorado um imóvel bem comum do casal e não tendo sido requerida a separação de meações, o produto da venda é dividido entre o processo e o cônjuge não executado? Não. Diferentemente do que ocorre, por exemplo, no CPC brasileiro ao abrigo do qual metade do produto da venda dos bens comuns penhorados é entregue ao cônjuge do executado, no CPC português, o valor é todo afeto ao processo. Daí que, coerentemente, o artigo 1797.º, n.º 2 do Código Civil preveja que, por dívidas de um dos cônjuges relativamente às quais tenham respondido bens comuns, é a respetiva importância levada a crédito do património comum no momento da partilha destes bens comuns. Se ao cônjuge do executado não fosse atribuída esta compensação, isso só poderia significar que, uma vez penhorados e vendidos bens comuns (em execução movida apenas contra um deles), o produto da venda executiva seria dividido entre o processo (exequente e/ou credores reclamantes) e o cônjuge do executado. O cônjuge não executado, caso pretenda proteger (ou salvar ) os bens que integram a sua meação nos bens comuns, deverá, isso sim, requerer a separação dos bens comuns nos termos do artigo 825.º, n.º 1 do CPC, aplicando-se o trâmite previsto no artigo 1406.º do mesmo Código. Nesta hipótese, o cônjuge do executado tem, nesse outro processo de natureza declarativa que corre por apenso à execução se não estiver pendente, em outro tribunal ou juízo, na data da citação deste cônjuge do executado o direito de escolher os bens que pretende lhe sejam adjudicados, mas o exequente (e outros credores reclamantes) desfrutam do direito de, 32

nesse processo destinado à separação de bens comuns, reclamar contra a escolha efetuada (artigo 1406.º, n.º 1, alínea c), do CPC). Porém, extinta a execução (p. ex., por causa do pagamento da obrigação exequenda), deve extinguir-se, por inutilidade superveniente da lide, o processo de inventário dirigido à separação dos bens comuns, já que cessa o motivo de tutela dos interesses jurídicos do cônjuge do executado, no que tange à proteção da sua meação nos bens comuns 9. Na verdade, se o cônjuge do executado não tiver requerido a separação dos bens comuns, nem apresentado certidão de ação pendente, a execução prossegue sobre os bens comuns penhorados (artigo 825.º, n.º 4 do CPC), pois que é ónus do cônjuge do executado salvar a sua metade nos bens comuns precisamente através do processo paralelo de separação de meações. 9 Tb., neste sentido, veja-se o acórdão da Relação de Coimbra, de 23/11/2010 (GREGÓRIO SILVA JESUS), proc. n.º 825/05.0TBOHP-A.C1, in http://www.dgsi.pt. 33

11. Tendo sido declarada a insolvência de um dos cônjuges e encontrando-se penhorado um bem comum, deve o agente de execução prosseguir com a venda do bem penhorado? Não. Nos termos do artigo 88.º do Código da Insolvência e da Recuperação de empresa (CIRE) segundo o qual, a declaração de insolvência determina a suspensão de quaisquer diligências executivas ou providências requeridas pelos credores da insolvência que atinjam os bens integrantes da massa insolvente e obsta à instauração ou ao prosseguimento de qualquer ação executiva intentada pelos credores da insolvência esta declaração de insolvência faz suspender as diligências executivas até ao encerramento do processo (ou segundo outro entendimento, até ao trânsito em julgado da declaração de insolvência), e pressupõe a apreensão imediata da totalidade dos bens do insolvente e sua entrega ao Administrador da Insolvência; isto é assim mesmo quanto aos bens anteriormente arrestados e penhorados (artigo 149.º do CIRE), incluindo-se, necessariamente, nesses bens os que sejam comuns do casal. Resta assim ao agente de execução procurar identificar bens próprios do cônjuge que seja executado e não haja sido declarado insolvente, aguardando o termo do processo de insolvência, designadamente quanto ao eventual pedido de separação de meações e partilha a ser requerida pelo cônjuge não insolvente. Ocorrendo a separação de meações no próprio processo de insolvência e ficando o bem penhorado adjudicado ao cônjuge não insolvente, poderá então prosseguir quanto a esse bem. 34

Se houver outros executados não declarados insolventes, a execução prossegue contra estes. Com efeito, o artigo 88.º, n.º 1, do CIRE esclarece que a declaração de insolvência (artigo 36.º, idem) determina a suspensão de quaisquer diligências executivas ou providências requeridas pelos credores (artigo 47.º, ibidem) que atinjam bens integrantes da massa insolvente (artigo 46.º, ibidem) e também impede a instauração ou prosseguimento de qualquer execução intentada pelos credores da insolvência. Assim se vê que esta declaração não impede o prosseguimento da execução relativamente aos restantes executados não atingidos pela declaração de insolvência 10. Isto pode ser importante relativamente às diligências de venda (ou adjudicação) de certos bens na ação executiva, que não são atingidos pela apreensão para a massa da insolvência; ou, por exemplo, quando se questiona se a execução prossegue contra os avalistas do executado que tiver sido declarado insolvente. Se, por outro lado, ambos os cônjuges forem executados o agente de execução pode identificar, localizar, penhorar e transmitir os bens próprios do cônjuge executado que não tenha sido declarado insolvente. Observe-se, no entanto que o artigo 870. do CPC pretende apenas impedir os pagamentos, e não os demais actos (p. ex., penhoras, citações, vendas, etc.). Se a venda do bem penhorado foi efetuada antes do pedido de insolvência do executado e da respetiva declaração de insolvência, já tendo o comprador na venda executiva depositado o valor que ofereceu pelo bem, cumpre apenas suspender os pagamentos a realizar à conta de tal depósito. 10 Também, neste sentido, veja-se o acórdão da Relação de Coimbra, de 9/11/2010 (JOSÉ EUSÉBIO ALMEIDA), proc. n.º 4651/07.4TBVIS-B.C1, in http://www.dgsi.pt. 35

Além disso, a suspensão da execução, nos termos do artigo 870. do CPC, não suspende a entrega do bem comprado, contrariamente ao que ocorria antes da reforma de 1995/1996, aí onde a então redação do n.º 2 do artigo 870.º mandava suspender toda a execução: atualmente, faz-se mister, isso sim, proceder-se à emissão do título de transmissão do imóvel cuja venda teve lugar 11. Isto porque a emissão deste título de transmissão é uma mera formalidade, que culmina o processo de transmissão da propriedade, mas não é com essa emissão que se conclui a venda 12. 11 Neste sentido, veja-se, igualmente, o acórdão da Relação do Porto, de 18/10/2011 (MÁRCIA PORTELA), proc. n.º 4010/07.9YYPRT.P1, in http://www.dgsi.pt. 12 Para AMÂNCIO FERREIRA, Curso e Processo de Execução, 11.ª, Coimbra, Almedina, 2009, p. 399: São assim as vendas sobre que nos debruçamos de classificar como vendas sujeitas a condição suspensiva do pagamento do preço. Realizada a compra, defere-se a aquisição para o momento da satisfação do preço. Já, porém, LEBRE DE FREITAS/ RIBEIRO MENDES, Código de Processo Civil Anotado, Coimbra Editora, vol. III, Coimbra, Coimbra Editora, 2003, p. 582, após sublinharem que a venda não fica concluída com a aceitação da proposta em carta fechada, referem que: o depósito do preço não constitui uma simples condicio juris (condição de eficácia dum negócio já perfeito), mas um elemento constitutivo da venda executiva por propostas em carta fechada. Até ele ter lugar, o proponente está ligado ao tribunal por um contrato preliminar ( ) constituído com os elementos já verificados da fatispecie complexa do contrato definitivo em formação, com eficácia semelhante à do contrato-promessa e, como e, susceptível de execução específica (art. 898-1) ou de resolução com perda valor da caução prestada (art. 897-1), a título de indemnização (art. 898-3). Só com a conclusão da venda se produzem os efeitos desta (art. 824 CC). No sentido em que a aceitação de alguma proposta, para produzir os efeitos concretizadores do negócio, tem que ser formalizada por um despacho judicial de adjudicação, o qual só deverá ser proferido depois de se mostrar integralmente pago o preço e satisfeitas as obrigações inerentes à transmissão, conforme determina o artigo 900.º, veja-se o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 23/09/2004 (FERREIRA GIRÃO), proc.n.º 04B2283, in http://www.dgsi.pt.; no mesmo sentido, cfr., também, o acórdão do STJ, de 14/4/99, in: Colectânea de Jurisprudência, Acórdãos do STJ, ano VII, 1999, Tomo II, p. 51). No sentido, porém, de que o contrato se acha concluído com a aceitação da proposta, ficando a transmissão da propriedade condicionada ao pagamento do preço e cumprimento das obrigações fiscais se pronunciou REMÉDIO MARQUES, J. P., Curso de Processo Executivo Comum à Face do Código Revisto, Coimbra, Almedina, 2000, p. 404. Se tal não suceder, a venda fica sem efeito (artigo 898.º, n.º 1, alínea a), do CPC), o que significa que esta ocorreu, conquanto não tenha sido passado o título de transmissão, e que, posteriormente, pode ser resolvida pelo agente de execução, se não for efectuado o depósito do preço não se trata de uma situação de caducidade da venda (como pretende LOPES DO REGO, Comentários ao Código de Processo Civil, Coimbra, Almedina, 1999, anotação I ao artigo 898), pois este efeito decorre automaticamente da lei, uma verificado o condicionalismo nela previstas, o que não acontece nestes casos, já que se atribui ao agente de execução o poder de decidir torná-la sem efeito. 36