R 7 termômetros clínicos de mercúrio em vidro, com dispositivo de máxima; R 16-1 Esfigmomanômetros mecânicos não-invasivos e R 16-2 Esfigmomanômetros

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Transcrição:

1 Introdução A metrologia é a ciência que compreende todos os aspectos relacionados às medições, sejam elas nas áreas da ciência, tecnologia e qualquer outra área que exija rigor nos resultados de medição. A metrologia tem como foco os resultados de medições associados à avaliação de suas incertezas [1]. O resultado de uma medição sem a sua incerteza associada pode deixar dúvidas em relação a sua confiabilidade, pois o resultado de uma medição não corresponde a um único valor, mas a um intervalo de valores possíveis, delimitado pela incerteza de medição associada. A incerteza de medição é um elemento que se torna cada vez mais essencial para a prática da metrologia e garantia da confiabilidade dos resultados de medição, aliados a parâmetros para gestão da qualidade [1, 2, 3]. A metrologia está dividida em três áreas de atuação: legal, científica e industrial. Com estas áreas de atuação a metrologia se torna uma ferramenta fundamental para o crescimento e inovação tecnológica, a promoção da competitividade e a formação de um ambiente favorável ao desenvolvimento científico e industrial nos países. Neste caso, a metrologia e a expressão da incerteza de medição servem de base para acordos de reconhecimento mútuo entre países, demonstrando formalmente sua competência técnica [1]. A expressão da incerteza de medição é sustentada por um consenso mundial por meio do Guia para Expressão da Incerteza de Medição (ISO GUM - Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement) [1]. Na terceira edição brasileira traduzida do ISO GUM, encontra-se a declaração: A avaliação da incerteza não é um trabalho rotineiro nem puramente matemático, depende de um conhecimento detalhado da natureza do mensurando e da medição [1]. Como complemento, é ressaltado na terceira edição brasileira traduzida do ISO GUM que a qualidade e utilidade da incerteza determinada para o resultado de uma medição depende, em última instância, do entendimento, análise crítica e integridade das pessoas que contribuem para sua determinação [1]. Impulsionada pela expectativa que a incerteza de medição proporciona nas áreas científica, industrial e legal, relacionadas com a confiabilidade metrológica,

18 integridade e consistência nos resultados de medição, a metrologia na área de saúde está sendo amplamente difundida para garantia da qualidade em equipamentos e instrumentos de medição utilizados na medicina [2, 3]. A OIML (Organização Internacional de Metrologia Legal) elabora recomendações metrológicas internacionais para garantia da qualidade de instrumentos e equipamentos. Dentre estas, 12 são voltadas para a área da saúde: R 7 termômetros clínicos de mercúrio em vidro, com dispositivo de máxima; R 16-1 Esfigmomanômetros mecânicos não-invasivos e R 16-2 Esfigmomanômetros automáticos não invasivos; R 26 Seringas médicas; R 78 Pipetas westergren para medição da velocidade de sedimentação das hemácias; R 89 Eletroencefalógrafos; R 90 Eletrocardiógrafos; R 93 Focômetros; R 114 Termômetros clínicos elétricos com medição contínua; R 115 Termômetros clínicos elétricos com dispositivo de máxima; R 122 Aparelhos para audiometria; R 128 Bicicleta ergométrica; R 135 Espectrofotômetros para laboratórios médicos. Todas estas recomendações internacionais podem ser encontradas no site da OIML (http://www.oiml.org/publications/). Tais recomendações podem ser incorporadas em cada país como Regulamento Técnico Metrológico (RTM), sendo que no Brasil o Inmetro já adaptou duas recomendações: a OIML R 7:1979 (Termômetros clínicos de mercúrio em vidro) e a OIML R 16-1:2002 (esfigmomanômetros mecânicos não invasivos). Analisando-se as recomendações da OIML (R 7:1979 e R 16-1:2002) e os RTM brasileiros (Portaria n.º 127, de 05 de setembro de 2001- Termômetros clínicos de mercúrio em vidro e Portaria Inmetro n.º 153, de 12 de agosto de 2005- Esfigmomanômetros mecânicos não-invasivos), verifica-se que estes documentos

19 não recomendam o cálculo da incerteza de medição do instrumento, apresentando, porém, critérios para erro máximo e histerese (tabela 1) e a definição do Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia (VIM) para o termo incerteza [4, 5, 6, 7]. Tabela 1 - Termos abordados pelos documentos OIML (internacional) e Portarias (nacional). A medicina moderna trabalha com uma imensa variedade de parâmetros fisiológicos cujas medições são realizadas por instrumentos onde o desempenho e a confiabilidade metrológica não devem ser avaliados apenas por inspeção. A manutenção e a calibração muitas vezes não são controladas fazendo com que medições na área médica tenham uma grande variação, algumas vezes acima de 20 % [2]. Na medicina, os diagnósticos não se baseiam apenas em resultados obtidos por instrumentos, sendo consideradas também a experiência dos profissionais da área de saúde e sua interpretação dos resultados com o intuito de diminuir a influência direta dos resultados das medições de instrumentos. Como os profissionais da área de saúde se acostumaram a esse tipo de procedimento, podem não perceber que gerar um diagnóstico confiável é extremamente difícil quando baseado no resultado de um instrumento de medição que não possui calibração e/ou rastreabilidade. Em toda a gama de diagnósticos médicos, a hipertensão depende totalmente do resultado de um instrumento de medição. É diagnosticada através da medição da pressão arterial de forma não invasiva, na grande maioria das vezes utilizando um esfigmomanômetro mecânico [2]. Conforme estudo realizado na Aus-

20 trália, vinte e nove por cento da população adulta é hipertensa. Na Inglaterra, um em cinqüenta e quatro usuários realizam regularmente a calibração de seus esfigmomanômetros e um em dez esfigmomanômetros apresenta erro acima de 0,67 kpa (5 mmhg). Em função destes resultados, o número de pacientes hipertensos diagnosticados dentro de uma faixa de erro de 0,40 kpa (3 mmhg) pode dobrar [2]. Em maio de 1997 o Inmetro concluiu um estudo que verificou o estado de calibração de 283 esfigmomanômetros nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Juiz de Fora, sendo selecionados quatro hospitais em cada uma destas cidades. Os estudos foram realizados em hospitais públicos e privados. As medições foram feitas sob orientação do Inmetro, por técnicos especializados do mesmo e dos Institutos de Pesos e Medidas (IPEM) das cidades onde estão localizados os hospitais. Desta análise foram obtidos os seguintes resultados mostrados na tabela 2 [8]. Tabela 2 Resultados obtidos pelo Inmetro no estudo realizado em 08/05/1997. Cidade Nº de aparelhos Aprovados Reprovados Maior erro Juiz de Fora 77 42% 58% 10 mmhg Rio de Janeiro 76 60% 40% 18 mmhg São Paulo 130 24% 76% 33 mm Hg Total 283 39% 61% 33 mm Hg Este estudo realizado pelo Inmetro detectou que 61 % dos esfigmomanômetros estavam com erro acima do máximo permissível, mostrando a fragilidade na garantia da qualidade e confiabilidade destes instrumentos e o risco ao qual a área de saúde está exposta. Guias e recomendações internacionais como a OIML R 16-1:2002, sugerem que estes instrumentos devam ser verificados regularmente com relação aos erros máximos permitidos para esfigmomanômetros mecânicos não-invasivos. Considerando que as recomendações para garantia da qualidade dos resultados de medição de esfigmomanômetros mecânicos não-invasivos são baseadas apenas no erro de medição, o presente trabalho realiza estudos para avaliação da importância da incorporação dos cálculos da incerteza de medição do manômetro utilizado nestes instrumentos, como uma ferramenta complementar necessária para a garantia da confiabilidade dos resultados.

21 A incerteza de medição permite conhecer características únicas de cada instrumento de medição. Em um lote de fábrica de esfigmomanômetros, o erro é determinado por amostragem conforme citado no documento do Inmetro NIE- DIMEL-006:2005. Neste caso a confiabilidade metrológica é dada para um lote inteiro em função dos resultados obtidos da avaliação de uma amostragem de instrumentos deste lote [9]. A incerteza de medição fornece um parâmetro a mais para confiabilidade metrológica, que vai mostrar o quanto cada instrumento pode variar individualmente paralelamente e independente do erro de medição do instrumento [1]. Assim, o presente trabalho tem por objetivo contribuir para aumentar a confiabilidade das medições da pressão arterial e, para tanto, tem por objetivos específicos: Elaborar uma proposta de modelo de calibração e expressão da incerteza de medição do manômetro usado nos esfigmomanômetros mecânicos não invasivos; Com base nos resultados de medições utilizando o modelo proposto, avaliar o impacto do cálculo da incerteza de medição na garantia da confiabilidade metrológica do esfigmomanômetro.