RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NO BRASIL



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Transcrição:

RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NO BRASIL Janeiro/2000

RELATÓRIO NACIONAL SOBRE O GERENCIAMENTO DA ÁGUA NO BRASIL Carlos E. M. Tucci Instituto de Pesquisas Hidráulicas IPH Universidade Federal do Rio Grande do Sul Av. Bento Gonçalves, 9500 Porto Alegre-RS fone 55 51 3166408 tucci@if.ufrgs.br Ivanildo Hespanhol Universidade de São Paulo - USP R. Prof. Guilherme Milward, 469 São Paulo - Brasil - CEP 05506-000 Telefone: +55 11 814-7952 ivanhes@usp.br Oscar Cordeiro Universidade de Brasília UNB (endereço e e-mail) Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 2

SUMÁRIO 1. SUMÁRIO EXECUTIVO... 8 2. INTRODUÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PAÍS... 25 2.1 Introdução 25 2.2 Características gerais do país 25 2.3 População 27 2.4 Poderes 30 2.5 Economia 31 2.6 Relevo e vegetação 34 3. MANEJO INTEGRADO DOS RECURSOS HÍDRICOS... 37 3.1 As bacias hidrográficas nacionais e internacionais... 37 3.2 Disponibilidade hídrica... 40 3.2.1 Disponibilidades relacionadas com o clima... 40 3.2.2 Disponibilidade hídrica dos recursos superficiais... 44 3.2.3 Disponibilidade hídrica dos recursos subterrâneos... 46 3.2.4 Caracterização da qualidade da água... 47 3.2.5 Rede de Monitoramento... 50 3.3 Uso e aproveitamento de recursos hídricos... 54 3.3.1 Usos Consuntivos... 55 3.3.2 Usos não-consuntivos... 61 3.4 Balanço e situações ambientais críticas extremas... 63 3.4.1 Balanço disponibilidade demanda... 63 3.4.2 Inundações... 65 3.4.3 Outras situações de degradação ambiental... 67 3.4.4 Calamidades... 70 3.5 Aspectos Institucionais da gestão dos recursos hídricos... 71 3.5.1 Administração da água... 71 3.5.2 Mecanismos de participação dos usuários... 75 3.5.3 Legislação das águas... 78 3.6 Aspectos econômicos e sociais da gestão dos recursos hídricos... 82 3.6.1 Sistema tarifário... 82 3.6.2 Mecanismos de financiamento... 84 3.6.3 Aspectos Sociais... 85 3.7 Análise de desafios, conflitos e elementos críticos para o 86 desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos a longo prazo... 3.7.1 Aspectos institucionais... 86 3.7.2 Desenvolvimento urbano... 87 3.7.3 Energia... 88 3.7.4 Navegação... 89 3.7.5 Desenvolvimento rural... 89 3.7.6 Enchentes e Secas... 90 3.7.7 Desenvolvimento regional e Meio Ambiente... 91 3.7.8 Formação de recursos humanos e pesquisa... 92 4. ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO... 97 4.1 Estrutura Organizacional... 97 Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 3

4.1.1 Formulação de políticas e planejamento... 97 4.1.2 Legislação e controle... 98 4.1.3 Gestão dos serviços... 102 4.2 Análise operacional... 105 4.2.1 Cobertura de água potável e saneamento... 106 4.2.2 Qualidade e condição de serviço... 108 4.2.3 Deficit de serviços e impactos sobre a saúde... 108 4.2.4 Gestão operacional de empresas operadoras... 111 4.3 Financiamento do setor... 115 4.3.1 Necessidade de financiamento... 115 4.3.2 Principais fontes de financiamento... 116 4.4 Capacidades e deficiências de regulação... 118 4.4.1 Capacidades e deficiências institucionais... 118 4.4.2 Capacidades e deficiências de regulação... 119 4.4.3 Capacidade e deficiências das operadoras... 120 5. SITUAÇÃO ESPERADA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO ANO 2025 123 NOS DISTINTOS CENÁRIOS... 5.1 Cenário metas... 123 5.2 Tendência... 124 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES... 133 7. REFERÊNCIAS... 140 Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 4

Abreviaturas ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental ABRH - Associação Brasileira de Recursos Hídricos ANA Agência Nacional de Águas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento CEF - Caixa Econômica Federal CESBs - Companhias Estaduais de Saneamento Básico CNPq Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente DESAN - Departamento de Saneamento DNAEE - Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FINEP Financiadora de Estudos e Projetos GWP Global Water Parternship IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MBES - Ministério do Bem Estar Social MPO - Ministério do Planejamento e Orçamento MS - Ministério da Saúde ONGs Organizações Não Governamentais PADCT/CIAMB Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia/Ciências Ambientais PLANASA - Plano Nacional de Saneamento PMSS - Projeto de Modernização do Setor de Saneamento PNAD - Pesquisa Nacional de Domicílios SEPURB - Secretaria de Política Urbana SMAEs - Serviços Municipais de Água e Esgoto SNS - Secretaria Nacional de Saneamento WHO - World Health Organization WRI - World Resources Institue Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 5

Definições e conceitos Custo do Serviço: Soma de despesas de exploração, serviço da dívida, depreciação, amortizações, provisões e outros custos, no ano de referência, expressa em Reais, dividido pelo volume total faturado. Despesa de Exploração: Despesas necessárias à prestação dos serviços, compreendendo despesas com pessoal e encargos, produtos químicos, materiais de consumo e conservação, energia elétrica, serviços de terceiros, despesas gerais e despesas físicas e tributárias (exclusive imposto de renda), dividido pelos volumes de água e esgotos faturados. Expressa em Reais por metro cúbico. Índice de Evasão de Receita: Relação entre a receita faturada por todos os serviços prestados, menos os valores efetivamente recebidos no ano de referência, relacionados com a prestação dos serviços, divididos pela soma dos volumes de água produzido e comprado. Expresso em porcentagem. Índice de Faturamento de Água: Relação entre o volume médio de água, debitado ao total das economias medidas e não medidas, dividido pelos volumes de água produzido e comprado. Expresso em porcentagem. Perdas de Faturamento e Índice de Perdas de Faturamento: Relação entre a soma dos volumes de água produzido e comprado, menos o volume de água faturado, divididos pela soma dos volumes de água produzido e comprado. Expresso em porcentagem. Tarifa Média Praticada: Soma da receita anual faturada pela prestação dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos, expressa em Reais, dividido pelo volume total faturado. Volume de Água Macromedido: Volume médio de água tratada e produzida, medido na saída das Estações de Tratamento de Água ou Unidades Simplificadas de Tratamento, por meio de macromedidores permanentes. Expresso em mil metros cúbicos por dia. Volume de Água Micromedido: Volume médio de água apurado pelos medidores de vazão instalados nos ramais prediais. Expresso em mil metros cúbicos. Volume Total Faturado: Corresponde à soma dos volumes faturados de água e esgoto. Expresso em mil metros cúbicos por dia. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 6

1. SUMÁRIO EXECUTIVO A avaliação e análise dos recursos hídricos e do setor de água e saneamento do Brasil para o cenário atual e a tendência de seu desenvolvimento até 2025 dentro da World Water Vision, faz parte de um esforço mundial, baseado na iniciativa de várias entidades internacionais. Na América do Sul a iniciativa coube ao SAMTAC (South America Technical Advise Comitee) do GWP (Global Water Parternership), que contratou uma empresa para o desenvolvimento do relatório básico da região, baseado no documento de cada país, preparado por consultores escolhidos pelo SAMTAC. Este relatório faz parte deste conjunto de avaliações e trata dos Recursos Hídricos do Brasil. A itemização seguiu o padrão previsto para os países. A avaliação e o prognóstico do desenvolvimento sustentável dos Recursos Hídricos e do setor de Água e Saneamento de um país trata da análise da inter-relação dos componentes naturais dos sistemas com o sócio-econômico. As principais etapas deste processo envolvem, a avaliação do desenvolvimento histórico, as condições atuais e os cenários de metas e potenciais de desenvolvimento dos recursos hídricos no país. Neste documento são apresentados, no capítulo seguinte, os dados gerais do país, buscando dar uma idéia básica de alguns elementos físicos e sócio-econômicos. No capítulo 3 são apresentados todos os aspectos de recursos hídricos, destacando-se disponibilidade, demanda e aspectos institucionais. No capítulo 4 são discutidos os principais aspectos de água potável e saneamento, pela relevância do setor na sustentatibilidade de países em desenvolvimento como os da América do Sul. No capítulo 5 são apresentados os cenários tendo como horizonte 2025 e a tendência até o referido horizonte. O documento conclui com o capítulo 6 onde são apresentadas as conclusões e recomendações. Deve-se destacar que este documento não é exaustivo, mas seletivo devido às suas características mais globais. Não se busca aqui propor nenhum plano, mas destacar tendência de desenvolvimento dos recursos hídricos. Além disso, foi preparado num exíguo tempo em função do calendário da World Water Vision. Histórico O desenvolvimento dos recursos hídricos em países em desenvolvimento como os da América Latina passou por estágios semelhantes aos dos países desenvolvidos, mas em períodos diferentes. Após a segunda guerra mundial houve um grande desenvolvimento econômico e a construção de muitas obras hidráulicas, principalmente de geração de energia elétrica. Nesta época, países em desenvolvimento como o Brasil estavam na fase de inventariar seus recursos e desenvolvendo a construção das primeiras obras hidráulicas de menor porte (tabela 1.1). Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 7

Tabela 1.1 Visão histórica (adaptado de Tucci, 1994) Período Países desenvolvidos Brasil 1945-60 Uso dos recursos hídricos Abastecimento, Inventário dos recursos hídricos navegação hidreletricidade, etc Início dos empreendimentos Qualidade da água dos rios hidrelétricos e projetos de grandes Medidas estruturais de controle da sistemas. enchentes Fase de engenharia com pouca conservação 1960-70 Início da pressão ambiental 1970-1980 controle ambiental 1980-90 Interações do Ambiente Global 1990-2000 Desenvolvi mento Sustentável Controle de efluentes; Medidas não estruturais para enchentes Legislação para qualidade da água dos rios Usos múltiplos; Contaminação de aqüíferos; Deterioração de ambiental de grandes áreas metropolitanas; Controle na fonte de drenagem urbana Controle da poluição doméstica e industrial; Legislação ambiental Impactos Climáticos Globais; Preocupação com conservação das florestas; Prevenção de desastres; Fontes pontuais e não pontuais de poluição rural; Controle dos impactos da urbanização sobre o ambiente Contaminação de aqüíferos Desenvolvimento Sustentável; Aumento do conhecimento sobre o comportamento ambiental causado pelas atividades humanas; Controle ambiental das grandes metrópoles; Pressão para controle da emissão de gases, preservação da camada de ozônio; Início da construção de grandes empreendimentos hidrelétricos; Deterioração da qualidade da água de rios e lagos próximos a centros urbanos. Ênfase em hidrelétricas e abastecimento de água; Início da pressão ambiental; Deterioração da qualidade da água dos rios devido ao aumento da produção industrial e concentração urbana. Redução do investimento em hidrelétricas devido a falta de empréstimos internacionais; Piora das condições urbanas: enchentes, qualidade da água; Fortes impactos da secas do Nordeste; Aumento de investimentos em irrigação; Legislação ambiental Legislação de recursos hídricos investimento no controle sanitário das grandes cidades; Aumento do impacto das enchentes urbanas; Programas de conservação dos biomas nacionais: Amazônia, Pantanal, Cerrado e Costeiro; Controle da contaminação dos aqüíferos e Início da privatização dos serviços das fontes não-pontuais; de energia e saneamento; 2000- Ênfase na água Desenvolvimento da Visão Mundial da Avançar o desenvolvimento dos Água; aspectos institucionais da água; Uso integrado dos Recursos Hídricos; Privatização do setor energético; Melhora da qualidade da água das fontes Aumento de usinas térmicas para não pontuais: rural e urbana; produção de energia; Busca de solução para os conflitos Privatização do setor de transfronteriços; saneamento; Desenvolvimento do gerenciamento dos Aumentar a disponibilidade de recursos hídricos dentro de bases água no Nordeste; sustentáveis Desenvolvimento de Planos de Drenagem urbana para as cidades. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 8

Na etapa seguinte, observou-se o início da pressão ambiental nos países desenvolvidos devido, principalmente à degradação das águas superficiais, resultando nas primeiras legislações restritivas quanto ao despejo de efluentes. Em face destes controles houve melhora da qualidade da água, mas os resíduos foram transferidos para o sub-solo, contaminando a água subterrânea. Neste período os países em desenvolvimento geralmente não possuíam nenhuma legislação sobre o assunto ou controle. Nos anos 70 observou-se o início da pressão ambiental em países em desenvolvimento, enquanto este processo de controle se acelerava nos países desenvolvidos. No Brasil, nos anos 80, foi aprovada a legislação ambiental e os critérios de controle de sistemas hídricos e hidrelétricos. Neste período os países desenvolvidos enfatizaram os impactos globais, contaminação de aqüíferos e a poluição difusa. O efeito das preocupações sobre o clima global e a pressão sobre áreas como Amazônia reverteu o processo de investimento internacional no Brasil, que enfatizava a energia através das hidrelétricas. Neste momento, foram eliminados os financiamentos internacionais para construção de hidrelétricas, com grande impacto na capacidade de expansão do sistema no Brasil. Os anos 90 foram marcados pela idéia do desenvolvimento sustentável que busca o equilíbrio entre o investimento no crescimento dos países e a conservação ambiental. Neste sentido, os investimentos internacionais, que no período anterior financiaram aproveitamentos hidrelétricos se voltaram para apoiar a melhoria ambiental das cidades, iniciando com as grandes metrópoles brasileiras. O final dos anos 90 e o início do novo século (e milênio) está marcado internacionalmente pelo movimento pela busca de uma maior eficiência no uso dos recursos hídricos dentro de princípios básicos aprovados na Rio 92. A água é o tópico que tem suscitado uma grande preocupação dos planejadores como a base de sustentação da sociedade moderna. Os grande desafios que se visualizam no Brasil são a consolidação dos aspectos institucionais do gerenciamento dos recursos hídricos, o controle do recursos hídricos nas grandes metrópoles brasileiras, a preservação ambiental, o uso e controle do solo rural e o impacto da poluição difusa dentro de uma visão racional de aproveitamento e preservação ambiental. Situação atual O desenvolvimento dos recursos hídricos e a conservação dos sistemas naturais é um desafio da sociedade brasileira e passa por vários aspectos, relacionados com as condições sociais e econômicas. A seguir foram destacados os principais elementos. Institucional O desenvolvimento institucional encontra-se numa fase de transição. A lei de recursos hídricos foi aprovada em 1997 e a sua regulamentação está em curso com a instituição da Agência Nacional da Água (legislação no Congresso), a aprovação das legislações de parte importante dos Estados e o início do gerenciamento através de comitês e agências de bacias em áreas isoladas. No entanto, ainda não foi aprovado o suporte institucional básico que permita a tomada de decisão pelos comitês, os recursos para execução e as agências para implementação. O processo institucional brasileiro apresentou uma evolução muito importante nos últimos anos, o que tem sido promissor para o gerenciamento dos recursos hídricos. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 9

No setor de água potável e saneamento, ocorre uma transição institucional, que envolve a privatização dos serviços das empresas que são públicas. Este processo depende da solução de um impasse econômico-institucional, já que as empresas são estaduais e não possuem o direito de concessão dos serviços. Este direito é prerrogativa dos municípios, o que pulveriza as atribuições e reduz o valor econômico das empresas estaduais. Disponibilidade e demanda As condições atuais de disponibilidade x demanda mostram que na média e na maioria do território brasileiro, não existe falta de recursos hídricos, no entanto observa-se condições críticas em períodos de estiagem no Semi-árido Nordestino e, em algumas regiões, onde o uso da água é intenso como na irrigação do arroz, na vizinhança das cidades médias e principalmente das regiões metropolitanas. O Nordeste brasileiro apresenta condições hídricas desfavoráveis que combinam: evapotranspiração alta durante todo o ano, baixa precipitação, sub-solo desfavorável em muitas regiões (água salobra ou formação cristalino) e baixo desenvolvimento econômico social. A falta de água em grande parte do ano atinge a sustentatibilidade da população em áreas extensas do Semi-Árido. As grandes concentrações urbanas brasileiras apresentam as condições mais críticas de sustentabilidade devido ao excesso de cargas de poluição doméstica, industrial e das enchentes urbanas, que contaminam os mananciais, associado a forte demanda de água. A tendência de redução de disponibilidade hídrica destas áreas é significativo pelos dois fatores citados, onde já se observa freqüentes racionamentos em Recife e São Paulo. A Região Metropolitana de São Paulo que importa a maior parte da água da bacia do rio Piracicaba devido a contaminação dos mananciais vizinhos, está praticamente sem opções de mananciais. No entanto, possui uma perda não cobrada de cerca de 40% de água. A racionalização do uso da água e o reuso poderão permitir uma solução mais sustentável. Outro conflito é observado entre água potável e irrigação nas regiões críticas como o Nordeste, em regiões de forte demanda agrícola do Sul do Brasil. Este conflitos localizados necessitam de soluções específicas através dos interlocutores no comitê das bacias. O Ceará que possui reduzida disponibilidade hídrica durante a estiagem, tem apresentado soluções criativas para os conflitos de uso nas áreas de baixa disponibilidade sazonal. A falta de água em anos mais secos em algumas regiões, tanto para a agricultura como para o abastecimento é muitas vezes falta de regularização e programas preventivos de redução destes impactos. Desenvolvimento urbano O Brasil apresenta 80% da população em áreas urbanas. Nos estados mais desenvolvidos estes números chegam na vizinhança de 90%. Devido a esta grande concentração urbana, vários conflitos tem sido gerados neste ambiente que são os seguintes: (a) degradação ambiental dos mananciais; (b) aumento do risco das áreas de abastecimento com a poluição orgânica e química; (c) contaminação dos rios por esgotos doméstico, industrial e pluvial; (d) enchente urbana gerada pela inadequada ocupação do espaço e pelo gerenciamento inadequado da drenagem urbana; (e) falta de coleta e disposição do lixo urbano. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 10

Este processo ocorre principalmente porque os municípios não possuem capacidade institucional e econômica para administrar o problema, enquanto os Estados e a União estão distantes de buscar uma solução gerencial adequada para apoiar os municípios. Cada um dos tópicos acima são vistos de forma isolada sem um planejamento preventivo ou mesmo curativos dos processos. Com conseqüência, se observa prejuízos econômicos, forte degradação da qualidade de vida, com retorno de doenças de veiculação hídrica, mortes, perdas de moradias e bens, interrupção de atividade comercial e industrial em algumas áreas, entre outros. Este processo já está agravado nas grandes cidades, exigindo recursos significativos a minimização dos impactos. O custo de controle na fase de planejamento é muito menor que o curativo depois que os problemas ocorreram. A tendência urbana atual é de redução do crescimento das metrópoles em detrimento das cidades médias. Neste sentido, os impactos tenderiam a se disseminar para este tipo de cidade, que ainda não possui degradação ao nível das metrópoles e existe espaço para prevenção. No entanto, não existe capacidade gerencial e nenhum programa de apoio as cidades para busca de melhoria quanto ao seu desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento rural Existe um conflito natural entre o uso da água para agricultura e o abastecimento humano em algumas regiões brasileiras, principalmente quando a demanda é muito alta como, para irrigação de arroz por inundação. Este processo passa pelo aumento da eficiência dos sistemas de irrigação e o gerenciamento adequado dos efluentes agrícolas quanto a contaminação. Os aspectos principais do desenvolvimento rural estão relacionados com a disponibilidade hídrica nas regiões secas como o Nordeste onde a viabilidade do desenvolvimento econômico depende muito da disponibilidade de água. Existe uma importante expansão de empreendimentos voltados para a fruticultura que apresenta rentabilidade econômica e mais de uma safra por ano, desde que irrigado. Este processo se desenvolve junto ao São Francisco onde a disponibilidade hídrica é maior, enquanto que as áreas distante dos rios perenes persiste a agrícola de subsistência que sofre freqüentes perdas. Nas regiões Sul e Sudeste o uso da irrigação ainda depende de redução do custo dos projetos de irrigação para a maioria das culturas, a exceção do arroz de inundação. Grande parte do setor agrícola prefere assumir os riscos, que ocorrem somente em alguns anos, do que o investimento em irrigação. No entanto, na irrigação do arroz existem conflitos do uso da água na bacia do rio Uruguai e ambientais na região do lagoa Mirim. Além do atendimento hídrico a produção hídrica deve-se ressaltar a necessidade de conservação do solo que é a fonte da poluição difusa hídrica. Em grande parte do Sul do Brasil tem se observado uma mudança de prática agrícola no sentido de troca de plantio conservacionista para plantio direto, com importantes benefícios hídricos que são: redução da erosão, aumento do freático dos rios e maior regularização. No entanto, existem várias regiões do Brasil onde a erosão e a degradação do solo são importantes como na Bacia do rio Paraguai, onde o gado e a soja têm produzido importante alteração na geração de sedimentos que se desloca para o Pantanal, principalmente no leque do rio Taquari. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 11

Face ás grandes demandas agrícolas o reuso pode também, se constituir em alternativa adequada, reservando água de boa qualidade para abastecimento público e outros usos benéficos. Hidroenergia O sistema de produção energético brasileiro depende 91% da energia hidrelétrica e tem planejado a sua diversificação com termelétricas a gás para os próximos anos. Mas mesmo assim, esta diversificação até 2002 ainda manterá em 83% a parcela das hidrelétricas. Associado ainda ao risco de falha, deve-se considerar que desde 1970 as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste (onde se encontra grande parte da capacidade instalada) apresentam vazão média cerca de 30% maior que do período anterior, o que significa que para a mesma capacidade instalada é possível gerar mais energia, com menor risco de falha. O sistema, mesmo com o período de vazões altas, está no limite de atendimento da demanda. Considerando que períodos longos climáticos abaixo e acima de determinados patamares podem ocorrer, o sistema, desta forma tem forte dependência da climatologia. Em condições climáticas mais desfavoráveis, mantidas as tendências de aumento da demanda e com reduzida ampliação da oferta, pode criar condicionantes desfavoráveis ao desenvolvimento econômico brasileiro. O sistema está passando pelo processo de privatização ao longo dos próximos anos com venda dos empreendimentos existentes, o que em parte já ocorreu e a instalação de novos empreendimentos, na sua grande parte térmico a gás. Além disso dentro dos próximos anos deverá ocorrer a regulação dos processos de compra e venda de energia e o funcionamento entre empresas da geração, transmissão e distribuição. Enchentes e Secas As enchentes urbanas tem sido uma das grandes calamidades a que a população brasileira tem sido sujeita como resultado de: (a) ocupação inadequada do leito maior dos rios; e/ou (b) urbanização das cidades. O país perde anualmente somas altas, provavelmente superiores a 1 bilhão dólares. Não existe nenhuma política de controle e as que existem são totalmente equivocadas, o que tem aumentado os prejuízos nas cidades. Normalmente existe uma combinação de falta de conhecimento e de interesse na solução destes problemas, a medida que ocorrendo o evento é declarada calamidade pública e o município recebe recursos a fundo perdido, sem que seja necessário concorrência pública para gasto dos mesmos. Com este tipo de ação dificilmente serão implementados programas preventivos, que na sua maioria não envolvem obras estruturais, mas regulamentação do uso do solo, que geralmente é politicamente pouco palatável. Uma potencial calamidade devido as enchentes é o rompimento de barragens, apesar do pequeno risco. Atualmente não existe regulamentação para bacias de grande porte quanto a programa preventivo de segurança das barragens. Este situação é preocupante a medida que um evento desta natureza num sistema de cascata poderá produzir um cenário desastroso a medida que não existam programas preventivos de minimização de impactos. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 12

As secas, principalmente no Nordeste brasileiro são eventos freqüentes. Existem programas específicos e ações isoladas ou pontuais, mas não há um programa regional preventivo de minimização dos seus impactos para a população, seja na sua própria subsistência, como alternativa econômica. Um dos projetos em curso que poderá contribuir para minimizar este problema é o ProÁgua que possui um expressivo volume de recursos planejado para diferentes Estados do Nordeste. A aferição do resultados das iniciativas deve ser realizado nos indicadores sociais e de saúde da população, a construção de açudes ou de poços nem sempre beneficia diretamente a população, mas certamente dará lucros as empresas. Como as enchentes e secas geram impactos e não geram recursos como os setores dos recursos hídricos, não estão previstos na estrutura institucional vigente. O grande desafio neste sentido é o de buscar criar programas nacionais preventivos de redução do impacto das inundações e das secas que orientem a população com educação, alternativas de sobrevivência e planos para se antecipar às emergências, através de ações efetivamente descentralizadas. Recursos humanos e desenvolvimento tecnológico O desenvolvimento e preservação dos recursos hídricos dependem de profissionais qualificados tanto para a execução como para a tomada de decisões voltadas para a realidade dos países. A maioria dos profissionais que trabalham na área adquiriram seu conhecimento no próprio trabalho e apenas um grupo menor obtiveram os conhecimentos através do Mestrado e Doutorado. Atualmente existe falta de pessoal qualificado no setor, principalmente na medida que ocorrer a implementação da legislação com a criação de comitês e agências para as bacias. No entanto, a falta de institucionalização dos mecanismos de gerenciamento dos recursos hídricos resultam num mercado de trabalho ainda indefinido, por mais paradoxal que seja. O desenvolvimento tecnológico e científico tem sido incentivado por programas especiais do CNPq, PADCT/CIAMB, CAPES e FINEP através do PROSAB e REHIDRO. Existem grupos qualificados no país, mas a sua maioria com visão setorizada dos recursos hídricos. Devido às características continentais do país e a grande variabilidade dos ambientes é necessário um maior enfoque na especialização de conhecimento interdisciplinar em regiões hídrica do país como a Amazônia, Cerrado, Pantanal e Semi-Árido (entre outros), onde as características e os problemas são diversos exigindo pesquisas de médio longo prazo que apoiem o desenvolvimento e a conservação destas regiões. Monitoramento A coleta de dados hídricos é essencial para qualquer planejamento adequado. Observa-se que, no país, a coleta de dados está concentrada em entidades federais com atribuições que envolvem um território muito extenso. As bacias de pequeno porte essenciais para o gerenciamento de demandas como abastecimento de água, irrigação conservação ambiental praticamente não existem, podendo induzir a decisões que gerem conflitos. Observa-se também que existe a necessidade de modernização do sistema de monitoramento tradicional através de automação, revisão das práticas hidrométricas e aumento de coleta de dados de qualidade da água e sedimentos. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 13

Cenários Cenários metas Os cenários dentro da World Water Visíon foram propostos por Gallopin e Rijsberman (1999) e são os seguintes: Situação crítica (business-as-usual): visão pessimista da exploração dos recursos hídricos, ou seja tudo se mantém como nass condições atuais; Econômico, tecnológico e privatização: (Economics, Technology and the Private Sector): visão otimista baseada nos conceitos econômicos das leis de mercado, no uso de tecnologia, cobrança d água e participação pública; Valores humanos e Padrões básicos de qualidade de vida (The values and Lyfestiles): este cenário parte do princípios que exista uma verdadeira vontade na busca de reavivar os principais valores da vida humana e na busca de metais globais de qualidade de vida. Na tabela 1.2 são selecionadas as metas potenciais que necessitariam ser atingidas em cada um dos cenários dentro de alguns dos aspectos destacados neste estudo. Com base nesta análise e nas tendências visualizadas foi apresentada o provável cenário do horizonte 2025. A análise foi realizada de forma qualitativa. Deve-se ressaltar que os três cenários devem apresentar os mesmos resultados para o período de 2000 2005, considerando que o período é curto para que ações mencionadas venham a produzir impactos. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 14

Tabela 1.2 Cenários Metas Aspectos Crítico Otimista Valores humanos Aspectos institucionais Desenvolvimento urbano Desenvolvimento Rural A regulamentação da legislação é aprovada, mas a resistência pela cobrança pelo uso da água, falta de mecanismos econômicos e de agências mantém o cenário atual sem gerenciamento integrado; Limitada ação estadual e municipal no gerenciamento dos recursos hídricos; Privatização apenas dos serviço rentáveis Aumento da falta de água nas grandes metrópoles e cidades médias onde deve-se concentrar o aumento da urbanização; Aumento das doenças de veiculação hídrica e contaminação química; Retrocesso no mortalidade infantil e na expectativa de vida em regiões críticas; Agravamento sanitário dos rios próximo das cidades e de toda a rede de drenagem; Aumento da poluição difusa; Perda de solo, dessertificação e aumento do desmatamento; Limitada expansão da irrigação para fruticultura devido a baixa disponibilidade; Agravamento dos conflitos com uso da irrigação do arroz no Sul. Regulamentação da legislação é aprovada; o sistema de cobrança pelo uso da água é implementado; comitê e as agências são criados; as bacias hidrográficas são administradas por usuários, sociedade civil e governos Os sistemas de água potável e saneamento são privatizados; A população paga pelos serviços e pelo aumento da disponibilidade e controle dos efluentes; Melhoria dos indicadores sociais e redução das doenças. Recuperação da qualidade da água dos rios contaminados. O uso de práticas agrícolas adequadas é disseminado pela melhor rentabilidade das safras; Uso de tecnologia para racionalização do uso da água e controle de efluentes; Expandida a conservação do solo e aumento de produtividade Regulamentação da legislação é aprovada; o sistema de cobrança pelo uso da água é implementado considerando os condicionantes sociais; comitê e as agências são criados; as bacias hidrográficas são administradas por usuários, sociedade civil, governos e ambientalistas. Os sistemas de água potável e saneamento são parcialmente privatizados; O poder público atua para garantir o atendimento independente da capacidade de pagamento de parte da população; Melhoria dos indicadores sociais e redução das doenças. O uso de práticas agrícolas adequadas é disseminado pela melhor rentabilidade das safras; Uso de tecnologia para racionalização do uso da água; Apoio técnico rural as pequenas propriedades; Educação e saúde e tecnologias associado a reforma agrária;

Tabela 1.2 (continuação) Cenário Metas Aspectos Crítico Otimista Valores humanos Energia Matriz energética pouco diversificada Diversificação da matriz Diversificação da matriz Falta de energia com energética; energética; estrangulamento econômico das regiões produtivas; Privatização da produção e distribuição da energia Privatização da produção e distribuição da energia Impacto de variabilidade climática; Plano emergencial para Plano emergencial para Racionamento energético. períodos climáticos que reduzam a oferta energética períodos climáticos que reduzam a oferta energética; Manutenção de subsídios Eventos extremos Aumento de perdas econômicas devido as enchentes e gastos inadequados com a construção de canais urbanos; Permanência da falta de água no semi-árido com baixo desenvolvimento e movimentos migratórios nas secas; Falta de água em regiões de baixa regularização Medidas não-estruturais de controle de enchentes e Controle na fonte dos impactos da urbanização através dos Planos de Drenagem Urbana; Investimento economicamente rentáveis de regularização em locais críticos. sociais na energia Medidas não-estruturais de controle de enchentes e Controle na fonte dos impactos da urbanização através dos Planos de Drenagem urbana; Plano de ampliação da disponibilidade hídrica no Semiárido; Aumento da regularização em locais críticos.

O cenário crítico representa as condições atuais e os outros dois cenários representam metas que poderiam ser alcançadas de acordo com a política a ser desenvolvida na realidade do país para a busca destas metas. Cenário Tendencial De acordo com as tendências apresentadas no item anterior para cada um dos aspectos analisados pode-se observar que, isoladamente, dificilmente cada uma destes cenários será atingido. A seguir é apresentada a visão tendencial dentro do horizonte previsto. Devido a grande dinâmica de um país como o Brasil a previsão num horizonte de 25 anos é temerária e sujeita a grandes distorções, no entanto acreditamos que este exercício é válido até para permitir influir nos resultados inadequados previstos. Institucional As condições nas quais está ocorrendo a implementação institucional a nível federal leva a crer que ocorrerá uma avanço importante na legislação. A etapa seguinte, não menos importante dependerá da forma como a Agência Nacional da Água desenvolverá suas ações na implementação institucional. A tendência é de que a agência necessite pelo menos dois anos para criar uma estrutura mínima de pessoal com qualificação para atingir suas metas de longo período, coordene as primeiras ações junto aos estados e estabeleça um Plano realista de Recursos Hídricos para o país. O próprio desenvolvimento institucional nas diferentes bacias seguramente apresentará diferentes evoluções em função das condições já existente em Estados como Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul onde o processo institucional avançou nos últimos anos. A cobrança pelo uso da água e os outros mecanismos de controle gerencial passarão por um teste político muito forte nos próximos anos e a sensibilidade de negociação, característica do país, permite acreditar que este sistema poderá ser estabelecido em maior ou menor grau de acordo com a região, suas condições específicas, situação crítica dos usos e capacidade econômica. Não existindo um acordo entre os agentes (membros do comitê, agência e grupos taxados) o risco é de que toda atitude de cobrança esteja sujeita a ações judiciais intermináveis que inviabilizará o gerenciamento da bacia. Como conseqüência, o comitê não terá força de decisão e recursos para implementar a Agência da bacia e desenvolver os programas necessários. A população brasileira está cansada de pagar tributos. O Brasil é um dos países em desenvolvimento que mais arrecada com tributos (30% do PIB) e de forma muito injusta já que a distribuição dos tributos é muito desigual. Desta forma, com a implantação de outra cobrança e com a tradição pública de desperdício de recursos é possível que exista uma reação como a citada. Portanto, a negociação e o esclarecimento da opinião pública e um processo transparente de gasto dos recursos são fundamentais para a viabilidade do sistema e da cobrança. O desenvolvimento institucional é a condição básica para todo o processo de gerenciamento do país. Dentro do cenário de 2025 provavelmente haverá um conjunto legal instituído consolidado, mas com grandes variações quanto á sua implementação. A tendência é de que nas áreas onde o conflito é mais crítico, sejam estabelecidos acordos devido á necessidade de uma decisão, enquanto que em regiões sem um aparente conflito poderá ocorrer uma discussão mais prolongada com pouca decisão. De um lado é benéfico, mas de outro, o processo de planejamento preventivo é prejudicado. No entanto, o fator de demonstração poderá alterar esta tendência. No tocante ás metas seguramente existirão a tendência de alguns setores Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 19

de acompanhar o cenário otimista, outros o cenário de valores humanos em função da região, condições econômicas e politização da população. Desenvolvimento urbano Além dos problemas associados à sua grande extensão territorial e extrema diversidade das condições socio-econômico prevalentes em suas múltiplas regiões, o Brasil vem sofrendo, na última década, os efeitos de pelo menos três fenômenos que tendem a alterar significativamente o cenário dos recursos hídricos nacionais, particularmente no setor de abastecimento de água e saneamento. São características da situação atual, a fase de transição entre o regime estabelecido pelo extinto PLANASA e os novos modelos de gerenciamento do setor saneamento e de gestão de recursos hídricos que estão sendo desenvolvidos, bem como o crescente surto de privatização de serviços públicos de água e esgoto. Há que considerar, também, o significativo desenvolvimento tecnológico que vem ocorrendo no setor, principalmente no que tange a sistemas de tratamento de água e de esgotos, trazendo como conseqüência, o aumento dos níveis de cobertura devido à melhoria da relação benefício/custo na execução de sistemas de abastecimento de água e de coleta de esgotos. Embora essas características apontem para um significativo desenvolvimento do setor de água e saneamento no Brasil e as ações estejam orientadas visando a gestão sustentável dos recursos hídricos nacionais, é pouco provável que ocorram, até 2025. Esta hipótese de ocorrência simultânea de ambos os cenários se justifica, inicialmente, pela discrepância sócio-econômica entre as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste, que, provavelmente manterão grande parte de suas estruturas no primeiro cenário, e as regiões Sudeste e Sul com características predominantes do segundo. A situação reinante em cada uma dessas duas áreas distintas tenderá, ao final do período considerado, a consolidar situações correspondentes aos cenários sub-sequentes, isto é as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste tenderão a evoluir para uma situação correspondente ao segundo cenário, enquanto que as regiões sudeste e sul apresentarão, em áreas delimitadas, características do terceiro. Com a aprovação dos novos modelos de gerenciamento de recursos hídricos, onde são introduzidos os conceitos de usuário e poluidor pagadores, bem como o sistema de gerenciamento por bacias hidrográficas, que deverá contar com a participação de diversos atores sociais, nas regiões menos desenvolvidas do país, irá ocorrer uma melhoria significativa dos recursos hídricos, principalmente no que tange ao controle da poluição. Esta condição proporcionará melhoria de qualidade de mananciais de água potável facilitando as condições de tratamento e abastecimento de água. Entretanto, a melhoria dos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos sanitários dependerá de dois fatores básicos. Em primeiro lugar, a criação de um orgão regulador específico, que possa ordenar e monitorar o setor, estabelecendo padrões de qualidade, bases tarifárias, inclusive em relação à solidariedade social, áreas de cobertura, sistema de informação e mecanismos de proteção aos usuários. É imprescindível, também, integrar o planejamento das atividades das companhias estaduais e municipais de saneamento com os planos de gestão das bacias hidrográficas correspondentes, particularmente aos associados ao controle da poluição de corpos receptores de efluentes. A tendência para o terceiro cenário darse-á apenas quando os critérios para tratamento e disposição de efluentes líquidos estiverem associados às política vigentes de proteção ambiental, permitindo a Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 20

evolução dos conceitos anteriores de saneamento básico para o atual, de saneamento ambiental. No que tange à tendência de privatização dos serviços de água e saneamento básico, há que se controlar os interesses associados às áreas de cobertura quando da preparação dos contratos de licitação, pois haverá maior interesse em investir nas grandes regiões urbanas, onde já existe uma infra-estrutura para o abastecimento de água, que atende a mais de 90% da população e, em menor escala, de esgotamento sanitário, que dependendo da região, pode ser superior a 50% da população total. Nessa situação, as regiões mais ricas do país, bem como os grandes centros urbanos, irão atrair grandes investimentos do setor privado, compartilhando com o governo, a responsabilidade pelo atendimento às necessidades de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Caberá ao governo, portanto, através do órgão regulador específico para o setor, exercer com maior eficiência, as funções, que realmente lhe compete, de agente fiscalizador e controlador, podendo exigir e fazer cumprir com rigor, as normas de controle ambiental e de gerenciamento de recursos hídricos, resultando em uma melhoria significativa das condições sanitárias e ambientais dessas regiões. A experiência auferida em países em estágio desenvolvimento e de industrialização acelerada, demonstra que os benefícios oriundos da tecnologia moderna ocorrem muito mais rapidamente nos grande centros urbanos e regiões metropolitanas, onde se concentram os maiores níveis de renda e de maior capacitação técnica e empresarial. Essa condição levará, também, a um retardamento das regiões menos favorecidas, ou seja as do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a evoluir para as características predominantes no segundo cenário, até o ano 2025. Com a melhoria das condições sanitárias das regiões mais ricas, (Sul e Sudeste) a possibilidade de ocorrência de crises associadas ao uso da água, tornam-se menos prováveis, bem como o surgimento de epidemias associadas às doenças de origem hídrica. Esses aspectos levam, implicitamente a uma melhoria de qualidade de vida, o que representa uma tendência para a evolução na direção do terceiro cenário. Não havendo uma atuação eficaz do governo e dos demais setores da sociedade, no sentido de atender as necessidades das populações menos favorecidas, através do investimento de recursos em educação, saúde, segurança e saneamento básico, bem como pelo desenvolvimento de uma política para melhorar a distribuição de renda, no sentido de acabar com a exclusão social, as diferenças que são observadas hoje, entre o hemisfério norte e sul do Planeta, bem como aquelas que já existem no Brasil, entre as regiões Sul e Sudeste e demais regiões do país, irão se acentuar e como resultado, poderá ocorrer uma migração em massa, das regiões mais pobres para as mais ricas, que ao contrário dos processos de imigração entre os países, é mais difícil de ser controlada. Este êxodo populacional para as regiões mais ricas, devido a falta de infra-estrutura, irá resultar na ocupação de áreas não adequadas, como por exemplo áreas de proteção de mananciais, encostas de morros e margens de córregos e rios, o que comprometerá todo o trabalho desenvolvido para a melhoria das condições sanitárias da região, aumentando o risco do surgimento de todos os problemas associados à ocupação inadequada do solo, tais como enchentes, deslizamento de encostas, poluição dos corpos d água e surto de doenças de origem hídrica, além de ocasionar problemas de escassez de água. Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 21

Pelas razões expostas acima, o que se verifica, mesmo com a possibilidade de ocorrência de um cenário mais favorável, caso não haja um comprometimento do governo de toda a sociedade, principalmente das classes mais favorecidas, a tendência a longo prazo, será a predominância do cenário, onde tudo permanece como está, ou seja, os benefícios e avanços que serão obtidos em decorrência do desenvolvimento de políticas adequadas de gerenciamento de recursos hídricos, participação do setor privado no setor de saneamento, utilização de tecnologia moderna e maior conscientização da população, para com as questões relacionadas à importância da água e do meio ambiente, poderão ser frustrados pelos processos de degradação da qualidade ambiental, desencadeados pela população menos favorecida, que em busca de melhores condições de vida, ou fugindo das calamidades que assolam a sua região, irá migrar para estas regiões mais desenvolvidas. Pode-se inferir que até o ano 2025, o Brasil apresentará, basicamente, no setor de água e saneamento, as características correspondentes aos dois primeiros cenários, com a ocorrência pontual, nas regiões Sul e Sudeste de algumas características específicas do cenário associado a valores e estilos de vida. A proporção a que cada um desses cenários serão estabelecidos, e a que fases do período considerado, dependerão basicamente da ação governamental, no sentido de proporcionar recursos financeiros adequados, implementar as políticas de gestão que se fazem necessárias para o controle das agências prestadoras de serviço e do setor privado e para o desenvolvimento tecnológico do setor. Desenvolvimento rural Com a implementação da regulamentação do uso da água e a sua racionalização através da cobrança poderão existir duas tendências opostas: (a) redução da demanda da irrigação nos projetos existentes devido a cobrança e racionalização da água, criando melhores oportunidades para a sua sustentatibilidade regional, com obediência dos acordos do comitê; (b) aumento de conflitos e dificuldades na implementação dos acordos ou restrições. Provavelmente o país deverá registrar os dois tipos de tendência, mas é esperado que a primeira predomine. A tendência é de que na região Semi-Árida o uso agrícola na vizinhança dos grandes mananciais seja voltado para produtos de maior rentabilidade e para agricultura de subsistência nas áreas de pouca disponibilidade de água. A fruticultura e o café em algumas regiões têm mostrado rentabilidade que tornam viáveis o investimento, principalmente pela maior número de safras num mesmo ano. De outro lado, estes empreendimentos exigem uma regularização da água sem falhas durante períodos longos, já que o plantio é permanente. Pode-se esperar uma tendência de investimento de empresas agrícolas na região do São Francisco com importante ampliação econômica da região através de investimentos privados. A sustentatibilidade deste processo a longo prazo dependerá do uso tecnológico. Nas áreas agrícolas fora da cobertura da disponibilidade hídrica sem riscos, onde os rios não foram perenizados ou o potencial de água é pequeno. De acordo com as condições atuais, o desenvolvimento se dará muito mais no sentido de buscar a sustentatibilidade social da população através da melhora dos indicadores sociais com pequeno aumento econômico. O cenário para o horizonte previsto é de gradual solução de algumas áreas críticas de subsistência, como mencionado, através de investimentos externos a região e grande Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 22

demanda e uso da água no raio de ação dos rios perenes para fruticultura com potencial conflito devido aos limites quantitativos. Quanto aos programa de conservação do solo, deve-se observar ainda discrepâncias regionais de ações. As regiões com maior educação e treinamento deverá apresentar resultados bons como acontece hoje e as outras exigirá ação externa maior de recursos, educação e investimentos. Os grandes desafios deverão envolver o controle da ocupação dos limites da Amazônia, o desenvolvimento do Cerrado, que depende fortemente da disponibilidade hídrica e o Semi-Árido. Este processo dependerá muito das políticas governamentais de apoio de investimento, que atualmente estão limitadas pela capacidade econômica do país. Hidroenergia Com a regulamentação do setor com relação a privatização da geração, transmissão e distribuição, a tendência será de expansão das Usinas térmicas a gás (dentro dos limites disponíveis dos gasodutos) em função retorno mais rápido dos investimentos. O comprometimento da produção baseado em hidrelétricas deve diminuir permitindo reduzir o risco de racionamento, diversificando a matriz energética. No entanto, poderão ocorrer riscos de racionamento devido as incertezas da variabilidade climática num sistema em que a demanda está no limite da oferta. De outro lado a tendência de privatização energética leva a uma dinamização maior do sistema a medida que os condicionantes legais de ação privada na distribuição, transmissão e geração estiverem bem definidos. O sistema privatizado tenderá a aumentar as térmicas dentro da capacidade de fornecimento de gás importado da Bolívia e Argentina, diversificando a matriz energética. O risco de um sistema ajustado de oferta e demanda é o da externalidades climáticas de longo prazo, que podem comprometer o desenvolvimento econômico de um período devido a inércia de ajuste do sistema. Como é impossível prever as condições climáticas de longo prazo torna-se necessários planejar o sistema para que tenha uma plano de emergência para esta situação e buscar duas tendências diversificação: a da matriz energética e a da localização dos sistemas hidrelétricos em regiões com diversificação de regime climático e hidrológico, para reduzir as incertezas. No cenário tendencial espera-se que na matriz energética tenda a aumentar as térmicas, mas no horizonte previsto deverá possuir ainda grande predominância das Usinas Hidrelétricas (> 70%) devido ao potencial disponível. O mercado atacadista de energia que entrará em funcionamento nos próximos anos depende de forma significativa da previsão das condições climáticas de curto e médio prazo. Provavelmente haverá um importante desenvolvimento tecnológico neste setor em função do prêmio do conhecimento prévio dos condicionantes que norteiam os preços. Enchentes e secas: Enchentes: A elaboração recente dos Planos de Drenagem Urbana de algumas cidades brasileiras provavelmente permitirá mitigar os impactos das enchentes urbanas destas cidades dentro do cenário previsto. No entanto, apenas do horizonte Relatório Nacional sobre o gerenciamento da água no Brasil 23