Rendimento da cana-de-açúcar irrigada nos tabuleiros costeiros da Paraíba sob aplicações parceladas de diferentes adubos

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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 9 - Número 2-2º Semestre 2009 Rendimento da cana-de-açúcar irrigada nos tabuleiros costeiros da Paraíba sob aplicações parceladas de diferentes adubos Daniela Batista da Costa 1, Carlos Alberto Vieira de Azevedo 2, José Dantas Neto 3, Carlos Henrique de Azevedo Farias 4 RESUMO A cana-de-açúcar é de relevante importância econômica e social para o mundo, como fonte de produtos alimentares e farmacêuticos e de energia. Esta pesquisa estudou os efeitos de diferentes adubos em aplicações parceladas sobre o rendimento da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L), variedade SP-791011. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com três repetições, testando-se os adubos SC01 (630 kg ha -1 ), 12-00-24 (400 kg ha -1 ) e uréia (200 kg ha -1 ), aplicados em única e em duas doses, com e sem adubação orgânica (600 kg ha -1 ). Foram analisadas as variáveis produtividade dos colmos (PDC) e os rendimentos brutos de açúcar (RBAç) e de álcool (RBAl). Os tipos de adubos e suas diferentes épocas de aplicação, causaram diferença significativa a 1% de probabilidade para o PDC e o RBAç, e a 5% para o RBAl. Os maiores PDC ocorreram nos tratamentos com os adubos CS01 e 12-00-24 associados à matéria orgânica e no tratamento com uréia, aplicados em duas doses. Estes tratamentos e o que usou o adubo 12-00-24 e matéria orgânica, aplicados em única dose, também tiveram os maiores valores de RBAç,. O maior RBAl foi obtido pelo tratamento com uréia aplicada em duas doses. O parcelamento das adubações associado à matéria orgânica contribui positivamente para o rendimento da cana-de-açúcar. Palavras-chave: Álcool, adubação de cobertura, matéria orgânica. ABSTRACT Sugarcane yield irrigated in the coastal lands of Paraíba under parcel applications of different fertilizers The sugarcane is of relevant economical and social importance for the world, as source of alimentary and pharmaceutical products and of energy. This research studied the effects of different fertilizers in parcel applications on sugarcane yield (Saccharum officinarum L), cultivate SP- 791011. The experimental design was entirely randomized, with three repetitions, being tested the fertilizers SC01 (630 kg ha -1 ), 12-00-24 (400 kg ha -1 ) and urea (200 kg ha -1 ), applied in only one and in two doses, with and without organic manuring (600 kg ha -1 ). The variables productivity of stems (PDC) and the gross yields of sugar (RBAç) and of alcohol (RBAl) were analyzed. The types of fertilizers and their different application times caused significant difference to 1% of probability for PDC and RBAç, and to 5% for RBAl. Largest PDC happened in the treatments with the fertilizers CS01 and 12-00-24 associated to organic matter and in the treatment with urea, applied in two doses. These treatments and the one that used the fertilizer 12-00-24 and organic matter, applied in only one dose, also had largest RBAç. Largest RBAl was obtained by the treatment with urea applied in two doses. The parcel of the manurings associated to organic matter contributed positively for sugarcane yield. Keywords: Alcohol, covering manuring, organic matter. 116

1 INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar é uma gramínea perene pertencente à família Saccharum, própria de climas tropicais e subtropicais. As variedades cultivadas são quase todas híbridas das espécies Saccharum Officinarum, Saccharum Spontaneum e Saccharum Robustum, entre outras (Passos et al., 1973). A cultura da canade-açúcar representa expressivo diferencial econômico para o mundo, tanto pela sua importância como fonte de produtos alimentares, farmacêuticos ou como significativo componente para o desenvolvimento da indústria, na forma de gerador de energia (Carvalho, 2003). No Brasil, a cana-de-açúcar foi um dos principais produtos para a formação das bases econômica, política e social, e ainda hoje o setor produtor de cana é de suma importância não só como gerador de renda na agricultura, mas também como agente definidor de fatores de produção, em especial no uso de áreas agrícolas (Castilho, 2000). Segundo Coleti (1987), o Brasil, devido suas dimensões continentais, proporciona à cultura canavieira as mais variadas condições climáticas. Possivelmente é o único país do mundo com duas épocas de colheitas anuais: uma na região norte-nordeste (setembro-abril) e outra na região centro-sul (maio-dezembro). O Brasil tem uma área de aproximadamente 5,63 milhões de hectares cultivada com cana-de-açúcar, com uma produção em torno de 436,8 milhões de toneladas de colmos na safra de 2005. Na safra 2004/2005, a moagem foi de 380 milhões de toneladas de cana, produzindo 24 milhões de toneladas de açúcar e 14 bilhões de litros de álcool. Essa produção posiciona o Brasil no primeiro lugar em produção mundial de açúcar (IBGE, 2005). Conforme Marques & Silva (2008), o melhor rendimento da cana-de-açucar pode ser alcançado mediante o estudo desta cultura em seu ambiente de desenvolvimento (edafoclimático), objetivando o estabelecimento de um manejo cultural adequado. Nas áreas tradicionais e, sobremaneira, nas regiões de expansão da cultura canavieira no Brasil, a adubação constitui prática fundamental para o alcance de maiores produtividades e, desta forma, o uso adequado dos fertilizantes torna-se uma prática indispensável para a obtenção de produções rentáveis (Silva, 2003). Deste modo, a aplicação racional da adubação do solo é critério fundamental para o aumento da produtividade e do retorno econômico na agricultura. Para que as exigências nutricionais da cana-de-açúcar venham a ser satisfeitas de maneira racional, torna-se fundamental o conhecimento não apenas das quantidades de nutrientes necessários, mas também da época em que eles são requeridos com maior intensidade. Essas informações permitem a realização de adubações em níveis adequados, bem como sua execução nas épocas ideais de utilização pela cultura (Silva & Casagrande, 1983). Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de aplicação, nos parâmetros tecnológicos da primeira folha da cana-de-açúcar, irrigada nos tabuleiros costeiros da Paraíba, tomando-se como referencial a variedade SP 791011. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado na Fazenda Capim, da Destilaria Miriri, do Grupo UNIAGRO, situada no município de Capim, PB, a uma latitude de 6 0 56, longitude 35 0 07, e altitude de 100 m. O solo predominante na fazenda é um Alissolo (Embrapa, 1999). A precipitação média anual é de 1.000 mm, com seis meses secos; o clima é quente e úmido, com chuvas de outono a inverno. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado constituído de 12 tratamentos (Tabela 1), com três repetições. Os fatores variáveis a todos os tratamentos consistiram em adubações de cobertura orgânica e mineral aplicadas em doses e épocas diferenciadas. As adubações de cobertura foram compostas por: adubação mineral com os adubos 12-00-24 e SC01, adubação com uréia e com matéria orgânica (gelosa), tomando-se como base os níveis recomendados pela equipe de consultores da Destilaria Miriri (400 kg ha -1 117

de 12-00-24, 630 kg ha -1 de SC01, 200 kg ha -1 de uréia e 600 kg ha -1 de gelosa), que se baseiam em parâmetros do solo, mediante uma prévia análise, e no rendimento econômico da cultura sob condições de sequeiro. A composição química do adubo SC01 e da gelosa encontram-se nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. 117

Esta pesquisa abrangeu o último ciclo da cultura (1ª soca), que correspondeu ao período entre setembro de 2004 e setembro de 2005. A variedade de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) utilizada na pesquisa foi a SP 791011, muito difundida no estado da Paraíba. As parcelas experimentais foram constituídas de 9 fileiras espaçadas 1,2 m, com comprimento de 12 m e uma área total de 96 m 2. A área útil da parcela foi de 84 m 2, compreendendo as sete fileiras centrais com 10 m de comprimento cada uma, sendo a bordadura constituída de uma fileira de plantas de cada lado e de 1,0 m em cada extremidade da parcela útil (Figura 1). O experimento foi instalado na área do pivô fixo da Fazenda Capim. Foram realizadas duas avaliações referentes ao desempenho do sistema de irrigação, uma no início do experimento e outra próxima à colheita da cultura. O pivô central trabalhou com uma eficiência de aplicação de 85% e a uniformidade de distribuição de 79%. A quantidade de água aplicada em cada irrigação foi igual a 27,5 mm, 118

correspondente à irrigação e a precipitação efetiva. O balanço hídrico do experimento foi feito levando-se em consideração a quantidade de água total (precipitação efetiva mais lâmina líquida da irrigação aplicada), a evapotranspiração real e a capacidade da água aproveitável no solo. Considerou-se como precipitação efetiva o valor da chuva igual ou menor que a capacidade de água aproveitável do solo e/ou da evapotranspiração do turno de irrigação de 12 dias. A evapotranspiração real foi calculada pela equação: ETr = 0,75*Kc*EV (Eq. 1) Em que: ETr - evapotranspiração real em mm; Kc - coeficiente de cultivo segundo Doorenbos & Kassan (1979) adaptado para o período de 14 meses, por DSF (1999); EV - evaporação do tanque classe A em mm. O corte da segunda folha da cana-deaçúcar foi realizado em setembro de 2005, 12 meses depois do corte da cana-planta (primeira soca); a colheita se deu manualmente, após a queima da cana. A avaliação da produtividade média de colmos (PM) foi realizada nas sete fileiras centrais da área útil da parcela colhida, contando-se o número de colmos, pesando-se e calculando-se, sendo esses valores convertidos para kg ha -1 através do cálculo seguinte: PM = Nc x 8333,33 (Eq. 2) Em que: Nc é o número de colmos por metro linear e 8333,33 é o total de metros lineares de cana-de-açúcar em um hectare, de acordo com o espaçamento utilizado no experimento. Os rendimentos brutos de açúcar (RBAç) e de álcool (RBAl) foram calculados de acordo com a metodologia apresentada por Caldas (1998) e utilizada na destilaria Miriri, onde: RBAç = (PCC * PC)/100 (Eq. 3) Em que: RAç - Rendimento de açúcar em t ha -1 ; PCC - Quantidade de açúcar bruto em % contido nos colmos, determinada em laboratório; PC - Produção de colmos em t ha - 1. RBAl = (((PCC * F) + ARL) * 10) * Fg * PC (Eq. 4) Em que: RA - Rendimento de álcool bruto em litros por tonelada de cana; PCC - Quantidade de açúcar bruto em % contido nos colmos, determinada em laboratório; F - Fator de transformação estequiométrica de sacarose em uma molécula de glicose mais uma de frutose, igual a 1,052; ARL - Açúcares redutores livres em %, cujos valores variam de 0,7 a 0,85 %, sendo que a destilaria utiliza 0,7 para PCC alto; Fg - Fator de Gay Lussac igual a 0,6475; PC - Produção de Colmos em t ha -1. Os resultados foram analisados estatisticamente, através da análise de variância, utilizando-se o software ASSISTAT (Silva & Azevedo, 2002 e 2006), e quando ocorreram efeitos significativos dos fatores nos tratamentos, utilizou-se o teste de Turkey para comparação das médias. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A análise de variância apresentada na Tabela 4 mostra que as adubações de cobertura testadas causaram efeitos significativos para as variáveis estudadas, sendo a nível de 1% para a PM e o RBAç, e a nível de 5% para o RBAl. Carvalho (2003), Figueredo (2004) e Moura et al. (2005) também encontram efeito significativo da adubação de cobertura nesses mesmos parâmetros. A média geral da produtividade dos colmos foi de 58,97 t ha -1. Os tratamentos (A1M1)2, (A2M1)2 e (N1)2 diferiram estatisticamente do tratamento A0M0 (testemunha) como mostra a Figura 2, sendo superiores ao mesmo, entretanto não diferiram dos demais tratamentos. Este resultado mostra que o parcelamento na aplicação dos adubos de cobertura e a adição de matéria orgânica podem influenciar positivamente na produtividade média dos colmos. Houve um acréscimo médio de 43,58% na produtividade dos colmos com relação aos tratamentos que tiveram diferença 119

estatística significativa. O coeficiente de variação foi 14,84%, classificado como médio por Ferreira (2000). A média geral do RBAç foi de 8,4 t ha -1. Os tratamentos (A1M1)1, (A1M1)2, (A2M1)2 e (N1)2 diferiram estatisticamente do tratamento A0M0 (Figura 3), sendo superiores ao mesmo, entretanto não diferindo dos demais. Este resultado mostra que a adição de matéria orgânica pode ter sido o fator que influenciou o RBAç, exceto no tratamento (N1)2, que sua superioridade aos demais deve ter se dado pelo parcelamento na sua aplicação. Azeredo (1997), também verificou que a aplicação de nitrogênio à cultura da cana-de-açúcar resultou em resposta diferenciada sobre a produção final de açúcar. O coeficiente de variação foi 14,53%, classificado como médio por Ferreira (2000). A média entre os tratamentos com relação ao RBAl foi de 6,04 m 3 ha -1. O tratamento (N1)2 foi superior estatisticamente ao A0M0, porém não diferiu-se dos demais tratamentos (Figura 4). O parcelamento na aplicação desse adubo de cobertura (uréia) provavelmente foi o que ocasionou esse aumento no RBAl, já que este elemento se perde facilmente no solo, tanto por lixiviação quanto por evaporação, e sua aplicação de forma parcelada fez com que o mesmo tenha sido assimilado mais eficazmente pela cultura. 120

4 CONSLUSÕES Os tratamentos com adubação mineral e orgânica não diferiram estatisticamente entre si, para as variáveis produtividade de colmos, rendimento bruto de açúcar e de álcool, independentemente do parcelamento de suas aplicações. O parcelamento na aplicação das adubações de cobertura e a adição de matéria orgânica influenciaram positivamente na produtividade média dos colmos. A matéria orgânica associada ao adubo 12-00-24 e o parcelamento dos adubos SC01 e uréia, contribuíram para um aumento significativo no rendimento bruto de açúcar em relação à testemunha. O parcelamento na aplicação do adubo uréia ocasionou aumento significativo no rendimento bruto de álcool com relação à testemunha. 121

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SILVA, L. C. F. da; CASAGRANDE, J. C. Nutrição da cana-de-açúcar: Macronutrientes. Piracicaba: Planalsucar, 1983. 369p. 1 Eng. Agrônoma, Doutoranda pela UFRPE, Recife-PE. daniagro@gmail.com 2 Eng. Agrícola, PhD em Irrigação e Drenagem, Professor Associado da UFCG, Campina Grande-PB. Email: cazevedo@deag.ufcg.edu.br 3 Eng. Agronomo, Doutor em Irrigação e Drenagem, Professor Associado da UFCG, Campina Grande-PB. Email: zedantas@deag.ufcg.edu.br 4 Eng. Agrônomo, Doutor em Recursos Naturais, Detilaria Miriri, Capim-PB. Email: carlos.henrique@miriri.com.br 123