REVISTA BRASILEIRA DE ZOOLOGIA

Documentos relacionados
RESPOSTA DE DUAS POPULAÇÕES DE Rottboellia exaltata A HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ-EMERGÊNCIA


Ministério da Educação Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE Coordenação Geral de Infraestrutural Educacional CGEST

Biologia e Arquitetura de Ninhos de Centris (Hemisiella) tarsata Smith (Hymenoptera: Apidae: Centridini)

Registro do histórico das irrigações. O uso diário do Irrigâmetro não requer cálculo ou. Capítulo

TECNOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES I AULA 02

forídeos (DIPTERA: PHORIDAE) em ambientes de Cerrado e Eucaliptal

Kaique Novaes de Souza Antonio Souza do Nascimento Marilene Fancelli Nilton Fritzons Sanches

Aguiar, C.M.L. & Garófalo, C.A Biologia de Nidificação de Espécies de Centris

DINÂMICA POPULACIONAL DE COLÔNIAS DE Apis mellifera DURANTE O PERÍODO CHUVOSO NA REGIÃO DE ARAGUAÍNA

Ciclo de Vida do Cupim

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES BIOLÓGICAS EM SPODOPTERA FRUGIPERDA EM MILHO NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA (MG)

MESTRE MARCENEIRO UMIDADE DA MADEIRA O QUE É MADEIRA SECA?

Ministério da Educação Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE Coordenação Geral de Infraestrutural Educacional CGEST

BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO 1996

Influência da cobertura morta sôbre a umidade de um solo cultivado com Cafeeiro (*)

COMPRASNET -O SITE DE COMPRAS DO GOVERNO

ROTEIRO DE MONTAGEM DO MATERIAL DA AULA PRÁTICA EQUAÇÃO DE BERNOULLI

Uma idéia quente. Manual de Instalação Lareiras

1. Como sabes vais usar frequentemente o Método Científico Indica as fases do método científico.

POUPA LENHA MÓVEL PASSOS A SEGUIR NA CONSTRUÇÃO DO FOGÃO POUPA LENHA MÓVEL

PROJETO ACÚSTICO E MEMORIAL DESCRITIVO

COLOR CORE MANUAL DO PRODUTO COLOR CORE

A Cultura do Algodoeiro

Controle de Formigas Cortadeiras

Efeito do inseticida Lorsban na supressão de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do milho.

Nome: Ano: Turma: Nº.: Lê com muita atenção as questões propostas e responde de forma legível. BOM TRABALHO!

1) Em cada Prisma representado a seguir, calcule a área da base (A b ), a área lateral (A L ), a área total (A T ) e o volume (V):

Lista de Exercícios para P2

INSTRUÇÕES NORMATIVAS PARA EXECUÇÃO DE SONDAGENS

Matéria: Biologia Assunto: REINO ANIMAL- PLATELMINTOS E NEMATELIMINTOS Prof. Enrico Blota

Efeito do Inseticida Match no Controle de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na Cultura do Milho.

MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL

Controle Biológico do Psilídeo-de-Concha: Resultados

Bebedouros JONAS para beija-flor. Fotos e textos : Sr Jonas - Distribuição rotadasaves.com.br

REGRAS DE SEGURANÇA LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA ALIMENTAR

PRECON INDUSTRIAL S/A BH.

Variação do ph do solo em seis segmentos de veredas, região de Uberlândia, MG (1)

AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS GRÃOS DE MILHO E DE SOJA ARMAZENADOS EM SILOS BAG

3. Descrição dos Testes Experimentais

ESTUDO DO SISTEMA RADICULAR DE TEPHROSIA CANDIDA D. C.

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

3 - Na figura a seguir, está esquematizado um aparato experimental que é utilizado. 1 - Dois raios de luz, um vermelho (v) e outro

Distribuição espacial e densidade de ninhos e substratos potenciais para a nidificação de Xylocopa (Hymenoptera, Anthophoridae) em caatinga, Bahia.

Meu grande amigo Felipe Feitoza esteve em minha residência e me trouxe de presente uma boa muda de musgo e uma cultura de besouro do amendoim.

HOTEL DE INSETOS. Atividade de investigação. Pré-escolar, 1.º Ciclo, 2.º Ciclo, 3.º Ciclo, Secundário. Estudo do Meio Ciências da natureza Biologia

MONTAGEM E EXECUÇÃO DE ENSAIOS DE PLACA EM LABORATÓRIO

AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE MAMONA CULTIVADOS NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

O reino animal. Ao redor da boca existem peças bucais, que ajudam na alimentação do animal e variam muito entre os insetos.

AGRICULTURA I Téc. Agroecologia

Controle de Formigas Cortadeiras em Florestas Plantadas

11. Colheita, Beneficiamento e Classificação do Arroz

7 RCMS FORMA RETANGULAR, FABRICADA EM PVC RíGIDO, ATóXICO, ISENTO DE FóSFORO E UN 41

1. O texto a seguir conta um pouco da vida de uma mosca. Analise-o e responda à questão proposta. O ciclo da vida de uma mosca

V Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

DESEMPENHO DO MÉTODO DAS PESAGENS EM GARRAFA PET PARA A DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO

ARGON ELITE. libus.com.br DESCRIÇÃO CA N

Facefelt 4+ Isolação para coberturas

ORIENTAÇÃO CARDIAL DE PARCELAS EXPERIMENTAIS Ε RADIAÇÃO SOLAR*

Desenho Técnico. Aula 5 Prof. Daniel Cavalcanti Jeronymo. Cotagem e Escalas

PLANO DE AÇÃO PARA A VIGILÂNCIA E CONTROLO DA Vespa velutina EM PORTUGAL. Módulo I A Vespa velutina

Dicas para montagem das telhas

BOLHA. libus.com.br DESCRIÇÃO CARACTERISTICAS. CA N (com suporte) CA N (acoplado aos capacetes)

INSETOS-PRAGA NO BRASIL: LAGARTA-PRETA

MORTALIDADE DE PLANTAS ADULTAS DE E. grandis e E. saligna NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Edson Antonio Balloni * I - INTRODUÇÃO

PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DE TUBOS DE PVC E CPVC

ESTOCAGEM DE PRESAS EM VESPAS DO GÊNERO POLYBIA

CIÊNCIAS PROVA SIMULADA- Global II Prova elaborada com base no livro adotado pelo colégio - ANIMAIS

FENÔMENOS OSCILATÓRIOS E TERMODINÂMICA AULA 5 FLUIDOS

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Infiltração e água no solo. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

Fragmentação. Umberto Kubota Laboratório de Interações Inseto Planta Dep. Zoologia IB Unicamp

Cabo Óptico Aéreo Dielétrico Autossustentado

4) Movimento da Água no solo - Bibliografia. 4) Movimento da Água no solo

CAPÍTULO 5 Aplicação do programa a um caso prático

Fabricando tijolos de adobe

O lado bom de uma samambaia vilã. Carina Hayakawa Pereira*; Rosana Marta Kolb

PÓS-COLHEITA GASTOXIN B57 LINHA. Marca Comercial: Registro no MAPA: Ingrediente Ativo (nome comum): Ingrediente ativo (Nome químico): Nº CAS:

ESPECIFICAÇÃO DE SINALIZAÇÃO DE ROTA DE FUGA E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA PARA AS UNIDADES DO SESC DE ACORDO COM ABNT NBR 13

Levantamento preliminar de aranhas no entorno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus São Roque

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena EEL

ESCOLA ESTADUAL DR JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA PLANO DE ESTUDOS INDEPENDENTES DE RECUPERAÇÃO 3º ANO

Avaliação da velocidade de reação do corretivo líquido na camada superficial de um Latossolo Vermelho distroférrico

COMUNICACION CORTA NOTAS SOBRE A CONFECÇÃO DE UMA RÊDE DE COLETA E ARMADILHA ESPECIALMENTE PARA DIPTEROS CALIPTRATAS EM LIXO.

Guia para identificação de animais do solo e da serapilheira

COLMÉIA GUILLIANIPARA CRIAÇÃO RACIONAL DE JATAÍ

Norma Técnica SABESP NTS 153

INFLUÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL NO AMBIENTE INTERNO: ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÉLULAS DE TESTE

UTILIZAÇÃO DE SENSORES CAPACITIVOS PARA MEDIR UMIDADE DO SOLO.

OTIMIZAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS EM LATOSSOLO VERMELHO DISTRÓFICO, ASSOCIADAS A COBERTURA VEGETAL.

ESTUDO DE CASO: ANÁLISE BIOGEOGRÁFICA DO MORRO DO DIABO.

ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS. Raízes dos Citros. Depto. Defesa Fitossanitária, Univ. Federal de Santa Maria, , Santa Maria, RS 2

fontes e doses de nitrogênio em cobertura na qualidade fisiológica de sementes de trigo

AVALIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA ESCOADO EM DIFERENTES DECLIVES SOB CHUVA SIMULADA 1

PROJETO E IMPLANTAÇÃO DE UM LISÍMETRO EM ESCALA EXPERIMENTAL PARA ESTUDOS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS RESUMO

ESTUDO DO SISTEMA RADICULAR DA SOJA (GLYCINE MAX (L.) MERRIL) EM SOLO LATOSSOLO ROXO ADU BADO OU SEM ADUBO ( 1 ) SINOPSE 1 INTRODUÇÃO

Tarefa 03 Professor Bernadelli

Cabo Óptico Aéreo Dielétrico Autossustentado

CLASSIFICAÇÃO DE SOJA Padrão comercial. Adriana de Marques Freitas Embrapa Soja

DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM DISPOSITIVO PARA AMPLIAR A PRECISÃO DE LEITURA DE EVAPORAÇÃO DE UM ATMÔMETRO MODIFICADO

Transcrição:

REVISTA BRASILEIRA DE ZOOLOGIA Revta breio Zool.. 7(3) : 217-221 15/XII/91 CONTRmUIçÃO À BIOLOGIA DA MELITOMA SEGMENT ARfA (ANfHOPHORID AE) ABSTRACf Gerson Fraissat Mamede Filho l Marina Abadia Ramos l Agnaldo Gonzaga Oliveiral "Contribution to the biology of Melitoma segmentaria (Anthophoridaer Seven nests of Melitoma selmentaria found in Uberlândia (1 fp 55' 23" S; 4fP 17' 9 " W; altitude 854 m) in a termite nest within one af the University of Uberlândia farms, were studied. The nest position, construction, and number of ce/is are given. The parasite Anthrax luctuosus (Bomby lidae), that infested 13% of the cei/s. INTRODUÇÃO Embora apresentando ampla distribuição geográfica (da Argentina até o México), a abelha Melitoma segmentaria não foi, até o momento, amplamente estudada. Linsley et a!. (1980) estudaram sua biologia, especialmente sua nidificação e os insetos associados, e faz uma ampla revisão bibliográfica. Camillo et a!. (1988) estudaram esta mesma espécie e descreveram o seu ninho. Também, observaram fêmeas em atividade, no campo, nos meses de abril e novembro; constataram emergência nos meses de junho e janeiro respectivamente. Quanto à ativid<ide de campo, vi ram que inici am sua s alividade s por volta das 06h30 e terminam-as ao redor de 15h15 ; o número de vôos por dia variou de 22 a 40 e duraram de 1 a '26 minutos, permanecendo nos ninhos, durante essa atividade, de 1 a 40 minutos. É objetivo deste trabalho informar sobre alguns ninhos encontrados na Fazenda Capim Branco, Universidade Federal de Uberlância (48 0 17' 9" W Grw e 18 0 55' 23" S Alt. 854 m), Posto Experimental Agropecuário da UFU, que permi1iram descrever e estudar alguns 'aspectos de sua biologia. MATERIAL, MÉTODOS E DESCRiÇÃO DO AMBIENTE Cada abelha funda seu próprio ninho, porém de maneira gregária, e os ninhos deste estudo foram encontrados em solos secos, protegidos das chuvas por um galpão de 21x12 m; estavam a 03 m do beiral, no chão e em um cupinzeiro abandonado que mediu: (de S para N) 0,63 m (de W para L) 0,61 m. Neste cupinzeiro (Figura I) foram encontrados 08 ninhos dos quais foram coletados e observados em laboratório 07. Protegidos pelo mesmo galpão haviam mais dois cupinzeiros com um total de 09 ninhos, que não foram tocados. Linsley et ai. (1980), relatam um achado em Gualeguaychú (Argentina) de 25 ninhos em 0,6 m 2 Nenhum dos ninhos relatados na literatura foi encontrado em cupinzeiro. A paisagem externa do local está esquematizada na fig. 1. I. Departamento de Biociências, Lab. de Genética, Universidade Federal de Uberlândia, Campus Umuarama, CEP 38400 Uberlândia, MG.

Revta bras. Zoo!. Foram feitos cortes longitudinais nos ninhos, derramando-se no tubo uma suspensão de gesso, e desenhados os ninhos (Figura 2). Dos 07 ninhos coletados, 02 o foram em 22.04.88 (números O 1 e 02) e colocados em vidros com a boca tampada por gaze; dentro foi colocado um tufo de algodão que era mantido sempre úmido; estes 02 ninhos recebiam luz solar, diretamente, entre 08h30 e IOh15. Em 02.06.88 mais 02 ninhos (números 03 e 04) foram coletados e colocados em gaiolas de filó de 20 X 25 X 10 cm; não receberam algodão umedecido e nem receberam luz solar direta. Em 23.06.88 mais 03 ninhos (números 05, 06 e 07) foram coletados e postos em vidros com a boca tampada por gaze, com algodão um~decido nas03 amostras. As amostras 05 e 06 recebiam luz solar direta das 08h30 às I Oh15, a amostra 07 foi totalmente coberta por um papel preto que, evitava qualquer entrada de luz. Foram assim simuladas 'as seguintes condições ambientais: I - Luz solar direta + umidade elevada; 2 - Luz solar indireta + umidade natural; 3 - Ausência de luz + Umidade elevada. As observações no laboratório foram feitas durante uma hora na parte da manhã e uma hora na parte da tarde. RESULTADOS Descrição dos ninhos Os ninhos distam um dos outros, na superfície do solo, no máximo de 45 cm e no mínimo de 10,2 cm e, dentro da terra, distam no máximo 20 cm e no mínimo I cm; apesar destas proximidades externas e internas, não fo i encontrada nenhuma comunicação entre os ninhos. Cada ninho é constituído de um tubo inclinado de O I cm a 01,2 cm acima do solo, que se prolonga. por um canal praticamente sem ramificações, no qual são construídas as células, tanto nas paredes deste canal como na sua extremidade posterior. A maior profundidade encontrada nos ninhos foi de 08,9 cm e a menor foi à superfície da terra. As células são construídas em série; o número de células por ninho variou de 12 a 33 com uma média de 23,7 células por ninho (S = 8,2). Estas células são revestidas internamente por uma substância amarela brilhante. Foram encontradas 10 células sem este revestimento e cheias de pólen, sem vestígios de postura; o formato das células lembra uma bilha (Figura 2). O diâmetro interno na base das células variou de 06 cm a 07 cm e o externo de 0,85 cm a 0,92 cm; não variam internamente, medindo no ápice 0,4 cm e externamente 0,8 cm; o comprimento externo das células variou de I cm a 1,3 cm e a espessura da parede variou de O, I mm a O, IS mm. Ocorrências observadas Em 20.09.88, devido ao tempo decorrido entre as coletas das amostras e a data em questão, e por elas não apresentarem sinais de desenvolvimento, o restante das células foi aberto. Os itens " Nascimento de abelha" e "Nascimento de mosca Anthrax Luctuosus", são os únicos que tiveram ~volvimento espontâneo, ou seja, as células não foram abertas em laboratório. As principais ocorrências estão listadas na tabela I. 218

Vol. 7(3), 1990 OCORRÊNCIAS Tabela 1 - Ocorrências observadas NINHOS 01 02 03 04 05 06 07 Nascimento de abelhas 02 01 01 01 04 Nascimento da mosca Anthrax luctuosus 03 02 04 05 01 Pólen com fungo 02 02 03 03 01 01 Larva com fungo (morta) 02 02 03 Pólen com ácaro 03 03 04 01 03 01 01 Célula com pólen sem postura 02 01 04 01 04 02 02 Célula sem camada protetora 02 01 02 02 01 02 Célula com larva sadia 03 08 04 03 Célula com adulto morto 02 Célula com adulto vivo 02 Célula deteriorada 02 01 Larvas com pedaços.de cupim 01 02 01 02 Abelha adulta deformada 01 Células com furos laterais 04 01 Cél ulas com larvas mortas 02 03 01 05 03 01 Abelhas empupadas 01 02 03 04 01 02 Células com revestimento basal 01 Células destruídas no manuseio 07 04 03 04 06 Células vazias 05 08 14 Total de células incubadas 12 13 26 24 16 14 10 Total de células da amostra 12 13 33 28 24 26 30 Foram encontrados os seguintes: Parasitas e comensais 01 - Mosca muito bonita cuja' fêmea tem o abdomem prateado: Anthrax luctuosus (Bombylidae). (Identificador: Dr. Nelson Papavero. Museu de Zoologia da USP). O gênero Anthrax tem várias espécies parasitas de abelhas e vespas. Linsley et ai. (1980) citam Anthrax cintalapa e Anthrax mexicana parasitando Melito1Tlll segmentaria. 02 - F\Ulgos: Zigomyceto e Penicilium (Identificador: Ora. Ângela Maria Abdala M. Beicher, Lab. Microbiologia Universidade Federal de Uberlândia). Linsley et alo (1980) citam quatro espécies do fungo Aspergillus, uma oe Plistophora, uma de Beauveria, encontrados em Melitoma marginella. 03 - Ácaros: Tyrophagus putrescentiae; Cosmolyphus iaarmani (Astigmata, Acaridae). (Identificador: Dr. A. Fain, Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica, por solicitação do Dr. Carlos H.W. Flechtmann, E.S.A. Luis de Queiroz USP). DISCUSSÃO Estas abelhas apresentaram um comportamento bastante variável em relação às condições ambientais a que foram submetidas, a saber: 01 - Luz solar direta + umidade elevada; 02 - Luz solar indireta + umidade natural; 03 - Ausência de luz + umidade elevada. Sumariando os resultados obtidos nestas três condições ambientais temos: %de %de %de %de Condição nasc. de nasc. de larva morta presença ambiental abelhas Anthrax c/fungo de ácaro 01 7,3 9,1 3,6 18,2 02 2,0 18,0 1,0 10,0 03 40,0 1,0 O 1,0 219

220 Revta bras. Zoo\. o 10 20 30 <Yrn Fig. 1 - Esquema de um dos três agrupamentos em que foram encontrados 8, 4 e 5 ninhos re spectivamente. Esta figura representa os 7 ninhos estudados neste traballio. A linha A B é o corte do ninho n? 6, que é representado na figura 2 (Desenho de Jamil Tannus Neto).,--------41 o SGn-, Fig. 2 - Ninho número 06 de Melitol7lll segmentaruz. contendo 26 células de cria (desenho de Jamil Tannus Neto). Trata-se do corte A B da figura 1.

Vol. 7(3),1990 Percebe-se que esta abelha responde com sensibilidade ao ambiente; o item umidade é bastante seletivo;já a umidade do ambiente externo, ou seja, sobre a terra, favorece o nascimento da Anthrox em proporção acentuada e, a umidade elevada, com a presença de luz direta, propicia a presença de fungos e ácaros_ Talvez isto determine as épocas de emergências, dependendo sempre das condições climáticas de cada região para início de postura. O revestimento interno, utilizado nas células, demonstrou ser difícil de perfurar, ou seja, contra penetração externa, bem eficiente, porém, a abelha não apresenta comportamento acentuado quanto à vigilância e à limpeza das células. Aparentemente a abelha não observa, no ato de postura, se existe no interior da célula algum corpo estranho, vindo, assim, a vedar a célula com outros insetos dentro da mesma, como pedaços de cupim; encontramos também entre as células diferentes insetos, tais como besouros e aranhas. Os fungos desenvolvem-se a partir destes insetos ou dos grãos de pólen. Apenas em um caso havia fungo presente na larva sem se ter encontrado insetos ou aranha mortos. O sistema de construção de células (veja figura 2) faz com que a taxa de abelhas que conseguem sair do ninho seja muito pequena; nas células seriadas nascem primeiro as que estão localizadas no fim da série, tendo estas abelhas que: I - furar as células de suas irmãs para sair; 2 - ou abrir um canal paralelo até atingir o canal central ou a superfície; 3 - ou possuir um mecanismo fisiológico para aguardar as demais irmãs nascerem. Encontrou-se células com a base e o ápice violados com uma abelha adulta morta nesta célula. Observou-se também a mosca Anthrax em atitude de guarda na entrada do ninho e a abelha, em momento algum, atacou-a ou afastou-a, indicando que a mosca não é reconhecida como inimigo pela abelha, o que torna a Anthrax luctuosus tão eficiente. As abelhas em estudo nasceram de abril a junho, ampliando assim, a época em que emergiram as abelhas de Camillo et ai. (1988). AGRADECIMENTOS Agradecemós as sugestões e orientações do Prof. Dr. Warwick Estevam Kerr. O Prof. João M.F. Camargo identificou a nossa abelha. O Dr. C. Fletchman encaminhou ao Dr. A. Fain os nossos ácaros; a Profa. Ângela 8eicher identificou os fungos. O Sr. Jamil Tannus Neto desenhou os ninhos. A todos eles os nossos agradecimentos. Esta investigação recebeu apoio finance.iro da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário (FUNDAP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). REFEReNCIAS CAMILLO, E., GARÚFALO, CA., SERRANO, J.C, 1988. Observações preliminares sobre a biologia de Melitoma segmentaria (Hymenoptera, Anthophoridae). Ciência e Cultura (Resumos 40~ Reunião Anual, SBPC) 40(7) :914. LINSLEY, E.G., MAcSWAIN, J.W., MICHENER, C.D., 1980. Nesting Biology and Associates of Melitoma (Hymenoptera, Anthophoridae). Entomology, Vniv. Califomia Publ. 90: vii, 145. 221