PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS: Formação, Atuação e Compromisso Social RESULTADOS DE UMA PESQUISA PSICOPEDAGÓGICA

Documentos relacionados
ANÁLISE NEUROPSICOLÓGICA DAS ATIVIDADES ESCOLARES: UM BOM CAMINHO PARA IDENTIFICAR O TDA/H

MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA: REFLEXÕES NECESSÁRIAS

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UM OLHAR SOBRE CRIANÇAS PORTADORAS NO AMBIEMTE ESCOLAR

TDAH nas Escolas Como Identificar?

O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) Introdução

A Interação de Escolares com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em Ambientes Digitais/Virtuais de Aprendizagem e de Convivência

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO 1

TDAH E A LEI DA INCLUSÃO 1 ADHD AND THE INCLUSION LAW. Isabela Albarello Dahmer 2

PEDAGOGIA. Aspecto Psicológico Brasileiro. Problemas de Aprendizagem na Escola Parte 2. Professora: Nathália Bastos

TDAH: DISFUNÇÕES (TRANSTORNO) INDIDUAL OU PROBLEMA SOCIAL?

EVIDÊNCIAS DE TDAH EM MENINAS NO MUNICÍPIO DE MACAPÁ

MARIA DE JESUS QUEIROZ DE ALENCAR UFC. MARISTELA LAGE ALENCAR UFC

O menor F.P., de 08 anos, foi submetido a avaliação psiquiátrica à pedido da psicopedagoga que o acompanha. Segundo a genitora, desde os 04 anos de

RESUMO. Palavras-chave: Disfunção encefálica mínima. Hiperatividade. Desatenção. Impulsividade. Diagnóstico. INTRODUÇÃO

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Capacitação Multidisciplinar Continuada. TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDA-TDAH) e NEURODESENVOLVIMENTO

EMENTA - CURSO DE EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Aspectos Anatômicos: CÉREBRO E TDAH

GERENCIANDO O STRESS DO DIA-A-DIA GRAZIELA BARON VANNI

O funcionamento cerebral da criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH

DISCALCULIA: A DESMISTIFICAÇÃO DE UMA SIMPLES DIFICULDADE MATEMÁTICA Ana Cláudia Oliveira Nunes Juliana Naves Silva

Palavras-chave: Atendimento Educacional Especializado; Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade; Prática Pedagógica.

1 O TERMO DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE NA ESCOLA

EDUCAÇÃO TERAPÊUTICA UMA PROPOSTA DE TRATAMENTO De 21 a 24/1/2008

EDUCAÇÃO ESCOLAR: DISCUTINDO A MEDICALIZAÇÃO BRUTAL EM UMA SOCIEDADE HIPERATIVA.

MANEJO DO TDAH E AS ORIENTAÇÕES PARA PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL 1

Residência Médica 2019

Transtornos de Aprendizagem visão geral do curso

TDH, Distúrbios de Comportamento e Aprendizagem

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

PALAVRAS-CHAVE Distúrbios neurológicos. Crianças. Aprendizado. Professores.

CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DE BRASÍLIA HIPERATIVIDADE, INSUCESSO ESCOLAR E AÇÕES PEDAGÓGICAS. Dra. Nadia Bossa

Plano de/ Intervenção

Transtornos do desenvolvimento (comportamento e aprendizagem)

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM E TRANSTORNO DE ATENÇÃO: UMA INTER-RELAÇÃO

TRASTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

DISLEXIA, O DIAGNÓSTICO TARDIO E SUA RELAÇÃO COM PROBLEMAS EMOCIONAIS.

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL*

PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROPSICOPEDAGOGIA

Qualquer um, sendo esse pai, mãe, professor(a), entre outros, possivelmente,

HIPERATIVIDADE: A relevância da ação pedagógica junto a alunos D.D.A.H

(11)

dificuldades de Aprendizagem X distúrbio de Aprendizagem

II curso Transtornos Afetivos ao Longo da Vida GETA TDAH (TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE)

O ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO PARA ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS. Lilian Rinaldi Ibanhez Psicopedagoga UNIFEOB ORGANIZAÇÃO

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

XVI SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO DA ANPEPP

Dra Nadia Bossa PALESTRA DISTÚRBIOS DE ATENÇÃO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

LEVANTAMENTO DE CASOS E DIAGNÓSTICO DE ALUNOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Psicopedagogia: alguns conceitos básicos para reflexão e ação

FACULDADE CENTRO PAULISTANO PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO

Critério B: Alguns desses sintomas devem estar presentes desde precocemente (para adultos, antes dos 12 anos).

Aprendizagem e Neurodiversidade. Por André Luiz de Sousa

EFEITOS DO METILFENIDATO NO DESEMPENHO MOTOR EM ESCOLARES ENTRE 7 E 10 ANOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

PARTE 1. Informações sobre o TDAH e este programa de tratamento

INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA E INCLUSÃO SOCIAL

Educador A PROFISSÃO DE TODOS OS FUTUROS. Uma instituição do grupo

TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Prejuízos Cognitivos e Comportamentais secundários à Epilepsia Autores: Thaís Martins; Calleo Henderson; Sandra Barboza. Instituição:Universidade

Registo Escrito de Avaliação

PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO

Nosso objetivo: Exposição de casos clínicos, compartilhar conhecimentos e ampliar as possibilidades de atendimentos no seu dia a dia profissional.

CARTILHA DE ORIENTAÇÕES

PROBLEMA NA LINGUAGEM ESCRITA: TRANSTORNOS OU DIFICULDADES?

. Serviço de Psicologia e Orientação (SPO)

ANA SOUZA P S I C Ó L O G A

Transtornos de Aprendizagem

ADOLESCENTE INFRATOR-UM OLHAR PARA COMPORTAMENTOS NA INFÂNCIA

ASPECTOS SOBRE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO DEFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE (TDAH)

Marilene Aparecida Santana da Silva; Carolina de Fátima Guimarães; Fernanda de Oliveira Bonfim INTRODUÇÃO

O AUTISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA MANUAL DO CURSO

Intervenção Multidisciplinar: evidências sobre Sequência de Pierre Robin, Síndrome de Crouzon e Velocardiofacial

CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DE BRASÍLIA UM PROJETO PEDAGÓGICO COMPATÍVEL COM O MUNDO ATUAL: CONTRIBUIÇÕES DAS NEUROCIÊNCIAS. Dra.

O LÚDICO COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM TDAH

Inclusão escolar. Educação para todos

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIVERSIDADE JUSTIFICATIVA DA OFERTA DO CURSO

PSICOLOGIA. Conheça mais sobre o curso

O TRANSTORNO POR DÉFICIT DE ATENÇAO E HIPERATIVIDADE?

Acompanhamento Fonoaudiológico Para Crianças Com Dificuldades. de Aprendizagem

Titulo: O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR FRENTE À AVALIAÇÃO PSICOEDUCACIONAL.

AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES EDUCACIONAIS DO (A) ALUNO (A) DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE MACEIÓ/ALAGOAS

REFLEXÕES SOBRE TDAH: os múltiplos olhares

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AOS ADOLESCENTES DO NECASA. NEIVA, Helio H. Q. 1 ; ALMEIDA, Marcela T. F.; DANTAS, Camila R. L.; BRAZ, Lana M. S.

CARACTERÍSTICAS NEUROPSICOLÓGICAS ENCONTRADAS EM TRÊS CRIANÇAS COM SÍNDROME DE TOURETTE Carolina Magro de Santana Braga 1

Como identificar uma criança com TDAH

Procedimento Operacional Padrão (POP) SERVIÇO DE PSICOLOGIA IMPLANTE COCLEAR ETAPAS DO PROCEDIMENTO

1 Manual do atendimento psicopedagógico

REGULAMENTO DO NÚCLEO DE APOIO PSICOPEDAGÓGICO (NAP)

EBOOK SINTOMAS DEPRESSÃO DA DIEGO TINOCO

PROGRAMA DE ATENÇÃO E ORIENTAÇÃO AO ALUNO - PROATO: um olhar humanizado ao aluno do Ensino Superior

Apresentação. Fabiola Colombani Luengo

O atendimento psicopedagógico no Hospital das Clínicas São Paulo

3.2 Crianças irrequietas e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção

Dislexia: dificuldades, características e diagnóstico

Inclusão e alfabetização da criança com TDAH um desafio

Transcrição:

RESULTADOS DE UMA PESQUISA PSICOPEDAGÓGICA Suzi Maria Nunes Cordeiro* (Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Solange Franci Raimundo Yaegashi (Departamento de Teoria e Prática da Educação, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil). Contato: suzynunes_@hotmail.com Palavras-chave: Psicopedagogia. TDA/H. Diagnóstico. Desde o século XIX temos indícios da existência do Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDA/H). Na última década do século XX tivemos a popularização deste tema, principalmente no Brasil, com diferentes temáticas: definições, sintomas e características comportamentais, medicamentos e demais tipos de tratamentos, dentre outros aspectos que diferentes especialistas abordam sobre este transtorno. Observamos atualmente o crescente número de crianças encaminhadas às clínicas de atendimento psicopedagógico ou psicológico, por apresentarem sintomas relacionados à agitação, impulsividade e outras características comportamentais do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ao serem avaliadas, muitas vezes saem das clínicas com a confirmação desse diagnóstico. De fato, cada vez mais encontramos em sala de aula alunos com esses comportamentos, mas será que todos possuem TDA/H? Pesquisas revelam que apenas 3% das crianças na faixa etária de 6 a 12 anos possuem o referido transtorno, mas há muitos casos de crianças e adolescentes recebendo esse diagnóstico de forma equivocada (BENCZIK, 2010). Levando em consideração tais informações e questionamentos, realizamos um estudo para conclusão de um curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional em 2013 na Universidade Estadual de Maringá, no qual investigamos alguns aspectos do TDA/H a partir de um enfoque psicopedagógico. Dessa forma, a problemática que abordamos foi: O que pode estar colaborando para o aumento de casos de TDA/H? Levando em consideração a hipótese de que alguns profissionais podem não estar avaliando devidamente cada caso que chega a suas clínicas, o estudo teve o objetivo de investigar os possíveis equívocos nos diagnósticos de crianças com características de TDA/H. Para tanto, realizamos uma pesquisa de cunho teórico, por meio da análise de livros, dissertações, teses e artigos científicos que abordam o tema.

O estudo teve como justificativa a necessidade de os psicopedagogos compreenderem o TDA/H para realizarem um diagnóstico correto, além de analisarem sua prática profissional e saberem diferenciar esse transtorno de outros casos que envolvem falta de limites, indisciplina, dentre outros problemas. Observamos que alguns casos podem ser facilmente confundidos com TDA/H, caso o psicopedagogo não realize as devidas avaliações para identificar as causas da não aprendizagem. Isso é possível pelo fato de que as características de um TDA/H não passam de simples comportamentos, em excesso, que qualquer criança pode apresentar por diversos motivos que vão desde uma simples empolgação durante as brincadeiras até outros casos que envolvem transtornos mais graves. Até mesmo casos de crianças com problemas no processamento auditivo podem ser confundidos com as que possuem Déficit de Atenção (DA), como vemos no exemplo abaixo: A professora está explicando sobre presidentes e diz: - George Washington foi o primeiro presidente dos Estados Unidos. A criança entende que George Washington é o presidente dos Estados Unidos. Quando esse tipo de interpretação ocorre mais de uma vez, as professoras encaminham as crianças para um psicopedagogo que, se não desenvolver muito bem as avaliações, pode diagnosticá-las como sujeitos com DA, quando na verdade possuem dificuldades de audição, o que exigiria o acompanhamento de um otorrino (HALLOWELL; RATEY, 1999). O mesmo equívoco tende a ocorrer com pessoas que apresentem problemas na visão, como miopia. O aluno com essa enfermidade pode ter dificuldade para copiar o que está no quadro. Nessa situação, a criança sofre um desgaste para conseguir realizar a tarefa de cópia e leva muito tempo, isso pode provocar um incômodo que a faz desviar a atenção para outras atividades como conversar, sair do lugar; o que pode ser confundido também como um Déficit de Atenção e Hiperatividade. Temos ainda casos de crianças com respiração oral, problema que pode ser causado por patologias como a adenoide, a qual gera consequências como a dificuldade para dormir. Quando uma criança não dorme bem ela fica irritada, desatenta, inquieta, além de apresentar outras características que são semelhantes aos sintomas do TDA/H. Caso o psicopedagogo não leve essa hipótese em consideração, pode diagnosticá-la como tendo o transtorno em questão.

O psicopedagogo deve pensar na hipótese de TDA/H só quando os sintomas persistem por mais de seis meses. Esse transtorno não surge de repente. A criança já nasce com ele e o carrega pela vida toda, isso significa que ela apresenta desde a tenra idade as características comportamentais do TDA/H, mas antes dos seis anos não é aconselhável um diagnóstico, muito menos com prescrições medicamentosas, visto que a criança ainda está em desenvolvimento. Sendo assim, há questões voltadas para a própria fase em que ela se encontra que podem justificar sua agitação, instabilidade de atenção e impulsividade, como o fato de não estar amadurecida o suficiente para escutar e seguir ordens de um adulto. Por isso, se a criança depois dos seis anos apresenta alguns comportamentos típicos do TDA/H, conforme descreve a CID (Classificação Internacional das Doenças e de Problemas relacionados à Saúde) ou o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), só poderá ser cogitada a possibilidade desse transtorno se a criança os apresentar por mais de seis meses, considerando todo seu contexto (SILVA, 2003). Porém, em casos de problemas de processamento auditivo, miopia, adenoide, dentre outros, os sintomas persistirão enquanto não houver acompanhamento do profissional responsável para realizar as correções necessárias, como, por exemplo, uma cirurgia para desobstruir as vias aéreas no caso da adenoide, para que a criança finalmente durma bem (HALLOWELL; RATEY, 1999). Segundo Silva (2003, p. 56), [...] algumas crianças podem causar a falsa impressão de serem DDAs se estiverem passando por problemas, constantes ou passageiros, que podem contribuir para deflagrar ou intensificar comportamentos agitados ou falta de concentração e atenção. O ambiente onde a criança vive é muito importante e determina seus comportamentos. Outro motivo que pode fazer com que a criança esteja agitada são os problemas familiares que possa ter, ou algo que a esteja incomodando. Uma criança cujos pais acabaram de se separar, que perdeu um ente querido, ou que esteja enfrentando outras situações familiares difíceis, pode apresentar por um determinado período algumas características do TDA/H, tais como agitação, ansiedade, desatenção, traços depressivos, dentre outras. O profissional que acompanhar essa criança não pode desvincular essas informações das queixas de falta de atenção ou agitação, afinal as crianças se expressam mais por meio do comportamento do que propriamente por palavras.

Em outas palavras, vários acontecimentos podem fazer com que as crianças se apresentem hiperativas, desatentas e impulsivas, sem que tenha necessariamente TDA/H. A não adaptação à escola e/ou professores, o que causa também a não aprendizagem escolar, pode desencadear esses comportamentos; a falta de limites resultado de uma educação familiar que não exija disciplina da criança; a rotina agitada dos pais que, sem se darem conta, ensinam as crianças a serem agitadas também; todo o contexto social envolvido interfere nas ações das crianças e acabamos não compreendendo as atitudes delas, que muitas vezes são as expressões do que estão captando de nós, adultos. Levando em consideração todos os aspectos citados, é de suma importância que o psicopedagogo esteja muito bem preparado em termos teórico e prático, bem como contar com o apoio de outras áreas como a Medicina, a Psicologia, a Fonoaudiologia, a Pedagogia, dentre outras. Um diagnóstico equivocado pode prejudicar muito uma criança ou adolescente, tanto no que se refere à sua saúde física e mental quanto à aprendizagem. Perante essas considerações, o psicopedagogo deve estar atento às inúmeras hipóteses, não concebendo todos os casos com queixas de crianças inquietas como sendo casos de TDA/H. Sendo assim, será preciso avaliar todo o seu histórico de vida, as relações que possui, os ambientes que frequenta e como se porta neles, dentre outros aspectos importantes para essa avaliação. Caberá ao profissional identificar o caso e trabalhar de forma adequada com a criança e com a família, indicando outros profissionais, se houver necessidade. Ao longo do estudo, observamos que, em alguns casos, o psicopedagogo pode considerar características banais de desatenção e impulsividade como sendo TDA/H, deixando de recorrer a outros profissionais como os da área da Saúde e da Educação que são de extrema importância, para que se possa realizar um diagnóstico mais preciso e cuidadoso. Os resultados da pesquisa revelaram que de fato nossa hipótese sobre os diagnósticos equivocados tem fundamento, no entanto, apesar da responsabilidade do diagnóstico estar nas mãos de especialistas, que devem agir com ética e conhecimento para evitar erros, os problemas em torno do aumento dos diagnósticos vão além, passando pelos instrumentos utilizados para a realização do diagnóstico de TDA/H, bem como pelos encaminhamentos em massa realizados por pais e educadores. Por isso, decidimos dar continuidade a esta pesquisa, agora no mestrado, investigando outras questões relevantes para a compreensão da questão. Ressaltamos a necessidade de mais pesquisas sobre os equívocos de diagnósticos, pois constatamos que durante essa busca de compreensão das causas dos problemas de

aprendizagem e de comportamento, prevalece um olhar sobre os problemas de escolarização como provindos apenas do aluno. Muitos professores anseiam por um diagnóstico para seus alunos. Todavia, o olhar sobre a queixa escolar não pode ser privado de uma complexa rede de relações sociais, ou seja, deve articular as esferas individual e social, incluindo a complexidade dos processos de escolarização. Concordamos com Bray e Leonardo (2011) ao afirmarem que muitas vezes os diagnósticos "revelam" a presença de deficiências ou distúrbios nos alunos encaminhados, qualificando-os como portadores de desequilíbrios, deficiências, distúrbios emocionais ou neurológicos, agressividade, hiperatividade, apatia e conferindo-lhes muitas outras rotulações. Dessa forma, os problemas escolares permanecem individualizados, isto é, no aluno, com o estereótipo de que ele não tem capacidade para aprender, enquanto as dimensões sociais e políticas da sociedade capitalista continuam não merecendo consideração, principalmente por parte da instituição escolar. Referências: BENCZIK, E. B. P. (2010). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: Atualizações Diagnósticas e Terapêuticas: Um Guia de Orientação para Profissionais. São Paulo: Casa do Psicólogo. BRAY, C. T., LEONARDO, N. S. T. (2011). As queixas escolares na compreensão de educadoras de escolas públicas e privadas. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, vol.15, n.2, p. 251-261. HALLOWEL, E. M., RATEY, J. J. (1999). Tendência à Distração: Identificação e Gerência do Distúrbio do Déficit de Atenção da Infância à Vida Adulta. Trad. André Carvalho. Rio de Janeiro: Rocco. SILVA, A. B. B. (2003). Mentes Inquietas: Entendendo Melhor o Mundo das Pessoas Distraídas Impulsivas e Hiperativas. São Paulo: Editora Gente.