CENSO CANINO E FELINO: SUA IMPORTÂNCIA NO CONTROLE DE ZOONOSES NA CIDADE DE CACOAL RO



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Transcrição:

CENSO CANINO E FELINO: SUA IMPORTÂNCIA NO CONTROLE DE ZOONOSES NA CIDADE DE CACOAL RO Cristian José da Silva 1,2 ; Marco Antônio de Andrade Belo 3,4 1 Vigilância Ambiental em Saúde, II Gerência Regional de Saúde de Cacoal, Agência Estadual de Vigilância em Saúde do Estado de Rondônia, AGEVISA-RO. 2 Setor de Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal (FACIMED), Cacoal-RO. 3 Laboratório de Farmacologia e Toxicologia Animal, Universidade Camilo Castelo Branco, Descalvado/SP. 4 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, FCAV- UNESP, Jaboticabal/SP (maabelo@hotmail.com). Recebido em: 31/03/2015 Aprovado em: 15/05/2015 Publicado em: 01/06/2015 RESUMO A raiva é uma zoonose fatal e que tem como principal transmissor o cão e o gato na zona urbana, e o morcego hematófago na zona rural. Como medida de controle dessas e outras zoonoses, os serviços de saúde ambiental dos municípios, através dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), necessitam realizar censos na zona urbana e rural para conhecer a realidade populacional de seus cães e gatos. Este trabalho analisou o censo realizado no Município de Cacoal, Estado de Rondônia no ano de 2007 e identificou que as campanhas eram realizadas com base em dados defasados, principalmente com relação aos gatos, demonstrando após o censo, que as coberturas vacinais nessa espécie eram muito baixas. O conhecimento do quantitativo animal possibilitou ao Município de Cacoal melhorar o planejamento de suas ações frente às campanhas de vacinação nos anos de 2007 a 2014, melhorando seus índices de cobertura vacinal. PALAVRAS-CHAVE: carnívoros domésticos; Encefalomielite viral, Raiva, Zoonose. CANINE AND FELINE CENSUS: ITS IMPORTANCE IN ANIMAL DISEASE CONTROL IN THE CITY OF CACOAL RO. ABSTRACT Rabies is a fatal zoonosis, which the main transmitter in the urban area are dogs and cats, and vampire bats in the rural area. As procedures of control of these and other animal diseases, environmental health services in the municipalities, through the Zoonosis Control Centers (ZCC), need to realize censuses in urban and rural areas to identify the population reality of dogs and cats. This study analyzed the census conducted in the Municipality of Cacoal, State of Rondônia in 2007 and found that the campaigns were made based on outdated data, particularly with regard to cats, showing after the census, the vaccination coverage in this species were very low. The knowledge of the animal population in Cacoal Municipality improve the planning of the ZCC actions in face of vaccination campaigns in the years 2007-2014, improving the immunization coverage rates. KEYWORDS: Domestic carnivores, Rabies, Viral encephalitis, Zoonosis. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3367 2015

INTRODUÇÃO Importante por causar uma encefalomielite fatal, a raiva acomete seres humanos, animais domesticados e silvestres, sendo uma doença viral da família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus, no Brasil sendo transmitida principalmente pelo morcego hematófago Desmodus rotundus em ambientes rurais e nos centros urbanos por cães e gatos (KOBAYASHI et al. 2006, MIALHE, 2014; BRAGA et al., 2014). A raiva é uma das zoonoses mais estudadas, e constantemente serve de ponto de partida para a estruturação dos Centros de Controle de Zoonoses dos municípios. A raiva canina e felina, dentre outras zoonoses que estes animais podem transmitir aos seres humanos, é a que tem merecido mais atenção das autoridades sanitaristas (SOTO et al., 2006). Os levantamentos de dados obtidos, a partir de estudos sobre a raiva, principalmente os populacionais, servem de base para o desenvolvimento de programas de controle de outras zoonoses assim que elas surgem (GOMES et al., 2010; MIALHE, 2013; LOPES et al., 2015). O conhecimento dos indicadores relacionados a essas populações de animais torna-se necessário para o planejamento, execução e avaliação das ações em saúde pública (SILVA et al., 2010). Como a raiva tem características de doença endêmica, ela pode apresentar diferentes variações dentro de uma mesma região ou de uma mesma área. No Brasil a raiva continua sendo um importante problema de saúde pública, principalmente na região Nordeste, e encontra-se controlada no Sul do país conforme aponta o INSTITUTO PASTEUR (1999). Em Rondônia, devido ao processo de ocupação, característico da região amazônica, o morcego hematófago assume papel primordial na disseminação da raiva para animais. Eles estão amplamente disseminados no novo mundo, ocorrendo desde o norte do México até o Norte da Argentina. Há três espécies que preferem o sangue de mamíferos de grande porte e a introdução de animais domésticos como cavalos, bovinos e suínos têm aumentado à população de morcegos nos últimos 300 anos (AGUIAR & MAURO, 2006). Esse aumento explica, em parte, a importância desse animal como transmissor da raiva em herbívoros. Contudo não se deve desconsiderar a possibilidade de contágio de cães por morcegos na zona rural da região amazônica. O conhecimento do tamanho da população canina e felina, e como ela está distribuída dentro da região, é de fundamental importância no planejamento de ações que visam o controle de zoonoses transmitidas por essas espécies. Subestimativas das populações animais podem causar falhas no controle da raiva urbana. As proporções entre a população humana e canina (domiciliada) variam de 10:1 a 7:1, e para o controle adequado da raiva em áreas urbanas, recomenda-se uma cobertura vacinal mínima de 80% da população canina total (OMS, 1999). Entretanto, o cálculo da cobertura vacinal, baseado nesses estimadores, resulta frequentemente, em coberturas vacinais superiores a 100%. A inadequação desses valores indica a necessidade de se produzir estimativas populacionais mais precisas de modo a não comprometer a avaliação dos programas de controle da raiva em áreas urbanas (DIAS et al., 2004). A palavra Censo origina-se do latim census, que significa "conjunto dos dados estatísticos dos habitantes de uma cidade, província, estado, nação etc. Desde as ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3368 2015

épocas mais remotas os governantes sempre se preocuparam em realizar censos, o registro mais antigo que se tem notícia, foi realizado na China 2238a.c. (IBGE, 2007). O primeiro censo agrícola brasileiro foi realizado em 1920, e os dados referente aos animais teve como base o ano de 1919. Levantamento censitário nacional de cães e gatos nunca foi realizado no Brasil. Esse trabalho teve o objetivo de demonstrar o censo canino e felino realizado na cidade de Cacoal, Estado de Rondônia, no ano de 2007, e a importância que este levantamento trouxe ao serviço da Coordenação de vigilância em saúde ambiental da Secretaria Municipal de Saúde, setor de zoonoses nos anos de 2007 a 2014. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização deste estudo foram realizadas in loco nos domicílios da zona rural e urbana do Município de Cacoal censo canino e felino, realizado durante o ano de 2007 pela secretaria municipal de saúde, coordenado pela vigilância ambiental em saúde, setor de controle de zoonoses, e desenvolvido pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). O censo foi realizado com base na área de abrangência das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município, cada UBS tem uma área geográfica, e possui ACS que trabalham visitando os moradores dessa região. Cada um deles tem uma microrregião da qual são responsáveis por visitar e acompanhar os moradores. RESULTADOS E DISCUSSÃO O levantamento da quantidade de cães e gatos foi realizado casa a casa, e está descrito na Tabela 1. TABELA 1. Dados do censo canino e felino do município de Cacoal realizado no ano de 2007. REGIÃO CÃO CÃO GATO GATO TOTAL MACHO FÊMEA MACHO FÊMEA GERAL ZONA URBANA 4.693 4.102 1.582 1.298 11.675 ZONA RURAL 5.476 2.519 2.268 1.647 11.910 TOTAL 10.169 6.621 3.850 2.945 23.585 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Cacoal Departamento de CCZ, 2014. Segundo o IBGE (2007), a população humana recenseada da cidade de Cacoal, no referido ano, era de 76.155 habitantes. Os dados do censo de Cacoal - RO demonstram que a razão entre a população humana e a canina, e entre a humana e a felina, é da ordem de 4,5:1 e 11,2:1, respectivamente. Tais resultados corroboram os achados de DIAS et al. (2004) que relataram razão de 5,14 entre a população ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3369 2015

humana e canina na região urbana do Município de Taboão da Serra, Estado de São Paulo. Ambos os estudos demonstraram proporções da população canina muito superiores às preconizadas pela OMS (1999) que é de 10:1 a 7:1. Se a estimativa fosse realizada com base nos referidos critérios ocorreria uma população canina de 7.615 a 10.879 animais, e provavelmente o município realizaria mais de 100% de cobertura vacinal, já que o número total de cães encontrados no censo foi de 16.790, cerca de 60% superior ao valor máximo esperado. DOMINGOS et al. (2007) constataram em censo realizado na cidade de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul que a população de cães representava cerca de 33,3% da população humana, demonstrando a importância da realização do censo para o estabelecimento de estratégias de controles de zoonoses importantes como a Raiva e Leishmaniose. Na avaliação de uma série histórica de 2005 a 2014, descrita na Tabela 2, observa-se que os altos índices de coberturas vacinais conseguidos entre 2005 e 2007 não se repetem no ano de 2008, baixando de 86 % para 73 %, respectivamente. TABELA 2. Série histórica de 2005 a 2014 das campanhas de vacinação antirrábica do município de Cacoal. Meta proposta Realizado Espécie Ano Nº de Nº de % animais animais % Cães 2005 13.175 80 11.187 85 Gatos 2005 2.423 100 2.360 97 Cães 2006 13.919 80 11.774 84 Gatos 2006 2.291 100 2.389 104 Cães 2007 13.918 80 11.928 86 Gatos 2007 2.291 100 2.546 111 Cães 2008 16.790 100 12.333 73 Gatos 2008 6.795 100 2.264 33 Cães 2009 20.148 70 13.404 66 Gatos 2009 6.930 100 2.336 34 Cães 2010* 20.148 70 11.887 59 Gatos 2010* 6.795 100 1.998 29 Cães 2011** 0 0 0 0 Gatos 2011** 0 0 0 0 Cães 2012 20.148 70 12.009 60 Gatos 2012 8.154 53 1.844 23 Cães 2013 20.148 70 14.545 72 Gatos 2013 8.154 53 1.862 23 Cães 2014 20.148 80 13.789 68 Gatos 2014 8.154 53 1.110 14 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Cacoal Setor de CCZ, 2014 *Campanha suspensa nacionalmente, ** Não houve campanha em Rondônia. Isso aconteceu pelo fato do censo realizado em 2007, ter corrigido sua meta a ser alcançada em 17 %, passando de 13.918 para 16.790. Esses dados demonstram como o município estava deficitário em seus índices de cobertura vacinal para cães (Tabela 2). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3370 2015

No caso dos gatos a situação é mais grave ainda no período de 2005 a 2007, pois os índices chegaram a superar os 100 %. No ano imediatamente após o censo, esse índice caiu para 33%, e continuou caindo, encerrando o ano de 2014 com apenas 14 % dos gatos do município vacinados. Segundo SILVA et al. (2010), mais de 82% dos gatos não são confinados, e isso dificulta o controle desses animais, inclusive prejudicando os índices de cobertura vacinal, devido a dificuldade que o tutor encontra para levar esses animais às campanhas de vacinação. GENARO (2010) descreve que o gato representa um futuro problema no controle da raiva urbana, pois esses animais estão sendo preteridos em todo o mundo, e seus hábitos alimentares, como o de caçar morcegos, e a sua menor dependência em relação ao seu dono, quando comparados ao cão, agravam a situação. O censo de 2007 revelou que a quantidade encontrada de gatos no município era 196 % maior do que a estimada anteriormente (Tabela 2), corroborando os achados de DOMINGOS et al. (2007) que constataram em censo realizado na cidade de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul aumento de 33,8% na população de cães/gatos quando comparado aos valores estimados segundo modelo determinado pela OMS (1999). Por outro lado, DIAS et al. (2004) verificaram perfil completamente diferente na região urbana do município de Taboão da Serra em São Paulo, com proporção de 30,57 seres humanos por gato, representando 30% da população estimada no modelo da OMS (1999). Estes resultados demonstram a importância de se conhecer exatamente o tamanho da população para o sucesso de programas vacinais. ANDRADE et al. (2008) demonstraram o histórico de variação na população de cães entre os anos de 1994 e 2004, e a relevância destes achados nos programas de controle de raiva e leishmaniose no Município de Araçatuba no Estado de São Paulo. Em 2010, por um problema na vacina antirrábica, que causou reações vacinais graves em animais, levando alguns a óbito, o Ministério da Saúde decidiu suspender a distribuição da vacina. O município de Cacoal estava em plena campanha de vacinação, explicando o baixo nível de cobertura vacinal no referido ano. Em 2011, devido à falta de vacina não foi realizada campanha de vacinação em todo o Estado de Rondônia, retornando a normalidade das campanhas no ano seguinte. No ano de 2012 foram realizadas duas campanhas de vacinação contra a raiva em Cacoal, voltando, em 2013 e 2014, a ser realizada apenas uma campanha ao ano. O censo realizado na zona rural trouxe impacto positivo na logística de distribuição de postos de vacinação. Foi possível redistribuir com maior precisão as distâncias entre os postos e as quantidades de postos de vacina. Esse fato foi possível, pois todo o levantamento foi realizado por linhas vicinais, que são as estradas que cortam a zona rural, podendo assim, a coordenação da campanha planejar e executar as atividades com vistas a aumentar os índices de cobertura vacinal. No caso da zona urbana, esse estudo logístico ficou prejudicado, pois a divisão não foi realizada por bairros, e sim na região onde o ACS atuava fato que dificultou a distribuição dos postos de vacinação por região. CONCLUSÕES A realização do censo canino e felino do ano de 2007 contribuiu para o conhecimento da população animal do município e o redirecionamento das ações durante as campanhas de vacinação subsequentes. O fato de o levantamento de dados na zona urbana terem sido realizados com base nas UBS prejudicou a análise, e a divisão desses animais por área geográfica, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3371 2015

em bairros, por exemplo, facilitaria as ações. Um estudo com base nos bairros, cruzando dados com a situação econômica da população, seria de grande valia para melhor caracterizar as populações animais. Desenvolver ações que estimulem tutores de gatos a aumentarem o controle sobre a vida desses animais ajudará a melhorar as coberturas vacinais nesta espécie. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Secretaria Municipal de Saúde do Município de Cacoal, Estado de Rondônia, e em especial à coordenação de vigilância em saúde ambiental e setor de controle de zoonoses pelo apoio na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS AGUIAR, L.M.S.; MAURO, R.A.; Morcego-vampiro-comum Desmodus rotundus (E. Geoffroy 1810). Fauna e Flora do Cerrado, Campo Grande, Novembro 2006. Disponível em: http://www.cnpgc.embrapa.br/rodiney/~series/fauna/desmodus.html ANDRADE, A. M.; QUEIROZ, L.H.; PERRI, S.H. V.; NUNES, C.M. Estudo descritivo da estrutura populacional canina da área urbana de Araçatuba, São Paulo, Brasil, no período de 1994 a 2004. Caderno de Saúde Pública, v. 24, n.4, p.927-932, 2008. BRAGA, G.S.; GRISI-FILHO, J.H.H.; LEITE, B.M.; SENA, E.F.; DIAS, R.A. Preditive qualitative risk model of bovine rabies occurance in Brazil. Preventive Veterinary Medicine, v.113, p. 536-546, 2014. DIAS R. A.; GARCIA, R.C.; SILVA, D.F.; AMAKU, M.; NETO, J.S.F.; FERREIRA, F. Estimativa de populações canina e felina domiciliadas em zona urbana do Estado de São Paulo, Revista de Saúde Pública, v.38.n.4, p.565-570, 2004. DOMINGOS, I.H.; RIGO, L.; HONER, M.R. Perfil das populações canina e felina no Município de Campo Grande, MS. Ensaios e Ciência, v. 11, n. 1, p.97-103, 2007 GENARO, Gelson. Gato doméstico: futuro desafio para controle da raiva em áreas urbanas? Pesquisa Veterinária Brasileira, v.30, n. 2, p. 186-189, 2010. GOMES, M.N.; MONTEIRO, A.M.V.; LEWIS, N.; GONÇALVES, C.A.; FILHO, V.S.N. Landscape risk factors for attacks of vampire bats on cattle in Sao Paulo, Brazil. Preventive Veterinary Medicine, v.93, p. 139-146, 2010. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Fonte da população da cidade de Cacoal no ano de 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/ta bela1_1_1.pdf INSTITUTO PASTEUR. Manual técnico. Vacinação contra a raiva de cães e gatos. São Paulo, 1999. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-pasteur/pdf/manuais/manual_03.pdf. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 3372 2015

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