CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL - LFG

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Transcrição:

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL - LFG Pesquisa Jurisprudencial Monitoras: Amanda Barbosa, Paula Gordilho, Marina Freitas e Gabriel Suzart. Tema: TEORIA DOS RECURSOS Exceção à subordinação do recurso adesivo. O recurso adesivo, nas palavras de Didier Jr. e Cunha, [...] é o recurso contraposto ao da parte adversária, por aquela que se dispunha a não impugnar a decisão, e só veio a impugná-la porque o fizera o outro litigante 1. Trata-se de uma forma de interposição de recurso que pressupõe a sucumbência recíproca entre os litigantes (art. 500 do CPC/1973; art. 997, 1º do CPC/2015). A apreciação do recurso adesivo está condicionada ao juízo de admissibilidade positivo do recurso principal, bem como o julgamento do mérito do primeiro só poderá ser efetuado caso analisado o segundo. Isto se deve ao fato de que a parte que se valeu do recurso adesivo, inicialmente, estava satisfeita com a decisão. Ela somente recorreu porque o fez a parte contrária 2. De acordo com o art. 500, III do CPC/1973 (art. 997, 2º, III do CPC/2015), havendo desistência do recurso principal, o recurso adesivo não será conhecido. Entende-se que, diante da desistência, não haveria interesse recursal que justificasse o exame do recurso adesivo 3. Chama-se desistência o ato de revogação do recurso. Enquanto ato dispositivo, independe do consentimento da parte adversária (art. 501 do CPC/1973; art. 998 do CPC/2015) e de homologação judicial para produzir efeitos 4. A regra é clara, e vem sendo aplicada com fidelidade pelos tribunais brasileiros. Por conta do condicionamento do exame do recurso adesivo ao do recurso principal, há autores que denominam o primeiro de recurso subordinado 5. Observe-se duas ementas de julgamentos recentes, do Tribunal de Justiça de São Paulo e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a título de exemplo do que há de rotineiro na jurisprudência a respeito. 1 DIDIER JR., Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2011. p. 90. 2 Ibid., p. 94. 3 Ibid., p. 94. 4 Ibid., p. 36. 5 Ibid., p. 94.

APELAÇÃO DO CORRÉU. RECURSO. DESISTÊNCIA. Manifestação unilateral de vontade do recorrente que dispensa concordância da contraparte e "homologação" pelo juiz. Produção imediata de efeitos. Órgão jurisdicional que realiza apenas controle de validade. Incidência dos arts. 158 e 501 do CPC. EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO RECURSAL CONSISTENTE NA APELAÇÃO DO CORRÉU. RECURSO ADESIVO. DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO ADESIVO. Aplicação do art. 500, inciso III, do Código de Processo. APELAÇÃO DO AUTOR NÃO CONHECIDA (grifos nossos) (TJSP. Apelação nº 0002817-96.2010.8.26.0451. Relator: Des. Alberto Gosson. 20ª Câmara de Direito Privado. Publicação em: 01/04/2015) APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. TELEFONIA. CONTRATOS DE CONSUMO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL. Ao recorrente é assegurado desistir do recurso independente do consentimento da parte adversa. Com a desistência do recurso principal o adesivo resta prejudicado. [...] (grifos nossos) (TJRS. Apelação Cível nº 70061381083. Relator: Des. João Moreno Pomar. 18ª Câmara Cível. Publicação em: 03/03/2015) Contudo, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, em decisão tomada no Recurso Especial nº. 1.285.405-SP, publicada em dezembro de 2014, sob a relatoria do Ministro Marco Aurélio Bellizze, identificou uma circunstância em que a regra do art. 500, III do CPC/1973, reproduzida no art. 997, 2º, III do CPC/2015, deve ser excepcionada. Passa-se à exposição do caso. A parte autora, tendo sofrido acidente veicular grave, ajuizou ação de indenização por danos morais, materiais e estéticos contra o proprietário do veículo. Na sentença, o pedido foi julgado parcialmente procedente. Houve a condenação do réu, mas fora identificada situação de culpa recíproca. O réu apelou, arguindo que não teve culpa no acidente, e a autora recorreu adesivamente requerendo antecipação de tutela, com vistas à majoração da indenização por dano moral e a condenação do réu ao pagamento da diferença entre sua remuneração e o valor que recebe a título de auxílio-doença. Liminarmente, o relator concedeu a tutela antecipada, determinando o pagamento de pensão mensal à vítima no valor de 2/3 do salário-mínimo. Em seguida, o réu peticionou sua desistência do recurso. A autora se insurgiu, alegando que o pedido do réu foi rejeitado como questão preliminar na decisão do relator, tendo sido dado provimento ao seu recurso.

Diante disso, o réu interpôs Recurso Especial, apontando a violação dos artigos 500, III, 501 e 502 do CPC/1973. Aduz que é possível a desistência do recurso de apelação até o início do seu julgamento pelo tribunal. O ato consubstanciado no deferimento liminar do pedido de antecipação de tutela não teria esse efeito. Vide o que dizem os artigos apontados, e os seus correspondentes no CPC/2015 6 : CPC/1973 Art. 500. Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: [...] III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto. Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. CPC/2015 Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com observância das exigências legais. 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir o outro. 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: [...] III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele considerado inadmissível. Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso. Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte. A despeito das alterações no texto, a disciplina jurídico-normativa sobre a possibilidade e consequências da desistência de recurso continuou a mesma no Novo Código de Processo Civil, o que torna essa temática pertinente mesmo quando da entrada em vigor do CPC/2015. O ponto controvertido no REsp, portanto, é saber se o réu pode desistir do recurso principal de apelação após o deferimento de antecipação da tutela em recurso adesivo para conceder à autora pensão mensal. O Ministro Relator, após retomar a norma oriunda dos dispositivos indicados, passa a apresentar as razões pelas quais entendeu que, nessa circunstância, não poderia o réu desistir do recurso de apelação principal, elencadas a seguir: 6 Cf. DIDIER JR., Fredie; PEIXOTO, Ravi. Novo código de processo civil: comparativo com o código de 1973. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 699-700.

a) Embora a desistência seja ato legítimo de disposição que independe de justificação, o caso sob análise não poderia ser resolvido com a mera aplicação literal dos dispositivos mencionados, sob pena de se admitir que o instituto se torne subterfúgio para o descumprimento de decisão judicial; Ocorre que, na hipótese, a apresentação da petição com essa finalidade logo após a concessão dos efeitos da tutela, teve a nítida intenção de esvaziar o cumprimento da determinação judicial, no momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação lhe seria desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé processual e com a própria regra que lhe faculta não prosseguir com o recurso, a qual não deve ser utilizada como forma de obstaculizar a efetiva proteção ao direito lesionado. (grifos nossos) Terceira Turma. Publicação em: 19/12/2014. p. 5) b) A desistência seria inviável porque a concessão da antecipação da tutela produziu efeitos na esfera jurídica das partes, embora não possa considerar essa decisão como início do julgamento da apelação; Desse modo, embora, tecnicamente, não se possa afirmar que a concessão da antecipação da tutela tenha representado o início do julgamento da apelação, é iniludível, no caso, que a decisão proferida pelo relator, ao satisfazer o direito material reclamado, destinado a prover os meios de subsistência da autora, passou a produzir efeitos de imediato na esfera jurídica das partes, evidenciada a presença dos seus requisitos (prova inequívoca e verossimilhança da alegação), a qual veio a ser confirmada no julgamento final do recurso pelo Tribunal estadual. (grifos nossos) Terceira Turma. Publicação em: 19/12/2014. p. 6) c) Deve-se ter em vista que os arts. 500, III e 501 do CPC/1973 são anteriores ao art. 273 CPC/1973, introduzido no código pela Lei nº. 8.952/1994. Portanto, deve ser feita uma interpretação teleológica destes dispositivos, privilegiando-se a efetividade do direito material. Releva considerar que os arts. 500, III, e 501 do CPC, que permitem a desistência do recurso sem a anuência da parte contrária, foram inseridos no Código de 1973, razão pela qual, em caso como o dos autos, a sua interpretação não pode prescindir de uma análise conjunta com o referido art. 273, que introduziu a antecipação da tutela no ordenamento jurídico pátrio por meio da Lei n. 8.952, apenas no ano de 1994, como forma de propiciar uma prestação jurisdicional mais célere e justa, bem como com o princípio da boa-fé processual, que deve nortear o comportamento das partes em juízo, de que são exemplos, entre outros, os arts. 14, II, e 600 do CPC, introduzidos, respectivamente, pelas Leis n. 10.358/2001 e 11.382/2006. Na espécie, repise-se, a solução adequada desborda da aplicação literal dos dispositivos indicados violados, os quais têm função apenas instrumental, devendo ser adotada, a meu sentir, uma

interpretação teleológica que, associada aos demais artigos mencionados, privilegie o escopo maior de efetividade do direito material buscado pelo sistema, que tem no processo um instrumento de realização da justiça. (grifos nossos) Terceira Turma. Publicação em: 19/12/2014. p. 6-7) Portanto, viu-se que o STJ excepcionou a regra contida no art. 500, III do CPC/1973 (art. 997, 2º, III do CPC/2015), em face da antecipação dos efeitos da tutela anterior à desistência do recurso principal. A Terceira Turma seguiu o voto do relator, em unanimidade. Houve, pois, a mitigação do direito de resistência em privilégio à boa-fé processual e aos efeitos da antecipação de tutela no âmbito do direito material, ainda que a decisão liminar a respeito não possa ser considerada, tecnicamente, como início do julgamento do recurso de apelação principal.