CHARLENE SILVA DALBOSCO ESTUDO DE CASO DA MÍDIA IMPRESSA REVISTA VISÃO, JORNAL EXPRESSO, REVISTA ÚNICA, REVISTA ACTUAL, JORNAL DE NOTÍCIA E REVISTA - NOS ANOS 2002, 2004 E 2006 ENQUANTO CONSTRUTORA DA IMAGEM VISUAL DA MULHER BRASILEIRA EM PORTUGAL Brasil - 2008 1
CHARLENE SILVA DALBOSCO ESTUDO DE CASO DA MÍDIA IMPRESSA REVISTA VISÃO, JORNAL EXPRESSO, REVISTA ÚNICA, REVISTA ACTUAL, JORNAL DE NOTÍCIA E REVISTA - NOS ANOS 2002, 2004 E 2006 ENQUANTO CONSTRUTORA DA IMAGEM VISUAL DA MULHER BRASILEIRA EM PORTUGAL Projecto de dissertação apresentado ao curso de Mestrado em Ciência da Comunicação da Universidade Fernando Pessoa. Brasil - 2008 2
Vive-se, atualmente, um período em que o consumo vem utilizando a mulher como marketing, explorando a juventude, a beleza e a sensualidade do gênero como captadores de clientela. De forma quase imperceptível e vigorosa, as mulheres jovens participam de um mercado de trabalho, estreito e passageiro. É um mercado da beleza e da juventude que ajuda a vender bilhões, onde não há espaço para rugas e volumes corporais. Essa manipulação enlouquece as mulheres, principalmente brasileiras, ao mesmo tempo em que sustenta um mercado aberto de cirurgias plásticas, dos silicones às clínicas de emagrecimento. Vê-se portanto, que a relação com a mulher se transformou no mesmo sentido que a relação com o consumo. Em contradição com a evolução feminina, encontra-se a revolução sexual, que confunde, consome e até escraviza a mulher na contemplação do corpo. Os meios de comunicação no Brasil prescrevem mulheres que fazem ginástica todas as manhãs, alimentam-se com refeições leves para permanecerem magras, utilizam óleo para bronzear, depilam as sobrancelhas, usam esmaltes e maquiagem, tem silicone nos seios, enfim, tudo para manter a aparência física. A beleza feminina tornou-se um espetáculo, um convite permanente ao sonho de ser jovem e bela. Enfim, é a busca constante pelo mito do belo. É o desejo de ser belo, extrapolando o mito do Narciso e partindo para um desejo de ser belo através do outro (que não existe), da mulher Photoshop, da mulher projetada, da mulher objeto criada pela mídia. Percebe-se assim, na realidade brasileira, um exagero na construção da identidade visual da mulher, de forma que há uma distorção entre o real e a ficção, construindo uma identidade que serve de referência para o mundo. É necessário refletir sobre o processo comunicação > aceitação > limitação > perpetuação da imagem da mulher como objeto 3
sexual, em diferentes regiões geográficas, nas comunicações de massa para entender as suas principais conseqüências para a sociedade. Com este trabalho pretende-se entender o quanto a manipulação da imagem da mulher na mídia pode refletir circunstâncias sociais não só no Brasil, mas também fora dele. A intenção de direcionar este trabalho para o tema A influência das mídias impressas portuguesas na construção da imagem visual da mulher brasileira em Portugal corresponde à atual configuração da sociedade brasileira em relação à imagem da mulher, juntamente com a mídia. O que muitas vezes é tratado como natural no Brasil pode ser visto de forma retorcida por outras culturas, em outros países, como Portugal. A escolha de Portugal como o país de análise, deve-se pelo grande número de programas brasileiros, principalmente telenovelas, exibidos nos meios de comunicação do país, e pela grande influência que as mídias brasileiras têm sobre a população, indiferente de classes. Assim, percebe-se que tais servem de parâmetro para a formação da identidade visual da mulher brasileira em Portugal. Além disso, observa-se um grande número de prostitutas brasileiras e imigrantes ilegais em Portugal, o que também, influencia na construção da imagem feminina de forma distorcida e reforça uma identidade sexual de mulher fácil. Se a imagem da mulher brasileira tem sido distorcida por força de associação com diversos produtos que envolvem o reforço de uma sexualidade deformada ou exibida, então podemos afirmar que esta construção de imagem não corresponde ao real, e sim, ao produto de uma imagem que se realiza no imaginário coletivo do Brasil, e tem uma leitura muitas vezes obscena em Portugal. Nessa formação do corpo feminino, observamos uma pedagogia visual que naturaliza e legitima o corpo feminino como 4
objeto de contemplação, onde a sensualidade vem orientando o consumo do corpo, onde a mídia brasileira influencia nesta febre da beleza. O objetivo principal deste estudo é refletir e discutir sobre o impacto visual da mulher brasileira, representada nas mídias impressas, analisando as circunstâncias sociais da mulher e da sexualidade. Como objetivo secundário, contextualiza-se a sociedade contemporânea, baseada no consumo e no erotismo feminino, entendendo o poder da comunicação na sociedade, analisando e verificando se as imagens da mulher brasileira exibidas nas mídias impressas portuguesas (Revista Visão, Jornal Expresso, Revista Única, Revista Actual, Jornal de Notícia e Revista Jornal de Notícia) podem servir de parâmetro para a formação da identidade visual da mulher brasileira neste país, como verificar se houve alguma mudança no período de tempo de 2002 à 2006 na construção da imagem da mulher brasileira em Portugal, e se existe alguma outra influência nesta construção. A pesquisa que está dividida em três partes: a primeira é de natureza bibliográfica e tem por finalidade investigar a mulher e a sociedade, em seguida verificar a mulher e os meios de comunicação estudando a influência das mídias e a construção dos padrões estéticos, e por fim analisar a mulher brasileira na sociedade portuguêsa e suas mídias. No segundo momento, é feito uma análise quantitativa das mídias impressas: Revista Visão, Jornal Expresso, Revista Única (encarte Jornal Expresso), Revista Actual (encarte Jornal Expresso), Jornal de Notícias dominical e Revista Jornal de Notícias dominical, nos anos de 2002, 2004 e 2006, verificando a imagem apresentada da mulher brasileira e sua influência na construção da identidade visual da mesma, que se reproduz no olhar do povo português, e se esta imagem sofre mudanças com o passar do tempo. 5
As imagens foram classificadas em anúcios publicitários, reportagens e entretenimento. Sendo analisado nas imagens femininas: raça, aparência física, vestuário, tipo de vestuário, cores do vestuário, maquiagem, olhar, expressão do rosto, cor do cabelo, tipo do cabelo, corte do cabelo, perspectiva da personagem, plano de imagem, tema da imagem, tipo de imagem, cor da imagem, tipo de texto na imagem, tipo de título na imagem, associação entre imagem e texto, formato do texto na imagem, tamanho do texto na imagem, sentimento trasmitido na imagem, fama do personagem feminino e idade do personagem feminino. Das 257 imagens que compõem a amostra 201 apresentam somente mulheres na imagem e somente 56 apresentam personagens mistos (homens e mulheres). Das imagens em que homens e mulheres são representados, 38 imagens são com somente um homem e uma mulher e 18 imagens são com mais de uma mulher e mais de um homem. Nas 56 imagens com personagens mistos, somente 2 imagens apresentam a personagem feminina como superior ao personagem masculino. Já 36 imagens, das 56 com personagens mistos, apresentam o personagem masculino superior ao feminino, e 18 imagens são com os personagens femininos e masculinos similares. Como se percebe, a diferença de aparições de somente personagens femininas para as aparições dos personagens mistos (homens e mulheres) é bem significativa. Mas dentre as imagens mistas, a representação masculina é superior à feminina. Lembrando que não foram analisados os personagens masculinos das imagens mistas e nem imagens com somente personagens masculinos. Também verificou-se na análise um grande número de imagens de artistas brasileiros, principalmente atores e atrizes das novelas brasileiras que estão em exibição. Entre as 257 imagens imagens femininas analisadas, 89 são de atrizes brasileiras, 79 são 6
de mulheres anônimas, 43 de cantoras brasileiras, 41 de modelos, sendo na maioria, imagens da modelo Gisele Bündchen, e somente 5 imagens de personagens femininas confirmadas como prostitutas. É importante ter em conta não somente o percentual de aparições, mas também a forma e para que conteúdos se observam as aparições. Dos 20 temas classificados nas imagens somente 6 estão representados nas imagens analisadas, sendo eles a imigração, problemas sociais, cultura, beleza, comportamento, turismo e sexo. Já na análise relacionada com a raça verificamos um maior número de personagens femininas brancas, sendo estas relacionadas com o grande número de imagens de atrizes e modelos. As imagens femininas negras estão geralmente relacionadas com os temas de problemas sociais e principalmente carnaval. Além disto, verificamos um número significativo de imagens de índias. Em relação ao vestuário das personagens femininas nas imagens analisadas, percebe-se uma grande porcentagem de roupas provocantes e coloridas. São no total 120 mulheres com vestuário provocante, 86 com vestuário simples, 31 com roupas elegantes, 25 com roupa típica, 12 com roupas arrojadas e modernas, 5 com roupas antigas e 3 com roupas sujas e velhas. Além disto, são somente 50 imagens de mulheres sem nenhum tipo de decote, isto comparado com o número de 121 mulheres com roupas decotadas, 72 imagens de mulheres com biquíne e 14 nús. O que também está relacionado com a grande porcentagem de personagens femininas com maquiagens fortes, o que tem grande influência na construção da imagem da mulher brasileira em Portugal. 7
Quando analisamos o olhar das personagens e as expressões dos rostos encontramos uma porcentagem elevada de olhares e expressões sexys, provocantes e alegres, o que também é percebido na perspectiva da imagem - o que a mulher transmite na imagem. Já na análise relacionada ao cabelo das personagens, encontra-se um grande número de personagens com cabelos pretos, longos e lisos. Entre as 257 imagens analisadas, 100% são fotografias, não ilustrações ou desenhos, sendo somente 40 imagens em preto e branco e o restante imagens coloridas. Também foram verificadas somente 2 imagens sem texto, sendo elas encontradas em anúncios publicitários. Das restantes, 250 imagens analisadas com texto verificou-se um maior número de títulos distendidos mesmo sendo a maior parte das imagens propriamente ditas com o que estava escrito nos textos. A maioria das imagens são superiores aos textos que as acompanham. No total foram analisados 6 tipos diferentes de mídias (Revista Visão, Jornal Expresso, Revista Única, Revista Actual, Jornal de Notícias domincal e revista Jornal de Notícias dominical), impressas nos anos de 2002, 2004 e 2006, somando um total de 942 mídias, sendo encontrados 257 imagens de mulheres brasileiras Já em um terceiro momento foi feita uma analise semiótica de primeiro, segundo e terceiro grau, de carater qualitativo de algumas das 257 imagens, selecionadas de diferentes mídias entre as mídias analisadas na pesquisa quantitativa, nos anos de 2002, 2004 e 2006, verificando de forma mais aprofundada a imagem distorcida da mulher brasileira, percebendo que tais mídias podem servir de parâmetro para a formação da identidade visual da mulher brasileira. 8
Por fim, é confrontado o resultado das duas análises (qualitativa e quantitativa) com a parte teórica, verificando uma grande influência das mídias na construção da identidade visual da mulher brasileira em Portugal. Foram analisadas somente algumas mídias impressas, mas que refletem a imagem construída também por outros tipos de mídias, como a televisão. Além disso, outros fatores também tiveram grande importância na construção da imagem da mulher brasileira, como assuntos polêmicos ligados à prostituição, à imigração, e até mesmo ao descobrimento do Brasil por Portugal. 9
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