TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MATO GROSSO DO SUL 32ª Zona Eleitoral PUBLICAÇÃO EM MURAL ELETRÔNICO Nº 11095/2016 CONTEÚDO DA DECISÃO RP Nº 143-89.2016.6.12.0032 - Classe REPRESENTAÇÃO COLIGAÇÃO DE PARTIDOS POLÍTICOS: A FORÇA DO TRABALHO ADVOGADO: Régis Santiago de Carvalho (OAB/MS 11.336-B) ADVOGADO: Sérgio Lopes Padovani (OAB/MS 14.189) ADVOGADO: Reinaldo dos Santos Monteiro (OAB/MS 18.897) REPRESENTADO: PAULO CESAR LIMA SILVEIRA REPRESENTADO: LUIZ CARLOS DUTRA JUNIOR REPRESENTADO: MOACIR FERREIRA PEIXOTO ADVOGADO: Rafhael Menezes de Jesus (OAB/MS 18.033) JUIZ: IDAIL DE TONI FILHO SENTENÇA Vistos etc. Trata-se de Representação Eleitoral com Pedido de Tutela Provisória de Urgência interposta pela Coligação a Força do Trabalho contra Paulo César Lima Silveira, Luiz Carlos Dutra Júnior e Moacir Ferreira Peixoto, objetivando, em caráter liminar, que se determine o recolhimento de todo o material de propaganda descrito nesta representação (panfletos e santinhos), entregando-os imediatamente a essa Justiça Especializada, sob pena de multa, sem prejuízo do crime de desobediência e busca e apreensão. Relata que os representados encartaram ao interior de panfleto promocional de ofertas do Supermercado Costa de Ribas do Rio Pardo (Marino & Costa Ltda.), pesquisa eleitoral veiculada no Jornal O Correio do Estado, a qual colocaria o candidato a prefeito pela Coligação Pra Ribas Voltar a Crescer em relativa margem de vantagem frente o candidato a prefeito da coligação representante. Afirma que o mencionado documento não traz a denominação da coligação, as legendas de todos os partidos políticos que a integram e o nome do candidato a prefeito e a vice, tal como determina a legislação eleitoral. Revela ainda que o indigitado panfleto foi acompanhado de santinho do candidato a vereador, Prof. Moacir Peixoto, onde igualmente não consta qualquer indicativo de tiragem e ainda o número de inscrição no CNPJ do contratante e do contratado, estando, portanto, em total desacordo com a legislação eleitoral. Assevera também que o citado material foi amplamente distribuído no interior
do Supermercado Costa de Ribas do Rio Pardo (Marino & Costa Ltda.) e ainda foi distribuído por toda a cidade de Ribas do Rio Pardo por meio do panfleto da Rede Econômica, da qual faz parte o referido supermercado, em total afronta à Lei, porquanto é vedado a utilização de bens públicos ou de uso comum para beneficiar partido ou organização de caráter político. Às fls. 23/27 foi deferida a liminar requerida pela representante. Na petição de fls. 33/37 a empresa Marino e Costa Ltda. - EPP., embora não seja parte no feito, apresentou esclarecimentos acerca dos fatos e requereu o julgamento de improcedência da demanda, juntando, ainda, os documentos de fls. 39/44. Citados, os representados apresentaram contestação às fls. 45/53, aduzindo que não há como responsabilizar os demandados, posto que não foi comprovado que eles são os autores e/ou tinham prévio conhecimento da propaganda eleitoral. Alegam também que os fatos narrados na representação não se enquadram na vedação do 4º, do art. 37, da Lei n.º 9.504/97, o qual proibiria apenas veiculação de propaganda de caráter permanente em bem de uso comum, e não a simples distribuição de material de campanha. Sustentam igualmente que, caso se entenda de modo diverso, não cabe a aplicação de multa ao caso dos autos, forte no entendimento de que a imposição da multa só tem lugar quando ocorre o descumprimento da notificação judicial prévia para sua imediata cessação ou retirada. Afirmam que os materiais distribuídos estão de acordo com a legislação eleitoral e caso esse não seja o entendimento acolhido a única sanção cabível é a proibição de sua veiculação. Ao final requereram a improcedência da representação. Em parecer apresentado às fls. 55/57 o Ministério Público Eleitoral pugnou pela realização de audiência para a oitiva das testemunhas Rosilene Francisca de Jesus e Ana Maria Marino Costa, o que foi acolhido à fl. 67. Durante a instrução processual foram inquiridas 03 (três) testemunhas. As partes apresentaram alegações finais remissivas. O Ministério Público Eleitoral se manifestou pela improcedência da representação, bem como requereu a aplicação das penas da litigância de má-fé a representante. Vieram-me os autos conclusos. É o breve relato. Decido. A presente representação questiona a utilização pelos representados de bem de uso comum, ainda que particular, para o fim de distribuir material de campanha, bem como, aponta, segundo o entender da representante, a existência de diversas irregularidades nos materiais distribuídos. Entretanto, após a instrução processual e a análise da prova convergida aos autos restou comprovado que, ao contrário do que afirmado por este Juízo na decisão de fls. 23/27, não houve a utilização por parte dos representados da estrutura física e/ou logística da empresa Marino e Costa Ltda. - EPP., para a distribuição de propaganda eleitoral. O que efetivamente ocorreu, e a prova colacionada aos autos é farte nesse
sentido (depoimento das testemunhas inquiridas durante a instrução processual), foi a distribuição de material de campanha dos representados por pessoa terceirizada que também presta tais serviços a empresa Marino e Costa Ltda. - EPP. Veja-se que não restou minimamente comprovado nos autos que a empresa Marino e Costa Ltda. - EPP., estivesse distribuindo dentro do seu estabelecimento comercial qualquer material de campanha dos representados. Neste diapasão, é importante ressaltar que a certidão de fl. 66, é expressa em afirmar que, na busca e apreensão realizada no estabelecimento comercial da empresa Marino e Costa Ltda. - EPP, foram apreendidos apenas os panfletos de propaganda das mercadorias do supermercado, mais precisamente o panfleto colacionado à fl. 21, não havendo quaisquer santinhos ou panfletos eleitorais neles grampeados. Conforme restou cabalmente demonstrado nos autos, a vinculação da propaganda eleitoral com a propaganda do supermercado ocorreu por liberalidade da pessoa contratada para distribuir ambas, qual seja, a senhora Rosilene Francisca de Jesus. A senhora Rosilene Francisca de Jesus, ao ser inquirida em Juízo, disse textualmente que para evitar o retrabalho colocou a propaganda política no meio da propaganda do supermercado. Assim, nitidamente se percebe que os representados não tiveram relação alguma com a conduta da senhora Rosilene Francisca de Jesus, uma vez que não há provas de que estavam cientes deste fato. Portanto, não restou configurado nos autos a utilização pelos representados de bem de uso comum para a distribuição de material eleitoral. Lado outro, no que tange aos questionamentos acerca do material de campanha distribuído, tenho que melhor sorte não socorre a representante. De uma simples análise do panfleto que buscou reproduzir a pesquisa eleitoral divulgada pelo Jornal Correio do Estado (também colacionado à fl. 21), observa-se que dele constam o CNPJ do responsável e da gráfica, a tiragem e também o nome da coligação e as siglas dos partidos que a integram. Da mesma forma, no tocante ao fato de o indigitado panfleto não possuir o nome dos candidatos aspirantes ao cargo de prefeito e vice, entendo que isso não caracteriza a propaganda irregular. A norma estatuída pelo art. 36, 4º, da Lei n.º 9.504/97 e repetida pelo art. 8º, da Resolução TSE n.º 23.457, tem como objetivo levar ao conhecimento dos eleitores quem é o candidato a vice, impedindo que somente seja mencionado o nome do candidato a prefeito. Ocorre que as indigitadas normas não obrigam as coligações a fazerem constar em todas as suas propagandas o nome do candidato a prefeito e do vice, sendo, a meu ver, totalmente possível reproduzir a pesquisa publicada no jornal sem que desse encarte conste o
nome do candidato a prefeito e do vice. Também não há irregularidades no santinho juntado aos autos à fl. 22, pois dele constam expressamente a tiragem e o CNPJ do responsável e da gráfica, o que pode ser constato com uma singela passada de olhos. Por fim, destaco que o Novo Código de Processo Civil (aqui aplicado por força do seu art. 15) inovou ao trazer em seu texto o art. 5º, o qual estabelece que todos aqueles que participarem do processo devem comportar-se de acordo com a boa-fé. No caso dos autos ficou claro, após a instrução processual, que a representante alterou a verdade dos fatos para tentar obter provimento jurisdicional favorável, notadamente quando narrou em sua peça portal fato inexistente, senão vejamos: Vale destacar, que o citado material foi amplamente distribuído no interior do Supermercado Costa de Ribas do Rio Parco (Marino & Costa Ltda.), e ainda foi distribuído por toda a cidade de Ribas do Rio Pardo por meio do panfleto da Rede Econômica, da qual faz parte o referido supermercado, em total afronta à Lei... (fl. 07) (grifo do original). Conforme já asseverado alhures, não houve a distribuição de propaganda eleitoral no interior do supermercado mencionado, ficando, desde modo, evidente a atuação de máfé da representante quando narrou em sua petição inicial fato inexistente (art. 80, inc. II, do CPC). 81, do CPC. Diante disto, é imperiosa a condenação da representante nas penas do art. Como não há valor da causa na representação por propaganda irregular tenho que aplicável ao caso a regra estatuída pelo 2º, do art. 81, do CPC. Assim, diante da conduta temerária da representante e considerando a gravidade do erro a que levou este Juízo, sendo que fora deferido provimento liminar em seu favor, tenho que a multa deve ser fixada no montante de 10 (dez) salários-mínimos. Além disso, a representante deverá indenizar os representados pelos prejuízos que sofreram e arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuaram, o que será apurado em liquidação de sentença ( 3º, do art. 81, do CPC). Posto isso e por tudo o mais que dos autos consta julgo improcedentes os pedidos formulados na representação de fls. 02/09 e, consequentemente, revogo a liminar deferida às fls. 23/27, o que faço com fulcro no art. 487, inc. I, do CPC. Em razão da revogação da liminar outrora deferida e por se tratar de fato diverso do apurado nestes autos, deixo de analisar o pedido de fls. 58/60. Condeno a representante a pagar aos representados multa no valor de 10 (dez) salários-mínimos, bem como a indenizar os demandados pelos prejuízos que sofreram e arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuaram, o que será apurado em liquidação de sentença ( 3º, do art. 81, do CPC).
Determino a devolução à empresa Marino e Costa Ltda. - EPP., dos panfletos apreendidos e que se encontram no Cartório Eleitoral. Transcorrido in albis o prazo recursal, certifique-se o trânsito em julgado, e, após arquive-se os autos mediante observância das formalidades legais. Intime-se o representante do Ministério Público Eleitoral. Publique-se. Expeça-se o necessário. Cumpra-se com urgência. Às providências. Ribas do Rio Pardo, MS, 22 de setembro de 2016. (original assinado) EXMO. DR IDAIL DE TONI FILHO Certifico que a(o) presente SENTENÇA, proferido(a) em 22 de Setembro de 2016, foi publicado(a) em Mural Eletrônico, sob nº 11095/2016, com fundamento no(a) Resolução TRE- MS nº 518/2014 e 568/2016. Do que eu, ISRAEL LINS ALMEIDA, lavrei em 23 de Setembro de 2016 às 19:00 horas.