Desempenho Agronômico do Milho Cultivado Sobre Diferentes Coberturas Vegetais de Inverno Bruno F. Pereira 1, Claudemir Zucareli 2, Cássio Egídio Cavanaghi Prete 2 1 Aluno do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina, CP 6001. CEP 86055-680, Londrina-PR. bruno_fpereira@hotmail.com; 2 Prof. Dr. Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina, claudemircca@uel.br, cassio@uel.br. Palavras-chave: Zea mays L., rotação de cultura, adubo verde, componentes de produção. A cultura do milho destaca-se como uma cultura de importância sócio-econômica, pois é uma das principais fontes de carboidratos para as populações rurais e urbanas e o principal componente energético na ração de animais (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). Para a obtenção de altos rendimentos, a cultura do milho, normalmente, remove expressivas quantidades de nitrogênio do solo. Uma opção para suprir essas exigências nutricionais, valorizando a preservação ambiental e a sustentabilidade à longo prazo, é a adubação verde, uma das modalidades de adubação orgânica, que tem-se firmado como opção para o cultivo de variadas lavouras. A técnica utiliza matéria orgânica, gerada a partir do cultivo de plantas, para adubar o solo, diminuindo ou eliminando o uso de fertilizantes químicos. Assim, favorece o meio ambiente, o produtor e o consumidor dos alimentos produzidos no campo. A adubação verde é uma prática importante na melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo. Diversos trabalhos constataram seus efeitos na proteção do solo, mediante a redução das perdas por erosão, aumento da capacidade de troca catiônica e da ciclagem de nutrientes das camadas mais profundas para a superfície, dentre outras (AMABILE et al., 2000). Espécies destinadas à adubação verde devem ser selecionadas pela possibilidade de produção de sementes, pelo potencial de produção de fitomassa, pela capacidade de reciclar ou incorporar nutrientes ao solo, pela velocidade e uniformidade do desenvolvimento vegetativo e pelas facilidades de manejo. Deve-se considerar, ainda, a compatibilidade do ciclo com as demais espécies do sistema e quanto ao risco de se tornar planta daninha (KOCHHANN & DENARDIR, 2000). A região norte do Paraná caracteriza-se por possuir clima quente com precipitações intensas e irregulares, com predominância de solos argilosos, o que favorece a rápida decomposição da palhada na superfície do solo e a compactação deste é agravada pelo trafego intenso de máquinas agrícolas sobre o solo úmido. Assim, vários trabalhos têm sido realizados, testando inúmeras espécies de plantas que podem servir como cobertura vegetal ou adubo verde para o solo e proporcionar vantagens para as posteriores culturas comerciais a serem instaladas na área. Além de favorecer a física do solo, essas coberturas podem favorecer a química e a microbiologia do mesmo, propiciando um ambiente mais favorável à cultura do milho que possivelmente responderá com melhor desempenho agronômico. Contudo, como as espécies de cobertura vegetal apresentam comportamentos diferenciados, os benefícios ao solo e conseqüentemente, a resposta do milho também será diferente. Assim, os objetivos deste trabalho são avaliar a produtividade e as características agronômicas da cultura do milho de verão cultivada em sistema de plantio direto, em função da 1525
utilização de coberturas vegetais proveniente de diferentes espécies, isoladas ou em associação, cultivadas no inverno. O experimento foi realizado no ano agrícola 2009/2010 na fazenda escola da Universidade Estadual de Londrina, onde as culturas de inverno foram instaladas no segundo trimestre de 2009 e dessecadas no dia 10/10/2009. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com seis tratamentos e sete repetições. Os tratamentos ou sistemas de cultivos de inverno foram: T = Trigo CD104; Av = Adubo Verde (Aveia IAPAR 61 + Ervilhaca + Nabo Forrageiro IPR 116); N = Nabo Forrageiro IPR 116; M = Milho M + R = Milho + Brachiaria ; G + R = Girassol Catissol + Brachiaria ; A semeadura do milho sobre as diferentes coberturas vegetais de inverno foi realizada no dia 26/10/2010. A área experimental foi adubada somente na implantação da cultura do milho de verão, de acordo com a análise química do solo. A semeadura foi realizada no espaçamento de 0,90 metros entre linhas com o objetivo de obter uma população final de 60.000 plantas/hectare. A cultivar de milho utilizado no experimento foi a Pioneer 30F35, híbrido simples e precoce. O manejo e os tratos culturais realizados seguiram as recomendações para a cultura do milho. No estádio 10, quando os grãos apresentarem aproximadamente 20% de umidade, foram colhidas as duas linhas centrais da parcela com cinco metros lineares em cada linha. Cada parcela foi constituída de dez metros de largura e trinta metros de comprimento, perfazendo 300 m². As seguintes características foram avaliadas: -Massa da matéria seca da parte aérea das plantas de cobertura cultivadas no inverno: As amostragens foram realizadas no estádio de florescimento pleno das culturas, em uma área correspondente à 1,0m² por parcela. Para isso, foi utilizado um retângulo com dimensões de 0,5 m X 0,5 m, lançado aleatoriamente dentro de cada parcela por quatro vezes. As plantas presentes no interior do retângulo foram cortadas rente ao solo e levadas para secagem em estufa com circulação forçada de ar à 65ºC, até atingirem peso constante. Os valores obtidos foram transformados em kg de massa seca por hectare. -Parâmetros da espiga do milho: comprimento médio da espiga (CE) e diâmetro médio da espiga (DE) foram tomados a partir de uma amostra de cinco espigas retiradas ao acaso da área útil de cada parcela e medidas sem a palha e com régua comum. Número médio de grãos por fileira (NGF) e número médio de fileira por espiga (NFE), também foram tomados a partir da mesma amostra, contando-se o número de grãos de uma fileira representativa em cada uma das cinco espigas e contando-se o número de fileiras em cada uma das cinco espigas. -Produtividade da cultura de milho: A produtividade foi medida após a debulha e limpeza dos grãos das plantas colhidas dentro da área útil de cada parcela. A massa dos grãos foi pesada em balança de precisão com duas casas decimais e após a determinação do grau de umidade em aparelho universal, os valores obtidos foram convertidos a 13% de umidade e expressos em Kg por hectare. 1526
Análise estatística: Os dados de todas as avaliações foram submetidos à análise de variância, e para comparação das médias entre os tratamentos, foi utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Não foram observadas diferenças significativas para a massa seca das culturas de inverno utilizadas nos tratamentos (Tabela 1). Para o nabo forrageiro, o valor obtido foi inferior aos 5.400 kg/ha obtido por VALENTINI (1999) e superiores aos 4.408 kg/ha obtidos por FONTOURA (2005). O efeito da ervilhaca e, mais recentemente, do nabo forrageiro no fornecimento de N para as culturas em sucessão é amplamente reconhecido (Bayer et al., 1998; Amado et al., 2000; Giacomini et al., 2004; Lovato et al., 2004), sendo de fundamental importância a sua consideração num sistema de indicação de N para o milho (Amado et al., 2002). Tabela 1. Massa de matéria seca das culturas de inverno no período do florescimento pleno. Tratamentos Massa Seca (Kg/ha) Trigo CD104 4240 Adubo Verde 4620 Nabo Forrageiro 5390 Milho 4190 Milho + Brachiaria 4810 Girassol + Brachiaria 3800 CV (%) 34,41 DMS 2338 Também, não foram observadas diferenças significativas entre tratamentos para número de grãos por fileira, número de fileira por espigas, comprimento da espiga e produtividade do milho por hectare (Tabela 2). Porém, foi constatada diferença significativa entre os tratamentos para a característica diâmetro da espiga. As espigas de maior diâmetro foram obtidas no tratamento com associação de adubos verdes (Aveia IAPAR 61 + Ervilhaca + Nabo Forrageiro IPR 116). Como não houve diferença significativa na massa seca produzida pelas culturas de inverno, também não houve resposta significativa (P<0,05) na cultura do milho. Para obtenção de resultados consistentes nesse tipo de estudo, são necessário anos consecutivos de rotação de culturas e utilização dessas coberturas de inverno para que ocorram as alterações nas propriedades físicas, química e biológicas do solo de modo que a cultura do milho possa responder de forma diferenciada. Embora sem diferença significativa entre os tratamentos avaliados, as rotações com nabo forrageiro e adubação verde no inverno demonstraram melhor desempenho produtivo do milho. Esse resultado pode estar associado ao fato de nesses dois tratamentos terem sido utilizadas rotações com leguminosa, seguida de gramínea, enquanto que nos demais houve uma sucessão de gramíneas com gramínea. Resultados de pesquisa têm mostrado que o rendimento do milho 1527
não é favorecido pelo uso de gramíneas como cobertura do solo (Muzzili et al., 1983; Pavinato et al., 1994). Tabela 2. Número de grãos por fileira (NGF), número de fileira por espiga (NFE), comprimento da espiga em cm (CE), diâmetro da espiga em cm (DE) e produtividade de grãos (PG) do milho cultivado sobre diferentes coberturas vegetais de inverno. Tratamentos NG NF CE DE PG F E (Kg/ha) Trigo CD 104 37,0 16, 17, 5,4 8594, 0 40 60 6 abc 20 Adubo Verde 40,4 16, 18, 5,6 9249, 3 97 83 6 a 70 Nabo Forrageiro 40,4 16, 18, 5,6 9422, 3 74 77 0 ab 90 Milho 36,8 16, 17, 5,3 8144, 6 74 28 1 c 11 Milho + B. 36,0 16, 16, 5,2 7791, 0 40 86 8 c 84 Girassol+B. 36,2 16, 17, 5,4 7349, 8 88 28 0 bc 81 C V ( %) 9,50 5,9 7,5 2,7 16,26 8 DMS 5,85 1,6 2 2 7 2,1 3 4 0,2 2228, 25 Diversos autores evidenciaram que, sem aplicação de adubação nitrogenada, a produtividade de grãos de milho cultivado em sucessão aos sistemas consorciados de espécies leguminosas e gramíneas como cobertura de solo foi maior do que a obtida em sucessão a coberturas de gramíneas em cultivo isolado (Beutler et al., 1997; Clark et al., 1997; Vaughan & Evanylo, 1998). A utilização de plantas de cobertura durante o período de entressafra proporciona melhoria da capacidade produtiva do solo, favorece sua estruturação e fornece nutrientes à sua sucessão (Wildner e Dadalto, 1992). A média de produtividade do milho de primeira safra do ano agrícola 2009/2010 para o estado do Paraná foi de 7.550 kg/ha, segundo dados da CONAB (2010). Neste trabalho, podemos observar produtividades acima da média do estado, exceto para o milho cultivado em sucessão ao tratamento girassol + Brachiaria, demonstrando que as coberturas vegetais utilizadas favoreceram o desenvolvimento da cultura do milho. Apesar da produtividade do milho de verão não ter diferenças significativas entres os tratamentos, podemos verificar menores valores quando a cultura antecessora é o girassol + Brachiaria ou milho + Brachiaria, possivelmente pelo fato dessas culturas antecessoras serem gramíneas, sugerindo a ocorrência de imobilização líquida de N quando da decomposição da palhada de gramíneas com alta relação C/N (Amado et al., 2000; Aita et al., 2004). 1528
Portanto, as diferentes coberturas vegetais de inverno avaliadas não apresentaram diferenças significativas para produtividade e as características agronômicas da cultura do milho, exceto para diâmetro de espiga, onde foram observadas maiores diâmetros de espiga no tratamento com adubo verde. Referências bibliográficas AITA, C.; GIACOMINI, S.J.; HUBNER, A.P.; CHIAPINOTTO, I.C. & FRIES, M.R. Consorciação de plantas de cobertura no outono/inverno antecedendo o milho em plantio direto: Dinâmica do nitrogênio no solo. R. Bras. Ci. Solo, 28:739-749, 2004. AMABILE, R. F. et al. Comportamento de espécies de adubos verdes em diferentes épocas de semeadura e espaçamento na região dos Cerrados. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 35, p. 47-54, 2000. AMADO, T.J.C.; MIELNICZUK, J. & AITA, C. Recomendação de adubação nitrogenada para o milho no RS e SC adaptada ao uso de plantas de cobertura do solo, sob sistema plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, 26:241-248, 2002. AMADO, T.J.C.; MIELNICZUK, J. & FERNANDES, S.B.V. Leguminosas e adubação mineral como fontes de nitrogênio para o milho em sistemas de preparo do solo. R. Bras. Ci. Solo, 24:179-189, 2000. BAYER, C.; MIELNICZUK, J. & PAVINATO, A. Sistemas de manejo do solo e seus efeitos sobre o rendimento do milho. Ci. Rural, 28:23-28, 1998 BEUTLER, A.N.; ELTZ, F.L.F.; BRUM, A.C.R. & LOVATTO, T. Fornecimento de nitrogênio por plantas de cobertura de inverno e de verão para o milho em sistema plantio direto. Ci. Rural, 27:555-560, 1997. CONAB. Acompanhamento da safra brasileira de grãos 2009/2010, oitavo levantamento. Disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/08_levantamento_mai2010.pdf. CLARK, A.J.; DECKER, A.M.; MEISINGER, J.J. & MCINTOSH, M.S. Kill date of rye, and a vetch-rye mixture: II. Soil moisture and corn yield. Agron. J., 89:434-441, 1997. FANCELLI, A. L; DOURADO NETO, D. Produção de milho, Guaíba: Agropecuária, 2000. 360 p. FONTOURA, S.M.V. Adubação nitrogenada na cultura do milho em Entre Rios, Guarapuava, PR. Guarapuava: Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, 2005. 94p. 1529
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