AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E DA CARGA DE TRABALHO FÍSICO DE OPERADORES DE MOTOSSERRA NO CORTE DE EUCALIPTO

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Transcrição:

AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E DA CARGA DE TRABALHO FÍSICO DE OPERADORES DE MOTOSSERRA NO CORTE DE EUCALIPTO Valéria Antônia Justino Rodrigues 1 ; Cleverson de Mello Sant`Anna 2 ; Rafaela Colamarco Ferreira 3 ; Guilherme Luciano Sensato 4 ; Amaury Paulo de Souza 5 ; Luciano José Minette 6 1 Universidade Federal de Viçosa (valeriaufv2001@yahoo.com.br); 2 Universidade Federal de Viçosa (cleverson@ufv.br); 3 Universidade Federal de Viçosa (rcolamarco@yahoo.com.br); 4 Universidade Federal de Viçosa (gsensato@yahoo.com.br); 5 Universidade Federal de Viçosa (amaury@ufv.br); 6 Universidade Federal de Viçosa (minetti@ufv.br) Resumo: A utilização de motosserra em atividades de colheita florestal é uma pratica bastante comum, porém expõe o operador a diversos riscos. O objetivo do estudo foi avaliar a exposição ao ruído e a carga de trabalho físico destes operadores durante o corte de eucaliptos. Utilizou-se um dosímetro para medição do ruído e um medidor de freqüência cardíaca para auferir os batimentos cardíacos do operador, respectivamente. O nível de ruído médio que o trabalhador estava exposto, durante o estudo, foi de 97,6 db (A) e a dose de 368,1 %. A carga de trabalho foi classificada como moderadamente pesada. Nesta situação analisada concluiu que se deve reduzir a jornada de trabalho ou utilizar equipamentos de proteção individual para melhorar as condições de trabalho do operador de motosserra. Palavras-chave: ruído continuo; frequência cardíaca; motosserra. 1. Introdução O corte é a primeira etapa da colheita florestal, que compreende as operações de derrubada, desgalhamento e toragem. Nessa etapa, é comum o uso de motosserras devido ao baixo de custo de aquisição e à capacidade de utilização em terrenos íngremes, embora existam questionamentos em relação à segurança do trabalhador. O artigo 184 da Consolidação das Leis Trabalhistas e o anexo V da Norma Regulamentadora nº 12 dispõem as exigências legais para a comercialização e utilização de motosserras visando aumentar a segurança do trabalho para o operador (CLT, 2010; MTE, 2010). Os fabricantes devem colocar nas máquinas dispositivos de segurança que evitem os riscos de acidentes durante a operação. Sant Anna (2008) 1

comenta que os dispositivos de segurança não são suficientes para garantir a segurança do operador, sendo necessária a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). Apesar das modificações que a motosserra adquiriu nos últimos anos, para se adequar aos requisitos de segurança exigidos pela legislação, o seu uso na atividade de corte florestal ainda é considerado perigoso. Segundo a Norma Regulamentadora nº 4 (MTE, 2010), as atividades de silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados com estas atividades são classificadas como grau de risco 3, e em conseqüência disto, Rodrigues (2004) relata que os acidentes com motosserras são, em muitos casos, graves e freqüentes. Segundo Cunha et al. (1999), nas atividades de corte com motosserra, o ruído é apontado como um dos principais problemas para a saúde do operador. Algumas variáveis, como a intensidade do ruído, tempo de exposição e características fisiológicas têm relação direta com a gravidade do dano a saúde do trabalhador (MION et al., 2009). O trabalho com motosserra é considerado pesado e a carga de trabalho físico pode ser avaliada através da freqüência cardíaca do operador. Esta análise permite estabelecer os limites aceitáveis para o desempenho continuo do trabalho e promover a melhoria no bem-estar e na satisfação dos trabalhadores (MINETTE et al., 2007). O objetivo do estudo foi avaliar a exposição do operador de motosserra ao ruído e à carga de trabalho físico do mesmo durante a operação de corte em áreas florestais de uma instituição de ensino da Zona da Mata mineira. 2. Material e Métodos 2.1 Local de estudo O estudo foi realizado em uma área florestal com declividade levemente acidentada. O povoamento era composto de eucalipto com idade média de nove anos e sub-bosque formado por vegetação rasteira. Na Figura 1 é mostrada a área de estudo onde se realizou os cortes dos eucaliptos (área circulada). 2

Figura 1 Foto digital das áreas florestais situada na Universidade Federal de Viçosa (Fonte: Google Maps, 2011). 2.2. Descrição do operador O operador da motosserra possui estatura de 1,80 m, massa corporal de 80 kg e 35 anos de idade. Este apresenta bom condicionamento físico, com IMC de 24,7; dentro da faixa considerada como condição de peso normal, cujo IMC se encontra entre 20,0 e 24,9 (GARROW, 1981). 2.3. Coleta e análise dos dados A medição foi realizada in loco durante o corte de eucalipto com uma motosserra, marca HUSQVARNA, modelo 345. Para cronometragem das etapas de corte (derrubada, desgalhamento, toragem e deslocamento) utilizouse um cronômetro digital marca Oregon Scientific, modelo SL 928M. A avaliação do ruído foi realizada com auxilio de um dosímetro, marca WED 007, modelo 01 db. A coleta de dados foi realizada com o equipamento operando no circuito de compensação A e circuito de resposta lenta (SLOW). O medidor de pressão sonora foi colocado na vestimenta do operador com o microfone do dosímetro posicionado próximo ao seu ouvido, conforme disposto na Norma Regulamentadora nº 15 NR 15 (MET, 2010). 3

A carga de trabalho físico foi avaliada por meio da freqüência cardíaca do operador de motosserra. Para análise do trabalho utilizou-se as equações FCM bpm = 220 idade e CMTA bpm = FCR + 35 propostas por APUD (s.d.) citado por Sant Anna (1998), em que FCM, CMTA e FCR correspondem à freqüência cardíaca máxima, capacidade máxima de trabalho admissível e freqüência cardíaca de repouso, respectivamente. Os batimentos cardíacos foram medidos com o auxílio de um medidor de frequência cardíaca, marca Garmin, modelo Forerunner 205/305. O equipamento é formado por três partes: um receptor digital de pulso, uma correia elástica e um transmissor com eletrodos. O transmissor é fixado por meio da correia na altura do tórax do operador, e emite os sinais de freqüência cardíaca que são captados e armazenados no receptor de pulso. Na Figura 2 são mostrados os equipamentos utilizados para coleta dos dados. Figura 2 Equipamentos utilizados para coleta de dados: cronômetro digital (A), medidor de freqüência cardíaca (B) e medidor de pressão sonora (C). Os dados armazenados, tanto no medidor de pressão sonora como no medidor de freqüência cardíaca, foram descarregados em um computador por meio de softwares desenvolvidos pelos fabricantes para tal finalidade. A dose e o nível de pressão sonora equivalente foram considerados para uma jornada de oito horas e avaliados conforme os limites estabelecidos pela NR 15 (MTE, 2010). 4

3. Resultados e Discussão O maior percentual de tempo no estudo foi para a atividade de deslocamento (42,3 %). Entre os percentuais de tempo, considerando efetivamente o corte do eucalipto, a derrubada foi maior que o desgalhamento e a toragem conforme mostrado na Tabela 1. Tabela 1 Tempo médio de cada atividade do corte de eucalipto com motosserra Atividade Descrição da Atividade Tempo (%)* Derrubada (DBR) Escolha do sentido de queda, limpeza da base e do entorno da árvore, abertura da boca e corte de derrubada Desgalhamento (DEG) Corte e retirada dos galhos 11,6 Toragem (TOR) Corte do tronco da árvore em toras menores (1,50 m) 19,2 Deslocamento (DES) Trajeto percorrido pelo operador de motosserra entre as atividades de corte * Percentual de tempo considerando uma jornada de oito horas. 26,9 42,3 É importante salientar que o corte deve ser bem planejado para evitar acidentes. Erros cometidos na escolha do direcionamento de queda da árvore podem gerar acidentes graves com o operador e seus ajudantes ou até mesmo para outros operadores se a distância entre um corte e outro não estiver dentro da margem de segurança. Na Figura 3 é mostrado o corte do eucalipto durante as medições de ruído e freqüência cardíaca (A) e o esquema de derrubada de árvore (B). Figura 3 Derrubada de eucalipto com motosserra (A) e método de corte padrão (B) (Fonte: (B) = adaptado de IMAZON (1988), citado por RODRIGUES, 2004). 5

Na Figura 4 são mostrados os níveis de ruído durante as atividades e o nível equivalente médio de ruído durante a jornada de oito horas, com e sem atenuação. Figura 4 Níveis de ruído encontrados durante as atividades e nível equivalente médio (jornada de oito horas), com e sem atenuação. Os valores de ruído ficaram acima de 90 decibéis em todas as etapas de corte sem atenuação e houve uma redução deste valor com o uso de protetor auricular com atenuação real de 18 decibéis. O valor de ruído para a etapa de deslocamento foi em média 60 decibéis. Nesta situação, o programa do equipamento (dosímetro) não gera o cálculo do nível de pressão sonora com atenuação, pois o valor encontra-se abaixo do limite de conforto auditivo. A motosserra produziu um nível de pressão sonora médio de 97,6 db (A) e dose de 368,1% durante toda jornada de trabalho. Estes resultados estão acima do limite de tolerância recomendado pela NR 15, que é de 85 db (A) para uma jornada de trabalho de 8 horas e não podendo ultrapassar uma dose de 100%. Para estas condições o máximo de exposição que o operador pode ter, sem EPI é de 1 hora e 15 minutos. O valor de nível de pressão sonora média foi de 85,8 db (A) e a dose foi de 75,8% considerando a atenuação do ruído, o que não ultrapassou o limite 6

de tolerância conforme disposto na NR 15. É importante salientar que a dose encontrada ultrapassou o nível de ação, que segundo a NR 15 é de 50%, logo se recomenda que se façam avaliações periódicas desta atividade para proteger a saúde do trabalhador. Na Figura 5 é mostrado o comportamento dos batimentos cardíacos do operador durante o corte do eucalipto em um período de 20 minutos. Figura 5 Comportamento dos batimentos cardíacos do operador durante o corte de eucalipto com motosserra em um período de 20 minutos. O batimento cardíaco do operador em repouso foi de 74 bpm. A carga máxima de trabalho admissível foi de 109 bpm e a FCM não pode ultrapassar a 185 bpm conforme as equações citadas na metodologia. Nas condições avaliadas a carga de trabalho foi classificada como moderadamente pesada de acordo com a Tabela 2, visto que durante o corte do eucalipto a freqüência cardíaca do operador encontrava-se na faixa 101-125 bpm. Tabela 2 Classificação da carga de trabalho baseada na freqüência cardíaca Carga de Trabalho Físico Frequência Cardíaca (BPM) Muito leve 75 Leve 76 100 Moderadamente pesada 101 125 Pesada 126 150 Muito pesada 151 175 Extremamente pesada > 175 Fonte: Christensen, citado por Apud (1997). 7

4. Conclusões A dose do ruído ultrapassou 100 %, o que se torna necessário a redução da jornada de trabalho ou a utilização de protetor auricular. Os valores de dose com atenuação diminuíram de 368,1 % para 75,8 %. No entanto, a dose atenuada ultrapassou 50 %, que corresponde ao nível de ação conforme disposto pela NR 15. Então, recomendam-se avaliações periódicas do nível de ruído na atividade. A atividade foi classificada como moderadamente pesada, o que exige esforço físico e causa fadiga ao trabalhador. À medida que aumenta a fadiga ocorre redução do ritmo de trabalho, além de diminuir a atenção e o raciocínio, o que torna os trabalhadores menos produtivos e mais sujeitos a erros. 5. Referências Bibliográficas APUD, E. Temas de ergonomia aplicados al aumento de la productividadde la mano de obra en cosecha forestal. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE COLHEITA E TRANSPORTE FLORESTAL, 3., 1997, Vitória. Anais... Vitória: SIF/UFV, 1997. p. 46-60. CLT CONSOLIDAÇÕES DAS LEIS TRABALHISTAS. Art. 184 Das Máquinas e equipamentos Redação conforme a Lei n o 6.514, de 22.12.1977. Disponível em: <http://www.clubjus.com.br/index.php?artigos&ver=3.9346>. Acesso em: 10 jun. 2011. CUNHA, I. de A.; YAMASHITA. R. Y.; CORRÊA, I. M.; MAZIERO, J. V. G. Utilização dos níveis de vibração na comparação e seleção e suas implicações na exposição ocupacional dos operadores. In: CONGRESSO MUNDIAL DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO, 15., 1999. São Paulo-SP. Anais... São Paulo-SP, 1999. GARROW, J. S. Treat obesity seriously: a clinical manual. Edinburg: Churchill Livingstone, 1981. 365 p. GOOGLE MAPS. Disponível em: http://maps.google.com.br/viçosa-minasgeraisbr120. Acessado em: 25 de junho. 2011. MINETTI, L. J.; PIMENTA, A. S.; FARIA, M. M. SOUZA, A. P. de; SILVA, E. P. da; FIEDLER, N. C. Avaliação da carga de trabalho físico e análise biomecânica de trabalhadores da carbonização em fornos tipo rabo quente. Revista Árvore, Viçosa-MG, v. 31, n. 5, p. 853-858, 2007. MION, R. L.; VILIOTTI, C. A,; DANTAS, M. J. F.; NASCIMENTO, E. M. S. Avaliação dos níveis de ruído de um conjunto mecanizado trator e semeadora adubadora pneumática. Engenharia na Agricultura, Viçosa-MG: AEAGRI-MG, v. 17, n. 2, p. 87-92, 2009. MTE MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Portaria n o 3.214, de 8 de junho de 1978: Normas regulamentadoras de segurança e saúde do trabalho. In: Manual de legislação atlas de segurança e medicina do trabalho. 65. ed., São Paulo, Atlas, 2010. 747 p. 8

RODRIGUES, P. M. C. Levantamento dos riscos dos operadores de motosserra na exploração de uma floresta nativa. Monografia. 2004. (Lato Sensu em Engenharia de Segurança do Trabalho) Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá-MT, 2004. SANT ANNA, C. de M. Análise de fatores ergonômicos no corte de eucalipto com motosserra em região montanhosa. 1998. 161 f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, 1998. SANT ANNA, C. de M. Corte. In: MACHADO, C. C. (Ed.). Colheita florestal. 2. ed., atualizada e ampliada. Viçosa-MG: Editora UFV, 2008. p. 66-96. 9