Palavras-Chave: design; profissão e design de moda



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Transcrição:

Lívia Marsari Pereira; Mestre em Design: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho lilimarsari@hotmail.com Maria Carolina Medeiros; Mestranda em Design: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - mcarolmedeiros@hotmail.com Paula Hatadani; Mestranda em Design: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho paulahatadani@yahoo.com.br Raquel Rabelo Andrade; Mestranda em Design: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - raquel_andrade00@yahoo.com.br José Carlos Plácido da Silva; Doutor: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho placido@faac.unesp.br Resumo Este estudo é o resultado de uma investigação de natureza bibliográfica que busca apresentar algumas definições para o design, retratar a profissão designer na atualidade e relatar as principais vertentes que vem surgindo com a difusão das escolas de ensino superior nessa área de conhecimento, especialmente o design de moda. Palavras-Chave: design; profissão e design de moda São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 367

Introdução A origem do profissional de design remonta ao século passado, influenciado principalmente pela Revolução Industrial e pela contribuição das vanguardas artísticas que assumem a estética da máquina, incorporando-a as suas criações. Dorfles (2002) afirma ser errado defender que o design sempre existiu, pois segundo o autor, uma das premissas básicas para que um elemento seja pertinente ao design industrial é que ele seja produzido de modo industrial e mecânico, exclusivamente e, assim, seja passível de repetição em série, o que não acontecia antes do advento da máquina. Portanto, podemos considerar o inicio do design em conjunto com o advento da máquina e na produção de objetos pelo homem. Ainda na atualidade, descrever uma definição clara e axiomática do design é quase impossível do ponto de vista de alguns estudiosos. O design é um termo muito citado, porém ainda não completamente compreendido em relação ao seu conceito. O número infinito de pensamentos ligados a essa atividade faz dessa profissão uma área incompreendida e sem definições para grande parte da sociedade. Ainda falta reconhecimento do design como área e a contribuição específica que ele tem a dar para a cultura em geral e para a brasileira em particular. Stolarski apud Junior, (2006) afirma que o problema não é o preconceito, mas sim falta de informação: o design é muito comentado e celebrado, mas nunca se sabe direito o que quer dizer a palavra. Assim, o termo acaba por virar sinônimo de luxo, arte, sofisticação, que estão muito distantes de dar conta do que a atividade faz. Juntamente com esse panorama de desinformação sobre o verdadeiro significado de design encontra-se uma difusão de novos cursos com diversas abrangências e especialidades das áreas de atuação do design. O design de moda é uma dessas áreas que vem destacando-se no panorama atual. O design de moda cria produtos para produzir experiências significativas nos corpos, em tecidos e roupas são trabalhadas formas, silhuetas e texturas que produzem experiências sensoriais e por sua vez criam percepções diversas nas pessoas. Os objetivos e procedimentos da concepção do vestuário assemelham-se ao processo de desenvolvimento de objetos de design, pois consideram a importância da metodologia de projeto e da satisfação das necessidades e anseios dos usuários. Nesse sentido, Feghali e Dwyer (2001, p.103) definem: Designer de moda é o profissional que define a cara de uma coleção, independentemente do mercado a ser atingido. Pode ser empregado em uma empresa ou trabalhar como autônomo. [...] Durante o processo de criação, ele leva em conta não só os aspectos artísticos e sociais, mas também a necessidade de atender às tendências de marketing e aos São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 368

avanços técnicos da indústria, uma vez que a cada estação, ocorrem mudanças no que se refere às cores, aperfeiçoamento de tecidos, linha de produção, capacidades e preços. Desta forma, este artigo tem como objetivo apresentar algumas definições sobre o design, relatar as principais vertentes que vem surgindo com a difusão das escolas de ensino superior nessa área de conhecimento, entre elas o design de moda, foco desta pesquisa. Design A raiz da palavra design em inglês tem origem da palavra latina designare, que também dá origem na nossa língua às palavras desejo, desenho e designo (ARRIVABENE, 2009). Essas palavras juntas auxiliam na compreensão deste termo. Por desejo, entende-se o potencial que o design possui de despertar o interesse e de agregar valor. Por desenho, a preocupação estética, forma, beleza e a comunicação visual. E designo, a funcionalidade, ergonomia, preocupação com o usuário e principalmente a atividade projetual. A palavra Design tem sido empregada desde o ano 1580, mas sua primeira acepção foi documentada em 1588 no Oxford English Dictionary, que o definia como um plano ou um esboço concebido pelo homem para algo que se há de se realizar, um primeiro esboço desenhado para uma obra de arte ou um objeto de arte aplicada, necessário para a sua execução (PIRES, 2008, p.96). A partir do século XX, novas definições mais complexas para o termo foram traçadas, e o design foi sendo configurado, cada vez mais, como um processo projetual. O design hoje, enquanto uma atividade engloba inúmeras áreas de trabalho e pesquisa, que tiveram, inclusive, percursos históricos diferentes, os quais só cruzaram-se quando o perfil do design como uma atividade multidisciplinar foi traçado. As definições atuais para o termo situam as atividades do design num patamar ainda mais abrangente. Diversos autores, entre eles Niemeyer (2000), Pires (2008) e Cardoso (2004), entende-se o design como sendo o conjunto de atividades teóricas e práticas que objetivam o desenvolvimento de projetos industriais, que por sua vez, têm como finalidade a realização de produtos ou serviços que buscam suprir as necessidades humanas. Lobach (2000, p.22) define design como o processo de adaptação do ambiente artificial às necessidades físicas e psíquicas dos homens na sociedade. Sendo assim, o design deve estar relacionado com todas as dimensões do produto, sejam elas funcionais, estéticas ou simbólicas. O design também deve atuar em todo o ciclo de vida do produto e não apenas na sua concepção - desde a sua criação, até a fabricação, distribuição, uso e descarte. Segundo definição do International Council Design of Societies of Industrial Design (ICSID, 2008) o design é uma atividade criativa cuja finalidade é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo o seu ciclo de vida. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 369

Assim, hoje o design pode ser entendido como uma atividade multi e interdisciplinar, que permeia todo o processo destinado à reprodução industrial realizando a manipulação de um conjunto de conhecimento e informações de ordem técnica, ergonômica, psicológica, mercadológica, estética, econômica e cultural, gerando alternativas, até o encontro de uma solução final para o produto. É um trabalho de caráter multidisciplinar, onde diversas áreas do conhecimento relacionam-se, de acordo com a natureza do projeto, contribuindo para uma solução final em termos de produto. A profissão No Brasil, a profissão designer não é regulamentada, embora ela conste no Catálogo Geral de Profissões do Ministério do Trabalho (ESCOREL, 1999). Existem, no entanto, associações profissionais, de caráter cultural e representativo. Cursos especializados têm sido abertos todos os anos, o que gera um aumento significativo da oferta de mão-de-obra. O aumento da porcentagem de profissionais formados, por sua vez, coincidiu com a chegada do computador que revolucionou a maneira de projetar e produzir, acarretando, entre outras coisas, uma redução substancial dos preços cobrados (ESCOREL, 1999, p.92). O avanço da tecnologia e da informação facilitou o acesso ao uso de certas ferramentas do design, e neste panorama surgiram os famosos micreiros profissionais capazes de operar os softwares, porém sem formação suficiente para realmente aplicar a tecnologia, usando-a muitas vezes de forma aleatória. Muitas pessoas e empresas contratam este designer para desenvolver seus trabalhos, pelo valor que normalmente é cobrado por esse profissional abaixo do custo real ou pelos prazos ou pelas facilidades que eles oferecem ao cliente. Por vezes, estes clientes relatam posteriormente que o gasto foi ainda maior que se tivessem realmente contratado um profissional da área, ou que o trabalho desenvolvido não atingiu a qualidade esperada (ALBUQUERQUE, 2008, p.2). Neste sentido, apesar de todas as tentativas realizadas por profissionais e teóricos para estabelecer o real significado e abrangência da profissão designer, esta ainda é vista, pela sociedade em geral, como uma atividade meramente empírica, que preocupa-se apenas com questões estéticas. Tal visão obviamente traduz de forma errônea e simplificada os aspectos da profissão, pois, segundo Whiteley (1998), cabe aos designers considerar não apenas as questões artísticas, mas também as questões sociais, econômicas, políticas, éticas, tecnológicas, ecológicas e ambientais de seus projetos. Entre os próprios designers, pode-se encontrar duas vertentes mais comuns: aqueles que acreditam no potencial artístico do design e aqueles que defendem um maior tecnicismo e formalismo do design, baseados principalmente nas duas maiores escolas de design do século XX, a Bauhaus (Alemanha 1919-1933) e Escola de Ulm (Alemanha 1953-1968). Whiteley São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 370

(1998) aborda de forma mais detalhada este tema, classificando em seis os diferentes tipos de designers existentes: o designer formalizado, o designer teorizado, o designer politizado, o designer consumista, o designer tecnológico e, por fim, o designer valorizado, sendo este último uma proposta do próprio autor, considerada ideal, pois define um profissional mais completo, que une de forma coerente a teoria e a prática. Todos os anos surgem novos profissionais de design, e a cada ano são criados novos espaços e abrangências. Segundo Albuquerque (2008) atualmente existe mais de seis difusões, que ramificam-se, tais como o design gráfico, design de produto, design editorial, design de embalagem, design de multimídia e/ou mídia eletrônica, design ambiental e design de moda. Nesse sentido, Gomes Filho (2006, p.15) explica que o campo do design se fraciona cada vez mais em diversas especialidades ditadas pelo mercado. As particularidades das áreas de atuação do design encontram-se amplamente subdivididas, como mostra a Tabela 1. O que acaba por resultar em certa confusão na medida em que determinadas especialidades se desdobram e se sobrepõe, quando na verdade possuem significados muito próximos. Contexto internacional Equivalência aproximada Contexto nacional Industrial Design Object Design Furniture Design Automobile Design Computer Design Hardware Design Packging Design Food Design Jeweley Design Sound Design Lighting Design Textile Design Communications Design Commercial Design Corporate Design Information Design Tabletop Design Media Design Software Design Design Industrial Design do Objeto Design de Equipamentos Urbanos Design de Mobiliário Design Automobilístico Design de Computador Design de Máquinas e Equipamentos Design de Embalagens Design de Alimentos Design de Jóias Design de Sistemas de Som Design de Sistemas de Iluminação Design Têxtil Design de Sistemas Comunicativos Design gráfico Design de Identidade Corporativa Design de Sistemas de Informação Design de Editoração Design de Meios de Comunicação Design de Programas Design de produto Design Gráfico Fashion Design Design de Moda Design de Moda Interior Design Design de Interiores Design de Ambientes Re-Design Redesign Redesign São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 371

Conceptual Design Counterdesign Antidesign Radicaldesign Avant-Garde Design Bio-Design Eco-Design Universal Design Design Conceitual Counterdesign Antidesign Radicaldesign Avant-Garde Design Bio-Design Eco-Design Universal Design Design Conceitual Interface Design Design de Interfaces Design de Interfaces Fonte: Haufle, 1996 apud Gomes Filho, 2006 Na pesquisa científica podemos encontrar o design também subdividido em suas difusões de conhecimento como mostra a Figura 2, que representa as diversas áreas de abrangência de artigos no P&D no ano de 2006. Figura 2 As diversas áreas do Design (distribuição de artigos por área no P&D 2006) Fonte: Amstel 2006 São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 372

Percebe-se que o Design de Moda é citado em todas as classificações de especialidades de atuação do design, sendo, em comparação, uma área mais nova. Gomes Filho (2006, p.29) descreve o design de moda como especialidade ou área de atuação que envolve a criação, o desenvolvimento e a confecção de produtos da moda e atinge diversos segmentos de utilização, relacionados com o uso de objetos diretamente sobre o corpo. Design de Moda As pesquisas na área do design voltam-se cada vez mais para o universo da moda. Essa aproximação não está somente marcada pela inserção da palavra designer para nomear o profissional de moda, mas sim a partir de seu conceito, que passou a participar e conduzir os processos da moda. Segundo Palomino (2003), o termo moda surgiu por volta dos séculos XIV e XV, na Europa Ocidental e atingiu sua plenitude com os processos industriais de produção e aprimoramento dos aspectos estéticos e técnicos dos produtos industrializados. O fenômeno moda serviu de alicerce para manutenção de tradições, elementos distintivos entre classes, funções sociais, simbolismos, suporte para informações a respeito do individuo e de grupos a que pertence. O vestuário tornou-se, em grande parte por seu caráter simbólico, a primeira materialização do fenômeno moda. A moda possui significado abrangente por estar presente nos mais diversos produtos e como fenômeno social. Rech (2002, p.29) a define pelas mudanças sociológicas, psicológicas e estéticas, intrínsecas à arquitetura, às artes visuais, a musica, à religião, à política, à literatura, à perspectiva filosófica, à decoração e ao vestuário. O vestuário inserido no sistema de moda tem por finalidade, além de vestir o corpo, outras associações como satisfação de necessidades emocionais do consumidor-usuário. Produtos destinados ao consumo como as roupas denotam aspectos sociais, econômicos, ambientais e mercadológicos. Diante dessa premissa Montemezzo (2003, p.34) afirma: Se a concepção destes produtos envolve a articulação de fatores sociais, antropológicos, ecológicos, ergonômicos, tecnológicos e econômicos, em coerência às necessidades e desejos de um mercado consumidor, é pertinente afirmar que tal processo se encaixa perfeitamente na conduta criativa da resolução de problemas de design. Ao longo dos tempos surgiram diversas perspectivas de abordagem ao conceito de design na tentativa de encontrar uma definição completa para este conceito. Assim, o design é compreendido como metodologia de trabalho e a sua preocupação com a forma, a estética e a função do objeto. Desta forma, percebe-se que os objetivos e procedimentos da concepção do vestuário São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 373

assemelham-se ao processo de desenvolvimento de objetos de design ao considerar que os dois métodos participam de um mesmo ponto de vista da metodologia de projeto e da satisfação das necessidades e anseios dos usuários. Assim, design e moda encaixam-se na condução do processo criativo e agregam-se no conjunto de desenvolvimento do produto. A partir desta afirmativa, Pires (2004) explica que fazer design é designar aspectos de formas, silhuetas, texturas, cores, materiais, emoções associando-se a ergonomia na ampliação de benefícios, voltada para soluções estéticas, funcionais e confortáveis. Desta forma, o design de moda é a concepção de produtos representados em geral, por peças, aviamentos, acessórios e roupas que mantém interfaces com o design gráfico e, principalmente, com o design do produto no que se refere aos acessórios em geral (GOMES FILHO, 2006). O vestuário como resultado de um processo de design é denominado produto de moda, cujo princípio é atender as necessidades de determinado público consumidor, conforme o seu estilo de vida. De acordo com Rech (2002, p.37) o produto de moda pode ser conceituado como: [...] qualquer elemento ou serviço que conjugue as propriedades de criação (design e tendências de moda), qualidade (conceitual e física), vestibilidade, aparência (apresentação) e preço a partir das vontades e anseios do segmento de mercado ao qual o produto se destina. O processo de design do vestuário deve então, conciliar as características materiais e tecnológicas adequadas ao ponto de vista do grupo social em questão, agregando valores estilísticos, estudando a produção, o consumo e os valores de concorrência dos bens produzidos. Emerenciano e Waechter (2006) acreditam que ao abordar o produto vestuário pelo enfoque do design propicia-se uma apreciação abrangente de sua situação de uso seja ela de consumo ou utilização propriamente dita e ainda possibilita otimização de processos e utilização de materiais que garantem à diferenciação e exclusividade desses produtos. Considerações Finais A atividade do designer fortaleceu-se com o surgimento das indústrias e escolas de design, já que por meios destas, grande parte dos objetivos da área tornaram-se mais claros e definidos, como o foco de produção com um fim social. Ainda que não regulamentada, a profissão vem sendo delineada e continua modificadose e adquirindo novas ramificações atreladas à inovação e ao comportamento humano e suas necessidades, as quais também evoluem e alteram-se todos os dias. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 374

Mais do que nunca, os produtos de design representam a cultura mundial e influenciam a qualidade do nosso ambiente e do nosso cotidiano. Desta forma, o designer necessita refletir sobre seus atos e projetos para assim encontrar novos caminhos para ajudar as empresas a promover uma real melhoria na condição de vida das pessoas, sem deixar de lado questões relativamente novas, mas que tornaram-se primordiais para a prática do design. Os projetos de design em geral devem responder às necessidades técnicas, funcionais e culturais da sociedade, propondo soluções inovadoras que comuniquem significado e emoção, que transcendam idealmente as suas formas, estrutura e fabrico. É necessário ainda que o profissional do design possua destreza, capacidade interpretativa, racionalidade efetiva, preocupação social e ética, para que as novas tecnologias aliadas ao design possam propor objetos inteligentes, resultando trocas físicas e psíquicas em resposta às nossas necessidades e ao nosso tempo. Especificamente o designer de moda é um profissional diretamente ligado a questões que têm como objetivo a concepção, criação e acompanhamento de peças do vestuário e acessórios, sempre preocupado-se com o mercado, ou seja, com foco principal na satisfação das necessidades e desejos do consumidor. O designer de moda deve, além de criar, estar atento a todo o processo de gestão de produto, desde a sua concepção, até sua distribuição, estando atento aos diversos setores pelos quais o seu produto passa até chegar ao consumidor. A formação desse profissional no Brasil é recente e está em processo de evolução. Segundo Hoffmann (2009) até o ano de 2007 o Brasil possuía 81 cursos de graduação na área de Moda distribuídos em 52 cidades em 17 estados. Dos 81 cursos voltados à moda no Brasil, 58 foram criados a partir de 2000 e o mais antigo foi autorizado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 1989. Ou seja, são cursos novos e percebe-se que nos últimos anos houve um grande volume de cursos em implantação. A pós-graduação, também ainda é pouco difundida, com poucos cursos disponíveis e abrangendo poucas áreas de atuação da moda. Sabe-se porem quem nem todos os cursos na área da moda são concebidos a partir da metodologia do design. Realidade essa, que é motivo de grandes discussões e possíveis mudanças, devido à grande importância da aplicação dos conhecimentos do design no desenvolvimento de produtos moda. Sousa et al (2010) explica que a formação em moda oferecida pela maioria das instituições superiores brasileiras passou a ser norteada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Design, consolidadas na Resolução CNE/CES nº 05, de 8 de março de 2004. Este documento influenciou diretamente a conformação dos projetos pedagógicos da área, levando ainda a um processo de ajuste dos cursos criados anteriormente, de modo a manterem o direito de funcionar e conquistarem reconhecimento social. Tais diretrizes têm permeado a cultura de ensino de moda no Brasil com conhecimentos e práticas do campo do design que passaram a conviver com o campo da moda. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 375

Para o profissional designer de moda existe o desafio de conferir serenidade e conteúdo ao campo da moda, o que somente será conquistado com investimentos em pesquisa, qualificação e capacitação dos profissionais. Referências ALBUQUERQUE, Vanessa Gomes. Design, impasses e perspectivas: história e evolução. Revista Educação, Guarulhos, v.03, n.02, p.01-04, 2008. Semestral. Disponível em: <http:// revistas.ung.br/index.php/educacao/article/view/269/348>. Acesso em: 02 out. 2009. AMSTEL, Frederick Van. 7 P&D Design: um grande evento. 2006. Disponível em: <http:// usabilidoido.com.br/7_pd_design_um_grande_evento.html>. Acesso em: 07 out. 2010. ARRIVABENE, R. M. C. Design: projeto mutante. Projeto de Conclusão de Curso, Graduação em Desenho Industrial, Orientado por Dorival Campos Rossi. Bauru: Universidade Estadual de São Paulo, 2009. CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo, Edgard Blücher, 2004. DORFLES, Gillo. Introdução ao Desenho Industrial. Lisboa: Edições 70, 2002. EMERENCIANO, Juliana; WAECHTER, Hans. O produto como momentum do sistema de moda: materializando identidade, desejo e necessidades. Anais Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, P&D, 7, 2006. Curitiba. ESCOREL, Ana Luisa. O Efeito multidisciplinar do Design. São Paulo: Senac, 1999. FILHO, João Gomes. Design do objeto bases conceituais: design de produto/ design gráfico/ design de moda/ design de ambientes/ design conceitual. São Paulo: Escrituras, 2006. FEGHALI, M. K; DWER, D. As engrenagens da moda. Rio de Janeiro: Senac 2001. GULLAR, Ferreira. Etapas da arte contemporânea: do cubismo à arte neoconcreta. Rio de Janeiro: Reva, 1998. HOFFMANN, Maria Gorete. Sistema de inteligência setorial: vestuário. 2009. Disponível em: <http://sis.sebraesc.com.br/sis/pages/mostrahomevestuario.do?metodo=mostrarhome Vestuario&idSetor=4>. Acesso em: 15 nov 2010. International Council of Societies of Industrial Design. Acesso em 15 de Julho de 2008 em: http//www.icsid.org/about/articles31.htm. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 376

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