SINTAGMA E PARADIMA Maria Lucia Mexias Simon (CiFEFiL)

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Transcrição:

SINTAGMA E PARADIMA Maria Lucia Mexias Simon (CiFEFiL) mmexiassimon@yahoo.com.br O paradigma, o modelo, significa um sistema pré-estabelecido, ou já existente. A língua é o paradigma. O sintagma é uma atualização, uma concretização do paradigma. É a utilização dos elementos que contam do paradigma. Ex: A lua clara banha a estrada solitária.. O luar argênteo ilumina o caminho ermo. As colunas verticais são os paradigmas, a frase é o sintagma, a fala, a conversa, a parole. O paradigma é como um depósito onde vamos apanhar o material de que necessitamos para falar, isto é, as palavras. O sintagma é a concretização de uma opção; Paradigma é língua, ou langue. As variações lingüísticas repousam no plano da fala; a diacronia tem a ver com o sintagma. A sincronia identifica-se com o plano da língua, enquanto resultante de relações lógicas e psicológicas, componentes do sistema. A sintaxe e a morfologia compõem a gramática de uma língua; outro componente seria o léxico. A atualização dos elementos da língua nas diversas situações da vida constitui o discurso (o sintagma), tendo-se como discurso tudo que admite silêncio antes e depois. A frase é a unidade do discurso, é a atualização dos elementos da língua por um determinado indivíduo, num determinado momento. E um drama, com falante, ouvinte e situação, embora a ênfase recaia num dos três elementos. A distinção entre frase e vocábulo está na entonação, no drama. Há uma seqüência: Fonema vocábulo frase. Ex: eau (francês /ô/ água). A extensão e a forma não importam, e sim, a entonação. Na escrita, a entonação é reproduzida, aproximadamente, pela pontuação. A frase pode se constituir de um só vocábulo. Ex: Paremos; 1

Sim. Fogo! Trata-se, nesses casos, de um vocábulo complexo, com enunciação relacionada ao contexto, integrada na situação. Há sempre uma binaridade (situação=contexto extralingüístico) Não é necessária a significação completa, e sim, um propósito definido A e- nunciação pode ser inconclusa (no caso de citações muito conhecidas). Coordena-se com a mímica, que pode substituir palavras. A farás pode se completar com contextos situacionais e lingüísticocontextuais. Cada língua tem um padrão frasal. Ex: Língua tupi Mel inseto eis ele árvore flores tal colhem ativo; Língua portuguesa: Os insetos colhem o mel das flores de tal árvore. A frase escrita é muito diferente da oral, o destinatário é desconhecido, não há situação. No discurso escrito, aparece a frase complexa, uma constelação de subunidades frasais (hipotaxe, ou período subordinado). Ex: O bom aluno estuda porque gosta e aproveita o tempo quanto for possível. Dividir os sintagmas. ESTILÍSTICA O sistema é organizado para a função informativa, na base de uma representação. A frase é um produto da vida, não é pura informação. È, antes de tudo, apelo, comunhão, liberação psíquica. Sem o sistema, só haveria gritos. O estilo é a solução do problema, a forma de chegar à expressão. Preferem-se algumas locuções e criam-se novas. Há regionalismos e até extravagâncias. SISTEMA A NÍVEL MORFO-SINTÁTICO No ato de unificação, o falante recorre a unidades fônicas e significativas para expressar sua mensagem, e, em seguida organizála da maneira que sua língua exige. Ex: Latim Canis mordet virum permite várias combinações, o que já não acontece em português, onde a diferença entre sujeito e objeto depende da ordem das palavras na frase. Outro ex: Frases negativas: Português Não sei. Sujeito e objeto ocultos, flexão verbal marcando o sujeito. Inglês I don t know Sujeito claro, verbo auxiliar de negação, flexão 2

Francês Je ne sais pas verbal não marca o sujeito. Sujeito e objeto claros, flexão verbal não marca o sujeito, RESTRIÇÕES SISTÊMICAS Cada língua escolhe seus morfemas em função das alterações com que ela opera Ex: No português há singular e plural para os adjetivos; no inglês, o adjetivo está sempre antes do substantivo. Por vezes, a ordem dos adjetivos interfere na significação. Temos opiniões diversas Temos diversas opiniões Os níveis semântico e sintático se interpenetram. Adão comeu a maçã. O verbo comer pede sujeito animado. NORMA O lingüista não faz julgamento de valor, isso compete ao gramático. Para o lingüista, tudo que ocorre na língua interessa. A lingüística não prescreve, nem proscreve, apenas descreve. A língua está sempre em equilíbrio instável. Nenhuma língua é falada de maneira homogênea. Há variações que podem ser absorvidas pelo sistema. A língua fornece informações sobre o falante. O conjunto de regras que atende a um padrão social é a norma, a que é ensinada na escola, aos estrangeiros. È a contingência social; não pode ser regional, nem popular, nem literária. Deve assentar-se no uso falado e escrito culto. Há usos expressivos da linguagem coloquial, mas o ensino da norma culta tem uma função social. Há interdependência entre a passiva e a reflexiva. (Abriu-se a porta A porta foi aberta Abriram a porta). Daí ocorrem formas como Haviam livros. A forma impessoal é mais aceita com verbos intransitivos. A passiva completa é evitada na linguagem usual O mais comum, é a omissão do agente. A preposição se prende a um complemento de meio. A essência da voz passiva é o realce do processo ativo em detrimento do agente que é esporadicamente incluído no predicado o que se aproxima de um verbo passivo é um verbo ativo usado impessoalmente. (Trombetti). As línguas possuem dois níveis de estrutura; Sua fonologia e sua sintaxe. A defasagem entre esses dois níveis é preenchida pela 3

morfologia (flexão). A diferença entre uma categoria gramatical e uma agramatical é que, nessa não se respeitam as regras do sistema. Há uma conexão entre a gramaticalidade das sentenças e a significação dos enunciados reais ou potenciais. Ex: Levantamos tarde essa manhã. A mudança de ordem traz leve mudança de significado. Nas sentenças há relações de constituição sintagmas. As palavras são constituintes de sintagmas e esses de sentenças. Há relações de: - dependência: regência, valência, transitividade e intransitividade; - concordância Essas relações compõem a gramaticalidade da sentença. QUESTÕES 1. Toda sentença declarativa corresponde a uma sentença interrogativa certo ou errado. 2 Exemplifique a ambigüidade sintática. 3 Todas as dez lindas casas de pedra são antigas. Há regras de produção? Quantos outros sintagmas podem ser montados? A frase pode ser ampliada? Que papel teria a entonação par a significação? 4 Ele ganhou vinte cruzados pela remoção do lixo acumulado durante uma semana. Que modificações introduz no sintagma a introdução da palavra só em diversas posições? 5 Ensinar uma língua é habilitar o indivíduo ao domínio mais perfeito possível das normas gramaticais Certo ou errado? 6 O estudo da língua é uma ciência de interesse exclusivo, sem qualquer vinculação com outras ciências do homem. Certo ou errado? 7 Se você fosse incumbido de elaborar uma gramática da Língua Portuguesa, qual seria sua preocupação fundamental? 4

BIBLIOGRAFIA FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristóvão. Prática de texto. Petrópolis: Vozes, 1992. HALLIDAY, M. A. K. et alii. As ciências lingüísticas e o ensino da língua. Petrópolis: Vozes, 1984. SOUZA, Luiz Marques de e WALDECK, Sérgio e. Compreensão e produção de textos. Rio de Janeiro: Libro, 1992. SOUZA, Luiz Marques de e WALDECK, Sérgio. Roteiros de comunicação e expressão. Rio de Janeiro: Eldorado, 1984. 5