ANÁLISE DA DECISÃO DO STF A LUZ DO PRINCÍPIO DA INAFASTABILIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO.

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Transcrição:

ANÁLISE DA DECISÃO DO STF A LUZ DO PRINCÍPIO DA INAFASTABILIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO. Resumo: Mariana Mattos Dantas* O presente artigo analisa a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal em sede de ADIN, impetrada por quatro partidos políticos a luz do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário Palavras chaves: Comissão de conciliação prévia. Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário. Decisão do STF. Abstract: This article analyzes the decision by the Supreme Court in place of ADIN, filed by four political parties under the principle of the Judiciary inafastabilidade Keywords: Prior Reconciliation Commission. Inafastabilidade principle of the judiciary. Supreme Court decision. Sumário: 1. Introdução. 2. Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário. 3. As Comissões de conciliação prévia. 4. Decisão do STF. 5. Conclusão. Introdução. Amauri Mascaro Nascimento classifica as formas de solução de conflitos trabalhistas da seguinte forma: autodefesa, autocomposição, heterocomposição. Primeiramente, na autodefesa as partes impõem seus interesses perante uma a outra, em defesa destes. São exemplos: greve e lock out. 1

Na autocomposição, as próprias partes realizam um negócio, ou seja, a solução é negociada, e não há intervenção de um terceiro. Aqui as partes resolvem seus conflitos sozinhas. É o que ocorre na convenção e no acordo coletivo. Já a heterocomposição, há um terceiro para solucionar os conflitos. Pode ser dividida em mediação, arbitragem e jurisdição. Na mediação, haverá um terceiro que poderá ser qualquer pessoa, bastando ser de confiança das partes e conhecer do assunto. O mediador irá resolver o conflito entre as partes, aproximando-as e fazendo propostas, as partes não estão obrigadas a aceitá-la, porém, aceita a proposta por acordo de vontades, é lavrado o respectivo termo, pondo fim ao litígio. Na arbitragem, o terceiro pode ser uma pessoa ou um órgão e será chamado de árbitro, este decidirá a controvérsia e imporá a solução aos litigantes, diferente do que ocorre na mediação, que o terceiro não impõe nada, apenas faz propostas incentivando as partes a aceitá-las. A decisão tomada na arbitragem chama-se laudo arbitral. Esta nada impede o acesso aos tribunais, pois as partes são livres para escolherem a forma de solução para seus litígios. Nossa Carta Magna admite expressamente a arbitragem para resolver os conflitos coletivos do trabalho em seu artigo 114, 1, 2. O arbitro é juiz de fato ou de direito. A arbitragem poderá ser de direito e de fato (art. 2 da lei n 9.307), bem como a sent ença proferida pelo arbitro não fica sujeita a recurso ou homologação pelo Poder Judiciário. (art 18 da lei 9.307). Por fim, a jurisdição, forma de solucionar os conflitos por intermédio da interveniência do Estado. O juiz diz o direito ao caso concreto, uma vez que está investido dessa função como órgão do Estado. 2

2. Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário Consagrado no artigo 5, XXXV, CF/88, in verbis: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, em outras palavras, a ninguém será permitido impedir que o jurisdicionado vá a juízo deduzir pretensão. Após a Constituição de Federal de 1988, a questão do acesso à justiça incorporou grande valor. Nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite o problema do acesso a justiça ganhou nova dimensão a partir da CF/88, que, inovando, substancialmente em relação à Carta Magna que lhe antecedeu, catalogou os princípios da inafastabilidade do controle jurisdicional e do devido processo legal no rol dos direitos e garantias fundamentais, especificamente no capítulo concernente aos direitos e deveres individuais e coletivos. Ainda afirma o autor que não se encaixa apenas na hipótese de lesão, mas também na de ameaça de direito. E mais, o artigo não abarca somente direitos, mas também interesses individuais ou coletivos lato sensu. 3. As Comissões de conciliação prévia A Lei no. 9.958, de 12 de janeiro de 2000, com o escopo de aliviar a justiça do trabalho, bem como, atendendo ao anseio da sociedade por um judiciário mais célere instituiu as chamadas comissões conciliação prévia nas empresas e sindicatos, visando uma solução extrajudicial para os conflitos. Nos termos do artigo 625-A da CLT, as empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Ressalte-se que o artigo em comento utiliza o verbo poder, portanto, a constituição das comissões conciliação prévia é facultativa. Estas poderão ser criadas no âmbito de uma só empresa (empresarial); no âmbito de mais de uma empresa (interpresarial), isto é, formada por grupos de empresas distintas ou do mesmo grupo econômico; no âmbito de um só sindicato (sindical); no âmbito de mais de um sindicato (intersindical). Porém sempre observando a composição paritária de representantes de empregados e de empregadores. 3

Como já foi dito alhures, as comissões deverão ser de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores. Em sede de empresa, será composta de, no mínimo dois e no máximo, dez membros e observará as seguintes normas do artigo art. 625-B, itens I, II, III e parágrafo 1o da CLT: a) a metade será indicada pelo empregador e a outra metade eleita pelos empregados em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato da categoria profissional;b) haverá na comissão tantos suplentes quantos forem os titulares;c) o mandato de seus membros ( titulares e suplentes) será o de um ano, permitida a recondução. Ao passo que, em âmbito do sindicato, a comissão terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo, ou seja, não possuem correlação com as Comissões formadas em sede da empresa. Segundo a leitura do artigo 625- C da CLT, o número de conciliadores, a possibilidade ou não da garantia de emprego, o afastamento ou não do conciliador das atividades normais na empresa ou outras regras não previstas para as Comissões no âmbito das empresas serão estabelecidos conforme o acordo coletivo, ou seja, através da autonomia da vontade coletiva fruto da convenção ou acordo coletivo. A Comissão tem o intuito de apenas conciliar, não possui competência para julgar,esta é única e exclusiva do juiz, mas sim apenas, para tentar alcançar uma conciliação entre as partes, para que assim, possa atingir seu objetivo final que seria o descongestionamento da justiça do trabalho. Importante frisar que ao artigo 625-D da CLT, ao fazer referência a necessidade da submissão da demanda à comissão, quer dizer que, a obrigatoriedade vem da tentativa de conciliação e não de necessariamente realizar a conciliação. Quanto procedimento, a demanda será formulada por escrito ou reduzida a tempo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados. Em caso de não prosperar a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustrada com a descrição de seu objeto, 4

firmada pelos membros da Comissão, que devera ser juntada à eventual reclamação trabalhista. Em acontecimento de motivo relevante que impossibilite a observância do procedimento previsto no caput do artigo 625- D, CLT, será a circunstância declarada na petição da ação intentada perante a Justiça do Trabalho. Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido. (artigo 625-D) Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. (artigo 625-E) O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustrada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F. 4. Decisão do STF O Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria de votos, que demandas trabalhistas podem ser submetidas à Justiça do Trabalho antes que tenham sido analisadas por uma Comissão de Conciliação Prévia (CCP). No entendimento dos ministros do Supremo, a decisão preserva o direito universal dos cidadãos de acesso à Justiça. Contestada em duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 2139 e 2160) ajuizadas por quatro partidos políticos e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio (CNTC). Tanto a Confederação quanto o PC do B, o PSB, o PT e o PDT argumentaram que a regra da CLT representava um limite à liberdade de escolha da via mais conveniente para submeter eventuais demandas trabalhistas. 5

Sete ministros deferiram o pedido de liminar feito nas ações para dar interpretação conforme a Constituição Federal ao artigo 625-D da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que obrigava o trabalhador a primeiro procurar a conciliação no caso de a demanda trabalhista ocorrer em local que conte com uma comissão de conciliação, seja na empresa ou no sindicato da categoria. Com isso, o empregado pode escolher entre a conciliação e ingressar com reclamação trabalhista no Judiciário. O ministro Octavio Gallotti (relator), apresentou seu voto indeferindo a liminar sob o fundamento de que a garantia instituída no artigo 5, XXXV, da CF/88 não retira do legislador ordinário a disciplina das condições processuais para o ajuizamento das ações, que tenham por finalidade a racionalização do procedimento, ademais assevera que a constituição da comissão depende da voluntária participação dos empregados, e sem este consenso, bastará competente declaração desse fato na inicial da reclamação, para a dispensa da tentativa de conciliação (art. 625, 3 ). O Ministro Marco Aurélio foi o primeiro a divergir do relator, assentou o entendimento de que a CLT deve ser interpretado conforme o texto constitucional, e no caso em tela, conforme o art. 5,XXXV, CF /88. Quando o legislador constitucional quis exaurir a fase administrativa, para chegar-se à formalização de pleito no judiciário, ele o fez expressamente, como ocorreu no artigo 217, 1, CF/88, nos termos do artigo: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. Conclui que os dispositivos atacados nos autos não chegam, de forma clara, a revelar o obrigatório esgotamento da fase administrativa, devendo ser interpretado o dispositivo conforme o texto constitucional e afirma, que o artigo 625- D da CLT não encerra obrigatória a fase administrativa. Após este, em 2007 foi a vez de os ministros Sepúlveda Pertence, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Ricardo Lewandowski e Eros Grau unirem-se a posição de Marco Aurélio. 6

E o entendimento foi sedimentado com os votos dos ministros Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto. O último a se manifestar foi, o ministro Cezar Peluso, disse que a decisão do Supremo está na contramão na história. Segundo ele, o dispositivo da CLT não representa bloqueio, impedimento ou exclusão do recurso à universalidade da jurisdição. 5. Conclusão. As comissões de conciliação prévia foram instituídas, como foi dito anteriormente, para desafogar a Justiça do trabalho, através da autocomposição. De forma inicial, tanto a doutrina como a jurisprudência se posicionaram no sentido de que era obrigatória a submissão das demandas trabalhistas às comissões.contudo, surge outra corrente defendendo a facultatividade dos processos trabalhistas junto às comissões como pré-requisito para acesso ao judiciário. Com fulcro no trecho do Art.625-D da CLT, segundo o qual qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia, aduz a segunda corrente que o artigo se refere a qualquer demanda e não toda demanda. Conclui-se, dessa forma, pela facultatividade da mesma e não à idéia de obrigatoriedade. Faz-se mister comentar que se o artigo 625-D da CLT tivesse estabelecido toda demanda trabalhista padeceria de vício de inconstitucionalidade, pois afrontaria o princípio de acesso a justiça, consignado no artigo 5º, XXXV, CF/88. Observe-se que a única hipótese de obrigatoriedade de ter de conciliação encontra respaldo na própria CF/88 em seus artigos 114, 2 e 217, 2, ou seja, ajuizamento de dissídios coletivos e na justiça desportiva. Destaque-se a presença de outro vício de inconstitucionalidade com a imposição das comissões desigualdade em diversas situações iguais, uma vez que, nos locais onde existem as comissões há a obrigatoriedade, ao passo que, onde não haja, terá a faculdade. Em verdade, é uma pratica 7

discriminatória para aqueles que têm situação semelhante, o que é vedado em nosso ordenamento (art.5º, CF/88) Após a leitura do art. 114, CF/88, entende-se que as comissões de conciliação prévia são uma forma de solução de litígios, uma alternativa e não necessariamente uma obrigação. Não se pode considerar a submissão da demanda trabalhista à comissão imperiosa, esta não é uma nova condição da ação ou pressuposto processual para as ações trabalhistas porque não é determinada expressamente em lei como tal. Além, de continuar existindo interesse de agir independentemente de passar pela comissão ou não, ainda há interesse de agir, legitimidade e possibilidade jurídica do pedido. O processo trabalhista adotou o sistema da transcendência ou do prejuízo às partes, ou seja, só há nulidade se houver prejuízo para uma das partes, assim sendo, não há dano às partes ao não protocolar a demanda trabalhista na comissão. Saliente-se que a ausência de tentativa conciliatória extrajudicial é suprida pelas duas tentativas judiciais, já previstas em lei. Por outro lado, o direito de ação é autônomo e abstrato, preexiste ao próprio direito material, assim a vontade dos indivíduos deve ser privilegiada, respeitando-se a pretensão de não passar pela comissão por falta de ânimo conciliatório. Diante do exposto, conclui-se que, as comissões não devem ser obrigatórias sob pena de afrontarem o princípio da inafastabilidade da jurisdição e o principio da igualdade, pois estas não constituem pressuposto processual ou condição de ação trabalhista, embora, deve ser reconhecida que a autocomposição é uma solução de litígio que deve ser prestigiada. Dessa forma, acredita-se que a decisão tomada de pelo STF foi coerente, porque permite ao trabalhador ir diretamente à Justiça do trabalho sem a obrigatoriedade de passar pela comissão, a qual, por muitas vezes, poderia lesar o trabalhador. 8

Referências: Leite, Carlos Henrique Bezerra, Curso de direito processual do trabalho, 6 ed. São Paulo: LTr, 2008. Martins, Sergio Pinto, Fundamentos de direito processual do trabalho. 10 ed. São Paulo: atlas, 2007. Lima, Juarez Duarte, As comissões de conciliação prévia e a jurisdição trabalhista. Revista do TRT da 13ª Região 2002. Sousa, Ricardo César Lima de Carvalho, As comissões de conciliação prévia. Revista do TRT da 13ª Região 2002. 9