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- Raphaella Lameira Gonçalves
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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL I. A Norma Processual e suas Características II. Jurisdição, Ação e Competência III. Processo IV. Formação, Suspensão e Extinção do processo V. Sujeitos da Relação Processual VI. Intervenção de Terceiros, Litisconsórcio e Assistência VII. Atos Processuais VIII. Petição Inicial IX. Resposta do Réu X. Prova XI. Da Sentença e da Coisa Julgada XII. Recursos XIII. Da Execução e do Cumprimento de Sentença XIV. Processo Cautelar XV. Incidente de Uniformização de Jurisprudência e de Inconstitucionalidade XVI. Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa e Voluntária XVII. Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública e Habeas Data XVIII. Execução Fiscal
2 DIREITO PROCESSUAL CIVIL I. A NORMA PROCESSUAL E SUA CARACTERÍSTICAS (PRINCÍPIOS) O Processo Civil, dada a sua relevância dentro do Direito pátrio, é permeado por princípios constitucionais que orientam e norteiam a interpretação e aplicação de suas normas. Além dos princípios próprios, ditos internos (como o princípio dispositivo, inquisitivo, da instrumentalidade das formas, etc.), temos disposições de grau Constitucional, tais como: a) Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: Art. 5º, XXXV a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito Cuida-se do direito de ação e de defesa; direito público, subjetivo e abstrato de exigir do Estado a prestação da tutela jurisdicional. É poder decorrente da proibição da autotutela do indivíduo, que cede ao estado a função jurisdicional, e encontra-se, portanto, legitimado a requerer a proteção deste sempre que se sentir violado ou ameaçado. Direito de ação e de defesa porque o direito em tela é do autor em propor a ação e do réu em contestá-la. É conexo ao princípio do acesso à justiça que deve ser garantido a todos de forma efetiva e envolve tanto a defesa do direito violado, quanto do ameaçado, envolvendo as tutelas preventivas, cautelares ou não, que também recebem a proteção constitucional. b) Princípio do Devido Processo Legal: Art. 5º, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; O princípio do devido processo legal é considerado por muitos como um superprincípio, que dá origem a todos os outros de forma direta ou indireta, informando tanto o processo quanto o procedimento. Modernamente, inclusive, associa-se a noção de devido processo legal à de processo justo, ou seja, aquele que é regido pelo magistrado natural e competente, que possibilita o acesso à justiça, garante a ampla defesa, o contraditório, etc. 2
3 De fato, independentemente da concepção do devido processo legal que adotarmos (mais ampla ou mais restrita), permanece o fato de que se cuida de um dos princípios mais caros ao processo civil brasileiro. Através dele, garante-se que para que o indivíduo possa sofrer uma alteração em seu patrimônio ou em seu estado, há a necessidade prévia do processo justo, de acordo com os ditames legais, garantindo às partes igualdade de tratamento. É direito fundamental do cidadão e pilar sustentador do Estado Democrático de Direito. c) Princípio do Juiz Natural: Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; Art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; A Constituição determina que os processos apenas poderão ser administrados validamente pela autoridade competente, que é aquela investida de jurisdição pelo Estado e com competência para atuar na forma prevista em lei (Constituição Federal, Lei de Organização Judiciária e Código de Processo Civil). Assim, o magistrado que possui a função jurisdicional depende ainda da competência legal para poder conduzir o processo (competência de juízo e de foro). Por outro lado, os incisos proíbem, também, o tribunal de exceção, que é aquele criado em caráter especial ou de exceção, para julgar litígios ocorridos anteriormente a sua própria existência. É princípio que incide, outrossim, sobre membros do Ministério Público, com a exigência, em muitos casos, especialmente na esfera penal, da figura do Promotor natural. d) Princípio do Contraditório: Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; O devido processo legal exige, conforme se viu, a necessidade da igualdade entre as partes. A principal consequência dessa exigência é a obrigação de ouvir a pessoa perante a qual será proferida a decisão, garantindo-lhe o pleno direito de defesa e de pronunciamento sempre que contra ela for sustentado ou produzido algo. Ao princípio do contraditório se submetem tanto as partes como o próprio juiz, que haverá de respeitá-lo mesmo naquelas hipóteses em que procede a exame e deliberação de oficio acerca de certas questões que envolvem matéria de ordem pública. 3
4 É princípio absoluto, que deve ser sempre observado, sob pena de nulidade do processo. Pode ocorrer, contudo, que ele seja postergado para um segundo momento, de acordo com a necessidade do caso concreto, por uma composição de princípios como do acesso à justiça e da tutela eficaz (em síntese, do devido processo legal). As liminares, por exemplo, sejam cautelares ou antecipatórias, implicam o adiamento do contraditório, mas nunca sua exclusão. Há três tipos de contraditório: Prévio: modelo geral, aquele que se dá antes do provimento jurisdicional; Postecipado: aquele exercido depois do provimento já ter sido proferido (característico dos procedimentos antecipatórios e cautelares); e Eventual: aqueles que para seu exercício dependem de iniciativa do demandado. e) Princípio da Ampla Defesa art. 5, LV: Não só se garante o direito de se manifestar sobre os fatos alegados pela parte contrária e sobre os provimentos relevantes no curso do processo, como também se garante que, para isso, o indivíduo possa se valer do direito amplo de demonstrar suas versões sobre os fatos. Ou seja, para demonstrar a veracidade de suas alegações o indivíduo tem a sua disposição todos os meios lícitos admitidos em Direito, não podendo receber restrições quanto ao tipo de prova que deverá produzir, salvo ressalva legal. No entanto, conforme se viu, esse princípio sofre mitigações no próprio texto constitucional, quando se impede a produção de provas obtidas por meios ilícitos, por exemplo (art. 5º, LVI). f) Princípio do duplo grau de jurisdição: Também conhecido como princípio da recorribilidade, implica na necessidade de que toda a decisão seja recorrível, como forma de se evitar ou corrigir os erros e falhas que são inerentes aos julgamentos humanos, possibilitando, para isso, a oportunidade da revisão das decisões por outro órgão. Sua existência no ordenamento constitucional, entretanto, é controversa, preponderando o entendimento no STF de que inexiste. Ainda que consideremos sua existência, temos de ressaltar, nada obstante, as exceções a esse princípio no próprio texto constitucional, conforme se percebe com os feitos de competência originária dos tribunais (art. 29, X, CF, p. ex.). 4
5 g) Princípio do dever legal de fundamentação das decisões judiciais: Art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Cuida-se de corolário do princípio do pleno acesso à justiça. Deveras, não há como se falar em uma prestação jurisdicional plena e efetiva quando o jurisdicionado desconhece as razões que levaram o julgador a pender para um ou outro lado. Não há jurisdição em um provimento que decide questão sem externar os motivos de seu convencimento: há arbitrariedade. É princípio de extrema relevância para se garantir a possibilidade do contraditório e da ampla defesa e essencial para a garantia de um Estado Democrático de Direito que assegura a seus cidadãos o conhecimento de suas ações. h) Princípio da publicidade dos atos processuais art. 93, IX: Outra característica de um Estado Democrático de Direito é a publicidade dos atos de poder, especialmente com a finalidade de exercer controle sobre os atos arbitrários. Assim sendo, a Constituição garante a publicidade destes atos, ressalvadas as hipóteses de proteção da intimidade dos interessados. II. JURISDIÇÃO, AÇÃO E COMPETÊNCIA 1. JURISDIÇÃO A jurisdição, monopólio do poder estatal, é una e indivisível e pode ser contenciosa ou voluntária. Contenciosa justamente porque o objetivo primeiro da função jurisdicional é a pacificação social, ou seja, a resolução de conflitos. Quando voluntária também denominada administração pública de interesses privados, não há lide, mas controvérsia; não há partes, mas interessados; não há processo, mas procedimento; não há pretensão, mas interesses comuns ou paralelos; não há pedido, mas requerimento. Nesta, o Estado não acolhe, nem rejeita pretensões, apenas atua com os interessados para a realização de negócios jurídicos, a fim de lhes dar maior segurança, bem como possibilitar a fiscalização estatal. Segundo o princípio da aderência, os juízes e os tribunais exercem a atividade jurisdicional somente no território nacional e esta atividade é dividida com observância das regras de competência. Já, em relação à competência internacional, prevista nos art. 88 e 89 do CPC, não seria isto competência, mas verdadeira jurisdição. 5
6 A jurisdição é indelegável. O que se pode delegar, consoante as regras legais, é a competência, ou seja, o limite para o exercício jurisdicional, a extensão do poder de julgar, e não a jurisdição. Todo o magistrado investido na sua função possui jurisdição, que é a atribuição de compor os conflitos emergentes na sociedade. Assim, jurisdição todos têm, desde que sejam juízes ordinários regularmente investidos. Interesse aqui é o interesse processual, e não de direito material, de mérito. O interesse processual é a utilidade a ser proporcionada pelo provimento jurisdicional e a necessidade de vir a juízo para a obtenção deste provimento útil. É necessário, ainda, ter legitimidade, tanto ativa daquele que propõe a demanda como passiva daquele contra quem é proposta a ação. É parte legítima quem está autorizado por lei a ingressar em juízo. Cabe lembrar que legitimidade não se confunde com representação processual, prevista nos arts. 8º a 12, todos do CPC. Por fim, o termo pleitear, previsto no art. 6º do CPC, é entendido, por grande parte da doutrina, como coisa exclusiva do autor, como se apenas o autor pretendesse algo. Ocorre que este termo deve ser entendido como algo mais amplo, tendo em vista que o réu, quando contesta, pleiteia a improcedência do pedido. No mais, a 1ª parte deste dispositivo corresponde à legitimidade ordinária, ou seja, somente pode pleitear no processo aquele que é parte da relação de direito material. Por outro lado, a 2ª parte deste artigo refere que, quando a lei autorizar, não precisa ocorrer a coincidência de partes no plano material e no plano processual. Trata da legitimação extraordinária, que é exceção. A substituição processual, espécie do gênero legitimação extraordinária, ocorre quando alguém, autorizado por lei, atua em juízo como parte, em nome próprio e no seu interesse, na defesa de pretensão alheia. 2. AÇÃO 2.1. CONDIÇÕES DA AÇÃO As condições da ação são: Legitimidade; Possibilidade jurídica do pedido; Interesse de agir. 6
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