PROCESSO: PC 1444-89.2014.6.21.0000 PROCEDÊNCIA: PORTO ALEGRE INTERESSADO(S) : JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES, CARGO DEPUTADO ESTADUAL E Nº : 23123 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prestação de contas de campanha. Candidato. Resolução TSE n. 23.406/14. Eleições 2014. Falta de identificação do doador originário. Previsão normativa determinando que o prestador indique o CPF ou CNPJ do doador originário dos repasses realizados por partidos, comitês e campanhas de outros candidatos. Necessidade da identificação da pessoa física da qual realmente procede o valor, emitindo-se o respectivo recibo eleitoral para cada doação, ainda que elas sejam provenientes de contribuições de filiados. A falha importa a caracterização do valor irregularmente recebido pelo candidato como recurso de origem não identificada, na forma do art. 29, 1º, da Resolução TSE n. 23.406/14. Irretroatividade da nova Lei n. 13.165/15, aplicando-se ao caso os comandos legais vigentes à época em que ocorridos os fatos. Devolução do valor ao Tesouro Nacional. Desaprovação. A C Ó R D Ã O Vistos, etc. ACORDAM os juízes do Tribunal Regional Eleitoral, por unanimidade, ouvida a Procuradoria Regional Eleitoral, desaprovar a prestação de contas de JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES relativas às eleições 2014, com base no art. 54, inc. III, da Resolução TSE n. 23.406/14, determinando a transferência ao Tesouro Nacional da importância de R$ 700,00 (setecentos reais), no prazo de até 05 dias após o trânsito em julgado da decisão, na forma do art. 54, inc. III, combinado com o art. 29, ambos da Resolução TSE n. 23.406/14. Anote-se esta determinação de modo que o valor seja transferido ao Tesouro Nacional uma única vez, evitando-se a repetição do recolhimento pelos mesmos fatos, ainda que em outros autos. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. Assinado eletronicamente conforme Lei 11.419/2006 Em: 16/02/2016-17:33 Por: Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro Original em: http://docs.tre-rs.jus.br Chave: c6e1092834e46b273d657054ed655b4b TRE-RS
Porto Alegre, 16 de fevereiro de 2016. DESA. LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO, Relatora. Proc. PC 1444-89 Rel. Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro 2
PROCESSO: PC 1444-89.2014.6.21.0000 PROCEDÊNCIA: PORTO ALEGRE INTERESSADO(S) : JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES, CARGO DEPUTADO ESTADUAL E Nº : 23123 RELATORA: DESA. LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO SESSÃO DE 16-02-2016 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- R E L AT Ó R I O Trata-se da prestação de contas de JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES referente à arrecadação e ao dispêndio de recursos relativos às eleições gerais de 2014 (fls. 07-19), apresentadas por intermédio de procurador constituído nos autos (fls. 10 e 77). Após análise técnica das peças, a Secretaria de Controle Interno e Auditoria SCI deste TRE emitiu relatório preliminar para expedição de diligências (fls. 21-22), transcorrendo o prazo concedido sem manifestação do prestador (fl. 28). A SCI emitiu, então, parecer técnico conclusivo pela desaprovação das contas, tendo em vista a permanência das irregularidades apontadas no relatório preliminar (fls. 29-30). Notificado para apresentar manifestação, o candidato novamente silenciou (certidão da fl. 35). Foram os autos com vista à Procuradoria Regional Eleitoral, que exarou parecer pela desaprovação (fls. 36-39). Em ato contínuo, foi deferida a juntada de documentos apresentados por duas vezes a destempo pelo interessado (fls. 42-65 e 76-89). A SCI emitiu relatórios de análise de manifestação pela desaprovação das contas, uma vez que os documentos não sanaram todas as irregularidades (fls. 66-67 e 91-v.). Foram os autos com vista à Procuradoria Regional Eleitoral, que novamente exarou parecer pela desaprovação (fls. 70-74 e 94-96). É o relatório. 3
VO TO O candidato JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES apresentou sua prestação de contas relativas à arrecadação e ao dispêndio de valores durante a campanha ao pleito de 2014. O derradeiro relatório técnico de análise de manifestação apontou a seguinte irregularidade remanescente, não sanada (fl. 91-v.): Retomado o exame, restou pendente o seguinte apontamento, o qual não foi sanado pelo prestador e compromete a regularidade das contas apresentadas: 1 Quanto à receita financeira no montante de R$ 700,00, recebidas pelo candidato por meio de doação realizada pela Direção Municipal do PPS de Pelotas, em que o doador originário não foi informado, o candidato manifestou-se (fls. 79 à 82) e anexou declaração do Presidente do Diretório Municipal do PPS de Pelotas, listando os nomes dos doadores originários, CPFs e valores de suas contribuições (fl. 83), bem como a cópia do cheque n. 000641 no valor de R$ 700,00 (fl. 84) e cópia do extrato bancário relativo a essas movimentações (fl. 85). Em que pese a manifestação do prestador, constata-se que as informações apresentadas pelo mesmo não alteram o apontamento pertinente ao fato disposto no item B do Relatório de Análise de Manifestação (fls. 66/67), uma vez que não houve a retificação das informações consignadas na prestação de contas e a Direção Municipal do PPS de Pelotas não apresentou as Informações referentes a Eleição 2014 (arts. 64 e 65 TSE n. 23.406/2014), inviabilizando identificação da sua real fonte de financiamento. Sendo assim, permanece a irregularidade relativa à identificação dos doadores originários. Destarte, tecnicamente considera-se a importância de R$ 700,00 como recursos de origem não identificada que deverá ser transferida ao Tesouro Nacional, nos termos do art. 29 da Resolução TSE n. 23.406/2014. Por fim, cabe ressaltar que o saldo financeiro apurado na prestação de contas é zerado e, portanto, inferior ao montante de recursos apontado (R$ 700,00), o que indica que o candidato utilizou o recurso. (Grifei) Analisando a prestação de contas, verifico que a falha apontada pela SCI implica irregularidade grave que impede a identificação da real fonte dos recursos arrecadados, comprometendo a transparência e a confiabilidade das contas eleitorais, que, em consequência, devem ser desaprovadas, pois não há discriminação dos doadores originários de recursos auferidos. Em que pese a juntada de documentos pelo candidato, o art. 26, 3º, da Resolução TSE n. 23.406/2014 determina que os interessados identifiquem, nas suas Proc. PC 1444-89 Rel. Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro 4
prestações de contas, o CPF ou o CNPJ do doador originário de repasses feitos por partidos, comitês e campanhas de outros candidatos, emitindo-se o respectivo recibo eleitoral para cada doação, ainda que elas sejam provenientes de contribuições de filiados. Esse entendimento foi consolidado por este Tribunal no julgamento da Prestação de Contas n. 1698-62, na sessão de 03.12.2014, em acórdão de relatoria da Dra. Gisele Anne Vieira de Azambuja, que, por unanimidade, afastou a tese invocada pelo prestador atinente à desnecessidade de identificação dos filiados como doadores originários, cuja ementa transcrevo a seguir: Prestação de contas. Candidato. Arts. 20, I, 26, 3º e 29, todos da Resolução TSE n. 23.406/14. Eleições 2014. Persistência de irregularidade insanável, ainda que concedida mais de uma oportunidade para retificação dos dados informados. Arrecadação de recursos de origem não identificada. Valores recebidos mediante doações realizadas pelo comitê financeiro onde consta como doador originário o diretório estadual partidário. Necessidade da identificação da pessoa física da qual realmente procede o valor, ainda que o recurso seja proveniente de contribuição de filiado, já que a verba, quando repassada pelo partido político às campanhas eleitorais, assume a condição de doação. Previsão normativa determinando que o prestador indique o CPF ou CNPJ do doador originário dos repasses realizados por partidos, comitês e campanhas de outros candidatos. Inviável condicionar o exame das contas de candidato à análise da prestação de contas partidária. É imprescindível a consignação da real fonte de financiamento de campanha e seu devido registro no Sistema de Prestação de Contas SPCE, devendo o candidato declarar o nome do responsável pelo recurso repassado pelo partido ou comitê e empregado na campanha. Ausente a discriminação do doador originário, não há como se aferir a legitimidade do repasse, devendo o recurso de origem não identificada ser transferido ao Tesouro Nacional. Desaprova-se a prestação quando apresentada de forma a impossibilitar a fiscalização das fontes de recursos de campanha, comprometendo a sua transparência. Desaprovação. Portanto, diante da constatação de que os dados dos doadores originários são de conhecimento do prestador, tendo este Tribunal intimado o candidato em mais de uma oportunidade, alertando-o de que a falta de discriminação dos doadores originários, no Sistema SPCE e nos recibos eleitorais, acarretaria a desaprovação das contas pela caracterização de uso de recursos de origem não identificada, tenho que o descumprimento da Proc. PC 1444-89 Rel. Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro 5
norma não se deu por equívoco ou desconhecimento fortuito, mas por evidente e voluntária intenção de não informar os reais doadores originários do valor ou de não retificar as contas incluindo os dados correspondentes no SPCE. A falha importa a caracterização do valor irregularmente recebido pelo candidato como recurso de origem não identificada, na forma do art. 29, 1º, da Resolução TSE n. 23.406/2014, o qual não pode ser utilizado para o financiamento da campanha, devendo ser transferido ao Tesouro Nacional, em conformidade com o caput do referido artigo. Neste ponto, importa mencionar que esta Casa decidiu recentemente que, apesar de a Lei n. 13.165/2015 ter trazido norma que dispensa identificação do doador originário, não deve ser aplicada retroativamente, não alcançando situações pretéritas. Assim o julgado: Prestação de contas de candidato. Arrecadação e dispêndio de recursos de campanha. Resolução TSE n. 23.406/14. Eleições 2014.Arrecadação de recursos sem a emissão de recibo eleitoral; despesas com combustível sem o correspondente registro de locações, cessões de veículos ou publicidade com carro de som; divergências e inconsistências entre os dados dos fornecedores lançados na prestação de contas e as informações constantes na base de dados da Receita Federal; pagamentos em espécie sem a constituição do Fundo de Caixa; pagamento de despesa sem que o valor tivesse transitado na conta de campanha; inconsistência na identificação de doadororiginário.conjunto de falhas que comprometem a transparência e a regularidade da contabilidade apresentada. Entendimento deste Tribunal, no sentido da não retroatividade das novas regras estabelecidas pela Lei n. 13.165/2015, permanecendo hígida a eficácia dos dispositivos da Resolução TSE n. 23.406/2014. A ausência de discriminação do doador originário impossibilita a fiscalização das reais fontes de financiamento da campanha eleitoral, devendo o recurso de origem não identificada ser transferido ao Tesouro Nacional. Desaprovação. (PC 2066-71.2014.6.21.0000, de relatoria do Des. Paulo Afonso Brum Vaz, julgado em 20.10.2015.) (Grifei.) Diante do exposto, VOTO pela desaprovação da prestação de contas de JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES, fulcro no art. 54, inc. III, da Resolução TSE n. 23.406/2014, bem como determino a transferência ao Tesouro Nacional da importância de R$ 700,00 (setecentos reais), no prazo de até 05 dias após o trânsito em julgado da decisão, na forma do art. 54, inc. III, combinado com o art. 29, ambos da Resolução TSE n. 23.406/14. Proc. PC 1444-89 Rel. Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro 6
Anote-se esta determinação de modo que o valor seja transferido ao Tesouro Nacional uma única vez, evitando-se a repetição de recolhimento pelos mesmos fatos, ainda que em outros autos. Proc. PC 1444-89 Rel. Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro 7
EXTRATO DA ATA PRESTAÇÃO DE CONTAS - DE CANDIDATO Número único: CNJ 1444-89.2014.6.21.0000 Interessado(s): JOSÉ SIZENANDO DOS SANTOS LOPES, CARGO DEPUTADO ESTADUAL e Nº : 23123 (Adv(s) Paulo Renato Gomes Moraes) DECISÃO Por unanimidade, desaprovaram as contas e determinaram o recolhimento do valor de R$ 700,00 ao Tesouro Nacional. Des. Luiz Felipe Brasil Santos Presidente da Sessão Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro Relatora Participaram do julgamento os eminentes Des. Luiz Felipe Brasil Santos - presidente -, Desa. Liselena Schifino Robles Ribeiro, Dra. Gisele Anne Vieira de Azambuja, Dra. Maria de Lourdes Galvao Braccini de Gonzalez e Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz, bem como o douto representante da Procuradoria Regional Eleitoral. PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE 16/02/2016