AULA 6 24/03/11 A COMPETÊNCIA PENAL 1 A MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA A modificação da competência deve ser percebida como a mudança, a alteração, a variação, a transformação de uma certa competência em outra que dela difere. Lembremos que competência é gênero de duas espécies, quais sejam: a absoluta e a relativa. A competência absoluta (em razão da matéria e em razão da pessoa): é aquela concernente a matéria de ordem pública, não admite modificações e eventuais vícios podem ser alegados a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. Inexiste preclusão. A competência relativa (em razão do lugar): é aquela atinente a matéria outra que não de ordem pública, admite modificações e eventuais vícios não podem ser alegados a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição. Existe preclusão, qual seja a temporal. 2 A DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA A delegação de competência corresponde a transferência da competência de alguém para outrem. O juiz competente para julgar pode delegar alguns aos judiciais os não decisórios caso assim entenda necessário. A delegação dos atos judiciais ocorre por meio do sistema de cartas que vem constituído por três possibilidades: a carta de ordem (jurisdição distinta); a carta precatória (comarca distinta); e a carta rogatória (soberania distinta).
22 DIREITO PROCESSUAL PENAL 3 A PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA A prorrogação de competência consiste no adiamento, ampliação, dilatação, alongamento. Ocorre sempre que houver dois ou mais juízos competentes. Destaque-se que, o juiz que tem a sua competência prorrogada é dito prevento. 4 O DESAFORAMENTO O desaforamento é um incidente processual que consiste na troca do foro competente para outro foro até então não competente. O sobredito instituto encontra fulcro em duas premissas maiores, quais sejam: a imparcialidade do julgador e a segurança do réu. A imparcialidade do julgador: meditemos o caso Nardoni. Em se tratando de crime doloso contra a vida o julgamento se dá pelo tribunal do júri. A mídia contamina toda a população. Os jurados perdem a imparcialidade necessária ao julgador. O patrono roga pelo desaforamento: julgar no interior. A segurança do réu: consideremos uma comarca de uma pequena cidade interiorana. Na referida localidade, ocorre um crime hediondo. A população alvoroça-se contra o agente e muitos desejam velo efetivamente morto. Seu patrono pede pelo desaforamento: julgar na capital.
23 AULA 6 A COMPETÊNCIA PENAL 5 A COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR 5.1 A REGRA Segundo pede o Código de Processo Penal 1, é competente para processar e julgar o juízo do local no qual se deu a consumação da infração, ou, em caso de tentativa, do local no qual foi praticado o último ato de execução. Adota a teoria do resultado. Anote-se que, o Código Penal 2 adota a teoria mista ou da umbiguidade, segundo a qual se considera praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, bem como onde se produziu ou se deveria produzir o resultado. Destaque-se que, em se considerando este último diploma, somente haverá real utilidade em caso de ação e resultado ocorridos em soberanias distintas. Ademais, é geralmente no local 3 do resultado que se observa a disponibilidade de provas, bem como o impacto social. 5.2 AS EXCEÇÕES Local no qual se deu a infração desconhecido 4 : exemplificando, comenta-se a jovem que é abduzida tendo a cabeça envolta por um saco negro, jogada em um automóvel e levada ao incógnito local do estupro. É competente o domicílio ou residência do réu. 1 Código de Processo Penal do Brasil (1941): Art. 70 - A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. 1 o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. 2 o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado. 3 o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. 2 Código Penal do Brasil (1940): Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 3 Código de Processo Penal do Brasil (1941): Art. 69 - Determinará a competência jurisdicional: I - o lugar da infração: II - o domicílio ou residência do réu; III - a natureza da infração; IV - a distribuição; V - a conexão ou continência; VI - a prevenção; VII - a prerrogativa de função. 4 Ib.: Art. 72 - Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. 1 o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção. 2 o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.
24 DIREITO PROCESSUAL PENAL Note que, se o réu tiver mais de uma residência, a competência dar-se-á pela prevenção: é prevento o juízo que primeiro exercer ato processual. Por outro lado, se não tiver residência certa, será competente o que primeiro tomar conhecimento do fato. Crime de ação penal privada (somente se procedem mediante queixa ou pedido do ministro da justiça): o querelante ofendido ou representante legal pode promover a ação no local do delito ou no local do domicílio ou residência do réu. Optou, preclusão consumativa. 6 A COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA 6.1 A REGRA Em verdade é a competência em razão da natureza da infração (bem jurídico ofendido e quantidade de pena cominada em abstrato). Matéria militar foro militar; matéria eleitoral foro eleitoral; e matéria federal foro federal. 6.2 AS EXCEÇÕES Crime doloso contra a vida: a competência é do tribunal do júri. Destaque-se que, há dois tribunais do júri, quais sejam: o tribunal do júri estadual (crime em um único estado federado); e o tribunal do júri federal (crime em dois ou mais estados federados). Crime praticado por militar: a competência é da jurisdição penal militar. Destaque-se que, em se considerando a sobredita jurisdição, se observa duas espécies, quais sejam a jurisdição penal militar da União e a jurisdição penal militar do estado. Crime contra a vida praticado por militar: sendo o crime culposo a competência será da justiça militar; por outro lado, sendo o crime doloso a competência será da justiça estadual. A medida objetiva fugir ao corporativismo. Abuso de autoridade por policial militar: diferentemente daquilo que naturalmente se esperaria competência da justiça militar aqui, a competência caberá a justiça estadual. Novamente, a medida tem por escopo evitar o corporativismo.
25 AULA 6 A COMPETÊNCIA PENAL Crime contra bens, interesses ou serviços da União: depende da espécie de delito. Em se tratando de crime a competência será da justiça federal 5 ; por outro lado, em se tratando de contravenção penal a competência caberá a justiça estadual 6. Crime praticado por indígena ou contra indígena: em se considerando que a União é responsável pela política pública do indígena, seria de se esperar que a competência em tela coubesse Á União. Entretanto, a competência é estadual 7. Crime contra sociedade de economia mista: a sociedade de economia mista é aquela que tem capital de entes distintos. Sendo um destes a União, seria de esperar-se que a competência em apreço coubesse a mesma. Todavia, caberá à justiça estadual 8. Crime contra o Banco do Brasil: os crimes praticados contra o Banco do Brasil são de competência da justiça federal; por outro lado, aponta-se que, os crimes praticados contra uma agência do sobredito banco serão de competência da justiça estadual. Falsa anotação em carteira do trabalho e previdência social: embora sejam assuntos concernentes ao direito federal, a competência, diferentemente do que se imaginaria federal caberá a justiça estadual. Falsificação de título de eleitor: a falsificação de documento público é sempre da competência da justiça estadual, salvo uma única exceção, qual seja, a falsificação do título de eleitor cuja competência cabe a justiça federal. 5 Constituição da República Federativa do Brasil (1988): Art. 109 - Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; [...]. 6 Superior Tribunal de Justiça: Súmula n. 38 - Compete a justiça estadual comum, na vigência da constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades. 7 Ib.: Súmula n. 140 - Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. 8 Op. cit.: Súmula n. 42 - Compete a justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que e parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
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