FEITO PGT/CCR/PP/Nº 11423/2011 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 21ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: Auto Escola J E M Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): OUTROS TEMAS 08.09. Procurador oficiante: Aroldo Teixeira Dantas CONSTATAÇÃO, POR MEIO DE AÇÃO FISCALIZATÓRIA, DE IRREGULARIDADES ENVOLVENDO A EMPRESA INVESTIGADA. NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DAS INVESTIGAÇÕES. PELA NÃO HOMOLOGAÇÃO. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado em razão de denúncia sigilosa em face da empresa Auto Escola J E M Ltda. nos seguintes termos: que a empresa denunciada efetua o pagamento dos salários condutores por hora/aula e semanalmente; que normalmente há atraso no pagamento dos salários; que o pagamento do 13º salário sempre atrasa; que há professores que ainda não receberam o 13º salário; que os contracheques não retratam os valores pagos, nem discriminam as verbas pagas e descontadas; que a anotação na CTPS diverge dos valores 1
FEITO PGT/CCR/PP/Nº 11423/2011 efetivamente pagos; que há registro de ponto conectado ao DETRAN, mas que há necessidade de manipulação dos dados da jornada de trabalho; que não fornece os valestransporte referentes ao intervalo intrajornada. O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento deste feito sob os seguintes fundamentos (fls. 47/50), verbis: O objeto do presente procedimento, segundo consta do relatório apresentado pela fiscalização, restou parcialmente comprovado, tendo a empresa regularizado, em parte, sob ação fiscal, o que apontado como irregular. Entendemos que tal contexto fático, como delineado nos autos, refletindo microcosmo trabalhista contemplando labor de apenas 6 (seis) empregados, não demanda a continuidade da atuação ministerial. Observe-se, por absolutamente pertinente,a conclusão do relatório da fiscalização trabalhista que assim aduz: Por fim, informa-se que o empregador empresa de modesto porte recebeu da auditoria fiscal escalrecimentos e orientações quanto às suas obrigações trabalhistas, tendo sido alertado a observar os direitos de seus empregados. Nesses casos, nos convencemos que a presena da fiscalização na empresa, orientando e ao final, se necessário, procedendo autuações pontuais, se mostra suficiente à indução da conduta de retorno à legalidade, não remanescendo, assim, violação a direito indisponível ou interesse social, qualificado por natureza ou extensão que ensejem relevância a fundamentar e justificar a continuidade do presente feito. autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. 2
FEITO PGT/CCR/PP/Nº 8227/2011 VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Examinando o feito, o ilustre colega promotor do arquivamento em tela, embasa-no ao argumento de que: a presença da fiscalização na empresa, orientando e ao final, se necessário, procedendo autuações pontuais, se mostra suficiente à indução da conduta de retorno à legalidade, não remanescendo, assim, violação a direito indisponível ou interesse social, qualificado por natureza ou extensão que ensejem relevância a fundamentar e justificar a continuidade do presente feito. Entendo, com a devida vênia, não ser caso de homologação do arquivamento firmado nestes autos, uma vez que o relatório de fiscalização às fls. 27/28 aponta para as seguintes irregularidades: (pagamento de salários sem formalizar devidamente os recibos (desprovidos de data); atraso no recolhimento do FGTS e não elaboração do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)) que não foram objeto de investigação pelo d. Órgão oficiante, o que impõe o prosseguimento persecutório ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Os elementos colhidos nestes autos contêm dados que possibilitam o manejo de diligências investigatórias no intuito de satisfazer, por completo, o objeto deste procedimento, averiguando todas as 3
irregularidades apontadas pela fiscalização empreendida pela SRTE/RN, as quais reclamam, de pronto, a atuação ministerial. Ditas irregularidades exprimem manifesta gravidade no âmbito das relações de trabalho e legitimam o Ministério Público do Trabalho a agir. No que pertine à mora fundiária, temos que lesão perpetrada pela empregadora em cada uma das contas FGTS de seus empregados passa a contribuir para a macro-lesão do sistema fundiário como um todo, pois que o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, segundo as Leis nº 8.036/90 e 8.844/94 tem seu fundo geral gestionado para vários fins de interesse público ou geral, como garantia em caso de desemprego, aquisição ou amortização de financiamentos para a casa própria, instalação de negócio próprio, etc., que restam afetadas na medida em que sonegados os recolhimentos devidos sobre cada conta individual vinculada. A própria Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho, em voto relator da Excelentíssima Senhora Subprocuradora-Geral do Trabalho e Membro da CCR/MPT, Dra. Lucinea Alves Ocampos, nos autos do Processo PGT/CCR/PP nº 918/2010, entende pela legitimidade do Ministério Público do Trabalho para apuração de casos concernentes ao não recolhimento do FGTS, ad litteram: 4
Origem: Rep 1270/2005 PRT/ 1ª Região Volta Redonda/RJ Procurador oficiante: Marco Antonio Sevidanes da Matta Interessado: Evandro José de Macedo Assunto: Sonegação FGTS EMENTA: Não recolhimento do FGTS. Legitimidade do MPT. Precedentes da CCR. Pela não homologação do arquivamento. I RELATÓRIO O presente feito foi instaurado a partir de denúncia sigilosa noticiando o não recolhimento do FGTS por parte de Evandro José de Macedo. O douto Procurador oficiante, Dr. Marco Antonio Sevidanes da Matta, propôs o arquivamento do feito, assim se posicionando (fl. 20): Trata-se de Representação instaurada em face de Evandro José de Macedo, que tem o escopo de apurar supostos ilícitos praticados no que concerne à falta de recolhimento de FGTS. Com relação a esse ponto, não tem o Ministério Público do Trabalho atribuição para presidir o procedimento investigatório em questão. Isso porque o atraso de recolhimento de contribuições fundiárias é matéria atinente às funções do Ministério do Trabalho e Emprego, consoante o disposto no art. 23, caput, da Lei nº 8.036/90. Assim, considero que deve ser a presente investigação arquivada. É o sucinto relatório. II VOTO Com a máxima vênia do douto Procurador oficiante, entendo que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para atuar nos casos relacionados ao não recolhimento do FGTS. De acordo com a Lei nº 8.844, de 20.01.94, compete ao Ministério do Trabalho a fiscalização e a apuração das contribuições relativas ao FGTS e à Procuradoria da Fazenda Nacional a inscrição em Dívida Ativa dos débitos para com o referido fundo (arts. 1º, 2º). 5
Prescreve ainda que a Caixa Econômica Federal e a rede arrecadadora prestarão ao Ministério do Trabalho as informações necessárias ao desempenho das funções. Todavia, a atuação dos órgãos supramencionados (CEF, Ministério do Trabalho e Procuradoria da Fazenda Nacional) não obstaculiza a intervenção deste Ministério Público do Trabalho, pois aqueles atuam quanto aos débitos passados e o Parquet laboral em relação ao futuro, evitando que a irregularidade continue a ser perpetrada. Neste sentido vem se posicionando a Câmara de Coordenação e Revisão (Precedentes: PGT/CCR/ nº 4313/2009; PGT/CCR/ nº 10280/2009; PGT/CCR/ nº 11189/2009; PGT/CCR/ nº 11327/2009). Mais recentemente o colendo TST, por meio de sua Subseção de Dissídios Individuais I, reconheceu a legitimidade ao MPT para ajuizar ação civil pública visando à obrigação de empresas de recolher o FGTS, restando destacado pelo Ministro Vieira de Mello Filho a ambivalência do FGTS, que por um lado é um tributo e uma contribuição social, mas, por outro, é uma espécie e parasalário que garante a subsistência do trabalhador em caso de perda do emprego. Não há, pois, mais dúvidas quanto à legitimidade do Parquet laboral para atuar nos casos relacionados ao não recolhimento do FGTS. Com base na fundamentação supra, não homologo o arquivamento proposto. FEITO PGT/CCR/PP/Nº 8227/2011 III CONCLUSÃO Com base na fundamentação supra, voto pela não homologação do arquivamento proposto, com o imediato retorno dos autos à PRT de origem, devendo ser observada, no que tange à designação de Membro para atuar no feito, a praxe adotada pela Regional. Brasília/DF, 10 de fevereiro de 2010. Lucinea Alves Ocampos Membro da CCR Relatora (grifos originais) Quanto à assertiva de que o órgão fiscalizador é instrumento eficaz de repressão à conduta tida por ilegal, tenho que tal 6
FEITO PGT/CCR/PP/Nº 11497/2011 conclusão, por mais correta que possa parecer, não retira a competência do MPT e a conveniência para agir em casos tais. Logo, ainda que caiba à DRT-MTE a fiscalização de estabelecimentos e/ou instituições quanto à provável ocorrência de ilícitos trabalhistas, não menos certo é que compete ao MPT a defesa da ordem jurídica e dos direitos e/ou interesses tuteláveis na forma dos arts. 127 e 129 da Carta Constitucional brasileira. A ausência de mais apurada investigação neste feito não autoriza o seu precoce arquivamento, e, muito menos a superveniente homologação. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a proposta de arquivamento ora em revisão. Retornem os presentes autos à PRT de origem para as providências cabíveis. Brasília, 20 de setembro de 2011. 7
VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR - RELATORA 8