INFLUÊNCIA DE INIBIDORES NO PROCESSO DE FERMENTAÇÃO ETANÓLICA DE XILOSE POR PACHYSOLEN TANNOPHILUS

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DE INIBIDORES NO PROCESSO DE FERMENTAÇÃO ETANÓLICA DE XILOSE POR PACHYSOLEN TANNOPHILUS A. S. SILVA 1, A. M. OLIVEIRA Jr 1 e A. K. S. ABUD 1 1 Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Tecnologia de Alimentos E-mail para contato: ana.abud@gmail.com RESUMO Nos processos de produção de etanol de segunda geração fazem-se necessárias etapas de pré-tratamento para a quebra da lignina e da hemicelulose, redução da cristalinidade da celulose e aumento da porosidade da biomassa. Estes pré-tratamentos liberam não apenas hexoses, mas também pentoses e outros açúcares, além de inibidores. Avalia-se neste trabalho o efeito dos inibidores ácido acético, furfural e hidroximetilfurfural na cinética de produção de etanol pela levedura Pachysolen tannophilus, à temperatura ambiente, durante 120 h, tendo como substrato a xilose comercial. A adição de hidroximetilfurfural não influenciou o processo fermentativo e, apesar de geração de biomassa inferior ao processo sem adição de inibidores, foi a que obteve maior eficiência na conversão de xilose a etanol (22,9%). Os resultados mostraram que a levedura Pachysolen tannophilus é inibida pela presença de ácido acético e furfural, indicando que a levedura pode não ser eficiente em amostras de pré-tratamento da biomassa lignocelulósica que contenham uma mistura destes inibidores. 1. INTRODUÇÃO A demanda brasileira e mundial por combustíveis renováveis tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, tanto por questões econômicas (alto preço dos combustíveis fósseis) quanto por socioambientais, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global (Demirbas, 2005 citado por Cabral et al., 2009). Para suprir esta demanda, buscam-se processos industriais economicamente viáveis e sustentáveis, sendo um dos focos de intensa pesquisa e desenvolvimento os processos de produção de bioetanol a partir de biomassas alternativas, a exemplo do material lignocelulósico, que somente no Brasil totaliza 350 milhões de toneladas por ano e englobam resíduos agroindustriais, lixo urbano, resíduos florestais, entre outros, participando em aproximadamente 50% da biomassa terrestre (Ballesteros, 2001; Pereira Jr, 2007; Hayes, 2009). A biomassa lignocelulósica é constituída de celulose, hemicelulose e lignina que, quando hidrolisados, disponibilizam uma fração de hexoses resultante da celulose, facilmente fermentescível, e uma fração de pentoses, resultante das hemiceluloses, que são carboidratos não diretamente fermentescíveis pelas leveduras industriais, tradicionalmente utilizadas na conversão de bioetanol Área temática: Processos Biotecnológicos 1

(Machado, 2013). As hemiceluloses são heteropolímeros de pentoses e hexoses e a hidrólise das hemiceluloses fornece, principalmente, pentoses, onde a xilose é o açúcar predominante, compreendendo 20 a 40% do total de carboidratos dos resíduos agrícolas (Gírio et al., 2010; Moraes et al., 2010). Para a utilização eficaz da biomassa lignocelulósica, não se deve levar em conta apenas a fermentação de hexoses, mas, também, a de pentoses, atualmente considerado um dos desafios mais importantes a ser resolvido no âmbito científico e tecnológico (Gírio et al., 2010; Rossell, 2008; Silva et al., 2011). Diferentes espécies de leveduras e microrganismos geneticamente modificados têm sido analisadas para a produção de etanol, com rendimento suficiente para tornar o processo economicamente atrativo (Fugita, 2010; Almeida, 2011), destacando-se as leveduras Pichia stipitis, Candida shehatae e Pachysolen tannophilus e as bactérias Zymomonas mobilis e Escherichia coli, cada uma apresentando seus aspectos positivos e negativos na produção de bioetanol (Gírio et al., 2010; Machado, 2013). De acordo com Zhao et al. (2008), a levedura Pachysolen tannophilus é um dos maiores produtores de etanol a partir de xilose, apesar de não tolerar altas concentrações deste produto. A fermentação contendo mistura de glicose e xilose mostra a preferência da levedura pela hexose, enquanto que na fermentação apenas com xilose observa-se maior formação de biomassa e menor produção de etanol. Em estratos do pré-tratamento da biomassa lignocelulósica, a fermentação costuma ser lenta e de baixo rendimento, o que provavelmente deve estar relacionado à baixa resistência dos microrganismos a altas concentrações de etanol, além de haver a geração de vários co-produtos, tais como ácido acético e ácido lático, considerados produtos de degradação. Além destes, o ácido fórmico, o furfural, o hidroximetilfurfural e fenóis podem, também, ser produzidos durante o processo, inibindo a fermentação e afetando o rendimento de produção do etanol, devendo, assim, serem removidos ou suavizados (Fugita, 2010). Este trabalho analisa a influência dos principais inibidores formados no pré-tratamento da biomassa lignocelulósica, ácido acético, furfural e hidroximetilfurfural, no processo de fermentação etanólica em meio sintético, com a levedura Pachysolen tannophilus, contendo xilose única fonte de carboidrato. 2. METODOLOGIA 2.1. Microrganismo e inóculo Utilizou-se nos experimentos a levedura Pachysolen tannophilus NRRL Y-2460, gentilmente cedida pela Embrapa Agroenergia. A manutenção da linhagem foi realizada a partir de repiques contínuos em meio YPX (20 g/l de extrato de levedura; 10 g/l de peptona e 20 g/l de xilose), sendo a cultura mantida em tubo inclinado contendo meio YPXA (20 g/l de extrato de levedura; 10 g/l de peptona; 20 g/l de xilose e 20 g/l de ágar bacteriológico). Área temática: Processos Biotecnológicos 2

O meio de cultura sintético foi composto por 20 g/l xilose, 3 g/l extrato de levedura, 5 g/l peptona bacteriológica, 1 g/l sulfato de magnésio (MgSO 4 ), 5 g/l fosfato de potássio monobásico (KH 2 PO 4 ) e 3 g/l sulfato de amônio [(NH 4 ) 2 SO 4 ]. O ph do foi corrigido para 4,5 e, em seguida, esterilizado em autoclave à 121º e 1 atm por 15 min, sendo a xilose esterilizada em separado. Para o preparo do inóculo, alçadas da levedura foram transferidas assepticamente para frasco Erlenmeyer de 500 ml contendo 250 ml de meio de cultura e incubado à temperatura ambiente e sob agitação de 150 rpm por 24 h (fase exponencial de crescimento). Depois deste tempo, foi realizada a contagem de células em câmara de Neubauer para determinar o volume necessário para inocular 2.10 7 cél/ml. Com o volume definido, as células foram recuperadas por centrifugação a 3750 rpm e 10 min, sendo posteriormente ressuspensas no meio de fermentação. 2.2. Processo fermentativo Para os testes fermentativos foi utilizado o meio contendo 20 g/l xilose; 3 g/l extrato de levedura; 5 g/l peptona bacteriológica; 1 g/l sulfato de magnésio (MgSO 4 ); 5 g/l fosfato de potássio monobásico (KH 2 PO 4 ); 3 g/l sulfato de amônio [(NH 4 ) 2 SO 4 ]. Para o teste de inibição foram adicionadas quantidades determinadas dos inibidores ácido acético (1,75 g/l), furfural (1,25 g/l) e hidroximetil furfural (0,40 g/l). O ph do meio foi ajustado para 4,5, com solução de ácido sulfúrico 1,5 M ou hidróxido de sódio 2 M. Os experimentos foram conduzidos frascos Erlenmeyer de 250 ml, à temperatura ambiente por 120 h, sem controle de ph. Durante os experimentos, amostras foram retiradas a cada 24 h para determinação do crescimento celular, consumo de xilose e produção de etanol. As fermentações foram realizadas em duplicata. 2.3. Determinações analíticas O acompanhamento do crescimento celular foi feito através da medida de absorbância a 600 nm, tendo água destilada como branco. Os valores de concentração foram calculados através de equação de curva de calibração entre o peso e a absorbância. A concentração de xilose foi determinada pelo método colorimétrico do ácido 3,5-dinitrossalicílico (DNS), após fervura por 5 min e leitura em espectrofotômetro a 540 nm, de acordo com metodologia proposta por Miller (1959), tendo como curva padrão soluções de concentração conhecida de xilose. A concentração de etanol foi determinada por cromatografia gasosa, em detector de ionização de chama (FID), com coluna Restek RT-Q-Bond, isoterma a 150 C, injeção split 60 ml/min, temperatura do injetor e do detetor a 250 C e tempo de análise de 3 min. As medidas foram realizadas em triplicata. Para avaliar a influência da inibição da levedura em estudo pela presença dos inibidores, foram calculados o rendimento em etanol (Y P/S, g/g), definido pela razão entre a concentração de etanol (g/l) e a xilose consumida (g/l), a conversão de substrato em células (Y X/S, g/g), como a razão entre a variação do crescimento celular e a xilose consumida, a produtividade em etanol (Q P, g/l.h), pela razão entre a variação máxima da concentração de etanol (g/l) e o tempo desta fermentação Área temática: Processos Biotecnológicos 3

Etanol (g/l) Concentração celular (g/l) Xilose (g/l) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para entender o comportamento da levedura frente à presença dos principais inibidores do prétratamento da biomassa lignocelulósica, do qual se extrai a hemicelulose, foram realizados estudos de fermentação em xilose comercial na ausência, na mistura e na presença de cada inibidor, cuja concentração foi definida com base em experimentos conduzidos por García-Cubero et al. (2011) com a levedura Pichia stipitis. Os perfis das cinéticas de fermentação são apresentados na Figura 1. Pode-se observar que a Pachysolen tannophilus se mostrou capaz de crescer na presença apenas do hidroximetilfurfural (HMF), gerando produção máxima de etanol. A adição de ácido acético (HAc) inibiu o processo fermentativo, não chegando a consumir metade da xilose adicionada. A adição de furfural (F) inibiu o crescimento nas primeiras 96 h de fermentação, ainda que praticamente toda a xilose fosse consumida. O processo sem adição de inibidores apresentou maior formação de biomassa, porém produção de etanol inferior ao processo com adição de HMF. 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 HAc F HMF Controle 0 20 40 60 80 100 120 140 Tempo (h) 1,6 1,4 HAc F 1,2 HMF 1,0 Controle 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 20 40 60 80 100 120 140 Tempo (h) 16,0 14,0 HAc F HMF Controle 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 0 20 40 60 80 100 120 140 Tempo (h) Figura 1 Comportamento cinético das variáveis de fermentação. A Tabela 1 apresenta as variações de crescimento celular (ΔX), consumo de substrato (ΔS) e produção de etanol (ΔP) após 120 h de fermentação, bem como os valores encontrados para os parâmetros Y P/S, Y X/S, μ max, Q P e eficiência da conversão de xilose à etanol (η%), utilizando-se 0,511 Área temática: Processos Biotecnológicos 4

g/g como valor teórico da conversão de açúcar em etanol. Tabela 1 Parâmetros cinéticos e de conversão obtidos nos ensaios realizados. ΔX (g/l) ΔS (g/l) ΔP (g/l) Y X/S (g/g) Y P/S (g/g) μ max (h -1 ) Q X (g/l.h) Q P (g/l.h) η (%) Controle 2,67 12,10 1,23 0,220 0,101 0,028 0,022 0,010 19,82 HAc 0,09 6,75 0,26 0,013 0,038 0,004 0,001 0,002 7,53 F 0,43 12,34 0,29 0,035 0,024 0,006 0,004 0,002 4,62 HMF 1,48 12,74 1,49 0,116 0,117 0,020 0,002 0,012 22,90 A maior conversão de xilose em células (Y X/S ) ocorreu nos experimentos sem adição de inibidores (0,22 g/g), tendo a adição de HMF um efeito 50% inferior. Avaliando-se a produtividade de biomassa, o experimento controle (0,022 g/l.h) obteve resultados semelhantes ao encontrado por Sánchez et al. (2002) com 25 g/l de xilose (0,023 g/l.h). Nos ensaios sem adição de inibidores (controle) e com adição de HMF foram obtidos rendimentos em etanol em torno de 10%, resultados próximos ao encontrado por Sánchez et al. (2002) (9,4%), enquanto que com a adição de furfural e ácido acético não se chegou a 4%. Todavia, a produtividade em etanol foi significativamente inferior, mostrando eficiências de conversão da xilose em etanol abaixo de 23%. Os valores da determinação da velocidade específica máxima de crescimento (μ max ) foram obtidos pelo ajuste linear dos valores experimentais de ln (X/X 0 ) em função do tempo. Esta determinação permitiu comprovar a inibição do processo pela adição ácido acético e de furfural, além de verificar no experimento controle e com adição de HMF taxas de crescimento de 0,03 e 0,02 h -1, respectivamente. Os resultados mostram que a levedura Pachysolen tannophilus é inibida pela presença de ácido acético e furfural, indicando que o microrganismo pode não ser eficiente em amostras de prétratamento da biomassa lignocelulósica, em especial oriundas de pré-tratamento químico, que contêm uma mistura destes inibidores. 4. CONCLUSÕES A levedura Pachysolen tannophilus se mostrou capaz de crescer na presença isolada hidrozimetilfurfural, mas apresentou inibição quase que completa na presença de ácido acético e de furfural. A presença apenas de hidroximetilfurfural, na concentração de 0,40 g/l, mostrou efeito positivo na fermentação etanólica, gerando maior eficiência do processo fermentativo (22,9%). A influência dos principais inibidores obtidos do pré-tratamento químico da biomassa lignocelulósica indicam que esta levedura pode não ser o microrganismo adequado para a produção de etanol de segunda geração. Área temática: Processos Biotecnológicos 5

5. AGRADECIMENTOS À Embrapa Agroenergia, pelo auxílio à pesquisa e doação da levedura. 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. R. M.; FÁVARO, L. C. L. Leveduras para produção de etanol de sorgo sacarino. Agroenergia em Revista, ed. 3, ago. 2011. BALLESTEROS, M. Estado del desarrollo tecnológico del aprovechamiento de biomasa: biocombustibles para el sector del transporte. Energía, v.161, p. 29-34, 2001. CABRAL, J.C.A.; SILVA, J.P.A.; ROBERTO, I.C. Influência do ph na produção de etanol por Pichia stipitis. In: Encontro Latino Americano de Pós-Graduação, 9º, 2005, Lorena-SP. DEMIRBAS, A. Bioethanol from cellulosic materials: a renewable motor fuel from biomass. Energy Sources, v. 27, p. 327-337, 2005. FUGITA, T. Desempenho de leveduras que metabolizam xilose para produção de etanol em hidrolisado hemicelulósico de bagaço de cana. 2010. Dissertação (Mestrado em Microbiologia) - Universidade Estadual Paulista. GARCÍA-CUBERO, M. T.; BELLIDO, C.; BOLADO, S.; COCA, M.; LUCAS, S.; GONZÁLEZ- BENITO, G. Effect of inhibitors formed during wheat straw pretreatment on ethanol fermentation by Pichia stipitis. Bioresource Technology, v. 102, p. 10868-10874, 2011. GÍRIO, F. M.; FONSECA, C; CARVALHEIRO, F.; DUARTE, L. C.; MARQUES, S. BOGEL- LUKASIK, R. Hemicelluloses for fuel ethanol: a review. Bioresource Technology, Oxon, v. 101, n. 13, p. 4775-4800, 2010. HAYES, D. J. An examination of biorefining processes, catalysts and challenges. Catalysis Today, v; 145, p. 138-151, 2009. MACHADO, C. M. M. Microrganismos na produção de biocombustíveis líquidos. Editora Técnica. Brasília DF. Embrapa, 2013. 319 p. MILLER, G. L., Use of dinitrosalicylic acid reagent for determination of reducing sugar. Analytical Chemistry, v.31, n. 3, p. 426-428, 1959. MORAES, D. C.; MURARI, C. S.; AQUINO, P. L. M.; BUENO, G. F.; DEL BIANCHI, V. L. Avaliação da fermentação aeróbia para produção de etanol a partir da xilose por linhagens de leveduras isoladas da casca de uva (Vitis spp). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, v. 15, n. 2, p. 117-122, 2013. MORAES, D. C.; PEREZ, C. A.; DORTA, C. Seleção de microrganismos fermentadores de xilose. Revista Analytica, ano 8, n. 47, p. 59-67, jun/jul 2010. PEREIRA Jr., N. Biomassas residuais de composição lignocelulósica para a produção de etanol e o contexto de refinaria, 2007. ROSSELL, C.E.V. Evolução tecnológica da produção de etanol. Expectativas futuras: destilarias Área temática: Processos Biotecnológicos 6

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