SANÇÕES ADMINISTRATIVAS ESTABELECIDAS PELO REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS RDC

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Transcrição:

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS ESTABELECIDAS PELO REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS RDC 1. Introdução Juliane Erthal de Carvalho Advogada de Justen, Pereira, Oliveira e Talamini A Lei n 12.462/2011, que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas, não apresenta maiores inovações sobre o tema das sanções administrativas. Mas, como se verá, o novo regime simplifica algumas questões consideradas polêmicas. 2. A disciplina das sanções administrativas: art. 47 da Lei n 12.462 O art. 47 do RDC dispõe basicamente sobre as situações que ensejam o impedimento de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios durante o prazo de até cinco anos. Também prevê a possibilidade de aplicação de multa. Com isso, basicamente repete a redação do art. 7 da Lei n 10.520, que instituiu o pregão - de modo a elencar os aspectos primordiais do regime sancionatório e facilitar a aplicação prática da sanção. 2.1. Impedimento de contratar com a Administração Pública No art. 47, caput, há previsão de impedimento de contratar com a Administração Pública que não se restringe a hipótese de inexecução contratual, tal como previsto na Lei n 8.666 para a penalidade de suspensão do direito de licitar. O art. 47 estende a sanção para outros casos: não celebração do contrato, ausência de apresentação de documentação exigida ou documentação falsa, retardamento na execução do objeto ou entrega do objeto ausente de justificação plausível, modificação da proposta sem motivo superveniente, comportamento inidôneo, fraude fiscal, inexecução total ou parcial do objeto. Essa estrutura se amolda ao RDC, cujo procedimento é mais simplificado em relação ao da Lei n 8.666. Isso evita, por exemplo, a diferenciação entre casos suspensão e declaração de inidoneidade ocorrendo uma das hipóteses do art. 47 da Lei do RDC, a sanção será o impedimento. Ademais, evita que condutas graves, como fraude à licitação, deixem de ser causa de impedimento a licitar e contratar. 2.1.1. Impedimento e declaração de inidoneidade impostos pelo TCU Note-se que, mesmo para o regime geral da lei de licitações e contratos administrativos, o particular que fraudar uma licitação não deixa de ficar sujeito à sanção de impedimento de licitar e contratar. Contudo, essa imposição não decorre da Lei n 8.666, mas da previsão contida no art. 46 da Lei n 8.443/92

(Lei Orgânica do TCU): Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal. A regra também vale para o RDC. A sanção por fraude à licitação poderá pode ser aplicada pela Administração (Lei n 12.462) ou pelo TCU, com base em sua Lei Orgânica - apenas nos caso em que a Administração ainda não a tiver aplicado. Afinal, não se deve admitir o duplo sancionamento. 2.1.2. A amplitude do impedimento No que diz respeito ao âmbito de eficácia da sanção, o caput do art. 47 estabelece que o particular Ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, pelo prazo de até 5 (cinco) anos.... A conjunção ou empregada deve ser compreendida em sua função de alternatividade. Partindo-se do princípio de que a Lei n 12.462 não estabeleceu distinção entre as figuras da suspensão do direito de licitar e da declaração de inidoneidade para contratar, tal como ocorre no regime da Lei n 8.666, não parece haver razão para que se restrinja o direito de licitar e contratar com outras esferas além daquela que aplicou a sanção. O entendimento contrário representaria um sancionamento não previsto em lei. Ao definir que o impedimento terá prazo máximo de cinco anos, conferiu-se maior rigor na punição se comparado com o regime da Lei n 8.666, que fixa em dois anos o prazo da suspensão do direito de licitar o que certamente se deve à importância dos objetos a serem licitados e posteriormente contratados no âmbito do RDC. 2.1.3. Necessidade de motivação É imprescindível que exista motivação na decisão de impedimento em licitar e contratar, dada a gravidade dos efeitos decorrentes dessa decisão. Faz-se necessário que a decisão esteja embasada em uma previsão legal e não em mero ato de liberalidade do administrador. Além disso, deve-se cotejar a gravidade do ilícito praticado e as consequências da sanção para que a solução adotada pela Administração seja proporcional e mais benéfica ao atendimento dos interesses coletivos que estiverem em causa. 2.2. Inexecução total ou parcial do contrato A inexecução total ou parcial do contrato é conduta grave, que fere diretamente os interesses coletivos a que a contratação pretende atender. Não apenas porque deixa de satisfazê-los, mas porque, em muitos casos, enseja adicionalmente o desperdício de recursos públicos. É preciso que o contrato preveja de forma bem detalhada todas as sanções aplicáveis. Ademais, o contratado somente poderá ser sancionado nos casos que esteja adstrito a conduta exigível diante das condições normais que foram contratadas. Nos casos em que ocorrerem circunstâncias alheias à vontade do contratado e que sejam imprevisíveis, não há como se imputar sanção. 2.2.1. A necessidade de respeito ao devido processo legal A sanção só será válida e atingirá o fim de proteção dos interesses coletivos caso derive de processo administrativo, a despeito de a Lei n 12.462 não ter explicitado a exigência de defesa prévia para o sancionamento. O devido processo deve ser respeitado na sua plenitude, por força da CF/88 (art. 5, incs. LIV e LV) e da Lei n 8.666 (art. 87, caput). Deve-se garantir a manifestação do particular antes da imposição de qualquer sanção.

É indefensável o entendimento contrário, pois representaria notório retrocesso na relação da Administração com os particulares, que cada vez mais tem se desenvolvido na linha da colaboração e da consensualidade. A composição de interesses contrapostos tem se dado pela via do diálogo e da interação entre o ente público e o privado e não da imposição autoritária. 2.3. O atraso na execução do objeto licitado O atraso na execução do contrato na Lei n 8.666 é sancionado com multa e eventualmente com a rescisão contratual. O novo regime é mais severo nesse ponto, pois impõe a sanção de impedimento de contratar. Isso tem por objetivo atribuir eficácia à tempestividade da execução das contratações do RDC. Porém, é preciso ter em vista que o atraso na execução do objeto precisa ter sido provocado por conduta praticada pelo particular, que não seja justificável, pois fatos alheios à sua vontade não podem dar azo ao seu sancionamento. 2.4. A recusa em celebrar o contrato O adjudicatário que se recusar a celebrar contrato, durante o prazo de validade da proposta, incidirá na previsão do art. 47, inc. I, da Lei nº 12.462, ficando sujeito à sanção de impedimento de contratar com a Administração. Tal regra vale inclusive para aqueles que forem chamados posteriormente, nos termos do parágrafo único do art. 40 e do art. 41. Mas nos casos em que existirem motivos supervenientes, como força maior ou caso fortuito, por exemplo, deve-se mitigar tal regra. Todavia, essa possibilidade não pode ser utilizada como forma de proteger o particular faltoso, nem mesmo para justificar aquele particular que está receoso do futuro adimplemento por parte da Administração. Esse é um risco inerente a todas as contratações, não apenas no âmbito do direito público. Portanto, é necessário aferir tal situação antes de ser apresentada a proposta. 2.5. Impossibilidade de alteração da proposta A alteração da proposta do licitante poderá impactar na previsão orçamentária, visto que no momento de escolha da proposta é feita a análise do valor apresentado e a ponderação desse valor com os recursos existentes. Assim, a modificação no valor poderá implicar no aumento de encargos, que podem levar inclusive à inviabilidade da contratação. A previsão de impossibilidade de alteração da proposta visa também a resguardar a atuação do administrador público em consonância com o planejamento econômico-financeiro previsto nas leis orçamentárias, para que ao longo do exercício de suas atribuições possa atuar de maneira mais eficiente na realização das políticas públicas. Até porque não há como serem realizadas as necessidades coletivas mais básicas sem planejamento e observância das prioridades. Ademais, isso poderia prejudicar a isonomia entre os licitantes em uma licitação por menor preço, por exemplo, haja vista que o licitante foi escolhido dentre os demais tendo por base um critério de valoração das propostas apresentadas. 2.6. Problemas com a documentação exigida A falta de qualquer documento não pode levar à aplicação de sanção tão grave como o impedimento de licitar e contratar com a Administração Pública. Assim, a redação do inciso II do art. 47 é falha, pois deveria ter dimensionado a necessidade de dano ou prejuízo para a Administração Pública e não apenas

mencionar a ausência de documentação exigida. Contudo, uma interpretação ponderada não pode se furtar a essa constatação. 2.7. Fraude à licitação ou à execução do contrato: art. 47, inc. V A fraude à licitação ou à execução do contrato consiste em conduta grave, visto que objetiva aparentar uma situação que em verdade não existe. Existe evidente má-fé por parte daquele que se utiliza de artifícios para burlar o certame licitatório ou a própria execução do contrato. O prejuízo da fraude à licitação será repartido tanto em relação à Administração quanto em relação aos demais licitantes. Portanto, caberá não apenas a sanção de impedimento de licitar, mas também a possibilidade de cominação com multa e indenização pelos prejuízos e danos causados. Afinal, a fraude é conduta intencional que visa gerar prejuízos a terceiros. 2.8. O comportamento inidôneo do licitante e a fraude fiscal Não há na legislação pátria uma explicitação do que seria um comportamento idôneo ou muito menos inidôneo. Assim, a previsão do inc. VI do art. 47 da Lei nº 12.462 torna-se bastante imprecisa, o que dificulta a definição dos seus limites de abrangência. De todo modo, pode-se relacioná-la com questões relativas à confiabilidade do licitante para a execução dos contratos a serem celebrados com a Administração. Certamente será necessário aferir em cada caso concreto as situações que configuram a quebra de confiabilidade nas relações entre o Poder Público e os licitantes ou contratantes. A fraude fiscal é prevista nesse mesmo dispositivo em comento e visa a resguardar a Administração Pública do devido cumprimento das obrigações tributárias, seja de recolhimento de tributos ou de quaisquer outras obrigações acessórias a essa obrigação. Veja-se que o texto da nova Lei não restringe a fraude fiscal à mera ausência de recolhimento de tributos, como o art. 88 da Lei n 8.666. A previsão legal da fraude fiscal ganha relevância porque se relaciona com a punição daqueles que atuam no sentido de desviar recursos públicos. 2.9. Sanção de descredenciamento A sanção de descredenciamento do licitante nos sistemas de cadastramento dos entes que fizerem parte da Autoridade Pública Olímpica APO está prevista no 1 do art. 47 da Lei nº 12.462. No Decreto n 7.581, o 2º do art. 111 ainda determina que as penalidades aplicadas no âmbito do RDC devem ser obrigatoriamente registradas no SICAF. Dessa forma, impede-se a manutenção de um cadastro com licitantes impedidos de licitar e contratar com a APO e também com o Poder Executivo Federal. Afinal, o objetivo do cadastramento é facilitar o trabalho da Administração na seleção dos interessados. 3. Aplicação subsidiária da Lei n 8.666 O 2 do art. 1 enfatiza que a opção pelo RDC implica o afastamento das regras da Lei n 8.666, salvo nas hipóteses em que o próprio texto excepcionar a aplicação dessa lei. Portanto, tal regra não acarreta o desprezo ou a ignorância de todas as disposições da Lei n 8.666, sobretudo daquelas referentes aos contratos administrativos, porque na redação da Lei n 12.462 há dispositivos que aludem à aplicação subsidiária de boa parte dessa lei.

4. Possibilidade de rescisão do contrato em execução No tocante à possibilidade de rescisão do contrato, deve-se manter o entendimento de que é aplicável aos casos previstos expressamente na legislação, como os de atraso na execução contratual, por exemplo. Com a ressalva de que se deve ponderar diante de cada caso concreto se a rescisão é mesmo a melhor medida. Assim, só deve ser aplicada se não trouxer maiores prejuízos à coletividade, ou seja, salvo nos caso em que a manutenção do contrato for mais benéfica. Convém que o edital da licitação seja o mais completo possível no tocante às sanções, e inclusive determine os casos em que poderá vir a ser aplicada a rescisão contratual. O STJ já se posicionou em relação ao tema, firmando o entendimento de que, mesmo diante da aplicação da sanção de inidoneidade, que é considerada de maior severidade punitiva, os efeitos devem ser ex nunc. Ou seja, a constatação de conduta inidônea não gera a automática rescisão do contrato em execução, devendo produzir os efeitos de impedimento de licitar e contratar em relação aos contratos futuros. 5. Conclusão Os contratos firmados no âmbito do RDC exigem celeridade em sua realização. O recurso à estrutura utilizada no âmbito do pregão minimiza algumas discussões sobre o enquadramento da sanção de suspensão ou de declaração de inidoneidade. Isso facilita a aplicação da sanção, inclusive poderá levar futuramente à revogação do atual texto da Lei n 8.666 e à incorporação desses dispositivos legais adotados no RDC como regime geral. Mas é interessante observar que as sanções impostas devem ser precedidas de defesa prévia e verificação atenta das causas que ensejariam a irregularidade apontada, com o fim de verificar se o licitante realmente teve participação nos fatos ocorridos. Referência bibliográfica do texto: CARVALHO, Juliane Erthal de. Sanções Administrativas estabelecidas pelo Regime Diferenciado de Contratações Públicas RDC. Informativo Justen, Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, n.º 57, novembro de 2011, disponível em http://www.justen.com.br/informativo, acesso em [data].