0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 1 DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS Órgão Julgador: 3ª Turma Recorrente: Recorrido: Origem: Prolator da Sentença: ACADEMIA SQUASH FITNESS LTDA. - Adv. Miguel Machado Cechin GABRIEL OLAVES - Adv. Naira Pereira Jimenez 26ª Vara do Trabalho de Porto Alegre JUÍZA LENARA AITA BOZZETTO E M E N T A VÍNCULO DE EMPREGO. UNICIDADE CONTRATUAL. As provas colhidas evidenciaram a existência de vínculo de emprego no período de 23/3/2006 a 31/5/2012, sendo comprovado que o reclamante continuou a laborar para a reclamada mesmo depois da rescisão formal do contrato, do que decorre o reconhecimento da unicidade contratual. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 04ª Região: por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DA RECLAMADA. Intime-se. Porto Alegre, 15 de setembro de 2015 (terça-feira).
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 2 R E L A T Ó R I O Inconformada com a sentença de procedência da ação (fls. 260-272), integrada pela decisão que julgou os embargos de declaração (fl. 258), recorre a reclamada, buscando a reforma quanto ao reconhecimento do vínculo de emprego no período de 23/3/06 a 31/5/12 (fls. 281-286). Com contrarrazões (fls. 292-297), sobem os autos para julgamento deste Tribunal. É o relatório. V O T O DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS (RELATOR): VÍNCULO DE EMPREGO NO PERÍODO DE 23/3/2006 A 31/5/2012 A Magistrada singular reconheceu a unicidade contratual no período de 07/11/00 a 31/5/12, adotando a tese da inicial de que o autor foi contratado na data de 7/11/00, ocorrendo a rescisão formal do contrato em 22/3/06, mas que, após essa data, continuou a laborar para a reclamada até 31/5/12. Inconformada com a decisão, recorre a reclamada. Pretende seja afastado o reconhecimento do vínculo entre partes no período de 23/3/06 a 31/5/12, sob argumento de que o reclamante era instrutor autônomo nesse intervalo de tempo, apenas permanecendo nas dependências da ré para realizar as aulas, não cumprindo horário, não estando sob ordens e tampouco recebendo valores. Aduz que o autor adulterou documento da empresa (fl. 103), a fim de comprovar sua tese, já tendo tomado providências na esfera
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 3 penal. Reporta-se aos depoimentos colhidos nos autos. Por decorrência, pede seja afastada da condenação o pagamento de horas extras, vale transporte, aviso-prévio, 13º salário, diferenças salariais, adicional por tempo de serviço "e ou qualquer outra verba deferida na sentença combatida". Examino. De acordo com o artigo 3º da CLT, "Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário". O artigo 2º da CLT, por sua vez, considera empregador "a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço". Deve-se analisar conjuntamente tais artigos, portanto há a configuração de vínculo de emprego quando presentes a pessoalidade, a não eventualidade, a onerosidade, a subordinação, e a figura do empregador. A prova produzida, principalmente por testemunhas, demonstra que o autor continuou a laborar para a reclamada após a rescisão contratual na data de 22/3/06. Do depoimento prestado pela testemunha Miguel Agostini Lahude (fl. 256), colho os seguintes trechos: "[...] foi professor do depoente de squash na academia reclamada; isso ocorreu de 2006/2007 a 2011/2012; o depoente teve aulas com o reclamante durante todo o período [...] o depoente fazia aulas no plano mensalista, compreendendo o espaço da quadra e o professor; o depoente fazia o pagamento
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 4 da quadra e da musculação, no período em que fez musculação, na secretaria da academia; o valor referente ao professor, quando havia muita gente na recepção, o depoente fazia diretamente ao reclamante; o reclamante efetuava o pagamento na Secretaria e entregava o recibo ao depoente; também ocorria de o depoente efetuar o pagamento do valor relativo ao professor diretamente na secretaria [...] no período final, o depoente via grupos de crianças na academia, não sabendo informar como funcionavam estas aulas; o reclamante dava aulas para estas crianças, as quais ocorriam no horário anterior ao do depoente [...] depoente pagava R$ 15,00 pela quadra e R$ 15,00 a R$ 20,00 pelo professor, por hora/aula [...]" Colho, também, passagens do depoimento da testemunha João Vitor Wendt (fls. 256-257): "[...] o depoente frequentou a academia de 2007 a 2009; o depoente procurou aulas de squash na academia, onde conheceu o reclamante, que foi seu professor de squash; o depoente fazia aulas de squash e treino de academia mesmo dia, em duas oportunidades na semana [...] o reclamante dava aula tanto de squash quanto de academia; o depoente pagava um pacote mensal; havia valores separados para a quadra, academia e professor, o que totalizava cerca de R$ 500,00 mensais; a partir do momento em que o depoente fixou o pacote, pagava tudo na secretaria da academia [...] quando o depoente chegou na academia, foi apresentado ao quadro com os professores da academia; o reclamante era professor da
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 5 academia [...]" E, ainda, destaco breves trechos do depoimento do informante Paulo Henrique Mellender Evangelista (fls. 257-258): "[...] o reclamante deu aulas de squash no período em que frequentou a academia, até recentemente [...] o depoente confirma que o folder era fornecido na academia, esclarecendo que o material foi desenvolvido "por todos nós"; havia reuniões de professores e rebatedores, das quais o reclamante participava em determinadas épocas; quem convocava as reuniões era o professor Fernando; as reuniões ocorriam para monitorar e acompanhar a evolução das atividades propostas na escolinha [...]" Como se vê, é evidente que os depoentes eram alunos do autor em período posterior a 2006. Ambos afirmam ter realizado os pagamentos na Secretaria da reclamada, até mesmo de pacotes com mais de uma atividade. O informante Paulo confirma que o reclamante continuou a ministrar aulas na reclamada após 2006, inclusive participava de reuniões de trabalho, auxiliando na elaboração do folder de divulgação da ré (fls. 131/132), em que ele consta como professor. Ainda, os recibos de pagamento das fls. 121/126 demonstram que a função exercida pelo reclamante era de "instrutor de musculação", percebendo salário de R$ 1.600,00 (um mil e seiscentos reais), em data posterior a abril de 2006. Assim, é incontestável que o reclamante continuou prestando serviços à reclamada após a extinção formal do contrato de trabalho. Sendo assim, claras as evidências para o reconhecimento do vinculo de emprego no período de 23/3/06 a 31/5/12, não se sustentando a tese da demandada de
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 6 que, após 22/3/06, o reclamante não lhe prestou mais nenhum tipo de serviço e que continuou frequentando a academia apenas como praticante de "squash", esporte do qual era instrutor e, inclusive, presidente da federação gaúcha por certo tempo. Ressalto os corretos e precisos fundamentos adotados na origem: "Destaco que os serviços prestados pelo reclamante inserem-se na atividade-fim da reclamada, o que caracteriza a figura do empregador, sendo a não-eventualidade e a subordinação decorrentes da inserção da força de trabalho na atividade econômica. Também é inequívoca a presença da pessoalidade e da onerosidade." Em decorrência do reconhecimento do vínculo de emprego no período de 23/3/06 a 31/5/12, tem-se um único contrato de trabalho, desde a admissão do reclamante em 07/11/00, até o real extinção do vínculo empregatício em 31/5/12. Por fim, saliento que desimporta a eventual invalidade do documento da fl. 103 ("declaração de trabalho"), pois a convicção do juízo é formada a partir de todo o conjunto probatório e não de um documento isoladamente. No caso, como visto, as provas colhidas nos autos demonstram, com segurança, que o vínculo de emprego perdurou mesmo após a ruptura do contrato de trabalho, devendo ser prestigiada a realidade fática em detrimento dos aspectos formais invocados pela recorrente. Mantida a unicidade contratual, não há falar na reforma da sentença quanto às parcelas da condenação, pois genericamente impugnadas no recurso.
0001334-04.2013.5.04.0026 RO Fl. 7 Nego provimento. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADOR GILBERTO SOUZA DOS SANTOS (RELATOR) DESEMBARGADOR RICARDO CARVALHO FRAGA DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA