ESTUDO DE BIOMASSAS ALTERNATIVAS PARA A GERAÇÃO DE ELETRICIDADE: ANÁLISE DOS ÍNDICES ENERGÉTICOS E EMERGÉTICOS

Documentos relacionados
Katia Tannous. Professora Doutora da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas, 2

Avaliação de Sustentabilidade da produção de Etanol de Cana-de-Açúcar

CONTRIBUIÇÕES DA CONTABILIDADE AMBIENTAL EM EMERGIA PARA A COMPREENSÃO DO SISTEMA DE P

Avaliação do Impacto Ambiental da Produção de Biodiesel de Soja no Brasil

O Desenvolvimento da Agroenergia no Brasil: Plano Nacional de Agroenergia. Manoel Vicente Bertone Secretário de Produção e Agroenergia

Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, , Cruz das Almas, BA. E- mail: embrapa.

Contabilidade Ambiental em Emergia do Processamento de Rocha Calcária para uso Agrícola

Desempenho Ambiental da Produção de Coco Verde no Norte e Nordeste do Brasil

Análise emergética da produção rural

Igor Corsini 1 Igor Corsini

Tendências do Desempenho Ambiental do Brasil. Prof. Msc. Luciana Faria Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais

Avaliação da Produtividade Global de um

Contabilidade Ambiental da Produção Convencional de Morango

Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário

Avaliação das eficiências energética, global, e emissões de CO 2 da produção de areia a partir de resíduos da construção civil

Fonte Características Vantagens Desvantagens

REVESTIMENTO DE ZINCO

CONTABILIDADE AMBIENTAL EM EMERGIA

DESEMPENHO AMBIENTAL DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BANANA EM GUADALUPE (ÍNDIAS OCIDENTAIS FRANCESAS) AVALIADAS PELA ANÁLISE EMERGÉTICA

EMERGIA E HIDROELETRICIDADE

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DO PROCESSAMENTO DO CAFÉ COMO COMBUSTÍVEIS EM FORNOS ROTATIVOS DE CALCINAÇÃO

Estudo Comparativo com Ênfase na Sustentabilidade Ambiental em Emergia de Alimentos com Semelhança Nutricional

GEOGRAFIA - 1 o ANO MÓDULO 64 AS ALTERNATIVAS DO PLANETA TERRA E DA CIVILIZAÇÃO

DISPONIBILIDADE, CARACTERIZAÇÃO, COLETA E PRÉ-TRATAMENTO DA BIOMASSA 13

Resumos do V CBA - Outras temáticas

Proposta de um índice de robustez para a contabilidade ambiental em emergia BUENO, M.F.F. UNIP SP IFSULDEMINAS MG

O CONCEITO DE BIORREFINARIA

Avaliação da Produtividade Global de um Agronegócio de Médio Porte

Desenvolvimento Sustentável

CONTABILIDADE AMBIENTAL EM AGRÍCOLA

TÓPICOS DE PESQUISA VISANDO APRIMORAR O RENOVABIO. Marcelo A. B. Morandi Nilza Patrícia Ramos

OS BENEFÍCIOS DAS BIORREFINARIAS PARA O MEIO AMBIENTE

Programa Iberoamericano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Proposta de Ação Estratégica para a Convocatória 2017

Agenda de P&D da Embrapa Cerrados

ANÁLISE MULTICRITÉRIO PARA AVALIAÇÃO DE CARTEIRAS DE PROJETOS APLICADA AOS PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DO BIOEN

INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE EMERGIA

Contabilidade Ambiental do ABC. Emergia

ADMINISTRAÇÃO: UM MODELO PARA A DESCOBERTA DO QUE TERCEIRIZAR

ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E ECOLÓGICA DA CAFEICULTURA PARA PEQUENAS PROPRIEDADES.

Instituto Tecnológico de Aeronáutica Mestrado Profissional em Produção. MB-746 Otimização. DEA Data Envelopment Analysis

Papel da bioenergia proveniente das florestas e da agricultura

FRONTEIRAS DEA NEBULOSAS PARA DADOS INTERVALARES

Ações em ACV da Embrapa

Sustentabilidade do etanol: emissão de gases de efeito estufa associados à produção de cana-deaçúcar

Florestas Energéticas

Palavras-chave: Análise Envoltória de Dados (DEA). Fronteira de Eficiência. Operadoras de Plano de

Etanol Lignocelulósico

ANÁLISE EMERGÉTICA DA CONSTRUÇÃO CONVENCIONAL DE UMA RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR

Planejamento e setorização da agroindústria da cana-de-açúcar

Prof. Delly Oliveira Filho Departamento de Engenharia Agrícola

CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Profa. Dra. Cristiane de Conti Medina Departamento de Agronomia

Apresentação AHK Comissão de Sustentabilidade Ecogerma. Eng. Francisco Tofanetto (Gerente de Engenharia) São Paulo, 01 de Outubro 2015

COMPARAÇÃO DOS BALANÇOS DE EMERGIA DE DOIS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE

Monitoração da Sustentabilidade Ambiental da Fazenda de Café

Fontes renováveis e não-renováveis de energia. Amanda Vieira dos Santos Giovanni Souza

A BIOELETRICIDADE DA CANA EM NÚMEROS ABRIL DE 2016

ABORDAGEM DA CADEIA DO BIODIESEL SOB A ÓTICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL. Prof.º: Carlos D Boa - geofísica

Rafaela Maria Figueiredo Caldas 1, Carlos Henrique da Graça 2, Thiago Cesar Frediani Sant'ana 3

PRODUÇÃO DE BIODIESEL ORIUNDO DO SEBO BOVINO: AVALIAÇÃO EXERGÉTICA EM ESCALA DE BANCADA

BIOMASSA PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA. Samira Domingues Carlin Eng. Agr., Dra., PqC da UPD Jaú do Polo Regional Centro Oeste/APTA

Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário. Utilization of Energy in Municipal Solid Waste Landfill

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Contabilidade em Emergia de Dois Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Utilização de Resíduos

ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DOS MODELOS DEA APLICADOS NO SETOR EDUCACIONAL NO BRASIL, PERÍODO DE 1999 A 2009

QUÍMICA ENSINO MÉDIO PROF.ª DARLINDA MONTEIRO 3 ANO PROF.ª YARA GRAÇA

3ª MAIOR COMERCIALIZADORA PRIVADA (VENDAS) 4ª MAIOR GRUPO PRIVADO DE GERAÇÃO EM CAPACIDADE INSTALADA

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA. Ano Safra 2017/2018

A BIOELETRICIDADE DA CANA EM NÚMEROS DEZEMBRO DE 2015

Sistematização e Conservação do Solo e da Água em Cana de Açúcar. Conservação do Solo e Desafios Regulatórios no Setor Sucroalcooleiro

OTIMIZAÇÃO DE UMA FORMULAÇÃO ALIMENTÍCIA UTILIZANDO PROGRAMAÇÃO LINEAR VISANDO DIMINUIÇÃO DE CUSTO

USINA TERMOELÉTRICA...

Política de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis em Moçambique- Biomassa

CÁLCULO DE EMERGIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DO CURSO PRÉ VESTIBULAR, PAULO FREIRE INCONFIDENTES - MG RESUMO

Consulta Pública do RenovaBio Comentários e sugestões da ABIOVE

PROJETO AGROMINERAIS PARA BIOCOMBUSTÍVEIS

IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIALIDADES DE REDUÇÃO DE CUSTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NO CULTIVO DE ARROZ

construção de uma casa residencial

Bioetanol e Cogeração. Fontes alternativas de energia - Bioetanol e Cogeração 1

Gerente da Qualidade do Ar - INEA Luciana Mª B. Ventura DSc. Química Atmosférica

ALTERNATIVAS LOCACIONAIS PARA A GERAÇÃO RENOVÁVEL EM MINAS GERAIS: UMA DISCUSSÃO BASEADA NA ABORDAGEM MULTICRITÉRIO ESPACIAL

Exemplos Práticos de Aplicação da Energia Fotovoltaica no meio Rural Curso Energias Renováveis 02 a 06 de outubro de 2017 Concórdia/SC

A BIOELETRICIDADE DA CANA EM NÚMEROS JUNHO DE 2016

APROVEITAMENTO DA CASCA DO ARROZ EM UMA MICRO CENTRAL TERMOELÉTRICA:

ANÁLISE MULTICRITÉRIO COM DEA E AHP DA SELEÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE AR-CONDICIONADO

FICHA DE INSCRIÇÃO ECOMUDANÇA 2018

Fontes de energia - Usinas PROF.: JAQUELINE PIRES

Disciplina: Eletrificação Rural. Unidade 1 Energia elétrica no âmbito do desenvolvimento sustentável: balanço energético nacional

Suani Coelho. Centro Nacional de Referência em Biomassa USP Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Brasília, 25 de abril de 2006

ECONOMIA DE BAIXO CARBONO SUSTENTABILIDADE PARA O SETOR DE MINERAÇÃO: CASO DA SIDERURGIA NO BRASIL

Seminário Biomassa: Desafios e Oportunidades de Negócios

BIOMASSA. Florestas energéticas e resíduos urbanos, industriais e agrícolas são processados para produzir eletricidade

PALAVRAS-CHAVE: Heliógrafo Campbell, Heliógrafo Campbell/Stokes, Insolação, Protótipo Funcional;

CORRELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS DA BIOMASSA PARA GERAÇÃO DE VAPOR EM UMA CALDEIRA

GRUPO. Empreendedorismo Energia Meio Ambiente e Tecnologia (GEEMAT) - CNPq Departamento de Engenharia Mecânica. CEFET/RJ. UnED Angra dos Reis, Brasil

"Economia Verde nos Contextos Nacional e Global" - Desafios e Oportunidades para a Agricultura -

IV SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO ANIMAL

Saiba mais sobre. Recuperadores de Calor. e Salamandras

Fonte: CLARKE, Robin & KING, Janet. Atlas da Água. São Paulo: Publifolha, 2005.

Transcrição:

ESTUDO DE BIOMASSAS ALTERNATIVAS PARA A GERAÇÃO DE ELETRICIDADE: ANÁLISE DOS ÍNDICES ENERGÉTICOS E EMERGÉTICOS R. A. ARTIOLI e K. TANNOUS 1 1 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Química E-mail para contato: raartioli@gmail.com; katia@feq.unicamp.br RESUMO este trabalho tem por objetivo avaliar a eficiência da energia renovável de fontes alternativas de biomassas por meio da análise emergética. As biomassas escolhidas para o estudo são: casca de arroz, fibra de coco, resíduo de eucalipto e bagaço de cana-de-açúcar. As eficiências energéticas relativas foram determinadas a partir da produção disponível desses resíduos no país e com base nos indicadores emergéticos obtidos por meio do mapeamento do ciclo de produção dos potenciais biocombustíveis de interesse. O bagaço de cana-deaçúcar foi a biomassa que apresentou os resultados mais sustentáveis e viáveis para a utilização como fonte alternativa de energia. 1. INTRODUÇÃO A dependência atual das fontes de energia fóssil e a preocupação com as consequências para o meio ambiente resultantes do uso desenfreado desse tipo de energia, impulsionaram a busca e o estudo de novas fontes alternativas. De acordo com Carmo (2013), a energia contida nas diversas fontes de biomassa, assim como nos seus diversos produtos e subprodutos derivados (ex.: florestas energéticas, resíduos florestais, agroindustriais e urbanos), pode ser diretamente liberada por meio da combustão ou convertida através de processos termoquímicos e biotecnológicos, gerando uma fonte alternativa com menores emissões de gases poluentes e assim, mais sustentável. Para verificar os pontos positivos e negativos de cada biomassa, utiliza-se a grandeza emergia, que permite a realização de uma análise estratégica sobre as contribuições envolvidas no processo de produção de um determinado produto, no presente trabalho, as biomassas. A grandeza emergia é expressa em equivalentes de joules de energia solar (sej) e representa a soma da energia total agregada em um determinado material (Zhang, 2010). Segundo Odum (1996), a análise emergética interpreta o grau de dependência ou não de um sistema quanto à necessidade dos recursos da economia e da natureza, realizando um diagnóstico dos sistemas ou processos que são mais sustentáveis. Esse tipo de análise tem sido muito utilizado para avaliar o desempenho de sistemas agrícolas. Brandt-Williams (2002) realizou a avaliação emergética da agricultura da Flórida/EUA e o conjunto dos resultados mostrou a baixa renovabilidade do modelo de agricultura. Existem diferentes contribuições em um processo de produção, a saber: os recursos renováveis (sol, chuva e vento), os recursos não renováveis (perdas de solo e nutrientes) e recursos econômicos (Materiais e Serviços).

Segundo Odum (1996), os recursos naturais (I) são classificados em renováveis (R) e não renováveis (N), enquanto os recursos econômicos (F) são classificados em materiais (M) e serviços (S). O somatório das emergias dos recursos utilizados será a emergia total (Y), associado a energia produzida (E). Com a finalidade de mesurar estes recursos de forma global no sistema, o autor definiu vários indicadores emergéticos. Dentre eles estão: transformidade (Tr), razão entre a energia acumulada necessária para fabricação de um produto e a energia contida no produto gerado, definida como: Tr = Y/E; renovabilidade (%R), que representa o valor porcentual de recursos renováveis utilizados para a produção de um produto ou processo, definida como: % R = 100* (R/Y), quanto maior o valor, maior a renovabilidade do processo e preservação dos recursos naturais em longo prazo; razão de rendimento energético (EYR), que indica a contribuição da emergia proveniente do sistema de produção para a economia que consome o produto ou serviço. É um sinalizador da capacidade do sistema produtivo na exploração dos recursos naturais e da economia local, transformando-os em produtos, definido como: EYR = Y/F. As ferramentas computacionais são muito utilizadas na análise emergética, de modo que, auxiliam na comparação entre os diversos índices emergéticos dos processos e/ou produtos envolvidos. Dentre os softwares, destaca-se o Data Envelopment Analysis Online Software (DEAOS), constituído de diversos modelos de programação linear, que avalia a eficiência relativa entre as chamadas Unidades Tomadoras de Decisão (UTD), por meio da análise envoltória de dados. As diferentes UTD s de um processo são entidades que realizam tarefas similares e se diferenciam pela quantidade de recursos utilizados (entradas) e produzidos (saídas) (Wilhelm et al., 2009). Este software possui dois modelos matemáticos básicos: o de Charnes, Cooper e Rhodes (CCR), formulado em 1978 e o de Banker, Charnes e Cooper (BCC), formulado em 1984 (Charnes et al., 1978; Banker et al., 1984). Ambos os modelos estabelecem razões entre as grandezas de saída e de entrada por meio de diversos pesos ótimos, que buscam maximizar a eficiência daquela unidade. A principal diferença entre esses dois modelos é que o primeiro é utilizado em sistemas nos quais as saídas são diretamente proporcional às entradas, fato que não ocorre para o segundo modelo citado. Em vista disso, este trabalho tem por objetivo avaliar a eficiência energética renovável de fontes alternativas de biomassas (casca de arroz, fibra de coco, resíduo de eucalipto e bagaço de cana-de-açúcar) como matérias-primas de processos de geração de energia em uma usina termelétrica independente, que seguirá o ciclo de Rankine, por meio da análise dos indicadores emergéticos e pelo uso da análise envoltória de dados. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Biomassas selecionadas As biomassas selecionadas para este estudo foram: casca de arroz, fibra de coco, eucalipto, bagaço de cana-de-açúcar, e algumas de suas propriedades podem ser observadas

na Tabela 1. O poder calorífico inferior foi calculado baseado na composição química e no poder calorífico superior (Higuchi e Tannous, 2015; Farias, 2012;), aplicados na equação de Mendeleev (1949). A energia disponível foi obtida pela multiplicação da massa disponível de cada biomassa pelo respectivo valor de poder calorífico inferior. Esse valor energético foi dividido pela área de cultivo de cada biocombustível, de modo a facilitar a análise conjunta com os valores emergéticos, também mensurados em unidades de área. Tabela 1 Disponibilidades das biomassas disponível no Brasil e suas características. Biomassa Massa anual Área de Energia PCI (MJ/kg) disponível (kg) cultivo (ha) disponível (J/ha) Casca de Arroz 3,0 0 9 2,60 0 6 12,28 1,42 0 10 Fibra de Coco 2,2 0 9 2,87 0 5 14,41 1,12 0 11 Eucalipto 4,5 0 10 5,10 0 6 16,55 1,46 0 11 Bagaço de Cana 1,3 0 11 6,92 0 6 16,37 3,05 0 11 2.2. Levantamento de dados da literatura Cada biomassa teve todo seu ciclo de produção mapeado considerando todas as contribuições no processo de cultivo ou de recuperação de resíduos. Além disso, procurou-se avaliar as condições climáticas nas quais as biomassas foram cultivadas, visto que, sol, chuva e vento (fontes de recursos naturais renováveis), três fatores determinantes na emergia total de cada produto, característicos da região nas quais as mesmas são cultivadas; recursos naturais não renováveis (como a perda de matéria orgânica do solo); recursos de serviços (como despesas administrativas, mão de obra, tarifas e impostos, assistência técnica) e recursos materiais (como combustíveis, fertilizantes, aço para o maquinário, sementes). Os dados utilizados no presente trabalho foram baseados em valores encontrados na literatura, de modo que com base nesses valores, foi feita uma análise meticulosa levando em consideração a análise emergética. As fontes de estudo para cada biomassa foram: casca de arroz (Teixeira et al., 2007); fibra de coco (Ortega, 2004); eucalipto (Agostinho, 2009); bagaço de cana-de-açúcar (Agostinho, 2009). 2.2. Uso dos Indicadores Emergéticos e Eficiência Relativa através da Análise Envoltória de Dados O modelo matemático escolhido para este trabalho foi o Charnes, Cooper e Rhodes (CCR) no qual foram estabelecidas duas entradas (2) e duas saídas (2). Para as grandezas de entrada foram utilizadas o indicador emergético Transformidade (Tr) e o inverso da massa disponível (Tabela 1) para cada biomassa (1/M). Para as saídas foram estabelecidos os indicadores, Renovabilidade (%R) e Razão de Rendimento Emergético (EYR). As definições e equações foram apresentadas na introdução do presente trabalho. A orientação direcionada para o modelo foi a de minimizar as entradas. Por isso, utilizou-se o inverso da massa disponível, garantindo que as biomassas de maior valor de produção de resíduos, apresentassem também, menor valor para as entradas. A Equação 1 representa a eficiência energética renovável relativa para o sistema de 2 x 2.

max θ = EERR = u 1 y 1 + u 2 y 2 v 1 x 2 (1) sendo max θ a eficiência máxima (EERR) de cada unidade tomadora de decisão (UTD), u e v são os pesos ótimos para cada UTD em estudo, que devem ser maiores ou iguais a zero, e y e x as saídas e entradas, respectivamente. A Equação 1 deve seguir algumas restrições para que o modelo possa ser aplicado de maneira correta. A primeira delas é garantir que o denominador seja igual a 1 (Equação 2) e a segunda é assegurar que o valor dessa razão seja menor ou igual a 1. v 1 x 2 = 1 e u 1 y 1 + u 2 y 2 v 1 x 2 1 (2) Como foi definido pela Equação 2, o denominador deve apresentar valor unitário, a eficiência da biomassa é calculada pela Equação 3: max θ = u 1 y 1 + u 2 y 2 (3) Pela condição retratada na Equação 2, o valor do denominador deve ser maior ou igual ao valor encontrado no numerador, conforme Equação 4: u 1 y 1 + u 2 y 2 v 1 x 2 (4) Um sistema de 14 equações foi estabelecido e as Unidades Tomadoras de Decisão (biomassas) comparadas a fim de verificar entre estas suas eficiências comparativas. A resolução desse sistema de equações foi obtida por meio da utilização do programa Excel, versão 2007, juntamente com a ferramenta Solver, ajustada para assumir apenas modelos lineares e valores não negativos. 4. Resultados e discussão 4.1. Ciclo de produção das biomassas A contabilização dos dados de produção para as biomassas em estudo, juntamente com os indicadores emergéticos obtidos podem ser observados na Tabela 2. Tabela 2 Dados emergéticos para as biomassas em estudo. Biomassa Emergia Total (sej/ha.ano) Tr (sej/j) %R EYR (-) EERR (%) Casca de Arroz 4,69 0 16 3,31 0 6 77,58 4,46 14 Fibra de Coco 5,36 0 15 4,77 0 4 19,81 1,26 90 Eucalipto 7,26 0 15 4,98 0 4 15,97 1,56 70 Bagaço de Cana 8,73 0 15 2,86 0 4 13,27 1,28 100 Pela análise da Tabela 2, observa-se que o arroz foi a biomassa com maior quantidade de energia acumulada (emergia total), devido principalmente ao uso de água de irrigação, o

que eleva a contribuição energética no processo. Isso impacta diretamente nos índices emergéticos. A transformidade se eleva pelo fato da casca ser a biomassa com a menor quantidade de energia disponível (Tabela 1) associada ao seu baixo pode calorífico (alto teor de cinzas). A renovabilidade foi elevada pelo fato de se considerar a água de irrigação como uma fonte natural renovável, causando um aumento desse indicador em relação as outras biomassas. O potencial emergético (EYR) se elevou pelo mesmo motivo refletindo nas contribuições da economia. O bagaço e o eucalipto apresentaram valores próximos de emergia total, ambos provenientes de processos de produção consolidados e já estabelecidos no cenário nacional. O menor valor de transformidade do bagaço pode ser atribuído ao alto valor de energia disponível para a queima, já que essa biomassa é a que apresenta maiores valores de produção disponível. Os altos valores de produção implicam também em uma razão 1/M baixa, o que garante que esta biomassa necessite de menores quantidades de insumos para produzir melhores resultados. A fibra de coco apresentou valores de renovabilidade mais elevados que o eucalipto e o bagaço. Isso pode ser explicado pelo maior valor de recursos naturais empregados no ciclo de produção desta biomassa. Os indicadores da fibra merecem ser ressaltados, visto que se trata de uma produção significativa e sustentável. O eucalipto apresentou um valor de rendimento emergético (EYR) superior ao do bagaço e da fibra, isso se deve ao fato de não se tratar de uma cultura mecanizada e nem de um gênero alimentício, e sim, de uma matéria-prima de interesse para a indústria de papel e celulose. O que permite a menor dependência das contribuições econômicas (maquinário, mão de obra, fertilizantes de modo geral) no ciclo de produção. Em consequência destes fatos, a EERR foi de baixo desempenho para a casca de arroz devido a baixa disponibilidade de massa quando comparada as outras biomassas em estudo e pelo alto valor de energia necessário para sua produção. Esses altos valores de entrada para a casca impossibilitaram um bom desempenho, mesmo que as saídas apresentassem resultados satisfatórios. As outras biomassas mostram-se bastante satisfatórias (70-90%) e o bagaço de cana-de-açúcar mostrou a melhor biomassa para geração de energia (100%). 5. Conclusão O desenvolvimento de uma planilha como uma ferramenta matemática mostrou-se válido para a resolução do modelo de Charnes, Cooper e Rhodes (CCR), tornando-se uma alternativa em relação ao uso do software DEAOS (Data Envelopment Analysis Online Software). A análise dos indicadores e o resultado do modelo CCR permitiu escolher e classificar as biomassas de acordo com a eficiência energética e sustentável das mesmas. O bagaço foi a biomassa mais eficiente dentre as estudadas, seguido pela fibra de coco, resíduo de eucalipto e casca de arroz. Destaca-se entre os potenciais biocombustíveis, a fibra de coco, pela sua alta eficiência energética renovável, superior ao eucalipto, sendo uma biomassa já consolidada no cenário nacional.

Agradecimentos Os autores agradecem ao PIBIC/CNPq pelo apoio financeiro deste trabalho. 6. Referências Bibliográficas AGOSTINHO, F. Estudo da sustentabilidade dos sistemas de produção agropecuários da bacia dos rios Mogi-Guaçú e Pardo através da análise emergética. 204p.Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas: Campinas. 2012. BANKER, R. D.; CHARNES, A.; COOPER, W. W. Some models for estimating technical and scale inefficiencies in data envelopment analysis. Manager Science, v. 30, n. 9, p. 2-5, 1984. BRANDT-WILLIAMS, S. L. Handbook of emergy evaluation: A compendium of data for emergy computation issued in a series of folios. Folio 4. Emergy of Florida Agriculture. Center for Environmental Policy. University of Florida, Gainesville, Flórida, EUA, 2002. CARMO, V. B. Avaliação da eficiência energética renovável de biomassas alternativas para geração de eletricidade. 163p. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2013. CHARNES, A.; COOPER, W.W.; RHODES, E. Measuring the efficiency of decision making units. European Journal of Operational Research, v. 2, n. 6, p.429-444. 1978. FARIAS, F. O. M. Caracterização de biomassas brasileiras para fins de aproveitamento energético.tese de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas: Campinas. 2012. HIGUCHI, L.; TANNOUS, K. Avaliação da produtividade de biomassas lignocelulósicas e potencial de utilização para fins energéticos. (Ed.) Katia Tannous, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015. ISBN 978-85-918766-0-0. MENDELEEV, D. Sochineniya (Collection of Works), Anais da Academia de Ciência da URSS. Moscou, URSS, 1949. ODUM, H. T. Environmental accounting Emergy and environmental decision making. John Wiley & Songs, INC., Nova Iorque, EUA, 1996, 384p. ORTEGA, E. Ciclo Emergético para o coco. Disponível em: <http://www.unicamp.br/ fea/ortega/xml/coco-m-data.xml, 2004>. Acesso em: 26. Jan. 2015. TEIXEIRA, G. G.; CARVALHO, R. V.; COSTA, A. V. Análise econômica e emergética num sistema integrado de produção de arroz irrigado em transição para o cultivo orgânico. Revista Brasileira Agrociência, v. 13, p. 319-324, 2007. WILHELM, V. E.; SOUZA, P. C. T. Uma introdução aos modelos DEA de eficiência técnica. Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 42, p.121-139, Curitiba, 2009. ZHANG, G.; LONG, W. A key review on energy analysis and assessment of biomass resources for a sustainable future. Energy Policy, v.38, n.6, p.2948-2955, 2010.