Capítulo XII AMANHECER EXT ESTACIONAMENTO DA ASSOCIAÇÃO NOITE SEQUÊNCIA DE IMAGENS EM CÂMERA LENTA Uma granada atravessa o estacionamento encontrando-se com a parede lateral da associação. Um grande buraco se forma destruindo parte da parede. Os homens de Leôncio correm se escondendo atrás dos carros e atiram contra os homens do Cobra. Jonas abre a porta do banheiro e arrasta Mirtes de dentro. Eles correm saindo da associação. Caio está caído junto ao vaso, segurando o pulso esquerdo. Ele mantém a cabeça baixa. Leôncio corre e entra em um dos carros, dando partida e fugindo do local. O Cobra sorrindo, solta no chão o lança granadas e saca uma K47 disparando contra o carro em que Leôncio utiliza para a fuga. Som de sirenes das viaturas se aproximando. Os homens de Leôncio, assim como os homens do Cobra fogem do local. Caio se levanta e sai da associação cambaleante. PASSAGEM DO TEMPO. O céu escuro começa a dar lugar a pitadas de luz. Um pequeno clarão anuncia o nascer de um novo dia. INT PORTO DO PÉCEM HANGAR 04 AMANHECER Dois homens acabam de abastecer o monomotor com os caixotes de explosivos. A chave do avião está na ignição. Um cargueiro aparece no mar se afastando do porto. É o cargueiro que o Cobra utiliza para transportar a hematina.
Caio furtivamente entra no hangar 04, salta dentro do monomotor dando partida. Ele dirige o avião até a pista. Os homens correm ao perceberem a ação de Caio. Eles sacam as armas, mas quando estão prestes a atirar, Jane se aproxima e diz: - Baixem as armas! Ela inspira com profundidade. Eu estava esperando por ele. O monomotor acelera e alça voo. Caio põe os óculos e inclina o avião para o leste, em direção ao mar, onde o cargueiro está indo. Dentro do avião ele está nervoso. Ele olha para o pulso esquerdo e lembra-se de Amanda e Mirtes. O vento bate forte nas asas do Cometa. No painel, o visor do combustível mostra que o monomotor tem pouco mais de 15 minutos de voo. Caio aperta forte o controle do avião. Ele está nervoso. O monomotor se aproxima do cargueiro. Caio sobrevoa o navio. Os explosivos estão no compartimento de carga. Caio se prepara para abrir o compartimento e soltar os explosivos no cargueiro. Ele posiciona o Cometa em cima da proa do cargueiro. Ele olha para o comando de abrir o compartimento. É um botão pequeno e laranja. Ele respira fundo e aperta o botão. Nada acontece! Ele aperta novamente, quase que esmurrando o botão. Mas, o compartimento não abre. - Merda! grita Caio, esmurrando o painel. O cesna sobrevoa o cargueiro. Um dos homens sai da cabine e observa o avião sobrevoando o navio.
- Eu preciso voltar Caio diz. Ele olha para o painel e vê que o combustível está acabando. Caio segura o pulso esquerdo. Uma luz vermelha no painel começa a piscar. Caio está a mais de 200km/h quando os pistões do avião começam a falhar. Ele põe a mão no pulso e diz: - Eu não serei mais covarde! O cesna dá a volta no cargueiro. Caio inclina o monomotor para cima e sobe o mais alto que ele pode. Na altitude de 500 m ele desliga o motor, inclinando o avião para baixo, em direção ao cargueiro. O monomotor cai levemente parecendo uma estrela cadente em direção ao navio. Caio aperta cada vez mais o controle ao se aproximar do ponto de impacto. Do porto do Pecém, os homens observam o avião cair. O cesna vem em alta velocidade despencando do céu como uma maça podre caindo do pé. Caio fecha os olhos aguardando a morte. Uma grande bola de fogo se forma com o impacto do avião. Destroços saltam no mar criando uma grande chuva de bolas de fogo. Pedaços da carga boiam na água. Fumaça e fogo se misturam aos destroços do cargueiro. Um iate se aproxima do cargueiro que está em chamas. Jane está pilotando. O corpo de Caio está boiando próximo ao navio. Um homem salta do iate e leva Caio para o barco. Ele checa a pulsação dele.
- Ele está vivo! diz o homem. - Como pode? Jane pergunta. - O avião fica programado pra ejetar o piloto em casos que o motor para de funcionar. Ele diz bombeando o peito de Caio. Caio desperta cuspindo água. - Parabéns! diz Jane. Missão cumprida! EXT HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA JARDIM EXTERNO - MANHÃ Mirtes está sentada em um banco. Folhas caem desenhando o chão belamente. Mirtes segura um jornal em suas mãos. Duas crianças estão brincando em um balanço. Elas sorriem enquanto pendem de um lado para o outro no ritmo do balanço. Mirtes sorri ao vê-las brincando. A capa do jornal estampa uma foto com Leôncio algemado. Uma manchete abaixo da foto noticia: Secretário do Gabinete do Prefeito é preso por envolvimento com tráfico. Jonas se aproxima dela. - Ainda bem que mais um dia nasceu! Ele brinca. Ela sorri para ele. - Como está o tratamento? Ele pergunta. - Bem! Ela responde. - Eles conseguiram o remédio pra você! Está chegando amanhã! diz Jonas. Ele balança a cabeça. - Vai ficar tudo bem Mirtes. Ele diz sentado ao lado dela e pegando em sua mão. Ela encosta a cabeça no ombro dele. Os dois estão sentados no banco. Flores caem pintando a paisagem de uma cor dourada. As duas crianças correm sorrindo e brincando.
Mirtes tira a carta que Caio lhe deu do bolso. Jonas observa. Ela lê em voz alta. Mirtes lendo em OFF Obrigado por acreditar em mim. SEQUÊNCIA Caio está preso. A culpa me impulsionou na maioria das vezes. Caio no refeitório da prisão sozinho. A vergonha de ter traído a confiança de quem eu mais amava. Caio lendo o pequeno príncipe deitado em sua cama na prisão. Saber que eu fui responsável pelo suicídio da minha noiva me destruiu por dentro. Caio se exercitando pulando corda. Saber que traí a confiança do meu melhor amigo também me destruía todos os dias. Caio tomando banho e lavando o corpo. Eu me sentia tão abandonado. Tão oprimido. Como se ninguém gostasse mais de mim. Caio conversando com o colega de cela. Eu sentia ódio e pena de mim mesmo. Uma condição horrível pra se viver. Caio tomando sol na área externa. A morte e o abandono que abocanharam minha vida fizeram o que estavam destinadas a fazerem: humilharam-me. Caio ajoelhado lavando a parede do banheiro. Mas aqui estou eu. Vivendo sem estar vivo. Numa existência cheia de absurdos e repleta de incertezas. Caio dormindo. Talvez sem entender por que você me resgatou Mirtes. Sem entender, mas, sentindo o seu resgate.
Caio sentado em uma roda conversando com outros presidiários. Talvez um dia eu entenda. Talvez eu nunca entenda. Mas de alguma forma você foi a razão de eu não desistir de viver. Caio dentro da cela arrumando a mochila. Mas um dia quando eu conseguir andar com meus pés e deixar de ser escravo de um grande por quê? Aí talvez eu venha a estar livre. Caio saindo da prisão com sua mochila nas costas. Até lá eu me lembrarei de você. E, de como pra mim o importante era o seu bem-estar. Caio pegando um ônibus. Mas, fica a lembrança que apesar de tudo, eu não desisti de viver. E graças a Deus que essa tempestade caiu. De uma coisa eu sei. O sol nascerá e o dia vai brilhar tão belo. Que tudo o que nós passamos ficará na memória. Só pra nos fazer lembrar que o tempo responde muitas coisas. E se não nos responde, mostra o caminho. Mas a certeza fica: o sol vai nascer pela manhã. Caio entrando na casa de sítio e abraçando o Antônio. PS: Você cativou meu coração. FIM.