A TERRITORIALIDADE CAMPONESA NO ASSENTAMENTO LAGOA GRANDE, MUNICÍPIO DE DOURADOS - MS: CAMINHOS E LUTAS PELA PERMANÊNCIA NA TERRA

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Transcrição:

A TERRITORIALIDADE CAMPONESA NO ASSENTAMENTO LAGOA GRANDE, MUNICÍPIO DE DOURADOS - MS: CAMINHOS E LUTAS PELA PERMANÊNCIA NA TERRA Estela Camata 1 Márcia Yukari Mizusaki 2 Eixo Temático: O CAMPO E A CIDADE RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar as estratégias de existência camponesa depois da conquista da terra, as relações da família com a vizinhança, com setores externos. Definimos como estudo de caso o Assentamento Lagoa Grande, no município de Dourados. A análise será mediada pelo conceito de territorialidade, pois entendemos que o conjunto dos processos sociais, econômicos, políticos e culturais presentes na existência camponesa têm também a sua dimensão territorial. PALAVRAS-CHAVE: Assentamento; Território; Estratégias de existência 1 INTRODUÇÃO O município de Dourados 3 possui uma extensão territorial de 4.136, 83 km² e conta, aproximadamente, com uma população de 189.762 habitantes (estimativa IBGE, 2009), predominantemente urbana. Localiza-se na porção meridional do Estado de Mato Grosso do Sul, na faixa de fronteira internacional com o Paraguai 4. 1 Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/UFGD), aluna do Curso de Geografia da UFGD. estela.camata@gmail.com 2 Orientadora, professora do Curso de graduação e mestrado em Geografia pela UFGD. m.yukari@terra.com 3 O município de Dourados foi criado em 1935 e com uma extensão de 21.250 km², sua área compreendia os atuais municípios de Dourados, Itaporã, Douradina, Deodápolis, Angélica, Ivinhema, Glória de Dourados, Jateí, Vicentina, Naviraí, Caarapó e Laguna Carapã. 4 A fronteira administrativa compreende uma faixa de 150 km a partir do limite que separa os dois países.

A origem e o crescimento econômico e populacional de Dourados estão ligados à característica de o município situar-se em região de fronteira internacional e num contexto histórico de desenvolvimento da frente de expansão, o que tem proporcionado que não somente Dourados, mas também o seu entorno, fosse alvo de intervenção federal, como a CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados) em 1943, o PRODEGRAN (Programa Especial de Desenvolvimento da Grande Dourados) em 1976, dentre outros (MIZUSAKI, 2006). No conjunto desse processo, todavia, uma particularidade conferiu, ao atual município de Dourados, um crescimento econômico diferenciado em relação aos municípios de seu entorno, o que, com o passar do tempo, lhe conferirá o status de pólo regional. A partir de meados da década de 1970, desencadeou-se na porção sul de Mato Grosso do Sul, a expansão de um sistema agrícola ligado aos interesses agroexportadores, causando a expropriação de famílias camponesas, bem como, a resistência de outras que se recusam em deixar o campo. Como desdobramento desse processo, tenso e conflituoso, tivemos a partir do final da década de 1970, a organização de trabalhadores rurais sem terra no Mato Grosso do Sul, como o caso da formação do sindicalismo rural (Fetagri/MS), bem como, em movimentos de luta pela terra na década de 1980, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Central Única dos Trabalhadores no Mato Grosso do Sul. Assim,... contraditoriamente, ao lado da evolução pontual na exploração do gado e da modernização agrícola, da migração vivida entre as décadas de 1970 e 1990 e do aumento da concentração de terras no Estado, temos a multiplicação da luta pela terra, facilmente percebida na longa fila de barracos de lona preta que se espalha na beira das estradas do Estado possuidor de uma das maiores rendas per capita do país (ALMEIDA, 2006, p. 122). Nesse contexto de luta pela terra, assentada na diversidade das formas-conteúdo, conforme destacado pela autora, podemos situar o Assentamento Lagoa Grande, localizado no distrito de Itahum, município de Dourados-MS. São cerca de 151 famílias morando em lotes de 25 ha, buscando construir caminhos e estratégias para permanência na terra, após a conquista do pedaço de chão. O Assentamento tem na atividade leiteira a maior fonte de renda familiar, pois o solo é arenoso, o que dificulta a prática da agricultura, assim como boa parte do cerrado, que

favorece a extração dos frutos, na produção e comercialização de doces, compotas, pimentas, mel e até mesmo os chamados garrafadas (remédios naturais). Na comercialização desses produtos, as famílias recebem apoio da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), através de feiras realizadas quinzenalmente, no Workshop de Plantas Medicinais, realizados anualmente pela UFGD e na Loja da Economia Solidária (Dourados). Diante de tal dificuldade, as famílias têm buscado soluções alternativas, por meio da cooperação entre elas, como por exemplo, o caso das 42 famílias que conseguiram um resfriador de 2.000 litros de leite. Entre as famílias também se verifica a preocupação com a produção agroecológica, que tem recebido apoio da prefeitura local, do órgão de assistência técnica IDATERRA (Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) e da UFGD ( Universidade Federal da Grande Dourados. 2 OBJETIVOS Verificar a origem e a implantação do Assentamento Lagoa Grande no município de Dourados Identificar as diferentes trajetórias de vida e de luta das famílias do Assentamento Apresentar características gerais das atividades socioeconômicas e culturais verificadas no Assentamento Lagoa Grande Analisar o modo de vida de famílias do assentamento, buscando identificar neste, estratégias de sobrevivência e de permanência na terra Representar cartograficamente aspectos da territorialidade camponesa 3 METODOLOGIA O estudo se deu a partir da analise da organização do modo de vida camponês. Compreender a lógica camponesa tem se mostrado relevante para a compreensão da sua permanência no modo de produção capitalista, pois,... fundamenta-se sob outra lógica, distinta da lógica capitalista. Naquela, o trabalho não é mediado pela perspectiva do lucro, mas pelas possibilidades de satisfação das necessidades da família (MIZUSAKI, 2009, P. 325) e ainda,

... a característica contraditória de desenvolvimento do capitalismo no campo, que muitas vezes cria e recria relações não capitalistas, aponta também para uma certa autonomia relativa desses sujeitos sociais, que se recriam na atualidade, mesmo que, às vezes, contrários à lógica dominante. É essa característica do desenvolvimento, que ao mesmo tempo é desigual e combinado, que dá sentido a essas articulações territoriais de produção. Ao mesmo tempo em que lhe dão movimento, essas relações não capitalistas entram em permanente contradição no território capitalista. (MIZUSAKI, 2009, p. 326). Salientamos, ainda, que a análise será mediada pelo conceito de territorialidade, pois entendemos que o conjunto dos processos sociais, econômicos, políticos e culturais presentes na existência camponesa têm também a sua dimensão territorial, ou seja, essas relações ocorrem no espaço e são mediadas por relações de poder, configurando então, a face vivida do território (RAFFESTIN (1993) 1980). O homem vive, ao mesmo tempo, o processo e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações existenciais ou produtivas. As diferentes situações sociais serão analisadas por meio de pesquisa qualitativa (TRIVIÑOS, 1987), por meio de entrevistas com as famílias, buscando compreender a subsistência camponesa no interior da unidade produtiva, as relações da família com a vizinhança, com setores externos ao Assentamento. Utilizaremos também de recurso bibliográfico, levantamento de dados no INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), no Idaterra e demais órgãos que se fizerem necessários. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O assentamento estudado, localizado a 70 km distantes da cidade de Dourados MS, revelou uma parcela por parte de algumas famílias em especial as mulheres, uma boa participação em empreendedorismo envolvidos nas atividades de artesanato, produção de alimentos caseiros, e leiteira o que significa como primeira fonte de renda para os assentados, mas como outra forma de sustento também de sua família, buscam outras alternativas de trabalho fora do assentamento, como em fazendas, no comércio, em outras atividades externa ao assentamento. Nas entrevistas que estão sendo desenvolvidas, foi revelada que a partir de projetos desenvolvidos pela Universidade Federal da Grande Dourados, a instituição teve papel fundamental no resgate da autoestima e a melhor qualidade de vida das famílias.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de. (Re)criação do campesinato, identidade e distinção. São Paulo: UNESP, 2006. FARIAS, M.F.L. Assentamento rural Sul Bonito em Itaquiraí-MS: o assentamento como lugar de reconstrução do modo de vida. In: ALMEIDA, R.A. (org.) A questão agrária em Mato Grosso do Sul. Campo Grande: UFMS, 2008. MIZUSAKI, Marcia Yukari. Território e reestruturação produtiva na avicultura. Dourados-MS: EDUFGD, 2009. Mato Grosso do Sul: impasses e perspectivas no campo. In: Revista Terra Livre. Goiânia: AGB, 2005. Ano 21, v.2, n.25. MIZUSAKI, M.Y. (coord.). Transformações territoriais na fronteira internacional Brasil- Paraguai: o caso do município de Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul. Dourados-MS, 2006. Projeto de pesquisa, Universidade Federal da Grande Dourados. RAFFESTIN, Claude. O que é território. In: Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. TRIVIÑOS, Augusto N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. Sitios: http://64.233.163.132/search?q=cache:lvxxjdgu8ccj:www.agroecologiaemrede.org.br http://www.iica.int/esp/regiones/sur/chile/documents/plano%20territorial%20desenvolvimen to%20rural%20sustent%c3%a1vel.pdf http://www.do.ufgd.edu.br/omardaniel/arquivos/docs/a_artigos/usoterrasig/ikonoslgrande2 008.pdf