REMEMORAÇÃO DA LUTA PELA TERRA E CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E ECONÔMICA DO ASSENTAMENTO RURAL PRIMEIRO DO SUL CAMPO DO MEIO (MG)
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1 REMEMORAÇÃO DA LUTA PELA TERRA E CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA E ECONÔMICA DO ASSENTAMENTO RURAL PRIMEIRO DO SUL CAMPO DO MEIO (MG) KELSON SERAFINI LUCAS 1 e ANA RUTE DO VALE 2 kslmg@yahoo.com.br, ana.vale@unifal-mg.edu.br 1 Bolsista de iniciação científica do curso de Geografia Unifal-MG 2 Docente do curso de Geografia Unifal-MG Palavras Chaves: Luta pela terra, assentamento, reforma agrária. Introdução O estudo aqui apresentado encontra-se em andamento por tratar-se do Trabalho de Conclusão do Curso de Geografia (licenciatura). Portanto, nossos resultados ainda são preliminares. No contexto da geografia agrária brasileira nasce uma questão que transcende a própria geografia e que faz parte do injusto sistema político e de governo capitalista, onde a opção política neoliberal coloca nosso país em posição periférica na lógica capitalista de mercado, submetendo-se as vontades superiores de países centrais, estamos falando da questão agrária brasileira, que desde a colonização promove a concentração fundiária e a desigualdade no campo. Tendo o Estado como colaborador e facilitador de políticas públicas o capital se reproduz através do agronegócio, beneficiando uma pequena parcela da burguesia brasileira além das grandes corporações internacionais. Dentro desta lógica procuramos explicitar algumas teorias a respeito da questão agrária no Brasil de maneira geral, em Minas Gerais e especificamente no Sul de Minas e no município de Campo do Meio - MG, onde nosso estudo de caso procura fazer alguns levantamentos no Projeto de Assentamento Primeiro do Sul, fruto da luta pela terra de trabalhadores rurais. Objetivos 1
2 O presente trabalho tem como objetivos: a) resgatar a história de luta dos assentados no processo de acesso a terra no assentamento Primeiro do Sul; b) elaborar um mapeamento de uso e ocupação do solo do assentamento; c) identificar a viabilidade econômica no assentamento, de forma a detectar até que ponto a produção agrícola se serve ao mercado ou ao auto-consumo das famílias, bem como a presença de outras formas de geração de renda individual ou coletiva; d) desvendar as perspectivas de futuro, com relação à permanência dos jovens no assentamento. Fundamentação Teórica A questão da terra é tema recorrente em vários estudos, inclusive na geografia. Apresentaremos aqui a visão de alguns desses autores comprometidos com essa causa. Na visão de Martins (2007), a questão agrária no Brasil, permanece inalterada ao longo dos séculos de nossa história, dificultando o acesso à terra por parte das populações pobres, dependentes de altos recursos financeiros para adquiri-la e ao mesmo tempo excluindo essa mão-de-obra, cada vez mais desnecessária à grande propriedade. Trata-se de uma questão política como a de qualquer país e que surgiu com o desenvolvimento capitalista. Portanto, ele defende a idéia de que não existe uma questão de reforma agrária, mas uma questão agrária. A reforma agrária seria uma solução para o problema da questão agrária. O problema fundiário brasileiro é analisado por Prado Jr. (1987) como uma questão de justiça social, já que a questão agrária seria um problema humano, de padrão de vida do homem do campo. O autor argumenta que, apesar de seu crescimento interno, urbanização, relativa diversificação das atividades econômicas produtivas, através, principalmente do setor industrial, a estrutura econômica do Brasil continua sendo agromercantil, caracterizada pela intensificação do latifúndio e da monocultura, atendendo, como no passado a interesses externos. 2
3 Nesse contexto, Fernandes (2001) lembra o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que por meio de ocupações, pressionam o governo a realizar a reforma agrária, que por sua vez, reprime ou realiza projetos de assentamentos rurais (PA) no intuito de amenizar o ânimo de seus integrantes para continuar privilegiando o agronegócio. O autor elenca as diferentes manifestações promovidas pelo MST: trabalho de base às ocupações de terra; acampamentos e protestos com ocupações de prédios públicos, com intermináveis negociações com o governo; atuação nos assentamentos nas reivindicações por política agrícola, formação da consciência de outros direitos básicos como educação, saúde, etc. A opção pelas ocupações de terras no Brasil, atualmente, representam tanto uma estratégia de denúncia das injustiças praticadas historicamente no campo brasileiro, quanto uma forma de revelar a importância do MST, como um dos poucos movimentos sociais do país que, na atualidade tem se mostrado capaz de contestar efetivamente o status quo e promover o enfrentamento político em defesa dos trabalhadores. (OLIVEIRA; ALMEIDA s/d, p.3). Para as famílias assentadas, segundo Ferrante (2005, p.13), [...] a terra é muito mais que um atrativo financeiro imobilizado: é lugar onde se vive, onde se trabalha onde se é feliz, onde se nasce, onde se cresce e onde se morre. Sobre ela existe, além de um investimento econômico, um investimento simbólico e emocional. Todas essas dimensões tornam complexa a realidade social da Reforma Agrária no Brasil. Metodologia Utilizaremos como metodologia para o desenvolvimento desse estudo as seguintes etapas: a) levantamento e revisão bibliográfica; b) coleta de dados primários por meio de aplicação de questionários semi-estruturados junto aos membros mais antigos para obter informações orais detalhadas sobre o processo de luta pela terra no assentamento Primeiro do Sul e questionário objetivo, buscando caracterizar os diversos aspectos econômicos do 3
4 assentamento; c) coleta de dados secundários (Prefeitura Municipal de Campo do Meio, INCRA, CUT, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, jornal Estado de Minas, etc); d) elaboração de material cartográfico para mapear o uso do solo e vegetação no assentamento; e) tabulação e análise dos dados coletados; f) redação e relatório final da pesquisa. Resultados Parciais Os resultados obtidos até o momento permitiram identificar vários aspectos referentes à realidade dos assentados do Primeiro do Sul. A primeira é que o cotidiano dos assentados do Primeiro do Sul, por si só desmistifica os conceitos apregoados pela mídia com relação a criminalização dos movimentos sociais. São trabalhadores que acima de tudo prezam pela sua dignidade como pessoa, o que significa para eles, dentre outras coisas uma boa relação com os citadinos, inclusive com os comerciantes, não possuindo pendencias financeiras. Outra constatação refere-se ao próprio contexto de luta pela terra e a territorialização do espaço, que está diretamente ligado a última grande greve na antiga usina de álcool Ariadnópolis, em A situação dessa usina, que era produtora de álcool, era de quase falência, por conta de dívidas assumidas e não quitadas junto ao Banco do Brasil. Esses trabalhadores tiveram o apoio dos STR (Sindicato de Trabalhadores Rural) da região e, posteriormente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que os coloca em contato com lideranças estaduais do MST. Nesse contexto em 18 de novembro de 1996 ocorre a ocupação da fazenda Jatobá que posteriormente se transforma em assentamento. Foram cerca de 67 famílias que estavam dispostas a participar do processo de ocupação de terras improdutivas da região. Sem dúvida, a maioria eram trabalhadores grevistas da referida usina, que conheciam muito bem o local e tinham conhecimento sobre a existência de uma área vizinha à usina, denominada Fazenda Jatobá, que estava em processo de arrematação para saldo de dívidas dos proprietários com o Banco do Brasil. De um modo geral, as famílias que participaram do processo de ocupação da Fazenda 4
5 Jatobá, têm uma trajetória semelhante, como trabalhadores volantes explorados pela agricultura capitalizada e moderna da região. No Primeiro do Sul a organização interna é composta por cinco núcleos com oito famílias, em média, dispostos por proximidade geográfica por núcleo, sendo que em cada um são escolhidos dois representantes para comporem a coordenação geral. Existe também a representação de setores, sendo eles de produção, educação, finanças e saúde; além da Associação dos Assentados da Fazenda do Primeiro do Sul (ASFAPSUL). Em termos de sistema de produção, as famílias trabalham de forma individualizada, tendo como a principal atividade econômica a cafeicultura, além do gado leiteiro e de culturas para consumo e venda do excedente. Ainda são muito poucos os trabalhos desenvolvidos de forma coletiva no assentamento, sendo que as iniciativas de cooperação encontradas são: mutirão de manutenção dos espaços coletivos, na colheita de arroz e algumas atividades no café (plantio e colheita) (MOTA, 2008, p. 63). Quanto à organização de trabalho, existem quatro formas no Primeiro do Sul, segundo o autor, que são: a) trabalho desenvolvido pelos membros da família; b) trocas de diárias com os vizinhos, principalmente no período de colheita de arroz, feijão e café; c) contratação de máquinas para a preparação do solo (arados, grades, plantadeiras e batedeira) e; d) contratação de pessoas do próprio assentamento para colheita do café, sendo que o pagamento é realizado pelo rendimento do trabalho (MOTA, 2008, p ). Referências Bibliográficas FERNANDES, B. M. A questão agrária no limiar do século XXI. Espaço e Geografia. Brasília: Instituto de Ciências Humanas/UnB, n.1, Jan.-Jun./2001, p FERRANTE, V. L. B.; ALY JÚNIOR, O. (Org.) Assentamentos rurais: impasses e dilemas (uma trajetória de 20 anos). São Paulo: INCRA/ABRA/Uniara, MARTINS, J. S. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, MOTA, D. N. Tendências produtivas da cafeicultura (Coffea arabica) no Assentamento Primeiro do Sul, Campo do Meio MG: abordagem sócio- 5
6 econômica-ambiental. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Agroecologia), Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, OLIVEIRA, E. M.; ALMEIDA, A. Sonhos, conflitos e contradições na luta pela terra Assentamento Rio das Pedras, Uberlândia/MG Disponível em: Acesso em 16/10/2008. PRADO JÚNIOR, Caio. A questão agrária no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Brasileiense, QUEIROZ, A. M. D.; MOTTA, R. A. Reflexões sobre Geografia; universidade e extensão comunitária. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CIDADES MÉDIAS, 2., Uberlândia, MG, Anais eletrônicos. Uberlândia: UFU, p. 1-14,
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