i N º 2 / 1 5 A T R I B U T A Ç Ã O A N G O L A N A ( V I ) : O N O V O C Ó D I G O D A S E X E C U Ç Õ E S F I S C A I S INTRODUÇÃO No âmbito da reforma tributária em curso em Angola, foi, no passado dia 22 de Outubro de 2014, publicada a Lei n.º 20/14, que aprova o novo Código das Execuções Fiscais, com entrada em vigor a 1 de Janeiro de 2015. O novo Código das Execuções Fiscais vem regular a cobrança coerciva das dívidas fiscais e visa substituir o antigo regime simplificado das execuções fiscais, com a criação de um novo sistema de execuções fiscais, mais completo e maturado. TAX & BUSINESS A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com Remover para o endereço email newsletter@rffadvogados.com. O ÂMBITO OBJECTIVO Cumpre referir que o novo processo de execução fiscal visa a cobrança coerciva das dívidas tributárias, mas, também, de multas aplicadas em processos de transgressão fiscal e, bem assim, de juros, custas, multas e outros encargos fiscais. Importa ter presente que, no âmbito do processo de execução fiscal, a legalidade da dívida exequenda não pode ser discutida como, também, não pode ser declarada a falência ou insolvência do executado. 01 Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 Band 1 Tax Portuguese Law Firm 2013 International Tax Review "Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners Band 1 RFF Leading Individual 2013 Who s Who Legal RFF Corporate Tax Adviser of the Year 2013 IBFD Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique
Por sua vez, é pressuposto do referido processo de execução, a existência do título executivo, relativamente a uma quantia certa, líquida e exigível, que decorre da obrigação tributária subjacente. A nova lei esclarece que, apenas podem ser utilizados como títulos executivos: i) as certidões de dívidas tributárias, ii) as certidões de decisões exequíveis de aplicação de multas em processos de transgressão fiscal, e iii) quaisquer outros títulos a que a lei atribua força executiva. O ÂMBITO SUBJECTIVO No que diz respeito ao seu âmbito subjectivo, o novo Código das Execuções Fiscais considera que podem ser partes no processo tributário aqueles a quem a lei confira personalidade tributária. Adicionalmente, têm especial legitimidade no referido processo i) o órgão administrativo de execução fiscal que promove o processo, ii) o exequente, iii) o devedor, iv) o cônjuge ou companheiro em união de facto do devedor, o responsável solidário ou subsidiário, o sucessor, o garante e o seu sucessor, v) os terceiros prejudicados e vi) o ministério público. No que diz respeito aos sujeitos, com legitimidade processual, importa ter em consideração que o novo Código das Execuções Fiscais tem disposições próprias, referentes ao chamamento à execução, sendo proibida a coligação de exequentes. De referir, ainda, que, quando o valor do processo ultrapasse metade da alçada do tribunal fiscal e aduaneiro competente é obrigatória a constituição de mandatário para efectuar (i) a oposição por embargos de terceiros, (ii) a oposição à penhora, ou (iii) a impugnação de crédito reclamado em acção subordinada de verificação e graduação de crédito. É sempre obrigatória a constituição de advogado na acção subordinada de anulação de venda e nos recursos ordinários e extraordinários. A INSTAURAÇÃO DA EXECUÇÃO De acordo com o novo Código das Execuções Fiscais, o processo executivo é instaurado mediante despacho do chefe do órgão administrativo de execução fiscal, no prazo de 5 dias, após a emissão ou recebimento, verificação da legalidade e correcção de insuficiências apresentadas. A CITAÇÃO No que diz respeito aos actos processuais, importa atender ao acto pelo qual se chama ao processo os devedores e responsáveis pela dívida exequenda: a citação. Esta visa citar os devedores originários, cônjuges ou companheiros, os responsáveis solidários e subsidiários, os garantes do pagamento da 02
divida, os sucessores, os titulares de garantia real e os devedores dos créditos, da existência de um título executivo e, designadamente, da instauração de um processo de execução fiscal. As pessoas colectivas são citadas (i) através dos seus administradores gerentes ou representantes ou (ii) através de qualquer empregado que se encontre na sua sede ou local da administração e que seja capaz de transmitir os termos do acto. De referir que a falta de citação tem como consequência a nulidade (insanável). escritos e audiovisuais, sempre que se justifique. A OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO A oposição à execução pode ser deduzida mediante requerimento, nos termos do qual se requer a revisão da decisão de instauração de processo de execução fiscal, ou mediante embargos, nos termos dos quais se visa a anulação, total ou parcial, da decisão de instauração de processo de execução fiscal. Estes meios de oposição não podem ser utilizados cumulativamente e têm formalidades próprias. Na sequência da citação, é comunicado ao executado que i) pode opor-se à execução, ii) pode requerer o pagamento a prestações, iii) pode propor a dação em cumprimento de bens suficientes para o pagamento da dívida, e iv) pode indicar a apresentação de reclamação administrativa ou impugnação judicial da dívida exequenda. A citação é, em regra, efectuada por entrega pessoal ou carta registada remetida para o domicílio fiscal do executado. Todavia, nos casos em que a dívida exequenda ultrapasse os Kz 2.500.000,00 a citação apenas ocorre após a penhora. Por sua vez, nos casos em que a divida exequenda ultrapasse os Kz 500.000,00 a citação é efectuada editalmente, sendo utilizadas as informações obtidas junto das autoridades policiais e municipais e os meios de comunicação sociais A oposição à execução pode ser deduzida no prazo de 30 dias, após a citação ou após conhecimento de facto superveniente que sirva de fundamento à execução. O novo Código prevê, taxativamente, os fundamentos para a oposição à execução e que são i) a inexistência do imposto ou contribuição especial, ii) a ilegitimidade da pessoa citada por não ser devedor, iii) a falsidade do título executivo, iv) a ilegalidade do título executivo v) a falta de notificação da liquidação, vi) a duplicação da colecta vii) a falta ou nulidade da primeira citação para a execução, e viii) a prescrição, pagamento ou anulação da divida exequenda. Caso a apresentação da oposição não ocorra dentro do prazo legal e de acordo com os fundamentos acima mencionados não será admitida pelo Tribunal. 03
Por outro lado, é de referir que, em caso de pagamento da dívida exequenda, a oposição extingue-se automaticamente. O PAGAMENTO A PRESTAÇÕES O executado pode requerer o pagamento em prestações, junto do chefe do órgão administrativo de execução, sempre que não seja possível o pagamento numa só prestação, devido a graves dificuldades económicas. Assim, o pagamento em prestações deve verificar-se mensalmente, podendo ser fixadas entre 6 a 18 prestações, de valor não inferior a Kz 10.000,00. A opção pelo pagamento em prestações implica que seja prestada garantia pelo executado a efectuar, no prazo de 15 dias, após notificação para o efeito. O pagamento em prestações não é admissível quando a transmissão ou entrega de bens dependa do pagamento do imposto ou a dívida exequenda for cobrada nas alfândegas, pelo que, nestes casos, é imediatamente ordenada a penhora. A DAÇÃO EM CUMPRIMENTO Em certas situações, a requerimento apresentado pelo executado, pode o responsável máximo do órgão superior da Administração tributária admitir a dação em cumprimento de bens que sejam suficientes para o pagamento da dívida exequenda e respectivos acréscimos. Neste sentido, o novo Código considera que podem ser dados em cumprimento bens móveis de relevante valor histórico e cultural, pedras preciosas (diamantes), metais preciosos (ouro) e bens imóveis. Todavia, sempre que as entidades credoras do executado não manifestarem qualquer interesse na execução do bem, o responsável máximo do órgão superior da Administração tributária deverá indeferir a dação em cumprimento requerida. A SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO O novo Código prevê que a execução se pode suspender se i) for prestada uma garantia idónea, ii) ocorrer a citação do cônjuge ou do companheiro do executado, após penhora dos bens comuns do casal em execução por dívida não comunicável, iii) for solicitado o pagamento em prestações da divida, iv) ocorrer uma acção subordinada de verificação e graduação de crédito, v) acção subordinada de anulação da venda, vi) o executado for declarado insolvente ou falido e, se vii) a acção judicial sobre a propriedade ou posse de bens penhorados estiver pendente. Os casos de cessação da suspensão da execução estão, também, elencados no novo Código. 04
A PRESTAÇÃO DE GARANTIA A PENHORA O novo Código das Execuções Fiscais estabelece que, para efeitos da suspensão da execução, o executado pode prestar garantia idónea, caso informe sobre a pendência de reclamação administrativa ou impugnação judicial da liquidação da dívida exequenda, sendo notificado para o efeito, no prazo de 15 dias. Ora, a garantia prestada deve ser uma garantia idónea. Considera-se idónea, para efeitos do novo Código, a garantia bancária, a caução, o seguro-caução, a hipoteca, o penhor e a penhora na execução fiscal de bens de valor suficiente para assegurar o pagamento da dívida exequenda e acréscimos. Se a garantia não for prestada no prazo acima referido, proceder-se-á de imediato à penhora, ficando a execução suspensa se a penhora abranger bens de valor suficiente para o pagamento da dívida e, bem assim, das custas e demais encargos com o processo. A garantia pode, porém, ser dispensada, sempre que, da sua prestação, resultem graves dificuldades económicas para o executado e, bem assim, caso se considere que a dispensa é o único meio de o executado obter condições para, no futuro, obter os meios financeiros necessários ao pagamento da dívida exequenda. De acordo com o Código em vigor, a penhora pode ser efectuada pelo Tribunal ou pelo chefe do órgão administrativo de execução fiscal, findo o prazo referido na citação e sem que tenha sido requerido o pagamento a prestações ou a dação em pagamento, ou, ainda, prestada garantia idónea na pendência de reclamação administrativa ou impugnação judicial, contra a dívida exequenda. A penhora deve ser, obrigatoriamente, efectuada pelo Tribunal, quando estejam em causa bens imóveis que constituem habituação principal do executado e bens móveis localizados nessa habitação. Por sua vez, a penhora pode ser efectuada pelo chefe do órgão administrativo, quando se trate de i) outros bens imóveis e móveis existentes, ii) valores monetários ou objectos depositados, iii) créditos bancários, iii) partes sociais, iv) títulos de crédito ou valores mobiliários, v) abonos, vencimentos, rendas juros e outros rendimentos periódicos, vi) bens indivisos, ou de vii) qualquer outro bem. O mandato de penhora deve ser cumprido pelo órgão administrativo de execução, no prazo de 15 dias. A penhora está, naturalmente, sujeita ao princípio da proporcionalidade, pelo que, apenas podem ser penhorados bens suficientes para o pagamento da dívida e correspondentes acréscimos. 05
O presente Código estabelece, ainda, alguns regimes especiais de penhora. A OPOSIÇÃO À PENHORA A oposição à penhora pode ser deduzida pelo executado e, bem assim, por terceiro que veja a sua posse ofendida por qualquer diligência. A apresentação de oposição não suspende os termos do processo de execução fiscal. A oposição à penhora pode ser deduzida no prazo de 10 dias após a notificação ou o conhecimento da penhora, pelo que não pode ser deduzida após a venda executiva dos bens. De referir que, nas situações em que a citação ocorre após a penhora, o prazo da oposição é alargado para 30 dias. Também neste caso, o Código prevê, de forma taxativa, os fundamentos da oposição à penhora e que são i) a inadmissibilidade da penhora de bens impenhoráveis, ii) a incidência da penhora sobre bens que não podem responder pela dívida exequenda, iii) a determinação de prestação de garantia indevida ou em montante superior, e iv) a ofensa da posse de boa-fé. A EXTINÇÃO DA INSTÂNCIA O processo de execução fiscal extingue-se pelo i) pagamento da dívida, ii) pela anulação da liquidação ou declaração de nulidade ou inexistência da dívida iii) pela anulação total do processado; iv) pela procedência da oposição; v) declaração de prescrição e vi) pela declaração em falhas. No caso de estar em causa uma execução por multas, o código prevê outros casos de extinção. Em face do exposto, e no que se refere, em concreto, ao pagamento da dívida, considerase que a extinção pode ocorrer mediante pagamento voluntário ou mediante cobrança coerciva. Relativamente à declaração em falhas, esta ocorre sempre que, no auto de diligência, se verifique i) a inexistência de bens penhoráveis do executado e outras partes com legitimidade, ii) ser desconhecido o executado e não ser possível identificar o prédio e iii) estar o devedor ausente em parte incerta e não dispor de outros bens penhoráveis. AS RECLAMAÇÕES E OS RECURSOS Os actos praticados pela repartição de finanças são susceptíveis de reclamação, a deduzir pelo executado ou por terceiros, no prazo de 10 dias após a notificação ou o efectivo conhecimento, junto do Tribunal Competente com Jurisdição Fiscal e Aduaneira. Por outro lado, a parte vencida pode interpor Recurso, no prazo de 15 dias, após notificação da decisão recorrida, para a Câmara do Cível e Administrativo Fiscal e Aduaneira do Tribunal Supremo, das decisões do Tribunal referentes 06
aos incidentes de oposição por embargos e de oposição à penhora, das acções subordinadas de verificação e graduação de créditos, das reclamações de actos administrativos, das decisões de incompetência material ou hierárquica do Tribunal, entre outras situações elencadas. No âmbito dos recursos a prova testemunhal não é admissível. OS EFEITOS DA SITUAÇÃO TRIBUTÁRIA NÃO REGULARIZADA O novo Código prevê que os executados não têm a sua situação tributária regularizada, nos seguintes casos i) quando têm processos de execução fiscal pendentes por dívidas de impostos ou outras prestações tributárias, a não ser que tais processos se encontrem suspensos, e ii) quando são declarados em falhas em processos de execução fiscal, enquanto a dívida não for paga e não tiver terminado o prazo de prescrição. Caso se verifique alguma destas situações, o executado fica inibido para certos actos, como a celebração ou renovação de certos contratos com o Estado e outros entes públicos ou de concorrer à concessão de serviços públicos e obras públicas. A LISTA DE DEVEDORES Tendo em consideração o interesse público na prevenção da evasão fiscal, a Administração tributária divulga a lista dos devedores, cuja situação tributária não está regularizada, sempre que a dívida ultrapasse os Kz 5.000.000,00. O contribuinte que se encontre nesta situação é notificado para se pronunciar, no prazo de 5 dias, antes de a lista ser publicada. Se o contribuinte tiver impugnado a dívida exequenda a publicação do seu nome na lista de devedores fica suspensa. Lisboa, 5 de Janeiro de 2014 Rogério M. Fernandes Ferreira Francisco de Carvalho Furtado Marta Machado de Almeida José Diogo Mègre Pires Catarina Ribeiro Caldas O executado pode provar que a sua situação está regularizada, mediante a apresentação de certidão passada pela repartição do domicílio, declarando a inexistência de dívidas dos tributos. 07