Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/DJ/2011

Documentos relacionados
Código de Processo Penal Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/CONT-I/2008

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/AUT-R/2011

Deliberação 1/SOND/2009. Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 6/OUT-TV/2008

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação. Directiva 1/2008. Sobre publicações periódicas autárquicas.

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 21/LIC-R/2008

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/PUB-I/2007

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 24/DR-I/2011

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 3/AUT-TV/2007

INCIDENTE de ESCUSA Nº 252/11.0YRPRT I RELATÓRIO

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/LIC-R/2009

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 34/LIC-R/2008

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 23/CONT-I/2011

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/LIC-R/2009

Estatuto Universal do Juiz de 17NOV99. Preâmbulo

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 46/LIC-R/2009

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/AUT-TV/2008

Deliberação ERC/2016/179 (DJ-NET)

Deliberação 136/2014 (DJ) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Directiva 1/2008. Sobre publicações periódicas autárquicas.

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 3/OUT-TV/2010

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/LIC-R/2010

Deliberação. Atentando na referida cópia, o documento tem o seguinte título: Provimento

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/DR-TV/2007

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 37/CONT-I/2010

Título. Direção-Geral da Administração da Justiça

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 22-Q/2006 que adopta a Recomendação 6/2006

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 28/CONT-I/2010

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/CONT-I/2011

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 12/LIC-R/2008

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 4/AUT-R/2009

PARECERES Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/LIC-TV/2007

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 22/AUT-R/2011

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL

TRIBUNAL CONSTITUCIONAL. ACÓRDÃO N. o 115/2010. (Recurso do Acórdão N 104/2009 ) Acordam, em nome do Povo, no Plenário do Tribunal Constitucional

Mas, o dever de sigilo não é absoluto. Há casos, excepcionais, em que a justiça ficaria abalada se a dispensa de sigilo não procedesse.

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 6/LIC-R/2011

- Dispensa de Segredo Profissional nº 47/SP/2009-P

3. Como requerer a dispensa de segredo profissional? Prazo, fundamentação e documentação

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 25/AUT-R/2008

Deliberação 111/2015 (CONTJOR-TV) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 3/CONT-TV/2008

ACORDAM NA SECÇÃO DISCIPLINAR DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Por despacho do Senhor Vice-Procurador-Geral da República, datado de 8 de

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 2/CONT-TV/2009

Exmos. Senhores Juízes Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça. Proc. NUIPC 147/13.3TELSB-K.L1

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV 2015/2016 Mestrado Forense / Turma B (Rui Pinto) EXAME FINAL ( ) - Duração 2 h 30 m

Deliberação ERC/2017/72 (DR-I)

SENTENÇA C O N C L U S Ã O

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 16/CONT-I/2011

Deliberação 4/2013 (DR-I) Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

PARECERES Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Normas relevantes em matérias de comunicação social. Artigo 86.º Publicidade do processo e segredo de justiça

Deliberação ERC/2016/185 (DJ) Queixa de Paulo Quintela, Diretor da publicação Jornal de Mafra, contra a Câmara Municipal de Mafra

Tribunal Administrativo c Fiscal de Lisboa

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 1/SOND/2011

A Informação do Sector Público O acesso aos documentos da Administração Pública. Juiz Conselheiro Castro Martins ( CADA )

Deliberação ERC/2016/250 (DR-I)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 47/DR-I/2008

Tribunal de Contas Gabinete do Juiz Conselheiro

Documentos e Feitos Sob Sigilo ou em Segredo de Justiça

RECURSOS JURISDICIONAIS

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA REVELIA. Artigos 344 a 346 do Código de Processo Civil. Curso de Pós-Graduação de Direito do Consumidor - Aula 35

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 9/CONT-R/20100

! PROVA!DE!AFERIÇÃO!! (RNE)!! MANHÃ!! Prática!Processual!Penal! (11!Valores)!! GRELHA!DE!CORRECÇÃO!! 12!de!Abril!de!2013!!

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 3/CONT-I/2011

S. R. CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA PARECER

Regime do Segredo de Estado

PARECER Nº 68/PP/2013-P CONCLUSÕES:

Deliberação 266/2013 (DR-I)

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/PUB-TV/2010

PARECERES Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 8/PUB-TV/ Participação de Ana Margarida Rodrigues contra a SIC

- Dispensa de Segredo Profissional nº 241/ Requerimento

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 27/DR-I/2007

O Requerente salienta mesmo que é a única pessoa que sabe que as tornas agora exigidas foram efectivamente pagas.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 29/DR-I/2011

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

TRIBUNAL SUPREMO. Câmara do Cível e Administrativo NA CÂMARA DO CÍVEL E ADMINISTRATIVO DO TRIBUNAL SUPREMO, ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, EM NOME DO POVO:

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

Processo n.º 493/2016 Data do acórdão:

PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA NA ORIENTA- ÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA: PROCEDIMENTOS DE UNIFOR- MIZAÇÃO BREVES NOTAS

nota prévia à 4.ª edição 5 nota prévia à 3.ª edição 7 nota prévia à 2.ª edição 9 nota prévia 11 abreviaturas 13

ECLI:PT:TRE:2006:

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 5/AUT-TV/2008

ACÓRDÃO N.º 17/2013-3ª S-PL R.O.

Acordam no Conselho Fiscal e Jurisdicional Nacional

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA GABINETE DE APOIO AO VICE-PRESIDENTE E MEMBROS DO CSM PARECER

Título Direção-Geral da Administração da Justiça Direção-Geral da Administração da Justiça

3 DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL... 23

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Deliberação 20/DR-I/2009

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO

CONSTITUIÇÂO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. (texto integral) Tribunais SECÇÃO V CAPÍTULO I. Princípios gerais. Artigo 202. (Função jurisdicional)

ACÓRDÃO N.º 10/2005-1ªS/PL-15.Mar.2005

Transcrição:

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social Deliberação 2/DJ/2011 Requerimento do jornalista António Palmeiro relativo a um despacho judicial de indeferimento da consulta de um processo cível Lisboa 27 de Julho de 2011

Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social Deliberação 2/DJ/2011 Assunto: Requerimento do jornalista António Palmeiro relativo a um despacho judicial de indeferimento da consulta de um processo cível I. Requerimento 1. No dia 14 de Junho, deu entrada da ERC ofício subscrito pelo jornalista António Palmeiro, remetendo cópias de um despacho de indeferimento da consulta de um processo cível envolvendo uma empresa construtora e um município. Não concordando com o indeferimento, o jornalista veio dar conhecimento do mesmo à ERC, para os efeitos tidos por convenientes. 2. No despacho, o juiz indefere o pedido de consulta do processo pelo jornalista António Palmeiro, por concordar na íntegra com a posição assumida pelo réu Município, que veio defender que a publicação de uma notícia não é de per se motivo suficiente para que se considere atendível o pedido de consulta dos autos, que o acesso aos autos pelo Ilustre Jornalista poderá revelar-se prejudicial para o normal desenrolar da lide (sobretudo se atender ao facto de se se estar em plena época eleitoral ) e que o acesso dos meios de comunicação social aos processos judiciais não raras vezes conduz à deturpação da factualidade em discussão e a erradas e descontextualizadas interpretações de factos alegados. 3. No dia 20 de Junho de 2011, deu entrada na ERC novo ofício do jornalista António Palmeiro, remetendo novo despacho que indeferiu a sua segunda tentativa de consulta do processo. 4. Entende o jornalista que tal recusa limita o exercício da profissão de jornalista, a liberdade de expressão e a divulgação de factos relativos a uma entidade pública, não havendo razões legais ou objectivas para tal recusa. 1

II. Análise 5. Comece-se por salientar que é reconhecido aos jornalistas, como reflexo do direito de informar e como condição necessária ao regular exercício da sua actividade, o direito de acesso às fontes de informação. 6. Em particular, o artigo 8.º do Estatuto do Jornalista reconhece a esta classe profissional o direito de acesso às fontes oficiais de informação. 7. Genericamente, o acesso a processos judiciais sejam penais, cíveis ou do foro administrativo segue as regras previstas nos códigos processuais respectivos. 8. É certo que a ERC não poderá apreciar uma decisão de um magistrado que, nos termos da lei processual, indefira pedido de consulta de um processo judicial. 9. Relembre-se, com efeito, o princípio da independência estabelecido no Estatuto dos Magistrados Judiciais, que determina que estes não estão sujeitos a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores (cfr. artigo 4.º). 10. Não pode, assim, uma entidade administrativa aquilatar, a pedido de um particular, do bom ou mau fundamento de despachos judiciais ou servir de instância de recurso de decisões de um juiz. 11. O despacho que indeferiu o pedido de consulta do jornalista será, porventura, recorrível nos termos da lei processual civil ou susceptível de participação junto do Conselho Superior da Magistratura. 12. Ainda assim, não poderá esta Entidade deixar de notar, até pelas suas atribuições relativas ao livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa, que o processo civil é público, salvas as restrições previstas na lei e que qualquer pessoa que nisso revele interesse atendível pode consultar o processo (artigo 167.º do Código de Processo Civil). 13. O n.º 3 do artigo 8.º do Estatuto do Jornalista determina, relativamente ao acesso de um jornalista a documentos administrativos, que o interesse dos jornalistas no acesso às fontes de informação é sempre considerado legítimo, sendo que o 2

Conselho tem como certo que, relativamente ao acesso de jornalista a documentos constantes de processo judicial, seria indefensável sustentar a formação da presunção oposta. 14. Parece certo que um processo judicial que tenha como partes uma empresa construtora e um município não conterá, em princípio, informações que possam causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar ou à moral pública e que justificassem, por isso, limitações à sua publicidade (artigo 168.º, n.º1, CPC). III. Deliberação Considerando que o processo civil é público, salvas as restrições previstas na lei (artigo 167º CPC); Entendendo, relativamente ao acesso dos jornalistas a documentos constantes de um processo judicial, que seria indefensável sustentar uma presunção negativa de acesso; Tomando em consideração serem contadas as situações em que a eficácia da decisão a proferir justificará a limitação da consulta, por um jornalista, de um processo cível (artigo 168º, n.º 1, CPC); Considerando que a circunstância de o acesso a fonte de informação ocorrer em período eleitoral apenas poderá reforçar, e não enfraquecer, o juízo de que o jornalista tem um interesse legítimo em tal acesso; Relembrando, porém, que não pode uma entidade administrativa servir de instância de recurso de decisões de um juiz, O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para Comunicação Social, expressando embora a preocupação que lhe merece a importância da matéria 3

abordada, delibera dever abster-se de apreciar as concretas questões suscitadas em requerimento apresentado pelo jornalista António Palmeiro. Lisboa, 27 de Julho de 2011 O Conselho Regulador, José Alberto de Azeredo Lopes Elísio Cabral de Oliveira Maria Estrela Serrano 4