PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO

Transcrição

1 VISTOS EM INSPEÇÃO (ART. 122, PARÁGRAFO 1º, INCISO I, do PROV/COGER N. 129, de 08 de abril de 2016) PROCESSO Nº : CLASSE : REQTE : REQDO : AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MINISTERIO PUBLICO FEDERAL. JESSICA CRISTINA DE SOUZA. DECISÃO: 1. Trata-se de requerimento para que seja instaurada sindicância contra os servidores desta 3ª Vara Federal/MT, a fim de apurar o vazamento indevido e reiterado de informações e decisões do presente processo, muito antes de qualquer disponibilização do Diário da Justiça, considerando estar acobertado sob o manto do sigilo processual. 2. Analisando os autos, não vislumbrei decisão atribuindo ao feito o caráter sigiloso amplo do qual a parte reclama, e qualquer decisão que tivesse sido dada ou que pudesse ser neste sentido interpretada precisaria ser revogada pois ofende o artigo 92, inciso IX da Constituição Federal: IX Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de Pág. 1/6

2 nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (...) 3. Nos termos deste artigo, salvo a exceção do direito à intimidade, que nem de longe está presente nestes autos, todos os processos são públicos, inexistindo possibilidade jurídica de ocultar a existência de uma ação judicial, seja quem for o acusado. O máximo que pode existir é o sigilo de alguns documentos que invadam a seara da intimidade à vida privada, a exemplo dos dados fiscais e bancários. 4. Exatamente nesta linha, vejo que no ano de 2014, em fls. 71/84, foi deferida a liminar para mediante consulta aos sistemas BACENJUD, RENAJUD e congêneres constranger o patrimônio dos requeridos LUIS APARECIDO FERREIRA TORRES e JOSÉ FARIA DE OLIVEIRA até o limite de R$ ,00 e R$ ,00, respectivamente, o que foi devidamente cumprido pela Secretaria em fs. 90/94. Em relação à consulta de bens pelo sistema INFOJUD, foi aposta etiqueta no 2º volume dos autos, com o seguinte teor: DOCUMENTOS SIGILOSOS (INFOJUD) do VOLUME AVULSO CAPA ROSA referentes a LUIS APARECIDO FERREIRA TORRES e JOSÉ FARIA, podem ser vistos pelo MPF, os Requeridos acima citados e seus advogados. 5. Portanto, não há decisão decretando o sigilo sobre a Pág. 2/6

3 existência do processo, e nem mesmo sobre os atos processuais, limitando-se o sigilo a documentos que contenham essa natureza (sigilosa), como os indicados na Decisão de fls. 666/672, e eventuais juntadas de informações bancárias e fiscais. 6. De outro lado, a decisão em relação à qual a parte reclama de vazamento, não passa de um ato de mero andamento do processo, com deferimento de medidas que visam a execução da perícia já determinada em decisão anterior, além de designação de audiência, que por sua natureza é pública, ressalvadas as exceções legais inexistentes no presente feito valendo dizer, inexiste na decisão que a parte alega vazada qualquer dado sigiloso, não tendo esta natureza a existência ou o andamento do processo, pelo contrário: Artigo 368 do CPC: Art A audiência será pública, ressalvadas as exceções legais. 7. Outro ponto a ser ressaltado refere-se à falsa premissa de que somente os servidores da Vara tiveram acesso à decisão, pois como se vê às fls /2.117 verso, o ato foi produzido e assinado eletronicamente no sistema TRF1- DOC, de modo que tão logo aposta a assinatura via certificação digital, a decisão está imediatamente disponível na internet para todas as partes e seus respectivos advogados. 8. Totalmente equivocada também a informação de que a Vara Federal por encontrar-se em inspeção seria a responsável pelo vazamento, pois a Decisão foi proferida no dia 24/05/2018, semana que antecedeu a Pág. 3/6

4 Inspeção Anual Ordinária designada para o período de 28/05/2018 a 1º/06/2018, não havendo qualquer restrição de acesso dos autos às partes para vista em balcão, mas sim e apenas para retirada do feito em carga. 9. Não bastasse tudo isso, de um simples folhear dos autos constata-se que desde o seu início as próprias partes juntam notícias de jornal no feito, de onde se deduz que a própria existência do processo foi levada a público por qualquer das partes, inclusive em entrevistas e atendendo jornalistas, no que não há ilícito algum pois, como já dito e exigido pela Constituição, não há sigilo a esse tipo de processo. Por parte deste Juízo jamais houve sequer pedido de informações por parte de qualquer jornalista ou órgão de imprensa. Isto torna estranha a atitude da parte em reclamar de um mero despacho que designa audiência, quando a própria existência do processo já é conhecida há muitos anos. 10. Além do que, da simples comparação da notícia publicada com a movimentação no sistema processual Oracle, QUE É DE CONSULTA PÚBLICA, no site do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, verifico que a reportagem não foi mais do que o reflexo do acesso à este dado, pois parece espelhá-lo em todas as palavras. Não existe previsão na Constituição Federal ou em lei, que torne sequer possível esconder um registro público desse tipo, o que torna ainda mais vazia a reclamação da parte. Confira-se a informação pública, que é disponibilizada desde a prolação da decisão: Site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região ( Pág. 4/6

5 Opção Consulta Processual, aba movimentação: 11. Por fim, vejo que a parte não está totalmente errada em seu requerimento, pois foi induzida à erro pela anotação incorreta no sistema processual de que o presente feito encontra-se acobertado pelo segredo de justiça, e também por etiquetas nas capas de alguns volumes indicando sigilo sem ressalvar que ele refere-se apenas a documentos, pelo que determino que a Secretaria retifique esta falha, retirando as etiquetas apostas nos volumes, mas ficando orientada a manter como em todos os processos em trâmite perante este Juízo o sigilo em relação a todos os documentos que revistam-se desta natureza, guiando-se pelas decisões judiciais proferidas nos respectivos feitos a que se referirem tais comandos judiciais. Pág. 5/6

6 12. Diante do exposto, indefiro o requerimento da parte, mas determino a adoção das providências indicadas no item acima. 13. Publique-se e intimem-se as partes, para que não haja mais confusões sobre a natureza e trâmite do processo. Cuiabá (MT), 30 de maio de CESAR AUGUSTO BEARSI Juiz Federal da 3ª Vara Federal/MT Pág. 6/6