Revista Mundo Antigo Entrevista Interview 29
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Numismática: pesquisa arqueológica e histórica. Numismatics: archaeological and historical research. Entrevistado (interviewed): Prof. Dr. Cláudio Umpierre Carlan (UNIFAL) 1 Entrevistador: Prof. Dr. Julio Gralha () 1) Professor Cláudio Carlan para darmos início a esta entrevista poderia contar-nos um pouco de sua trajetória acadêmica. Minha graduação foi na Universidade Veiga de Almeida, licenciatura em História. Sempre tive interesse em História Antiga, durante a graduação comecei a estudar sobre Antiguidade Tardia. Depois de formado, fiz uma pós graduação Lato Sensu em Arqueologia, na Universidade Estácio de Sá. Nesse meio tempo, enquanto preparava projeto de mestrado, contando com ajuda da profa dra. Gracilda Alves da UFRJ, tive contato com coleção numismática do Museu Histórico Nacional. 1 Professor Adjunto 3 de História Antiga da UNIFAL - MG, professor visitante de Universidad Carlos III de Madrid, diretor do Museu Memória e Patrimônio - UNIFAL MG e Pós Doutor em Arqueologia (NEPAN / UNICAMP). 31
Quando vi a riqueza da coleção, praticamente inédita no meio acadêmico nacional, provavelmente no internacional também, aconselhado pela profa. Gracilda, destaquei a parte numismática no projeto. Fui aceito no mestrado da UFF, orientado pelo prof. dr. Ciro Flamarion Santana Cardoso, tendo com fonte principal, as moedas do Imperador Constâncio II, filho e herdeiro político de Constantino I, o grande. Alguns anos mais tarde, prof. dr. André Leonardo Chevitarese me apresentou ao prof. dr. Pedro Paulo Funari. Assim, comecei meu doutoramento na UNICAMP, passando uma temporada na Espanha, Barcelona, com bolsa da CAPES, supervisionado pelo prof. dr, José Remesal-Rodríguez, Catedrático de HIstória Antiga e diretor do CEIPAC (CENTRO PARA EL ESTUDIO DE LA INTERDEPENDENCIA PROVINCIAL EN LA ANTIGÜEDAD CLÁSICA). Atualmente faço pós doutorado em Arqueologia na UNICAMP (NEPAM), supervisionado pelo prof. Funari. Aconselho sempre aos meus alunos da importância dos estudos e pesquisa no exterior. Ocorre um amadurecimento profissional, por isso sempre luto pelos convênios da UNIFAL-MG com outras universidades. Atualmente tenho uma aluna escavando em Cashel, da República da Irlanda, pelo segunda ano consecutivo. 2) Poderia explicar para o nosso público formado por discentes e docentes o que é o estudo da numismática? De uma maneira geral, numismática estuda as moedas e medalhas. A formação dos gabinetes numismáticos datam do século XVIII, porém o colecionismo é bem mais antigo. Augusto, Carlos Magno, Imperadores Bizantinos, possuíam algumas moedas em suas coleções particulares. O estudo da iconografia monetária como um objeto de propaganda, mídia, teve seu pioneirismo com Tony Hackens, ministrou curso na USP durante a década de 1980, tendo como aluno Pedro Paulo Funari. 3) Como a numismática pode ser utilizada na pesquisa histórica e arqueológica? 32
O homem contemporâneo dificilmente pode ligar a moeda a um meio de comunicação entre povos distantes. Ao possuidor na antigüidade de uma determinada espécie monetária estranha, esta falava-lhe pelo metal nobre ou não em que era cunhada, pelo tipo e pela legenda. O primeiro informava-o a riqueza de um reino e os outros dois elementos diziam-lhes algo sobre a arte, ou seja, o maior ou menor aperfeiçoamento técnico usado no fabrico do numerário circulante, sobre o poder emissor e, sobretudo, sobre a ideologia político-religiosa que lhe dava o corpo. È dentro deste último aspecto que pretendemos explorar a fonte numismática. 4) Poderia nos dar um panorama da pesquisa no Brasil? Está melhorando. Nos últimos anos aumentou o número de pesquisadores que trabalham com as cunhagens monetárias. O número de publicações também está aumentando, gradativamente. Em comparação com Europa e EUA ainda estamos engatinhado. O que ajuda, em muito, é a coleção do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro. MHN possui o maior e mais completo acervo numismático da América Latina. Ainda esse ano, lançaremos mais 2 livros tendo numismática com base. 5) Em outros países a numismática tem um espaço significativo como elemento de análise da sociedade e da cultura? Sim, na Europa, por exemplo, a numismática tem uma tradição secular. As casas dinásticas européias, como os membros da alta nobreza, iniciaram as suas coleções particulares, realizando uma associação de seus domínios com os do Império Romano, principalmente com as moedas romanas. A ideia de unificação que eles tinham era Roma, por isso precisavam dessa ligação com passado. 33
6) A Numismática sofre algum tipo de preconceito pelos pares aqui no Brasil? Muito. Alguns centros acadêmicos continuam presos ao modelo positivista do século XIX. "História apenas com documentos escritos", não consideram a moeda e sua iconografia, uma importante fonte histórica. Felizmente esse padrão está mudando. Profa. Dra. Maria Beatriz Florenzano, USP, foi a primeira pesquisadora a quebrar com esse preconceito, incentivando e servindo de modelo para outros pesquisadores. 7) O professor, como diretor do Museu Memória e Patrimônio - UNIFAL -MG, pensa em viabilizar o estudo de Numismática a partir de aquisição de acervos? Sim, nosso museus foi criado para preservar o acervo da UNIFAL - MG (Universidade Federal de Alfenas), porém, a noção de acervo está sendo ampliada, inclusive com critérios de compras e doações. Creio que muito em breve, teremos em Alfenas um importante centro de referência sobre o assunto. Algumas publicações: CARLAN, Cláudio Umpierre. FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Moedas: a numismática e o estudo da história. São Paulo: Annablume, 2012. FUNARI, Pedro Paulo Abreu. CARVALHO, Margarida Maria de. CARLAN, Cláudio Umpierre. SILVA, Érica. História MIlitar do Mundo Antigo. 3 Volumes. São Paulo: Annablume, 2012. CARLAN, Cláudio Umpierre. Moeda, política e propaganda: as moedas de Constâncio II. Santos. Artefato Cultural, 2012. Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/4993746073356123 34