ETANOL - A BIOMASSA NA COGERAÇÃO DE ENERGIA E A INTERCONEXÃO DE AUTOPRODUTORES

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Transcrição:

ETANOL - A BIOMASSA NA COGERAÇÃO DE ENERGIA E A INTERCONEXÃO DE AUTOPRODUTORES Abilon Naves de Campos Silva 1, Carlos Alberto Scarparo 2, Fábio Cacheta 3, Reginaldo Donizete Macario 4 Orientador: Eder Fonzar Granato 5 1, 2, 3, 4 Acadêmicos do Curso de Pós-Graduação MBA em Gestão Sucroalcooleira Turma VIII do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil 5 Docente do Curso de Pós-Graduação MBA em Gestão Sucroalcooleira Turma VIII do Centro Universitário de Lins-Unilins, Lins-SP, Brasil RESUMO Este trabalho, em forma de artigo acadêmico, traz a análise do potencial de cogeração de energia na interconexação de autoprodutores das usinas à biomassa de cana, destacando-a como importante fonte componente da matriz energética nacional, principalmente por suas características como fonte de contribuição para a minimização de possíveis índices de déficit energético previsto para os anos vindouros. Por conseguinte, são estudadas três alternativas a primeira em agroindústrias sucroalcooleiras consideradas de alta eficiência, a segunda nas que estão em projeto, ou seja, que possuem um determinado valor em MW/Hora e a terceira nas que ainda, por dependência do processo da moagem não possuem o processo de cogeração de eletricidade. Pretende-se analisar os problemas existentes na interligação de autoprodutores à rede de distribuição, como veículo do produto da cogeração de eletricidade a partir da biomassa, bem como analisar de forma geral e pontual as possíveis dificuldades nos procedimentos e em normas regulatórias (ou na falta de) para a sua implantação. Pretende-se, ainda, detectar todo o processo contido na interconexão até a rede de distribuição e elaborar soluções para possíveis dificuldades e atuais impedimentos. Foram analisadas publicações existentes sobre o assunto, pesquisa via eletrônica, visitas e entrevistas em agroindústrias sucroalcooleiras da região, objetivando análise sistemática da interconexão, ordenamento jurídico e norma regulatória específica. Por último, a falta de conexão ao sistema interligado nacional, bem como a lentidão em se obter as licenças ambientais e o preço teto dos leilões é apresentado como os principais argumentos das dificuldades encontradas para o aproveitamento do potencial da bioeletricidade. Palavras Chaves: Bioeletrecidade, Cogeração, Leilão de Energia, Eletrificação e Interconexão. 1. Introdução 1.1. Objetivos e Estrutura do Trabalho A energia, resultante da cogeração de biomassa proveniente da agroindústria sucroalcooleira, ao longo dos últimos anos compõe expressiva e aceleradamente a matriz energética brasileira. Desta forma, integra soluções associadas a oportunidades econômicas que conduzem a um determinado grau de satisfação social. Todavia, a energia como produto da cogeração de biomassa apresenta dificuldades não satisfeitas, no aspecto conectividade, em relação aos autoprodutores e rede de

2 distribuição. Verificam-se gargalos institucionais e não institucionais obstrutivos à maximização dos fatores e recursos alocados para tal fim. Porém, tais impedimentos seriam restritivos ou operativos? Para melhor compreensão temos como enfoque principal o desempenho estratégico da Interconexão como veículo de distribuição da energia proveniente de Cogeração a partir da biomassa. Nos trabalhos produzidos pelo pesquisador Gil Mesquita de Oliveira Rabello Queiroz, em sua obra Analises de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeração pelas usinas sucroalcooleiras, ilustra sobre a cogeração nos seguintes aspectos: O modelo do mercado de energia é um assunto relativamente novo para o setor elétrico nacional. Leis e decretos regulatórios datam de meados de 1990. Com a desregulamentação do setor, surgiram novas oportunidades para a comercialização de energia em dois diferentes tipos de mercado: o regulado e o livre. Entretanto, como em toda mudança de paradigma, é comum observar-se divergências nas análises do desempenho do setor, sob o ponto de vista deste novo modelo de mercado. A adaptação de procedimentos e a melhoria da regulamentação essencial para o funcionamento da comercialização, com o esclarecimento de pontos que ficaram descobertos durante a transição do modelo centralizado para o novo, deverão estimular o aumento de investimentos em geração de energia. 1 No mesmo sentido, Gil QUEIROZ complementa que dentre os principais investimentos no setor elétrico, destaca-se a cogeração de energia nas usinas termelétricas a biomassa de cana-de-açúcar, com seu grande potencial de geração. A cogeração no setor sucroalcooleiro tem sido amplamente discutida 1 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 20 tanto na área acadêmica quanto por especialistas do setor. 2 As potencialidades da cogeração e do mercado de energia para a energia elétrica cogerada pelo setor sucroalcooleiro que serve de base, por exemplo, para confrontar o potencial de geração das usinas termelétricas e a biomassa de cana-de-açúcar com sua participação no Ambiente de Contratação Livre ACL e Ambiente de Contratação Regulado ACR, destaca-se, também as dificuldades na comercialização de energia elétrica cogerada, em decorrência de restrições técnicas e de regulamentação do mercado de energia. 3 O artigo, objeto deste trabalho, está estruturado em itens e subitens, conforme descritos, a seguir: No presente item, é apresentado um retrospecto sobre a cogeração de energia elétrica no setor sucroalcooleiro e definido o principal objetivo deste artigo. No item 2., é apresentada a integração do setor sucroalcooleiro e as vantagens que a biomassa possui quando comparadas com o sistema elétrico. No item 3., é feito um levantamento do histórico de cogeração (3.1.) e apresentadas suas principais evoluções tecnológicas (3.2.), incluindo o aproveitamento da palha para aumento do potencial de cogeração (3.3.). Neste item, também é detalhada a configuração da cogeração de usina termelétrica à biomassa de cana-de-açúcar(3.4.). No item 4., a energia proveniente da biomassa de cana-de-açúcar e as usinas termelétricas, são analisadas em relação aos leilões e como fontes alternativas de energia. São discutidos os principais problemas técnicos e regulatórios enfrentados pelas usinas cogeradoras, na comercialização de energia, e como estes problemas refletem no alto grau de desistência durante os leilões. Para finalizar, no capítulo 5 são apresentadas as conclusões deste artigo, bem como sugestões para estudos futuros. 2 3 Idem, p. 20 Ibidem; p. 21

3 2. Da integração do setor sucroalcooleiro e as vantagens que a biomassa possui quando comparadas com o sistema elétrico. Do setor elétrico e da evolução do crescimento da geração termelétrica à biomassa. O setor sucroalcooleiro, sob análise do espectro paulista, está entre os setores com potencial de geração de excedentes de energia elétrica. As barreiras que existem no cenário da cogeração, advém de: - Dificuldades de acesso à rede de distribuição; - Falta de atratividade no preço ofertado para comercialização; - Falta de interesse das concessionárias para contratos de longo prazo; - Financiamento com condições melhores. Para que essas barreiras se transformem em incentivos para impulsionar a cogeração, só dependem do BNDES e PROINFA ações ainda insuficientes para aumentar a oferta de energia. As fontes pesquisadas, como os artigos relacionados, enfatizam o fato do período de seca no Brasil coincidir com a safra canavieira na região Centro-Sul, reduzindo assim os níveis dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas e consequentemente diminuindo o potencial gerador de energia das mesmas, favorecendo desta forma a utilização de fontes alternativas de energia. Desta forma recomenda-se considerar como vantagens para a cogeração: - A biomassa é um combustível renovável; - Menores níveis de emissão de CO 2 comparada aos combustíveis fósseis; - Aproveitamento utilizando tecnologia e recursos nacionais; - Geração descentralizada, o que pode evitar custos de transmissão e distribuição; - Promove o aumento do emprego na zona rural e o desenvolvimento nacional; Mesmo existindo diversas leis, decretos e resoluções que se referem à cogeração ainda falta uma legislação clara e definitiva em relação à conexão, à transmissão e à subestação que possibilitem a exportação da energia excedente nas usinas para a rede. Levando em conta que através de políticas de incentivo à cogeração, os preços de venda de energia gerada mais competitivos possibilitando investimento mais eficientes no setor; programas especiais de financiamento através do BNDES, incentivando projetos mais eficientes; incentivar a geração descentralizada com biomassa através de contratos de longo prazo, criando mecanismos que garantam a compra de energia produzida a partir da cogeração. Os aspectos técnicos da cogeração, uma das principais decisões a serem tomadas na interligação dos cogeradores ao sistema elétrico é a escolha da tensão que envolve parâmetros técnicos entre o gerador e a concessionária através de paralelismo e sincronismo. A tensão da rede básica de distribuição é de 13,8KV, 34,5KV, 69KV e 138KV. Normalmente a geração a partir de bagaço de cana é feita em 13,8KV. A essa tensão o transporte acima de 5MW a longas distâncias causa grandes perdas. A maioria das usinas paulistas possuem planta de cogeração que ultrapassa a 5MW tornando-se necessária a construção de uma subestação que é responsável pela elevação da tensão até 69 ou 138KV. (PALETTA, 2003). Ainda não há uma regulação, nem mesmo uma legislação específica caracterizada por princípios de transparência, simplicidade, que possa trazer crescimento desse setor. As conseqüências, por sua vez, acabam por estabelecer suas próprias regras, impondo condições, podendo dificultar o acesso à rede. A integração do cogerador de energia proveniente da biomassa do setor sucroalcooleiro com o sistema elétrico, uma vez instalada e operacional, é autosuficiente em termos de geração de energia elétrica para

4 consumo próprio, produzindo eletricidade para ser consumida em seus processos. O setor sucroalcooleiro, que pode gerar excedentes de energia, ainda não é bem explorado no Brasil. Há, ainda, usinas que utilizam tecnologias ineficientes para a cogeração com caldeiras de média pressão de 22Bar e 300ºC, não permitindo geração de excedentes. Embora o país já domine a tecnologia de equipamentos, mais eficientes, o conservadorismo que marca o setor impede investimentos. De forma geral os programas de financiamento do BNDES são generalistas, não fazendo distinção entre os produtores, de porte, de localização, de qualidade dos suprimentos ou tecnologia adotada. Devido as suas características, o tipo de fonte predominante no Brasil tem sido a hidráulica, provenientes das grandes usinas hidrelétricas. Porém, a capacidade de expansão de geração na região centro-sul do país já está quase esgotada, restando ainda a exploração do potencial hidráulico na região norte. Está prevista a instalação das hidrelétricas do rio Madeira, consideradas obras de grande impacto ambiental e longo prazo de implementação (estimativa mínima de 5 anos). Do ponto de vista estratégico, é importante investir em tipos diferenciados de fontes, aumentando a diversificação da matriz elétrica, a fim de se minimizar os riscos de racionamentos de energia, no caso de um volume baixo de chuvas em um determinado período. 4 A figura 1 ilustra a participação percentual de cada uma destas fontes na matriz elétrica nacional. Figura 1: Participação de cada tipo de fonte na matriz elétrica nacional, no ano de 2006 Fonte: Brasil-EPE,2006. No Plano Decenal 2006-2015, está prevista uma expansão na capacidade de geração de aproximadamente 31GW para fontes hidráulicas e 10GW para as fontes termelétricas, mantendo assim a mesma proporcionalidade do cenário atual, pelo menos, até 2015, como apresentado na Figura 2. 5 Figura 2: Previsão participação atual de cada tipo de fonte na matriz elétrica nacional, no ano 2015 Fonte: Brasil EPE, 2006 Com relação as termelétricas, o aumento de geração previsto de 10GW significará um crescimento expressivo da participação das usinas termelétricas a biomassa que, ao final do ano de 2015, terão uma participação de 7% na matriz de geração elétrica nacional. O gráfico da figura 3 mostra a evolução do crescimento da geração termelétrica a biomassa. 6 5 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 25. 6 Idem.

5 Figura 3: Evolução do crescimento da geração termelétrica a biomassa Fonte: Brasil EPE, 2006 O aumento significativo da participação da biomassa na matriz de geração termelétrica se deve, principalmente, ao potencial de geração das usinas termelétricas a biomassa de cana-de-açúcar. Segundo o plano Decenal 2006-2015 o momento atual do setor sucroalcooleiro é muito peculiar (e sintomático, de acordo com os fatores extrínsecos e as contingências variáveis do mercado interno e externo do açúcar). Com a expansão do cultivo da cana-de-açúcar (impulsionado pela perspectiva do consumo do etanol e do alto consumo do açúcar no mercado internacional), muitas agroindústrias sucroalcooleiras deverão ser reestruturadas e muitas outras deverão modernizar seus parques industriais, investindo em novas tecnologias, como na substituição de caldeiras e turbinas de baixa eficiência por equipamentos mais eficientes. Esta modernização, se atrativo for o mercado e a política energética brasileira, possibilitará o investimento em cogeração de energia para venda de excedentes. Os estudos mostram que existe disponível no país um potencial de oferta superior a 500 MW por ano, de capacidade instalada em novos projetos de cogeração a biomassa, perfazendo um total de mais de 6.000MW até o fim do período decenal. Este potencial é capaz de contribuir com cerca de 3.300MW médios para o suprimento de energia ao Sistema Interligado Nacional SIN. 7 É importante destacar que, no estudo feito pela EPE, não foi considerado o potencial adicional que pode ser obtido com a utilização da palha misturada ao bagaço da cana-deaçúcar para queima nas caldeiras que, segundo estimativas da União das Indústrias de cana-deaçúcar UNICA, pode aumentar este potencial em mais 5.000MW até o final do período 7 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 25. decenal, sendo capaz de contribuir com uma oferta adicional de 2.750MW médios para o suprimento de energia ao SIN. 8 Além do potencial de geração, a bioeletricidade da cana-de-açúcar possui outras vantagens. Sendo uma fonte de energia renovável (bagaço e palha), contribui para a modicidade tarifária, devido sua geração termelétrica de baixo custo, com uso de tecnologia nacional e de rápida implantação (geralmente um projeto de uma usina termelétrica a biomassa de cana-de-açúcar ocorre em um prazo entre 18 a 24 meses). A geração sazonal (período de funcionamento da agroindústria sucroalcooleira da região centrosul compreendido entre os meses de maio a novembro), coincidente com o período seco, pode ser uma fonte de energia complementar à hidráulica que, neste período, está com os reservatórios em seus níveis mais baixos. A proximidade dos centros de consumo, reduz os custos de transmissão e conexão às redes de distribuição. 9 3. A Cogeração em agroindústria sucroalcooleira. 3.1. Histórico da Cogeração. O termo cogeração possui várias definições. Porém, a que melhor se aplica às agroindústrias sucroalcooleiras é a produção combinada de potência elétrica e/ou mecânica e térmica a partir de um único combustível. 8 9 Idem. Ibidem.

6 Nas agroindústrias sucroalcooleiras a cogeração sempre esteve presente, através da queima de bagaço de cana em caldeiras. Porém, sem nenhuma preocupação em fazê-lo de forma eficiente. Entretanto, à partir da crise que levou ao racionamento de energia em 2001, o governo brasileiro, em um primeiro momento, implantou novas regras no mercado de energia elétrica. Este fato foi, inicialmente, muito importante, pois permitiu a participação de empresas privadas, impulsionando o setor sucroalcooleiro a investir na modernização de seus parques industriais, com o objetivo de torná-los eficientes e, assim, comercializar a energia excedente no mercado regulado, principalmente pelos leilões de energia, em programas incentivados, como o PROINFA, ou até mesmo no mercado livre. 10 No setor sucroalcooleiro, o principal sistema de cogeração é aquele que emprega turbinas a vapor como máquinas térmicas e que aparece vinculado a três configurações fundamentais: turbinas de contrapressão, combinação de turbinas de contrapressão com outras de condensação que empregam o fluxo excedente e turbinas de extração-condensação. A condensação de uma parte do vapor de escape, ou de uma extração de vapor de uma turbina de extração condensação, garante as necessidades de energia térmica do sistema (FIOMARI, 2004). A Figura 4 ilustra um processo trabalhando em regime de cogeração com o emprego de turbinas de contrapressão. Figura 4: Diagrama de um sistema de cogeração a partir do uso de turbinas a vapor de contrapressão Fonte: FIOMARI, 2004 10 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 31. Em usinas que tenham o objetivo de comercializar energia excedente, torna-se necessário o uso de turbinas de extraçãocondensação. Segundo Fiomari (2004), além de altos índices de desempenho, máquinas de condensação com extração regulada se justificam também pela sua capacidade de satisfazer a relação energia térmica e elétrica, que pode variar em uma ampla faixa. Este sistema, com maior capacidade de produção elétrica, possui normalmente turbinas de extração dupla, sendo a primeira extração, no nível de pressão em que o vapor é requerido pelas turbinas de acionamento mecânico e, a segunda, na pressão em que o vapor é consumido no processo produtivo. 3.2. Evolução Tecnológica das Agroindústrias Sucroalcooleiras. Conforme afirmado anteriormente, para se obter excedentes de energia elétrica, deve-se investir em tecnologia, no aumento da eficiência dos equipamentos industriais, na redução no consumo de vapor e também nas características da matéria-prima como, por exemplo, no teor de fibra da cana-de-açúcar. Uma usina convencional não consegue obter um excedente de energia se não fizer alguma destas modificações. Rodrigues (2005) analisou a evolução tecnológica das usinas, apresentando quatro cenários diferentes. No cenário 1, é caracterizada uma instalação típica do setor sucroalcooleiro que utiliza, para queima do bagaço, caldeiras de baixa eficiência operando com baixa pressão e baixo aproveitamento térmico. O vapor gerado por estas caldeiras é utilizado em turbinas de simples estágio, com baixíssima eficiência térmica, transformando energia térmica em energia mecânica para o acionamento de moendas ou em energia elétrica através de um gerador. Este caso representa as usinas mais antigas do país, que estão em Caso Descrição Geração kwh/tc Exportação kwh/tc 01 Conjunto de baixa eficiência Térmica 13,0-02 Conjunto de alta 80,0 65,2 eficiência Térmica 03 Eletrificação 119,3 90,5 04 Melhorias no Processo 130,2 101,5

7 operação há algumas décadas e que não sofreram nenhum tipo de modernização no seu parque industrial. No cenário 2, é caracterizada a instalação de uma caldeira de alta pressão, com eficiência térmica elevada, possibilitando a otimização do uso do combustível. O turbo gerador de simples estágio de baixa eficiência é substituído por uma turbina multi-estágio de condensação, que possui baixo consumo específico de combustível, possibilitando assim uma maior geração de energia elétrica para a mesma quantidade de combustível. Este é o caso das usinas que optaram em fazer um retrofit em seu parque industrial. No cenário 3, são mantidos os investimentos feitos no cenário 2 e é realizado um investimento na substituição das turbinas de acionamento mecânico de picadores, desfibradores e moagem, por motores elétricos de alta eficiência. Desta forma, o vapor, antes destinado às turbinas é utilizado ao longo dos estágios da turbina multi-estágio, possibilitando um maior aproveitamento do mesmo. Este é caso das usinas que vêem a venda do excedente de energia como uma realidade, passando a ser um terceiro produto das usinas, além do açúcar e álcool. Este cenário é aplicado aos modernos projetos das usinas sucroalcooleiras, que estão sendo construídas na região centro sul do país. No cenário 4, são mantidas as alterações do cenário 3 e é realizada uma otimização no consumo de vapor da usina termelétrica, na linha de baixa pressão. Estas melhorias na redução do consumo de vapor de processo possibilitam uma maximização na geração de energia elétrica, tendo em vista que toda economia deste vapor é aproveitada para maximizar a condensação do turbogerador (menor consumo específico) e, conseqüentemente, otimizar a geração de energia elétrica da unidade termelétrica. Na Tabela 1, são apresentados os resultados da simulação de cada um destes cenários, com os possíveis ganhos e os potenciais de excedente de energia elétrica que poderiam ser exportados para o sistema interligado nacional. Tabela 1: Quadro comparativo do potencial de geração e exportação de energia elétrica (RODRIGUES, 2005). 3.3 Outros Fatores Importantes na Cogeração da Agroindústria Sucroalcooleira. Além da modernização das usinas para a ampliação do potencial de geração, outros fatores também estão começando a ser considerados, ou estão em fase final de estudo, para que seja possível um aumento ainda maior da cogeração nestas usinas. Embora, ser observado o arrefecimento dos investimentos em virtude da sazonalidade provocada pela recente crise financeira (2008/2009), que ainda segue com seus reflexos, inclusive no Brasil. Dentre os vários fatores em estudo, o uso da palha para aumento do potencial da cogeração já começa a ser utilizado, o que poderá possibilitar uma geração de energia elétrica firme durante o ano todo. Como bem observou QUEIROZ, os estudos para utilização da palha no processo de cogeração foram intensificados nos últimos anos, provocados pelas constantes discussões em torno da redução gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar. No estado de São Paulo, particularmente, este assunto está bem avançado, principalmente com a implantação do programa denominado Etanol Verde, onde foi firmado um protocolo agro-ambiental pelo governo do estado de São Paulo, pelos Secretários de Estado de Meio Ambiente e de Agricultura e pelo presidente da UNICA. O Protocolo visa premiar as boas práticas do setor sucroalcooleiro, através de um certificado de conformidade e outros benefícios. Consta neste protocolo a antecipação, de 2021 para 2014, o prazo final para a proibição da queima da palha de cana-deaçúcar, em terrenos que tenham como característica a inclinação de até 12%. Já

8 naqueles terrenos onde a inclinação seja superior a 12%, esta antecipação será de 2031 para 2017. A partir destas diretrizes, os estudos em torno do aproveitamento da palha se intensificaram, identificando outro potencial de combustível para a geração de energia elétrica. Logo começaram os esforços para tornar possível a recuperação da palha deixada no campo. Contudo, as tecnologias das colhedoras, utilizadas no setor à época, ainda não permitiam a mecanização total da colheita, principalmente pelas características topográficas dos terrenos, pelas variedades da cana-de-açúcar e pelo excesso de mão-de-obra, para a colheita manual, disponível. Atualmente, os investimentos para recuperação da palha deixada no campo estão cada vez mais intensos, visando, além de uma melhor produtividade, a utilização da palha juntamente com o bagaço na produção de energia elétrica, aumentando a potencialidade da venda de excedentes de energia elétrica (SOUSA, 2007). 11 Segundo Silvestrim (2007), com o uso da palha, combinado ao bagaço disponível para cogeração, seria possível dobrar o potencial de geração das usinas, em um horizonte de seis anos. Na realização do cálculo, foi estimado o uso de 75% de bagaço e 50% de palha. Os resultados deste estudo podem ser verificados na Tabela 2. 11 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 35. SAFR CANA Kg de A ton 2006/ 07 2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12 2012/ 13 BAGA ÇO Kg de ton PALH A E PONT A Kg de ton BAGA ÇO E PALH A Kg de ton POTENCI AL SÓ BAGAÇO GWh/a no 425 106 87 193 1268 4 460 115 94 209 1559 9 502 126 102 228 1926 6 547 137 112 248 2388 9 601 150 123 273 2924 5 655 165 134 299 3720 1 728 182 149 331 4673 7 MW med Tabela 2: Expansão da Bioeletricidade no Brasil com o uso da palha Fonte: SILVESTRIM,2007 POTENCI AL BAGAÇO E PALHA GWh/ ano MWm ed 144 125 144 8 84 8 178 173 198 1 56 1 219 233 272 9 37 1 272 323 375 7 63 1 339 454 519 6 95 3 424 632 722 7 64 2 533 883 100 5 32 34 A geração de energia elétrica, através do bagaço, não é considerada energia linear, constante ou firme, por ser uma geração sazonal, ou seja, apenas no período de safra. A partir deste enfoque, houve uma demanda na alocação de recursos para a cogeração também na entressafra. Destarte, a mesma tecnologia da safra, é possível cogerar energia a partir da queima de outros combustíveis, como resíduos de madeira, palha, e combustíveis fósseis, durante a entressafra. A geração, na entressafra, normalmente é estudada para as usinas mais eficientes e que tenham a venda de energia excedente como um de seus principais produtos. (SOUSA, 2007). Segundo Sousa (2007), é possível a utilização de outros combustíveis; porém, para que isto seja possível as caldeiras deverão sofrer algumas modificações em seus projetos originais. Assim, podem receber o combustível complementar, de modo a operar no período de

9 entressafra, sem que haja prejuízo da operação durante o período de safra. 3.4. Sistema Elétrico de uma UTE à Biomassa de Cana A unidade termelétrica a bagaço de cana-de-açúcar, que tenha capacidade de exportação de energia, compõe-se de vários sistemas, como o sistema de geração de vapor, onde a caldeira é o principal equipamento; o sistema de geração de energia elétrica, onde está a turbina e o gerador de energia elétrica; o sistema de conexão ao SIN onde, normalmente está a subestação elevatória, bem como o sistema de transmissão de energia. A caldeira é a geradora de vapor. É o equipamento que fornece o vapor necessário para movimentação das palhetas da turbina. A turbina é acoplada a um gerador que produz energia elétrica em média tensão, na classe de 13,8 kv. Geralmente, a média tensão é elevada, em uma subestação elevatória, para 138 kv, 69 kv ou ainda 34,5 kv (menos usual), para ser transmitida por uma linha de transmissão até o ponto de conexão, onde passa a fazer parte do sistema interligado nacional - SIN. Segundo observa QUEIROZ, esta conexão pode ser realizada através de um seccionamento da linha de transmissão, da conexão radial em uma outra subestação, ou mesmo uma derivação em alguma linha de transmissão. Faz parte desta mesma composição uma série de conjuntos periféricos, que vão desde a alimentação da caldeira com o combustível (bagaço de canade-açúcar), até o sistema de refrigeração dos mancais do turbogerador, sistema de captação de água, etc. Atualmente, muitas usinas têm feito mudanças no seu sistema de moagem substituindo turbinas a vapor por motores elétricos, devido ao ganho no potencial de cogeração. Para ilustrar um projeto eficiente de cogeração de energia, QUEIROZ 12 exemplifica utilizando o caso da Unidade Termelétrica da Usina Pioneiros (UTE Pioneiros). Localizada no município de Sud Mennucci SP, a UTE Pioneiros iniciou sua operação comercial em maio do 2006, através do Contrato de Compra e Venda de Energia CCVE, firmado com a ELETROBRÁS. Como previsto no PROINFA, toda a energia vendida, correspondente a máquina geradora contratada, é comercializada. Por isso, a Pioneiros investiu na otimização de sua planta industrial para torná-la mais eficiente, com o intuito de aumentar a receita proveniente da venda de energia e implantou uma modificação no seu processo de moagem, substituindo o acionamento da moenda, que antes era feito por turbinas a vapor, para acionamento proveniente de motores elétricos. A partir deste investimento, o processo ficou mais eficiente, sem que haja desperdício do vapor, que é usado totalmente na turbina de condensação. O potencial de geração de energia elétrica foi aumentado em aproximadamente 26%. Além da modificação do processo de acionamento da moenda, outros investimentos futuros podem ser implementados. A otimização do consumo de vapor de processo, a substituição de motores antigos por motores de alto rendimento e, também, a substituição no sistema de controle de válvulas e dampers, por controladores eletrônicos modernos, estão sendo estudados. Vale ressaltar que estas modificações possuem um impacto inferior à substituição do acionamento da moenda. O projeto UTE Pioneiros é considerado um dos mais eficientes de todo o setor sucroalcooleiro, no aproveitamento do vapor produzido. Este projeto foi o primeiro do Brasil a operar com o acionamento das máquinas de preparo e moagem, da cana-deaçúcar, totalmente eletrificado. Os principais sistemas que compõem a UTE Pioneiros são: uma linha de transmissão 12 QUEIROZ, Gil Mesquita de Oliveira Rabello; in Análise de dificuldades técnicas e econômicas na inserção de cogeracao pelas usinas socroalcooleiras; Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira; 2008; p. 40.

10 de 138 kv, uma subestação elevatória de 13,8/138 kv, um conjunto de turbo geradores e a caldeira. Além dos sistemas principais da UTE, também se destacam o sistema de moagem de cana-de-açúcar, eletrificado, e o sistema de distribuição de energia elétrica da usina, que alimenta os setores ligados a produção de açúcar e álcool. 3.4.1 Linha de Transmissão de 138 kv A linha de transmissão da UTE Pioneiros 13 possui uma extensão de aproximadamente 21 km, sendo sua energia transmitida na tensão de 138 kv, e conexão ao SIN, do tipo derivação em tap simples, na Linha de Transmissão Ilha Solteira Jales, através de uma seccionadora manual de abertura centralizada. Esta linha é composta de 46 estruturas metálicas e de 47 estruturas de concreto. O seu traçado é relativamente simples, passando majoritariamente por terrenos planos, com mínimos impactos ambientais, por alguns cruzamentos com rede de distribuição básica 13,8 kv, por cruzamentos com rodovias e, também, por cruzamento com duas linhas de transmissão 440 kv. Apesar de a linha tronco ser em circuito duplo, o ramal da UTE é em circuito simples. A Figura 5 mostra um detalhe da linha de transmissão da UTE. Figura 5 - Detalhe da linha de transmissão UTE. Futuramente, a UTE poderá ter seu sistema de cogeração ampliado, sendo necessário apenas o lançamento do segundo circuito, para atender esta possível ampliação. 4. A Ausência de Leilões de Biomassa È senso comum, inclusive é constantemente debatido pela mídia, sobre a falta de uma agenda de leilões de energia específica para compra de eletricidade gerada por cogeração, conforme sintetizou em recente reportagem na edição de 4 de junho, próximo passado, do Jornal do Comércio/RJ, relatando que é um dos fatores que estão emperrando a expansão dos investimentos em bioeletricidade por parte das usinas, de acordo com o coordenador de Energia da Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, Jean Cesare Negri. 14 Segundo Negri, apenas 168 usinas estão cadastradas atualmente para vender excedente energético. Deste total, 83% ainda operam com caldeiras de 21 bar, de baixa pressão, que não otimizam a energia produzida. Negri participou de painel sobre cogeração no Ethanol Summit 2009 - congresso de três dias, realizado em São Paulo, Capital, que se tornou um dos mais importantes fóruns de discussão e análise do mercado de biocombustíveis no Brasil e no mundo, especialmente o etanol de cana-de-açúcar. Negri informou que estas usinas possuem uma capacidade instalada de 2.300 megawatt mas apenas 709MW médios foram comercializados nos leilões oficiais até o momento. Desde total, 25MW já começaram a ser entregues em 2008 e 122MW começam a ser entregues em 2009. E 2010, devem ser entregues 212MW gerados pelas usinas, 13 Idem. 14 http://www.power.inf.br/pt/?p=8068

11 150MW em 2011 e 147MW em 2012. Outro fator que emperra este processo são as questões envolvendo a conexão entre a geradora e a rede distribuidora. O coordenador de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nivaldo de Castro, afirmou que os modelos de leilões de ajuste (A-3 e A-5) têm beneficiado as termelétricas através de sua modelagem, que está aumentando a fonte fóssil da matriz elétrica brasileira. Do total vendido nestes leilões de ajuste que não são uma fonte específica, 63,1% foram de energia gerada por termelétricas movidas a óleo combustível e apenas 1% de energia de cogeração de bagaço de cana, disse. Ineficiência para Castro, além de priorizar uma energia fóssil, estes leilões estão beneficiando um ciclo energético ineficiente, que terá um custo altíssimo para funcionar, se for necessário. Castro disse também que, para as usinas, vender nos leilões garante contratos de 15 anos com o preço da energia corrido pelo IPCA, o que é para o planejamento do fluxo de caixa das usinas. Segundo Castro, é um faturamento pequeno, mas é um faturamento certo. Além disso, o contrato pode ser utilizado como recebível para conseguir financiamentos junto ao setor bancário e ao BNDES, disse. Para ele, é essencial, contudo, que, para se investir em cogeração, haja separação entre os riscos do negócio de etanol e açúcar e os riscos de eletricidade. São dois mercados diferentes. A eletricidade basicamente não possui risco, não é commodity, e é vendida através de contratos de longo prazo, afirma. O consultor de bioeletricidade da União da Indústria de cana-de-açúcar (UNICA), Carlos Silvestrin, disse que apesar do cenário adverso, de falta de leilões específicos fixos, de preços em queda no mercado livre de energia, reservatórios cheios e queda no consumo de energia por conta da crise, as usinas devem investir em cogeração para aproveitar uma matéria-prima, o bagaço. 15 4.1 O caso da Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel (Mendonça-SP). A Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel Unidade II, encontra-se em funcionamento há 4 anos. Em seu processo industrial, o bagaço da cana-de-açúcar sai da moenda com uma umidade em torno de 40% e pol abaixo de 3,2. A sobra do bagaço vai para o depósito através de esteiras. Para melhor eficiência a caldeira trabalha com o bagaço a uma umidade normal máxima de 50 % (bagaço muito úmido faz a caldeira perder a eficiência) e vapor de 480. Destaca-se que, anualmente é realizada na caldeira uma medição de CO 2 pela CETESB, Regional de São José do Rio Preto, como também é realizada, paralelamente, a mesma medição por uma empresa independente, especialmente contratada pela agroindústria sucroalcooleira. A Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel Unidade II é a primeira do Brasil a trabalhar com sistema de efluentes e a energia cogerada representa 32 MW/Hora, resultado de 35 milhões de reais de investimentos, através do BNDES, em seu projeto de cogeração; sendo que destes 32 MW/Hora, ou seja, 40% (12MW/Hora), são utilizados na Usina e cerca de 18 a 20 MW/Hora (60%) são vendidos. A entrega da energia, pela Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel Unidade II, para a companhia estatal se dá através de uma subestação construída na própria Usina, distribuída na rede pela companhia estatal. Desde o início a agroindústria sucroalcooleira Santa Isabel, unidade II, foi projetada para a cogeração de energia. A Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel Unidade II tem um período útil de operacionalidade de 9/10 meses (março/abril a 15 2009. Fonte: Jornal do Commercio/RJ/Da Agência Estado; 4 Jun

12 dezembro). Sendo de 2 meses o seu período para manutenção, produzindo 100 t/h de bagaço com cerca de 6,2t/mwatt. Resumidamente o processo industrial tem seu início quando a cana passa pela moenda e é picada; desfibra e começa a moagem na moenda. Em seguida a cana é lavada para extrair o máximo de sacarose possível; e, a água passa por um processo de tratamento intenso. A esteira leva o bagaço até a caldeira (biomassa). A caldeira gera o vapor que por sua vez chega nas turbinas dos geradores paralelos, de 17MWatts e 25 MWatts, gerando energia. A caldeira possui 65 kg de pressão, 480 e 200 ton/hora. A unidade é o KgF/cm 2 (a cada cm 2 tem 65 Kg de pressão). A usina possui 90% de cana particular e 10% de cana de fornecedor. Com essa geração de energia, com potencial para abastecer uma cidade de 70.000 habitantes, a cidade de Mendonça/SP, aonde se localiza a Usina, ganha em impostos e outros reflexos econômicos. Em visita a agroindústria sucroalcooleira Santa Isabel Unidade II foi constatado que o processo de cogeração de energia é bem estruturado com aproveitamento da biomassa na geração de energia elétrica e o excedente é transferido nas linhas de transmissão através de uma subestação construída dentro da própria usina. Já na Unidade I na cidade de Novo Horizonte foi apurado que o processo de transmissão do excedente de energia ainda está em fase de implantação, pois a rede que abastece a cidade de Novo Horizonte não suporta a voltagem de energia produzida pela usina. Deste modo esse excedente terá que ser levado até uma linha de transmissão apropriada, neste caso na cidade de Borborema. É preciso através de normas claras e políticas adequadas interligar o setor sucroalcooleiro ao sistema elétrico, garantindo a competitividade e incentivando a geração de empregos com crescimento sustentável. Figura 6:- Subestação com a interconexão com a rede de distribuição da cidade de Mendonça/SP Fonte: Agroindústria Sucroalcooleira Santa Isabel - Unidade II, 2008 5. Conclusão O presente trabalho de pesquisa apresentou a importância da bioeletricidade da cana-de-açúcar e seu grande potencial de geração que, em complementaridade com as fontes hidráulicas, seria possível minimizar os riscos de uma nova crise de falta de energia a partir do ano 2010. Uma vantagem das usinas termelétricas a biomassa de cana-de-açúcar sobre as demais é o fato de serem de rápida instalação (aproximadamente 2 anos). O potencial da bioeletricidade está sendo estimulado pela expansão do cultivo de cana-de-açúcar, incentivado pelos bicombustíveis (etanol), o que faz com que as usinas sucroalcooleiras se multipliquem pelo Brasil. Uma análise do novo modelo de mercado de energia, sob ponto de vista regulatório da cogeração de usinas e assim sua comercialização também fizeram parte deste artigo. Os objetivos deste artigo, explicitados no item 1.1., estão presentes no estudo da energia como produto da cogeração de

13 biomassa, que apresenta dificuldades não satisfeitas, no aspecto conectividade, em relação aos autoprodutores e rede de distribuição. Posto isso, verificam-se gargalos institucionais e não institucionais obstrutivos à maximização dos fatores e recursos alocados para tal fim. No entanto, a questão angular é sobre se tais impedimentos seriam restritivos ou operativos? Para resposta ao questionamento conceituamos o aspecto restritivo como aquele que envolve a decisão discricionária daquele, de quem por direito, é atribuído esta função pública, bem como todos os seus reflexos presentes, quer seja na sistematização burocrática de cunho administrativo ou nas antecipações de ações ou omissões de edições de corolário jurídico, essencial à implantação e dinâmica do processo, devidamente regulado. Também conceituamos os entraves sob a ótica operacional, definidos como aqueles de execução, independentemente de factíveis ou não, mas sim de sua capacidade e logística de compor a matriz energética nacional, em amplitudes estratégicas, objetivando a segurança econômica, financeira e social do país a médio e longo prazo. Expostas as conceituações concluí-se que as dificuldades encontradas na conectividade, em relação aos autoprodutores e rede de distribuição, são restritivas e operacionais, nessa ordem. Por outro lado, caso houvesse obliteração de todo o aspecto restritivo, não haveria gargalo operacional, vez que este existe em razão do aspecto restritivo, acima conceituado. Nesta via, o estudo sobre as dificuldades começam primeiramente pela conexão: As dificuldades encontradas na conexão é o retrato da falta de sensibilidade e sincronismo dos setores governamentais. As decisões para os insuficientes investimentos na expansão e reforço do sistema de transmissão de energia deixam o setor elétrico dependente de um bom ciclo de chuvas e um crescimento de demanda moderada. A restrição na demanda é, certamente, um fator determinante a dificultar o crescimento da economia nacional. Muitos dos problemas de investimentos no setor de energia (geração, transmissão e distribuição) são originados pela dificuldade artificial na obtenção do licenciamento ambiental. O problema da conexão pode deixar de ser uma preocupação. O governo, ao realizar o leilão de energia de reserva em 2008, tratou de viabilizar pequenas subestações coletoras, chamadas de ICG s, que serão construídas principalmente nos estados de MS e GO, que são estados onde a malha elétrica é deficitária. A questão do licenciamento sempre foi um entrave para a expansão dos projetos de cogeração. O tempo irracional para obtenção da licença é de 7 anos ou pode chegar a anos. É importante ressaltar que no Estado de são Paulo o Governo congelou a emissão de Licença Prévia por 4 meses. Conclui-se que, apesar do potencial de geração de energia da bioeletricidade de cana-de-açúcar e de sua importância para uma minimização de riscos de falta de energia, muitos empreendedores não investem em cogeração devido a grande dificuldade de se obter a Licença Prévia (LP) em tempo hábil, por não conseguirem conexão com o sistema interligado nacional e, também, não menos importante, mas principalmente pela falta de estímulo em razão dos baixos preços praticados. Com a crise que assola a economia mundial muitas empresas, principalmente as que estão investindo em projetos do tipo greenfield 16, característicos das PPPs Parcerias Público Privadas, é fundamental que as empresas consigam algum tipo de financiamento (BNDES) o que possuam dar continuidade a seus projetos. Pelo todo o exposto concluí-se que o objetivo do presente artigo foi atingido ao expor e demonstrar cabalmente as respostas o questionamento apresentado no início deste trabalho, item 1.1. 16 Greenfield Project : refere-se a um projeto que está sendo concebido e executado onde não existe atualmente uma organização empreendedora, ativo ou operação.

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