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Obra "Natal" (1969) de Di Cavalcanti; óleo sobre tela; 127,5x107,5x3,5. Natal à Beira-Rio É o braço do abeto a bater na vidraça? E o ponteiro pequeno a caminho da meta! Cala-te, vento velho! É o Natal que passa, a trazer-me a água da infância ressurrecta. Da casa onde nasci via-se perto o rio. Tão novos os meus Pais, tão novos no passado! E o Menino nascia a bordo de um navio que ficava, no cais, à noite iluminado... Ó noite de Natal, que travo a maresia! Depois fui não sei quem que se perdeu na terra. E quanto mais na terra me envolvia mais da terra fazia o norte de quem erra. Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me à beira desse cais onde Jesus nascia... Serei dos que afinal, errando em terra firme, precisam de Jesus, do Mar, ou de Poesia? Obra Poética de David Mourão Ferreira

NATAL UP-TO-DATE* Em vez da consoada há um baile de máscaras Na filial do Banco erigiu-se um Presépio Todos estes pastores são jovens tecnocratas que usarão dominó já na próxima década Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago Chega o rei do barulho e conserva-se mudo enquanto se não sabe ao certo o resultado dos que vêm sondar a reacção do público Nas palhas do curral ocultam microfones O lajedo em redor é de pedras da Lua Rainhas de beleza vêm de helicóptero e é provável até que se apresentem nuas Eis que surge no céu a estrela prometida Mas é para apontar mais um supermercado onde se vende pão já transformado em cinza para que o ritual seja muito mais rápido Assim a noite passa E passa tão depressa que a meia-noite em vós nem se demora um pouco Só Jesus no entanto é que não comparece Só Jesus afinal não quer nada convosco *Publicado pela 1ª vez no «Diário de Notícias» de 25 de Dezembro de 1969. Incluído posteriormente no CANCIONEIRO DE NATAL (1971).

E por vezes as noites duram meses E por vezes os meses oceanos E por vezes os braços que apertamos nunca mais são os mesmos E por vezes encontramos de nós em poucos meses o que a noite nos fez em muitos anos E por vezes fingimos que lembramos E por vezes lembramos que por vezes ao tomarmos o gosto aos oceanos só o sarro das noites não dos meses lá no fundo dos copos encontramos E por vezes sorrimos ou choramos E por vezes por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos Obra Poética 1948-1988 Editorial Presença

Sala de Espera Quem foi antes de mim não demorou, Aqui, senão o tempo de cansar-se... Fiquei, na sala verde, eu só: A sós comigo, só Impuro e sem disfarce.. Verde, também, a vida onde esperamos O fim que bem sabemos nos espera... M as enquanto aqui estamos Sejam verdes os ramos E verde a Primavera... Quem por aqui passou, passou Em busca dum pavor que lhe faltara... Fiquei, na sala verde, eu só. (Agora nem me dou à flor mais rara...) Perto me aguarda a simples decisão. (Que por enquanto, aqui, é só a espera.) - E, arrependido, o coração Vai dizendo que não À Primavera. David Mourão Ferreira,

A COR DOS OMBROS DA LUA aberta na tua mão. Podia ter sido amor, e foi apenas traição. É tão negro o labirinto que vai dar à tua rua... Ai de mim, que nem pressinto a cor dos ombros da Lua! Talvez houvesse a passagem de uma estrela no teu rosto. Era quase uma viagem: foi apenas um desgosto. É tão negro o labirinto que vai dar à tua rua... Só o fantasma do instinto na cinza do céu flutua. Tens agora a mão fechada; no rosto, nenhum fulgor. Não foi nada, não foi nada: podia ter sido amor. David Mourão Ferreira, À Guitarra e à Viola (1954-1960)

Ternura Desvio dos teus ombros o lençol que é feito de ternura amarrotada, da frescura que vem depois do Sol, quando depois do Sol não vem mais nada... Olho a roupa no chão: que tempestade! há restos de ternura pelo meio, como vultos perdidos na cidade em que uma tempestade sobreveio... Começas a vestir-te, lentamente, e é ternura também que vou vestindo, para enfrentar lá fora aquela gente que da nossa ternura anda sorrindo... Mas ninguém sonha a pressa com que nós a despimos assim que estamos sós! Infinito Pessoal ou a Arte de Amar guimarães editores 1962

Crespúsculo É quando um espelho, no quarto, se enfastia; Quando a noite se destaca da cortina; Quando a carne tem o travo da saliva, e a saliva sabe a carne dissolvida; Quando a força de vontade ressuscita; Quando o pé sobre o sapato se equilibra... E quando às sete da tarde morre o dia - que dentro de nossas almas se ilumina, com luz lívida, a palavra despedida.