Entre ausência e esquecimento João de Mancelos
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- Ângela Esteves de Sá
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1 Entre ausência e esquecimento João de Mancelos Referência: Mancelos, João de. Entre ausência e esquecimento. Aveiro: Estante, pp. DL: 51857/91. Índice Op.III: No céu do mundo (hino à vida) Ausente sorriso de silêncio Cais do esquecimento Op. II: As crianças incuráveis Lunário A-braço de ferro É esta a noite Neblina de Londres Murmúrio à liberdade A mais frágil árvore do mundo Cânticos de amargos lábios Dias de verão, entardecer, 8:00 p.m. Aqualícia Venenos do paraíso Verão descendo uma laranja Negro total olhar Rendez-vous Mundo das mãos Menina da autoestrada Em fase de pré-anjo Hippy Memorial Infância Op. IV: Glasgow by night Menina-flor-dos-ventos O momento e o inteiro As pequenas horas de silêncio Canto é a noite, canto são lábios
2 Balada das aves cadentes Rasando os lábios FM, 108 MHz: Noturno de verão Homo Sapiens Pulsar Anjo na hora de ponta Romeu & Julieta, Ilimitada De aves nos bolsos Festa boémia 13 Heróis (s)em sentido O fogo sobre a chuva Entre ausência e esquecimento Sobre o autor João de Mancelos, nome profissional de Joaquim João Cunha Braamcamp de Mancelos, nasceu em Coimbra, em É doutorado em Literatura Norte-Americana, pós-doutorado em Literaturas Comparadas e possui uma agregação em Estudos Culturais. Lecionou na Universidade Católica Portuguesa (Viseu), e na Universidade de Aveiro. Atualmente, é professor na Universidade da Beira Interior. É autor de vários livros de poesia, conto e ensaio. Principais obras do autor As fadas não usam batom (1.ª ed. 1998; 2.ª ed. 2004) Foi amanhã (1999) Línguas de fogo (2001) O que sentes quando a chuva cai? (2006) O marulhar de versos antigos: A intertextualidade em Eugénio de Andrade (2009) Introdução à escrita criativa (1.ª ed. 2009; 5.ª ed. 2017) Manual de escrita criativa (1.ª ed. 2012; 2.ª ed. 2015) Uma canção no vento: A poesia de Eugénio de Andrade (2013) Manual de guionismo (1.ª ed. 2013; 2.ª ed. 2016) Magia negra: A obra de Toni Morrison (2014) 2
3 O pó da sombra (2014) Mulheres fatais, detetives solitários e criminosos loucos: Estudos sobre cinema (2015) Todas as cores da América: A literatura multicultural (2015) O teu nome incendiado de azul (2016) Introdução à narrativa cinematográfica (2017) Alguns poemas do livro Op.III: No céu do mundo (hino à vida) Todas as mãos São mais seguras pela noite: Ternas, poisam para o silêncio, Mesmo as mais trementes Serão como ferrugem ao vento E amar-se-ão, destroçadas, E farão sonhos gigantes que são moinhos, E cedo rirão, sem dar conta de nada. Só na madrugada exausta adormecem. Colhida a chama nua, Celebrado o fruto acidulado, Todas as mãos são mais ternura Pela noite. Ausente sorriso de silêncio Hoje há outubro nos ombros Das árvores, Desce um doce luar De gomos, noite e azul, E até os poemas apetecem como vinho. Mas hoje, não me ofereças palavras: O pássaro poisado em teus lábios 3
4 É-me estranho até à dor. Me bastará teu ausente sorriso De silêncio Para que eu viva o Nunca Mais. É esta a noite Esta noite há talvez luar, cometas, e gafanhotos de asas de prata, preenchendo todo o céu. Esta noite, provaremos desse fruto estranho às aves, apenas consentido à mordedura dos poetas, no ardor de um qualquer maio. Esta noite, todos os relógios do mundo serão nossos: esta noite, provaremos do amor. A mais frágil árvore do mundo Acordar banhado na seara, Tecer-te à sombra Da mais frágil árvore do mundo, Celebrar os sonhos de quem nasce E tudo com esta chuva no olhar, E os teus pulsos soprando No céu das minhas mãos. Venenos do paraíso Sós, Condenadas entre veias, 4
5 Trocando asas de ferrugem Por um vento, um fogo, um esquecimento, Tão sós, Pela tarde dos heróis, Minhas crianças incuráveis injetam Venenos do paraíso. Anjos feridos, elas sabem: Ainda não é hoje Que o super-homem vai ser herói, E esta noite nenhum deus Chegaria a tempo de nos salvar. Verão descendo uma laranja Os rostos dos frutos da primavera, A sua baba salivante e doce Descendo como uma lágrima Rente à polpa Tanto é o desejo que se vê, Quando assim o verão acaricia o hemisfério de uma laranja. Infância A infância é um tempo de amoras bravias e rostos tecidos pelo sol. É uma ilha de silêncio Onde a solidão posava nua. 5
6 Era um sonho descalço A que chamavas mãe E confundias com a chuva. Op. IV: Glasgow by night Onde a noite Se entrega pelos telhados, Há sempre outra ternura: ou são os gatos enrodilhados pelas chaminés que os consentem, ou é a maçã-da-lua na garganta do rio, assim toda ela chama amadurecida. Onde a noite se espreguiça à lua Cada só gomo é já um fruto. Que só ela sabe como é bom posar assim o corpo negro à madrugada. Rasando os lábios Assim tão rentes à poesia, Só são os lábios, Ou dois gomos de laranja-lua. Eles, que deslizam em flor Pela corola de um beijo, Eles, que são o dorso de uma Palavra transpirar, Eles, arredondados à amargura De um só fruto assim tão unos, tão sós, 6
7 Não há senão os lábios que se abraçam Noutros lábios. 13 Jamais morei tão perto da noite: Hoje, até uma ave gritante Me secou na voz: Lembro-me de teres O olhar mais magoado da chuva Quase sempre um ardor De amoras e esquecimento. Criança, Que terna ave de maio Te pôde beber assim A água mais pura Dos teus pulsos? 7
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