FATORES A CONSIDERAR NA ANÁLISE EMERGÉTICA DE PROJETOS AGROECOLÓGICOS

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Transcrição:

RESUMO FATORES A CONSIDERAR NA ANÁLISE EMERGÉTICA DE PROJETOS AGROECOLÓGICOS Enrique Ortega, Heitor Polidoro Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Unicamp, Caixa Postal 6121 CEP 13083-970 Campinas, SP, Brasil Em função de nosso trabalho como analistas de emergia da agricultura e de sistemas agroindustriais de países do terceiro mundo, temos considerações a fazer aos nossos colegas presentes neste importante encontro, cuja maior parte vem dos países centrais: (1) Há uma carência na literatura sobre emergia, principalmente a produzida nos países do primeiro mundo, nos quais a agricultura não se beneficia mais de subsídios da Natureza, de modelos adequados para descrever alguns sistemas agrícolas com os quais estamos nos ocupando: pequenas fazendas de subsistência, trabalhadores rurais compostos em famílias de tamanho médio e novas experiências em cultivo: orgânico, biológico, ecológico, biodinâmico e sistemas agroflorestais de produção cíclica e variada. (2) Nos diagramas de fluxo de energia e nas análises emergéticas dos sistemas agrícolas dos países do norte a biodiversidade local não é levada em consideração, assim como não há índices para se considerar a biodiversidade local como suporte de sustentabilidade. (3) Em nossos países há uma certa deficiência de informações: quase não há dados disponíveis sobre análises energéticas para a agricultura local. Portanto, em muitos cálculos, somos forçados a trabalhar com fluxos monetários. (4) Nós temos algumas dúvidas em relação ao conceito e ao procedimento para medir a transformidade quando o sistema estudado produz diversos produtos (inclusive resíduos e perda de recursos). Nós estudamos alguns sistemas agrícolas para os quais a Natureza contribui de maneira fundamental para a produtividade das fazendas, quase como núcleo do sistema. O estoque local de biodiversidade possibilita incorporar matéria e diferentes tipos de energia, a partir do meio-ambiente regional, e impedir o uso de recursos externos tanto na produção da fazenda quanto no consumo familiar. Os diagramas destes sistemas agroecológicos, obtidos por nós, são muito diferentes daqueles da agricultura comercial baseada em recursos não renováveis que vemos nos livros. Estamos revendo o conceito de eficiência emergética, assim como fazendo algumas propostas para a modificação dos procedimentos de cálculo de balanços de emergia e, também, para o cálculo da transformidade. Os resultados preliminares desta análise permitem-nos esboçar alguns mapas de índices de emergia, discutir algumas tendências possíveis para os sistemas agrícolas quando estes mudam do sistema de agricultura convencional para o sistema orgânico ou ecológico. Consideramos esta apresentação como um convite para rever questões metodológicas. Nós apreciaríamos se esta pudesse ser discutida e complementada no Center for Wetlands. Desta forma, um feedback positivo poderia retornar aos grupos de estudo em emergia instituídos nos países estrangeiros. 1

INTRODUÇÃO No Laboratório de Engenharia Ecológica e Informática Aplicada/LEIA (Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, Brasil) estamos particularmente interessados em quantificar o grau de sustentabilidade de sistemas agrícolas e agro-industriais. Por este motivo, temos feito análises de emergia para vários sistemas nos últimos quatro anos. Obtivemos valores de transformidade para cana-deaçúcar, vegetais verdes, milho, leite, entre outros produtos. A discussão de nossos resultados orienta-nos a mudar nosso foco das fazendas individuais para arranjos de fazendas e de fazendas com cultura única para sistemas integrados, assim como deslocar nossa perspectiva do local para o regional, e finalmente da agricultura convencional para a orgânica (agroecológica). Acreditamos que a metodologia emergética auxilia-nos durante esta empreitada. Consideramos o método emergético uma valiosa ferramenta científica, quase atingindo sua maturidade plena, mas ainda assim capaz de conquistar estágios superiores. A fim de aprendê-la (uma vez que estávamos distantes da Universidade da Flórida), estudamos, a partir da literatura disponível, como o método de balanço de emergia se modificou durante os últimos 15 anos (Odum, 1987; Odum, 1996; Odum, Odum e Brown, 1997). Reconhecemos que um acréscimo foi alcançado durante este período, movendo-se lentamente do ponto de vista dos ecólogos naturalistas para o amplo campo da ecologia e para os analistas de sistemas econômicos. Consideramos também que alguns ajustes devem ser feitos para levar em consideração outras perspectivas pouco usuais. Exemplos de análises emergéticas para sistemas agrícolas dos Estados Unidos são similares à agricultura industrial brasileira ou mexicana, mas totalmente diferentes para pequenas fazendas de subsistência, para as tradicionais famílias de camponeses de tamanho médio e para as novas experiências em cultivo (sistemas orgânico, biológico, ecológico, biodinâmico e misto agroflorestais) os quais representam nossa principal área de pesquisa. Estas novas qualidades de fazendas ecológicas nos fornecem idéias e perspectivas de como a agricultura poderia se tornar mais sustentável. No início, não é fácil compreender como estes sistemas funcionam, porque um novo modelo de conceitos é utilizado, também porque estes sistemas estão inteiramente distantes dos da agricultura industrial que temos estudado nos cursos universitários. Assim como em diversos países do Terceiro Mundo, a biodiversidade brasileira (flora, fauna, solo, população) e os recursos econômicos decaíram com a introdução da revolução verde, após o golpe militar de Estado. Em reação, um movimento no sentido de uma agricultura orgânica, incluindo produtores rurais, pesquisadores e ativistas sociais, tem sido organizado durante os últimos vinte anos. Este movimento tem o objetivo de desenvolver e mostrar ao público, ao governo, consumidores e produtores, novas alternativas ecológicas e econômicas para a agricultura nos trópicos. Não tem sido fácil desafiar o poderio industrial e a máquina midiática, bem como um governo preferencialmente mais preocupado com os compromissos externos do que com os compromissos internos. O movimento não é ainda a corrente principal na Agricultura, mas o know-how e a organização conquistaram excelente progresso, intensificando a possibilidade de transferir, futuramente, os conceitos e a tecnologia para um maior número de usuários. Uma metodologia capaz de prover uma análise tanto ambiental quanto econômica, considerando a contribuição da Natureza, assim como possibilitar a estimativa dos custos encobertos dos sistemas econômicos, ou daqueles sistemas pretendidos, poderia ser de grande valor para este movimento. 2

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE AGRICULTURA ECOLÓGICA Durante o último século, a agricultura se tornou um sistema químico após ser, durante vários outros séculos, um sistema biológico. Este processo tomou curso originalmente nos países ocidentais e, em seguida, nas regiões remanescentes. Um fator principal foi responsável por esta transformação: o lucro de curto prazo de produtores rurais e da indústria química. O impacto dos critérios econômicos e tecnológicos, adotados para atingir a otimização desta variável, provou ser nocivo tanto para as populações locais quanto para os recursos naturais. A agricultura química parece aparentemente lucrativa nas análises econômicas simples, mas quando se consideram todos os produtos do novo sistema (resíduos de elevado impacto, diferentes tipos de perdas) ela mostra não ser tão econômica quanto se supunha. É necessário usar técnicas múltiplas de contabilidade ambiental para levar em consideração as aparências exteriores dos projetos da agricultura química, porque, usualmente, os simples balanços econômicos não contabilizam a parcela dos efeitos (as deficiências encobertas). A transformação da agricultura foi apoiada por um enorme esforço econômico e tecnológico, vindo tanto da indústria quanto do governo (produtos químicos, maquinário, manipulação genética, publicidade e ampliação de serviços), mas muitas dúvidas importantes existem e estas questões necessitam de profunda e ampla discussão pública. Como exemplo, podemos citar a fertilidade do solo (produtividade de regime contínuo por períodos de longo prazo), sustentabilidade da produção agrícola, qualidade do alimento produzido e a saúde do ambiente e das populações humanas nas áreas rurais e urbanas. A modernização da agricultura não resultou apenas em elevados aumentos na produção, mas, também, em enormes danos em outros importantes fatores da produção agrícola, tais como: 1. Erosão do solo; 2. Perda da fertilidade do solo; 3. Poluição e assoreamento de rios e encostas; 4. Degradação das fontes de água (nascentes e aqüíferos subterrâneos); 5. Eliminação de biodiversidade (paisagens monótonas, monoculturas); 6. Redução na qualidade dos alimentos e contaminação dos recursos rurais; 7. Êxodo rural ( como conseqüência a favelização das cidades); 8. Aumento de pestes e doenças de plantas; 9. Danos para a espécie humana (câncer e outras moléstias); 10. Destruição de comunidades ecológicas; 11. Contaminação de fluxos de água e mais recentemente de oceanos; 12. Poluição atmosférica. Este panorama tenebroso produziu, desde o começo deste século na Europa e mais recentemente no Brasil, diversos tipos de reação. Uma destas reações consiste na proposta, geralmente descrita como Agricultura Alternativa, que recomenda o uso de matéria orgânica, assim como outras práticas favoráveis aos processos biológicos. No Brasil, há quatro principais correntes no conjunto desta proposta de Agricultura Alternativa : Biodinâmica, Orgânica, Biológica e Natural. O conceito Agroecológico recentemente se tornou mais popular e é considerado como sinônimo para Agricultura Alternativa. O motivo é porque a Agroecologia está preocupada com os aspectos ecológicos e sociais da produção e sua sustentabilidade. 3

Para começar, a Agroecologia reconhece o valor dos antigos e tradicionais sistemas e técnicas de agricultura com o intuito de recuperar, analisar e usar esta sabedoria na elaboração de novos modelos de agricultura. A Agroecologia considera a fazenda como um organismo rural (sistema autocatalítico), no qual áreas preservadas, culturas animais e vegetais interagem para constituir um sistema diversificado, organizado para ser sustentável. As propostas da Agroecologia são: 1. Produzir, no interior da fazenda, a maioria dos insumos usados na produção (biomassa de leguminosas como fertilizantes verdes, reciclagem de resíduos animais tratados); 2. Fortalecer a biodiversidade de paisagens rurais com áreas de refúgio para animais: florestas, mata de galeria e flora natural, estas áreas fazem com que tenhamos controle biológico de pestes; 3. Equilíbrio de entradas e saídas, através da análise química e do uso prudente de fertilizantes de baixa solubilidade. Desta forma o uso de insumos externos é minimizado (fertilizantes sintéticos de excelente solubilidade, pesticidas, cal); 4. Semeadura direta; 5. Uso mínimo de maquinaria a fim de evitar a compactação mecânica do solo; 6. Retenção do solo e recuperação em canaletes, curvas de nível, áreas com elevada declividade; 7. Rotação e associação de culturas; 8. Joint Ventures entre agricultura, florestas, árvores frutíferas, horticultura e criação animal; 9. Utilização de todas as técnicas conservacionistas tradicionais. Os sistemas Agroecológicos estão dispostos para maximizar a energia da produção e a utilização dentro do sistema, através da integração de ciclos de vida e mecanismos de autocontrole. O desenvolvimento destes processos técnicos demanda tempo e deve ser feito passo a passo com o apoio consciente da sociedade. O gerenciamento ambiental eventualmente aumentará devido ao uso de selos de garantia e o reforço da legislação ambiental. Para contribuir com isto, diferentes escolas de agricultura alternativa devem interagir para estabelecer uma base sólida de conhecimento para uma agricultura sustentável. O objetivo é, e será, a reforma do sistema rural a fim de se tornar ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justo. COMPARAÇÃO DE PROCEDIMENTOS Inicialmente estudaremos como um sistema Agroecológico atua dentro da biosfera. 4

deep heat moon gravity geological system resources ocean climatic system wind rains biodiv. soil natural water terrestrial ecosystems recycling sun agro-eco system agricultural systems fossil fuels industry urban system wastes Em seguida, olharemos detalhadamente para um subsistema agroecológico. fossil fuels stocks atmospheric gases N P S geological up-lif crocks gaseous nutrients accum. stocks natural systems biodiversity economic goods & services daily product oceans rays wind rain economic feedback local work natural renewal & controle areas of local biodivesity soil work water works animal work local human pop. human losses biodversity losses Sun albedo solar radiation agriculture, forestry and animal systems (organic farms) $ various products economic input losses natural inputs losses natural recycling wastes to soil, and ar, treatment is needed 5

Então, desenvolveremos nossa interpretação ao diagrama de sistemas habitual. Atm. N, P, S N 2 geological up- lift rocks external biodiv. rain local biodiversity soil work water works animal work local human work non renewable economic goods & services water N P S Process Process Agro - eco - system expenses taxes revenues sales subsidy Products Losses Wastes E para finalizar obtemos um diagrama agregado. R' R'or N F N or R' F R support systems productive systems in farm Products Losses (R,F,R') Wastes (needed treatment) ΣEmergy R + R' + F ΣEmergyInputs System' s Transformity = = = ΣEnergy ΣP + ΣL + ΣW ΣEmergyInputs EIR = F F I = R + R ' EYR Y R R F R R = = + ' + + ' = 10. + F F F % R R + = R' Y ELR N F F = + ( 0) + = ΣR R + R' Y EER= Σ$ sej / $ ( ) 6

O diagrama agregado de sistemas agroecológicos (figura 4) difere, minimamente, dos diagramas para a agricultura convencional (Odum, 1997), os quais têm sido usados como referência em nossos estudos (figura 5). Estoque local não renovável I M S F Materiais, bens e combustíveis Serviços e mão-de-obra Recursos Renováveis Trabalho do ambiente N R Uso econômico Y Emergia do sistema P Produção de energia do sistema Como podemos ver a partir da comparação entre os dois diagramas, o sistema agroecológico possui forte reciclagem e retroalimentação. Ele é concebido (organizado) para produzir solo agrícola continuamente, através da preservação e recuperação da biodiversidade local (e externa). Desta maneira, o sistema é capaz de incorporar nutrientes a partir das rochas do subsolo e estruturar o solo. Neste processo de produção de solo a porosidade aumenta, permitindo que a água da chuva infiltre-se com maior facilidade, elevando a contenção de água ao invés de sua fuga. Isto beneficia a produtividade dos processos biológicos realizados sobre o solo local, o qual torna-se rico em flora, fauna, nutrientes, tornando-se fértil. A vida do solo é a base para a cadeia trófica local, a qual contribui para estabelecer o controle biológico de doenças vegetais e pestes. TRÊS PROPOSTAS 1. O SOLO EM AGROECOLOGIA PODE SER UM RECURSO RENOVÁVEL O diagrama do sistema agrícola para projetos de Agroecologia deve considerar a redução das perdas de solo e sua produção local. A combinação destas duas tendências estabelece a possibilidade do solo se tornar um recurso renovável de energia (R), ao invés de não renovável (N), como foi considerado até agora. Como dissemos, esta situação é possível devido à criação de biodiversidade local e extração de material das rochas. Se admitirmos esta possibilidade, então o cálculo dos índices de emergia devem levar em consideração a produção de solo, o balanço de consumo e erosão, os quais nos permitirão saber se o solo é realmente renovável (de acordo com os padrões da Agroecologia). 7

2. CÁLCULO DE TRANSFORMIDADE PARA O SISTEMA GLOBAL Se a transformidade puder ser considerada como medida para a eficiência do sistema, então todos os insumos de emergia devem ser considerados, assim como todas as saídas (fluxos do sistema para o ambiente externo). Habitualmente, todos os insumos de emergia são considerados, mas nem todas as saídas, como: produtos secundários, perdas e resíduos do sistema, os quais são também saídas do sistema. A quantidade de perdas e resíduos é inerente à qualidade do processo em andamento no sistema e sua medida por meio do cálculo da transformidade nos permitirá incorporar as externalidades ao cálculo de emergia. 3. MEDIÇÃO DO BENEFÍCIO DA BIODIVERSIDADE NOS BALANÇOS DE EMERGIA Preparamos, para elucidação, uma planilha de cálculo para projetos de agroecologia. Esta tabela de cálculo constitui, até este exato momento, nossa melhor tentativa para medir a contribuição da biodiversidade para sistemas agrícolas. Para levar em consideração a contribuição da biodiversidade, em nossa primeira aproximação escolhemos medir os insumos de energia de áreas da fazenda reservadas à preservação e incorporação de biomassa ao invés de tentar medir todos os benefícios parciais sobre os sistemas agroecológicos e populações locais. Os benefícios da biodiversidade incluem: alimento, fibras, combustível, medicina, lazer, sombra, polinização, ar puro, barreiras contra vento, preservação de nascentes, retenção de solo, etc. Mas este outro tipo de cálculo poderá ser conduzido no futuro após um novo esforço no desenvolvimento de metodologias adequadas. BIBLIOGRAFIA Miklos, Andreas Attila de Wolinsk; Pettersen, Cristiano; Harkaly, Alexandre Preface. Proceedings of Third Brazilian Conference of Biodynamic Agriculture: "Agroecology in Perspective", School of Agriculture (ESALQ), University of São Paulo (USP). Piracicaba, SP, Brazil. October 14th to 17th, 1998. Bonilla, J. A., Fundamentos da Agricultura Ecológica: Sobrevivência e Qualidade de Vida. São Paulo. 1992. Nobel. 260 p. Bressan, D. Gestão Racional da Natureza. São Paulo. 1996. Hucitec. 111 p. Ehlers, E. Agricultura Sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma. São Paulo. 1996. Livros da Terra. 178 p. Gonçalez, D. A., Costa, C., Campos, L. Solos Tropicais sob Pastagem: Características e Técnicas para Correção e Adubação. São Paulo. 1992. Ícone Editora. 76 p. Primavesi, A., Agricultura Sustentável: manual do produtor rural. São Paulo. 1992. Nobel. 142 p. Rosa, A. V., Agricultura e Meio Ambiente. São Paulo. 1998. Atual Editora. 95 p. Toledo, V.M., Carabias, J., Mapes, C., Toledo, C. Ecología y Autosuficiencia Alimentaria. México. 1987. Siglo Veintiuno Editores. 114 p. Vivian, J. L., Pomar ou Floresta: princípios para manejo de agro-ecossistemas. Rio de Janeiro. 1995. Desktop Publicações Ltda. 96 p. Brown M.T. e Arding J.,1991. Transformity Working Paper. Center for Wetlands, University of Florida, Gainesville, USA. Census of Agriculture, 1992. Vol.1. Geographic Area Series. Part 51. United States Summary e State Data. 8

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