SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC SETEC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO CAMPUS CUIABÁ DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO VALÉRIA BERGAMINI LEITE INCLUSÃO A PARTIR DA PRÁTICA EQUOTERÁPICA: A EXPERIÊNCIA DO IFSEMG-CAMPUS BARBACENA Cuiabá - MT Outubro 2009
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO CAMPUS CUIABÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INCLUSIVA VALÉRIA BERGAMINI LEITE INCLUSÃO A PARTIR DA PRÁTICA EQUOTERÁPICA: A EXPERIÊNCIA DO IFSEMG-CAMPUS BARBACENA Cuiabá - MT Outubro 2009
Ficha Catalográfica LEITE, Valéria Bergamini INCLUSÃO A PARTIR DA PRÁTICA EQUOTERÁPICA: A EXPERIENCIA DO IFSEMG-CAMPUS BARBACENA Cuiabá -MT, 2009 Total de folhas: 64 páginas BORGES, Eduardo Sales Machado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Campus Cuiabá Trabalho de Conclusão Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva
VALÉRIA BERGAMINI LEITE INCLUSÃO A PARTIR DA PRÁTICA EQUOTERÁPICA: A EXPERIÊNCIA DO IFSEMG-CAMPUS BARBACENA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso de Especialização em Educação Tecnológica Inclusiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Campus Cuiabá, como exigência para a obtenção do título de Especialista. Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo Sales Machado Borges Cuiabá - MT Outubro 2009
VALÉRIA BERGAMINI LEITE INCLUSÃO A PARTIR DA PRÁTICA EQUOTERÁPICA: A EXPERIÊNCIA DO IFSEMG-CAMPUS BARBACENA Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, submetido à Banca Examinadora, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista. Aprovado em: Prof. Dr. Eduardo Sales Machado Borges (Orientador) Prof. Dr. Michel Cardoso de Angelis Pereira (Co-orientador e Membro da Banca) Prof. Jorge Luiz Baumgratz (Membro da Banca) Cuiabá - MT Outubro 2009
DEDICATÓRIA Dedico a Deus, aos meus familiares, em especial a minha mãe (in memorian), aos meus amigos, aos praticantes e a equipe do Centro Equoterápico do IFSEMG Campus Barbacena e, principalmente a todos que contribuíram para a conclusão deste trabalho.
AGRADECIMENTOS Ao orientador, Prof. Dr. Eduardo Sales Machado Borges e, ao coorientador, Prof. Dr. Michel Cardoso de Angelis Pereira, pela ajuda, dedicação e, sobretudo, pelo incentivo. À minha mãe Maria Luiza Grissi Bergamini (in memorian), que me ensinou que as pessoas simples são as mais importantes. Aos meus familiares e amigos pelo carinho e apoio. Ao Diretor do IFSEMG- Campus Barbacena, José Roberto Ribeiro Lima, que me incumbiu desta função. Ao Gestor do Programa TECNEP/MEC, Prof. Franclin da Costa Nascimento, que incentiva o processo de Inclusão no Brasil, promovendo investimentos e divulgando projetos como este. Aos praticantes de equoterapia e seus familiares, por toda alegria que nos tem proporcionado, contribuindo, a cada dia, para a consecução deste sonho. À equipe multidisciplinar, em especial, ao idealizador e coordenador do Projeto de Equoterapia o IFSEMG- Campus Barbacena, Professor Jorge Luiz Baumgratz, pela dedicação e profissionalismo. Ao progenitor da Equoterapia no Brasil, Coronel Lélio de Castro Cirilo, presidente da ANDE/BRASIL. Ao Professor Fábio Ferreira da Silva e aos estagiários do Núcleo de Informática Ronie Miranda Martins e Augusto Henrique Teixeira, que contribuíram imensamente para a apresentação e divulgação deste. Aos integrantes e voluntários que compõe o NAPNE. Aos professores da banca, pela disponibilidade e paciência. Aos coordenadores do Curso de Especialização, pela oportunidade. A todos que indiretamente contribuíram para a conclusão desta pesquisa.
É preciso que as escolas ensinem as crianças a tomar consciência dos seus sonhos! A segunda tarefa da educação é ensinar a conviver. A vida é convivência com uma fantástica variedade de seres, seres humanos, velhos, adultos, crianças, das mais variadas raças, das mais variadas culturas, das mais variadas línguas, animais, plantas, estrelas... Conviver é viver bem em meio a essa diversidade. E parte dessa diversidade são as pessoas portadoras de alguma deficiência ou diferença. Elas fazem parte do nosso mundo. Elas têm o direito de estar aqui. Elas têm direito à felicidade. (Rubem Alves)
RESUMO A nova concepção de políticas públicas direcionadas pelo Governo Federal, que enfatiza a inclusão de todos no contexto educacional, tem promovido meios que contribuem para este fim. No entanto, a quantidade de matrículas na Rede Regular de Ensino ainda é relativamente baixa. Assim, referendando a necessidade de implementar estratégias que revertam este quadro, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena (IFSEMG- Campus Barbacena), com o apoio do MEC/SETEC/TECNEP, implantou o Núcleo de Equoterápia. Neste contexto esta pesquisa, tem o objetivo de analisar a Equoterapia como uma prática que fomenta a inclusão social de pessoas com necessidades especiais, considerando que este método educacional, em que se utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, busca o desenvolvimento biológico, psicológico e social do praticante. Neste sentido, realiza-se uma discussão teórica sobre a vinculação entre a Equoterapia e o processo de socialização, com base nos dados coletados entre os praticantes. Assim, o presente trabalho referenda, inicialmente, a inclusão social, como referencial histórico ao contexto educacional inclusivo. Posteriormente, relata-se a experiência do IFSEMG- Campus Barbacena, no que diz respeito à extensão educacional refletida no Projeto de Equoterapia. Por fim, com base nos estudos realizados, a partir de levantamentos bibliográficos, acrescido dos dados coletados, menciona-se as considerações sobre a Equoterapia como uma prática que efetivamente contribui para o processo de inclusão em seu aspecto geral. Constitui, assim, de uma técnica extra-curricular coadjuvante, que colabora para o aperfeiçoamento do processo pedagógico inclusivo, oportunizando o acesso ao contexto social. Palavras-chaves: Equoterapia, inclusão, educação
ABSTRACT The new concept of public politics directed by the Federal Government emphasises the inclusion of all people in the educational context and it has promote means to this end. Notwithstanding the amount of enrolment in the Rede Regular de Ensino is still relatively very low. Thus, the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena (IFSEMG- Campus Barbacena) has strategies to improve this situation. This institute along with the MEC/SETEC/TECNEP implanted the Therapeutic Riding nucleus.in this context the research has the main goal of analyze the Therapeutic Riding as a practice that promote the social inclusion of handicaped people, regarding this method with horses in an wellrounded aspect,and it promotes the biological,psicological and social development of the handicaped people.the goal of this research is to talk about the link between the Therapeutic Riding and the process of socialization,regarding the data gather with the practicing people of this study.in this manner this work talks about the social inclusion regarding the historical referential to the context of educational inclusion.later, it recites the experience of IFSEMG- Campus Barbacena,regarding the educational extension pondered in this project.eventually in keep with the data and the bibliography there is a mention to the Therapeutic Riding as a practice that effectively contributes to the inclusion process as a whole.it is constitute of an extra curriculum tecnique that helps the improvement of inclusive pedagogic process and optimizing the access to the social context. Keywords: Therapeutic Riding /Equitherapy, inclusion, education
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Complexo Biopsicosocial: Áreas de Aplicação da Equoterapia... 27 Figura 2: Análise da evolução biopsicosocial dos praticantes de Equoterapia, como fator motivacional para a Inclusão... 28 Figura 3: Distribuição Biopsicosocial por área de Aplicação, provenientes da prática Equoterápica... 29 Figura 4: Percentual de evolução dos praticantes que apresentaram limitação, frente aos aspectos psicológicos, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2008... 30 Figura 5: Percentual de evolução dos praticantes que apresentaram limitação, frente aos aspectos psicológicos, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2009.... 32 Figura 6: Percentual de evolução, dos praticantes, que apresentaram limitação, frente aos aspectos sociais, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2008... 35 Figura 7: Percentual de evoluçãodos praticantes que apresentaram limitação, frente aos aspectos sociais, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2009... 37 Figura 8: Percentual de evolução dos praticantes que apresentam limitação, frente aos aspectos pedagógicos, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2008... 39 Figura 9: Percentual de evolução dos praticantes que apresentam limitação, frente aos aspectos Pedagógicos, e iniciaram as atividades equoterápicas em 2009... 41 Figura 10: Percentual de evolução dos praticantes que apresentam limitação, frente aos aspectos Fisioterápicos e iniciaram as atividades equoterápicas em 2008... 43 Figura 11: Percentual de evolução dos praticantes que apresentam limitação,frente aos aspectos Fisioterápicos e iniciaram as atividades equoterápicas em 2009... 45
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Aplicações do Método Equoterápico por Área... 26 Tabela 2: Avaliação dos Aspectos Psicológicos dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2008... 30 Tabela 3: Avaliação dos aspectos Psicológicos dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2009... 32 Tabela 4: Avaliação do Aspecto Social dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2008... 34 Tabela 5: Avaliação do Aspecto Social dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2009... 36 Tabela 6: Avaliação do Aspecto Pedagógico dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2008... 38 Tabela 7: Avaliação do Aspecto Pedagógico dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2009... 40 Tabela 8: Avaliação do Aspecto Fisioterápico dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2009... 43 Tabela 9: Avaliação do Aspecto Fisioterápico dos praticantes de Equoterapia que ingressaram em 2009... 44
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO/OBJETIVO... 14 2 REFERENCIAIS TEÓRICOS... 15 2.1 Definições sobre Inclusão... 15 2.2 Fundamentação histórica da Inclusão... 16 2.3 População e demanda de pessoas com necessidades especiais nas escolas... 19 2.4 A Equoterapia como ferramenta para a Inclusão... 20 3 MATERIAL E MÉTODOS... 24 3.1 Instalações Físicas... 24 3.2 Atividade Equoterápica... 24 3.3 Coleta e análise de dados... 25 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 27 4.1 Aspecto Psicológico... 29 4.2 Aspecto Social... 34 4.3 Aspecto Pedagógico... 37 4.4 Aspecto Fisioterápico... 42 4.5 Dimensão Psicopedagógica... 45 5 CONCLUSÃO... 48 7 RECOMENDAÇÕES... 50 6 BIBLIOGRAFIA... 51 APÊNDICE... 55 ANEXO... 58
14 1 INTRODUÇÃO/OBJETIVO O processo de inclusão social, ainda incipiente em âmbito mundial, dissemina a igualdade de direito a todas as pessoas, independente de raça, etnia e religião, visando propiciar a aquisição de melhor qualidade de vida ao cidadão. Neste sentido, inúmeros movimentos tem sido implementados almejando propagar a prática inclusiva. Sabe-se que, nesta esfera, a Rede Regular de Ensino é considerada um ambiente democrático, que visa, sobretudo, propiciar a promoção pessoal e o ingresso em atividades consideradas socialmente produtivas, promovendo, assim, a acessibilidade em seu aspecto global, nos mais diferentes meios. Assim, ao propor-se a viabilização de métodos que favoreçam a progressão no que tange à perspectiva da ascensão humana, com o intuito de oferecer condições que fomentem a inclusão social, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena (IFSEMG - Campus Barbacena), ciente de sua responsabilidade e conivente com a tendência educacional centenária, como a primeira Escola Agrícola do País, investiu, com o apoio do MEC/SETEC/TECNEP, em um método multidisciplinar, denominado equoterapia. A adoção deste mecanismo pretende contribuir para promover o acesso e minimizar as dificuldades do aluno com necessidades especiais, à rede regular de ensino e, conseqüentemente, no mercado de trabalho, consolidando assim o compromisso de efetivamente cumprir a missão com a sociedade. Partindo-se do principio de que a Equoterapia é um viés norteador no processo de socialização, este projeto pretende, intrinsecamente, contribuir para a inclusão de pessoas com necessidades especiais, no contexto social. Nesta perspectiva, o presente trabalho objetiva analisar a atividade equoterápica desenvolvida no Núcleo de Equideocultura do IFSEMG - Campus Barbacena, como uma prática que fomenta a inclusão social de pessoas com necessidades especiais, principalmente no que tange à Rede Regular de Ensino.
15 2 REFERENCIAIS TEÓRICOS 2.1 Definições sobre Inclusão A denominação de inclusão social adquiriu conceituação evolucionista, onde a dimensão histórica da palavra está relacionada a um movimento internacional de conquistas, para alcançar um lugar em uma sociedade extremamente eivada de mitos, preconceitos e discriminações (AZEVEDO, s/d). À luz da atual legislação, quanto ao conceito de Inclusão, o Parecer do Conselho Nacional de Educação (CEB), número 17, regulamentado em 3 de julho de 2001, exprime bem: Entende-se por inclusão, a garantia a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida (BRASIL, 2001, grifo nosso). Enfatiza-se, anteriormente, a palavra todos, considerando que o referido Parecer faz alusão ao Principio Constitucional da Igualdade, conforme prescreve o caput do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, a igualdade, a segurança e a propriedade" (BRASIL, 1988). Assim, a concepção de Inclusão referenda a todos os segmentos sociais, e não somente às pessoas com deficiência. Ou seja, não faz acepção de pessoas, considerando origens étnicas, sociais e/ou religiosas, dentre outras. Em outras palavras, segundo Gallie e Paugam (2002), inclusão é o processo que viabiliza o acesso às oportunidades e à participação plena na vida econômica, social e cultural, permitindo usufruir de um nível social considerado aceitável.
16 2.2 Fundamentação histórica da Inclusão A organização da sociedade humana é sinalizada por um processo contínuo de evolução, considerando fatores econômicos e, principalmente, sócioculturais. Nesta esfera, a Inclusão Social, se estruturou, simultaneamente, contra práticas de segregação, exclusão e diversidade. Baseado na perspectiva mencionada, a inclusão enuncia diversas correntes de pensamentos e idéias, sendo o hegemônico considerado como seu marco referencial. Progressivamente, de acordo com Mendes (2004) apud Santos (2009): Os movimentos sociais pelos direitos humanos se intensificaram e, basicamente, na década de 1960, conscientizaram e sensibilizaram a sociedade sobre os prejuízos da segregação e da marginalização de indivíduos de grupos com status minoritários. Desta forma, a sociedade inclusiva nasce do somatório de pequenas, porém inúmeras, práticas sociais de inclusão, em uma gigantesca rede que se expande em âmbito mundial, onde fatores culturais colaboram para o emergir de uma nova consciência social (PUC, 2001). A partir da referendada sensibilização, a sociedade evoca a dimensão estrutural desta prática como uma necessidade emergencial, numa tentativa de garantir a qualidade de vida a todos os cidadãos. Fundamentalmente, a Declaração Universal Dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217A(III), da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, em seu Artigo 2º rege: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (ONU, 1948). Em síntese, a Declaração determina que todos têm direito a vida, liberdade, educação, alimentação, saúde, habitação, propriedade, participação política e lazer.
17 Nesta perspectiva, a inclusão social trouxe um novo paradigma para a sociedade, capaz de impulsionar este processo crescente de conquistas dos direitos fundamentais por aqueles que sofreram alguma forma ou algum nível de exclusão, criando assim indivíduos e/ou comunidades vítimas de marginalização, alienação ou inacessibilidade aos bens comuns da sociedade (DIST, s/d). Desta forma, grupos vulneráveis, como pequenas etnias, pessoas com algum tipo de deficiência, pobres, analfabetos, idosos, comunidades rurais e indígenas, passaram a ser alvo de políticas públicas, numa tentativa de minimizar as drásticas conseqüências da exclusão. Para difundir estes movimentos em prol da inclusão, foram impulsionados, com a promulgação da Declaração de Salamanca (1994), resultante da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, que referenda escolas regulares como os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos. (UNESCO, 1994). Ações como esta emergiram na década de 90, a partir de um movimento denominado Inclusion International, compreendido como uma organização cujo regimento se fundamenta nos aspectos humanitários, baseado em valores comuns de respeito à diversidade humana, compreendendo o tripé: direito, solidariedade e inclusão. Complementando, como referenda o portal Educación inclusiva (2009), proveniente dos países da América Latina e Caribe, a educação inclusiva tem sido reconhecida internacionalmente como a melhor maneira de oferecer educação aos filhos de um país, e conseguir educação para todos, porém juntos. Alavanca-se, então, uma das dimensões do processo de inclusão social, que é o processo de Educação sob uma perspectiva Inclusiva. Neste contexto, conforme mencionado, sabe-se que a escola é uma das Instituições mais democráticas, onde se difunde meios para o individuo vincular-se à sociedade. Nesta esfera, Brito (2009) salienta que a escola regular, dentro de uma visão inclusiva, ainda incipiente no país, proporciona à pessoa especial o meio de desenvolver-se na diversidade: o princípio da inclusão passa então a ser defendido como uma proposta da aplicação prática ao campo da educação de um movimento mundial, denominado inclusão social, que implicaria a construção de um processo bilateral no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam, em parceria, efetivar a equiparação de oportunidades para todos (MENDES, 2006).
18 Em síntese o movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação (MEC/SEESP, 2008). Nesta perspectiva, o Governo Brasileiro tem adotado programas para fomentar a inclusão social, a partir dos direitos básicos da população, como o acesso à alimentação, educação, saúde, habitação e cultura. Além disso, conforme o Ministério da Ciência e Tecnologia, tem incentivado e deliberado recursos para fomento e apoio à pesquisa, à inovação e à extensão tecnológica para o desenvolvimento social (MCT, s/d). No que diz respeito às pessoas com necessidades especiais, a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, no artigo 2º, determina que: Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (MEC, 2001). No entanto, para se garantir a qualidade exigida, conforme rege a legislação vigente, é necessário adequar o contexto educacional, com o intuito de proporcionar o atendimento à diversidade humana, como reporta a Organização Internacional sobre Inclusão: Todas as crianças e jovens do mundo, com suas potencialidades e limitações, com suas esperanças e expectativas, tem direito a educação. Não são os sistemas educativos que tem direito a certo tipo de alunos. É por isso que o sistema educacional de um pais deve-se ajustar para satisfazer as necessidades de todos (LINDQVIST,1994, tradução nossa). Em conformidade com estas considerações, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades (MEC/SEESP, 2008). Neste sentido, o MEC/SEESP (2008) caracteriza a educação inclusiva como um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis. Especificamente, o Governo brasileiro tem promovido programas de inclusão social, no que diz respeito ao acesso à Modalidade de Ensino
19 profissionalizante, proporcionando, assim, a qualificação para o mercado de trabalho, baseando-se na seguinte prerrogativa: Jovens com necessidades educacionais especiais deveriam ser auxiliados no sentido de realizarem uma transição efetiva da escola para o trabalho. Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provêlos com as habilidades necessárias ao cotidiano da vida, oferecendo treinamento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias adequadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real (UNESCO, 1994). Nesta esfera, cabe mencionar o Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para Alunos com Necessidades Educacionais Especificas (TECNEP), fomentador do presente objeto de pesquisa, que, segundo sua denominação, consiste em: (Um) programa que visa à inserção das Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas nos cursos de formação inicial e continuada, de nível técnico e tecnológico nas Instituições Federais de Educação Tecnológica, em parceria com os sistemas estaduais e municipais, bem como o segmento comunitário (MEC, s/d). 2.3 População e demanda de pessoas com necessidades especiais nas escolas Entretanto, O Censo Escolar 2006 (MEC/INEP, 2007) relata que, de cada 100 matriculas na Modalidade de Ensino Profissionalizante nível básico, oferecido pela Rede Regular de Ensino, aquelas relacionadas a Pessoas com Necessidades Especiais não ultrapassa 1%, enquanto que, para o mesmo público, na Modalidade de Ensino Especial, este percentual é, portanto, superior a 99%. Mendes, E., (2006), em conformidade com o Censo Escolar 2006, reitera que a demanda pela Rede Regular de Ensino ainda é insuficiente: A grande maioria dos alunos com necessidades educacionais especiais encontra-se hoje fora de qualquer tipo de escola, o que configura muito mais uma exclusão generalizada da escola, a despeito da anterior retórica da integração e/ou da recente proposta de inclusão escolar (MENDES, 2006). Referendando a necessidade de implementar estratégias que revertam este quadro, no que tange principalmente à agregação da Rede Regular
20 de Ensino, o TECNEP deliberou recursos e implementou, nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET s), o Núcleo de Atendimento a Portadores de Necessidades Especiais (NAPNE), cujo objetivo visa disseminar na instituição a cultura da "educação para a convivência", aceitação da diversidade, e principalmente, buscar a quebra às barreiras arquitetônica, educacionais e atitudinais (MEC, s/d). Considerando que ainda não há demanda de Pessoas com Necessidades Especiais (PNE) para os Cursos Profissionalizantes, como viés norteador à inclusão social, o NAPNE, contando com o apoio do TECNEP, tem investido em projetos de extensão como, Capacitação de Servidores, Natação Inclusiva, Basquete sobre Rodas, Inclusão Digital para os discentes do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) e a Equoterapia Os referidos projetos foram fundamentados nos princípios básicos do Método SIVUS (siglas de palavras suecas, que significam indivíduo social desenvolvido da cooperação mútua ), que prega o desenvolvimento de padrões de convivência por meio de estratégias graduais de inclusão das pessoas com deficiência, em espaços de uso geral, baseado em interesses comuns (WALUJO, 1993). 2.4 A Equoterapia como ferramenta para a Inclusão No que tange à prática inclusiva, a Equoterapia é considerada como um recurso que promove a socialização, o lazer e a interação, estimulando, assim, a inclusão no contexto escolar. Esta proposição está em conformidade com os objetivos da prática Equoterápica, definida pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE): Um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. (ANDE, s/d) Ampliando este conceito, Franco (2003) apud Medeiros e Dias (2002) complementa que a Equoterapia é indicada para casos de dependência química, stress, bem como a todos que procuram novas oportunidades de
21 crescimento, melhoria na qualidade de vida e ainda um melhor equilíbrio, tanto físico como mental. A referida definição permite vislumbrar o alcance pedagógico que a prática proporciona, uma vez que esta ultrapassa os limites filosóficos para, então, suplementar uma desenvoltura interdisciplinar. Em outras palavras, explica Haddad et al (s/d) que, em âmbito educacional, o uso do cavalo admite diferentes gradações e metodologias, abrangendo desde a mais simples equitação, como esporte e entretenimento, até o trabalho de déficits nas habilidades sociais dos jovens com dificuldades escolares e em situação de risco. Neste sentido, a possibilidade de interagir com os cavalos permite aos praticantes se sentirem úteis e mais confiantes. A interação com o cavalo, incluindo os primeiros contatos, o ato de montar e o manuseio final, desenvolve novas formas de socialização, autoconfiança e auto-estima (ANDE, 1998). Nesta esfera, quando o praticante é capaz de conduzir o cavalo de forma autônoma, conforme explica Ramos (2007), o cavalo desafia o cavaleiro a ser seu líder, o que só é possível através de atitudes firmes e centradas na realidade, considerando que, obviamente, o cavalo não pode ser controlado somente através da imaginação. Sabe-se que estas condições são adquiridas graças à junção de fatores que a prática da Equoterapia permite. São eles o ambiente natural, a proposta pedagógica interdisciplinar e a interação entre equipe, familiares e, principalmente, com o cavalo. Intrinsecamente, pode-se experimentar no contexto equoterápico, a contribuição contínua do praticante, orientando a equipe, mesmo que indiretamente, para a condução do trabalho. Esta estratégia compõe a tendência pedagógica construtivista, uma vez que o discente atua como parceiro no processo de ensinoaprendizagem, redefinindo, assim, caminhos concretos a partir de suas peculiaridades. Sabe-se que são diversas as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com Necessidades Especiais (PNE) e seus familiares, de se relacionarem socialmente, pois além das barreiras físicas (tais como rampas de acesso), as barreiras do preconceito (ditas atitudinais), dentre outros, dificultam sua integração em sociedade.
22 Assim, a metodologia empregada na prática equoterápica é significativa para a superação da dicotomia educação x saúde, pois desenvolve estratégias para uma proposta pedagógica que considera o sujeito na sua complexidade. Neste sentido, conforme o Centro de Equoterapia Canadense -ACEI (s/d), o método oferece, além da reabilitação, oportunidades de emprego e competências pragmáticas a respeito da vida para as pessoas com necessidades especiais. Em conformidade com este princípio e com as determinações da ANDE, definiu-se os objetivos da prática Equoterápica, considerando sua aplicação nas áreas da saúde, educação e sociedade: Proporcionar a pessoas com necessidades especiais o desenvolvimento de suas potencialidades, respeitando seus limites. Em âmbito sócio-educacional, reintegrar o praticante à sociedade, quando usuário de drogas e violência, contribuindo para construir os alicerces de cidadania. Incentivar a pesquisa, promovendo a divulgação de novas técnicas em ação interdisciplinar com diferentes profissões. Além destas finalidades, a intenção também é oportunizar uma transição amena da sociedade para a escola, vislumbrando o conseqüente ingresso no mercado de trabalho. Nesta esfera, é importante salientar que a Equoterapia reúne quatro diferentes modalidades estruturais, denominadas: Hipoterapia - Programa essencialmente da área de saúde, onde o praticante depende de um condutor. Educação/Reeducação - Programa que utiliza o cavalo como instrumento pedagógico, considerando que o praticante tem condições de conduzi-lo. Pré-esportivo - Programa que utiliza o cavalo como instrumento de inserção social, desenvolvendo atividades de hipismo.
23 Prática Esportiva Paraeqüestre Programa que fomenta competições paraeqüestres tais como nas paraolimpíadas.
24 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Instalações Físicas Investindo neste método, o IFSEMG - Campus Barbacena, implantou, nas dependências do Núcleo de Equideocultura, as instalações do projeto, compostas por uma unidade contendo recepção, sala de fisioterapia e reabilitação, sala destinada ao atendimento Psicológico e Coordenadoria, e, principalmente, por duas pistas destinadas ao volteio, sendo uma coberta e dotada com rampa de acesso e equipamentos lúdicos. O núcleo possui, ainda, dez cavalos, arreios especiais, equipamentos próprios à equitação e depósito de ração e feno. O ambiente supracitado localiza-se em uma área extremamente agradável, florida e esverdeada, onde, além do cavalo, conta-se com a presença de outros animais, tais como cachorros, coelhos, pássaros, entre outros, o que contribui, incontestavelmente, para a socialização do praticante, uma vez que contrasta com os tradicionais centros terapêuticos e hospitais. 3.2 Atividade Equoterápica Ainda incipiente no IFSEMG - Campus Barbacena, atualmente temse desenvolvido o Programa de Educação/Reeducação, com vistas a ampliá-lo para a área esportiva. De acordo com Gavarini (1995) apud Freire (1999), este programa favorece a integração social, pois estimula o contato com outros praticantes, com seus familiares, com a equipe e com o animal, aproximando-os da sociedade a qual fazem parte. Em caráter experimental, as atividades equoterápicas tiveram seu início, no IFSEMG - Campus Barbacena, em meados de novembro de 2008, sendo que as sessões ocorrem três vezes por semana, no período matutino, com duração de cinqüenta minutos, incluindo o tempo de aproximação, monta e encerramento. Cada aluno, denominado praticante, comparece às sessões após um intervalo de sete dias entre cada uma destas sessões. Para o desenvolvimento das atividades, foram firmadas parcerias com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Barbacena (APAE