Do crime: imputabilidade e concurso de agentes. Do crime. Alexandre Reis de Carvalho



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Transcrição:

Do crime: imputabilidade e concurso de agentes Alexandre Reis de Carvalho Do crime A partir do Título II do CPM (art. 29 a 47) encontram-se as normas gerais formadoras do conceito teórico para o crime militar, o qual pode se valer daquele preconizado pela Teoria da Tipicidade formulada por Ernest Beling, no sentido de ser uma conduta humana típica, ou seja, em conformidade com o modelo (tipo) estabelecido na lei penal militar, contrária ao direito e culpável. O fato (ou conduta) típico, portanto, consubstancia-se em 04 (quatro) partes: conduta (comportamento humano positivo ou negativo), adequação a um tipo legal, resultado (arts. 30 a 32) e nexo de causalidade (art. 29 do CPM). Consoante à teoria final da ação, adotada pela Parte geral do Código Penal comum, é na conduta que se insere o elemento subjetivo do injusto (dolo) ou, nos crimes culposos, o elemento normativo do tipo. Contudo, deve-se ressaltar que o CPM (promulgado em 1969) foi moldado na teoria causal da ação, como se verifica da rubrica culpabilidade aposta à margem do artigo 33, que contempla o dolo e a culpa stricto sensu como elementos integrantes da culpabilidade. Segundo Romeiro 1, embora o CPM não houvesse sido formulado segundo os ditames da teoria finalista da ação, entendemos, por outro lado, que não a repele, no conjunto de seus dispositivos, como um aprumo doutrinário tão em moda em nosso país. 1 Op. cit., p. 108-109. Já a antijuridicidade, segundo elemento do conceito analítico do crime, reflete o antagonismo do fato típico com os objetivos da lei penal militar na tutela e preservação dos bens jurídicos. São excludentes da antijuridicidade, no Direito Penal Militar as hipóteses previstas nos incisos I a IV do artigo 42 (estado de necessidade justificante, legítima defesa, estrito cumprimento do 25

dever legal e exercício regular do direito) e, ainda, a causa de exclusão (justificante) do comandante (art. 42, parágrafo único, do CPM), também denominada de excludente inominada. Por sua vez, a culpabilidade (juízo de reprovabilidade, ou seja, reprovação jurídica formulado ao autor do injusto penal) é composta pela imputabilidade (art. 48 a 52 do CPM), potencial consciência da ilicitude (artigos 35 a 37) e exigibilidade de conduta diversa (arts. 38 e 40). Entre outras particularidades, note-se que o CPM adotou o erro de fato (art. 36) e erro de direito (art. 35), além do estado de necessidade excludente da culpabilidade (art. 39), diferentemente do previsto na lei penal comum. Feitas essas considerações iniciais, passaremos a analisar os institutos e elementos peculiares ao crime militar, recomendando a utilização dos Manuais e Tratados de Direito Penal para a complementação dos estudos referentes aos institutos comuns ao CPM e CPB. Relação de causalidade (art. 29) Algumas vezes, determinado evento criminoso não resulta exclusivamente da ação ou omissão do agente, havendo outras forças concorrentes denominadas de concausa, isto é, uma outra causa preexistente, concomitante ou superveniente, como, por exemplo, quando no crime de homicídio haja concorrido para o resultado morte as condições pessoalíssimas da vítima (hemofilia ou outra doença) ou a falta de tratamento adequado. A fim de resolver esse problema, conhecido como relação de causalidade, várias teorias foram excogitadas, adotando o CPM, nas pegadas do CPB, a teoria da conditio da sine qua non ou da equivalência dos antecedentes causais, segundo a qual não se distingue entre causa e condição, pois tudo que concorre para o resultado é causa. A fim de evitar o regresso ad infinitum, deve-se aferir se o autor da ação ou omissão investigada como causa do resultado agiu com dolo ou culpa, pois do contrário, se considerada somente a causalidade objetiva, não escaparia à responsabilização penal nem mesmo o fabricante e o vendedor da arma de fogo utilizada num roubo, latrocínio ou homicídio. A relevância da omissão como causa (art. 29, 2.º), quando o omitente podia e devia agir para evitar o resultado, possui redação e aplicação idêntica ao CP. 26

Quanto ao crime consumado e tentado (art. 30), a única diferença reside na previsão legal da aplicação facultativa da pena do crime consumado ao crime tentado, no caso de excepcional gravidade deste (art. 30, parágrafo único). O STM vem confirmando a aplicabilidade dessa faculdade nos crimes de homicídio tentado e latrocínio sem o resultado morte. De igual sorte, o STF tem considerado constitucional a aplicação do mencionado dispositivo legal. Quanto à conduta (crime doloso ou culposo), vale relembrar que tais conceitos encontram-se previstos no artigo 33, sob a rubrica culpabilidade, com semelhante redação e idêntica aplicabilidade ao direito penal comum. Do erro Erro é o falso conhecimento ou percepção da realidade, quer dos fenômenos físicos propriamente ditos (erro de fato), quer do conhecimento ou interpretação da lei (erro de proibição). A ignorância, que é a ausência do conhecimento, é equiparada ao erro para efeitos penais. Grande diferença existente entre o CPM e o CPB reside na teoria do erro. Enquanto a reforma de 1984 da Parte Geral do CPB, que inspirada na teoria finalista da ação, transferiu a incidência do erro, do fato e do direito para o tipo (erro de tipo) e para a ilicitude do fato (erro de proibição), o CPM manteve a tradição romanística 2 de distinguir entre o erro de fato e erro de direito. Erro de direito (art. 35) A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis. 2 ROMEIRO. Op.cit., p. 114-116. Note que o desconhecimento da lei não exime de responsabilidade penal o agente (error juris nocet), consoante disposto no mencionado artigo 35 do CPM e previsto expressamente no artigo 21, primeira parte, do CPB. Portanto, para que a pena possa ser reduzida ou substituída por outra menos grave, a falta de conhecimento da lei ou erro em sua interpretação deve ser escusável, ou seja, o erro revela-se inevitável (invencível) quando o agente não poderia superá-lo mesmo empregando a atenção ou a cautela que lhe eram exigidos. 27

3 Op. cit., p. 73-74. Segundo Alexandre Saraiva 3, a consequência mais justa e coerente na hipótese de erro invencível (escusável) é a total isenção da pena, uma vez que seu pressuposto lógico e fundamental (a culpabilidade) fica privado de um de seus elementos constitutivos (o potencial conhecimento da ilicitude do fato). Também merece atenção a ressalva feita pelo legislador penal de que o erro de direito não pode beneficiar o agente nos casos de crimes contra o dever militar. Tal exceção tem merecido críticas quanto à institucionalização da responsabilidade objetiva no Direito Penal Militar. Erro de fato (art. 36) É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por erro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima. 4 ASSIS, Jorge César. Op. cit., p. 95. Ensina Assis 4 que o dolo é natural, livre e consciente, portanto o erro de fato deve excluir o dolo do agente porque engana o agente, encobrindo os motivos ou circunstâncias que tornam o fato criminoso. Porém, para excluir o dolo e ser isento de pena, ou seja, isento da culpabilidade, na dicção da norma penal militar, o erro há de ser invencível (plenamente escusável), e aqui andou melhor o legislador castrense, quando previu no 1.º que, em sendo o erro culposo (evitável), o fato é punível a título de culpa. 5 SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Op. cit., p. 74-75. Assim, para o erro de fato pode-se aplicar a seguinte fórmula: quando o erro [de fato] é invencível (plenamente escusável, na dicção da norma) exclui o dolo e a culpa; quando, por sua vez, o erro for vencível (inescusável ou culposo ), exclui somente o dolo, remanescendo a culpa (art. 36, 1.º). 5 Por derradeiro, o 2.º do mencionado art. 36 trata do erro provocado por terceiro, que pode ser doloso (ou preordenado) ou culposo, devendo o agente provocador responder pelo resultado a título de dolo ou culpa, respectivamente; enquanto o agente imediato (induzido ao erro) é isento de pena, salvo se procede com leviana credibilidade. Erro sobre a pessoa (art. 37) Quando o agente, por erro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições ou qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para a configuração, qualificação ou exclusão do crime, e agravação ou atenuação da pena. 28

Nos artigos 35 e 36, o CPM tratou dos erros essenciais do crime, isto é, aqueles que recaem sobre elementos ou circunstâncias do tipo penal militar, sem as quais o delito inexistiria. O artigo 37 trata do erro sobre circunstâncias acidentais (acessórias) ou mesmo estranha ao modelo legal, não impedindo, contudo, a adequação típica da conduta, a exemplo do que ocorre na aberratio ictus, no error in personae e na aberratio criminis. Na aberratio ictus (desvio de golpe), o agente erra na execução ou ocorre um imprevisto e, em razão disso, atinge pessoa diversa da pretendida. No error in personae, igualmente, outra pessoa é atingida, porém o erro ocorre na representação (ou percepção), isto é, o agente toma um indivíduo por outro. Assim, é o feliz exemplo apresentado por Alexandre Saraiva 6 : se um soldado sentinela resolve matar o tenente oficial de dia e por erro acidental, quer na execução (aberratio ictus), v.g., erra os tiros, quer na representação (aberratio personae), v.g., toma um oficial por outro de aparência semelhante, e acaba atingindo e matando outro tenente que sequer estava de serviço, o agente será processado e julgado pelo crime previsto no artigo 158, 3.º (violência contra militar de serviço, qualificado pelo resultado morte). 6 Idem, p. 76-77. A aberratio criminis (ou aberratio delicti) ocorre quando o agente erra objetivamente na execução do crime, ou ocorre um acidente qualquer na fase executória, fazendo com que seja atingido bem jurídico de natureza diferente do pretendido. Como exemplo, um militar insatisfeito pretende danificar a fachada e as vidraças do prédio do comando de sua Organização Militar e, na primeira tentativa, acaba errando a edificação e acertando um colega de caserna que se encontrava saindo do prédio. Na hipótese, o agente responde por este resultado (diverso do pretendido) por culpa, desde que haja previsão legal (modalidade culposa) para tanto. Em qualquer das situações apresentadas (aberratio ictus, error in personae e aberratio criminis) pode acontecer que uma única conduta produza uma duplicidade de resultados, ou seja, ser atingida a pessoa (no caso da aberratio ictus ou error in personae) ou o bem jurídico visado (no caso da aberratio criminis), além do bem jurídico ou da pessoa que foram efetivamente alcanças pelo erro. Para tais hipóteses, o CPM contemplou (art. 37, 2.º) a aplicação do artigo 79, que preconiza a unificação das penas no concurso desses crimes. 29

Excludente de antijuridicidade (justificantes) Diz-se que uma ação é antijurídica quando contradiz uma norma jurídica (formal) e, em decorrência dessa contradição, lesiona ou põe em perigo os bens tutelados pela norma (material). Portanto, o traço característico e essencial da conduta criminosa é sua relação de contrariedade com o ordenamento jurídico, ao que se denomina antijuridicidade ou ilicitude. Assim, são causas excludentes da ilicitude: o estado de necessidade (justificante), a legítima defesa, o exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal, além da causa de justificação do Comandante causa de exclusão peculiar ao Direito Penal Militar que será estudada detalhadamente. As causas de justificação contidas no contidas no artigo 42 possuem redação e aplicação idêntica à lei penal comum, exceção feita ao estado de necessidade. Ocorre que o CPM adotou a teoria diferenciadora do estado de necessidade (teoria originária do direito alemão), distinguindo-o em estado de necessidade justificante (excludente da antijuridicidade art. 43) e em estado de necessidade exculpante (excludente da culpabilidade art. 39), promovendo, para tanto, verdadeiro balanço dos bens e interesses em conflito, ou seja, a ponderação entre o bem preservado e o sacrificado. Portanto, quando os bens e interesses necessariamente sacrificados são inferiores aos protegidos (preservados), o estado de necessidade é justificante (antijuridicidade); quando superiores ou iguais aos protegidos, o estado de necessidade é exculpante (culpabilidade). Por exemplo, quando um militar comete o crime de deserção (art. 187) e produz prova de que a ausência deu-se para amparar seus genitores que foram acometidos de grave enfermidade, o julgador poderá reconhecer, nessa hipótese, a ocorrência do estado de necessidade (alheio) excludente da culpabilidade, uma vez que, para o Direito Penal Militar o serviço militar é bem jurídico de hierarquia superior à vida (art. 205) e a integridade física (art. 209). Outra importante diferença apresenta-se na causa de justificação do comandante, prevista no parágrafo único do artigo 42: Art. 42. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. 30

A juíza auditora Telma Angélica 7 defende a possibilidade de o comandante fazer uso da violência física, inclusive ceifando a vida de seus subordinados, a fim de manter a ordem ou para salvar a unidade ou vidas, inclusive em tempo de paz. Na revolução constitucionalista de 1932, a região do vale do Paraíba foi considerada zona de guerra. Um oficial 8 comandante na linha de fogo matou um soldado porque o mesmo tinha se recusado a enfrentar o perigo e, com tal conduta, estava desencorajando os demais soldados. O referido oficial foi absolvido em 1.º e 2.º grau com fundamento na excludente de ilicitude do comandante (art. 21, 6.º, do então Código Penal da Armada). 7 FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de ilicitude no Direito Penal Militar. São Paulo: Lúmen Júris, 2005. 8 PORTO, Mario André da Silva. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Fundação Trompowski, 2008, pp. 64-65. Interessante peculiaridade decorre da execução da pena de morte (art. 5.º, XLVII, letra a, da CRFB), em tempo de guerra, em que os militares designados para integrar o pelotão de fuzilamento estarão agindo no estrito cumprimento do dever legal. Excludente de culpabilidade (exculpantes) Coação irresistível e obediência hierárquica (art. 38): Art. 38. Não é culpado quem comete o crime: a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir segundo a própria vontade; [...] b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em matéria de serviços. [...] 1.º Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. 2.º Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior. A coação irresistível e a obediência hierárquica também são causas de exclusão da culpabilidade representadas na exigibilidade de conduta diversa, uma vez que ao agente nada mais resta do que cumprir o que lhe está sendo imposto. Em relação à coação irresistível repousa a diferença de que o artigo 40 impede a exclusão da culpabilidade nos casos em que há violação do dever militar, salvo se a coação for física ou material. Tal dispositivo tem merecido questionamentos e críticas, embora ainda vigente. Quanto à obediência hierárquica cabe distinguir que no direito penal militar não se faz um juízo de legalidade da ordem (art. 22 do CPB ordem, não manifestamente ilegal), mas tão somente da natureza criminosa desta (art., 38, 2.º, primeira parte, do CPM se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso). 31

9 Op. cit., p. 124-125. Romeiro 9 esclarece que a possibilidade de apreciação da natureza criminosa da ordem no Direito Penal Militar, ainda que mais restrita que no Direito Penal comum, decorre da adoção de um sistema intermediário ou sincrético entre as teorias conhecidas em direito penal militar, como: a) teoria das baionetas inteligentes, segundo a qual o militar deve desobedecer (não obedecer) as ordens não objetivamente legítimas; e b) teoria da baioneta cega, em que não há possibilidade de recusa de obediência a ordem superior. A expressão ato manifestamente criminoso, usada no mencionado artigo 38, 2.º, do CPM, deve ser entendida, de forma objetiva, como aquela ordem cujo objeto seja de instantâneo e induvidoso conhecimento quanto à criminosidade do ato ordenado, não se exigindo maiores reflexões do subordinado. Por outro lado, a recusa de obediência a ordem superior configura o delito previsto no art. 163 do CPM. Estado de necessidade como excludente de culpabilidade (art. 39): Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa. Estado de necessidade é uma situação de perigo atual a interesses protegidos pelo direito, em que o agente, para salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio senão o de lesar o interesse de outrem. Daí, afirmar-se que o estado de necessidade exculpante revela-se como excludente da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de conduta diversa. Particularidade do Direito Penal Militar é adoção da teoria diferenciadora do estado de necessidade (originária do direito alemão), consoante já comentado nas excludentes da antijuridicidade. Portanto, se o bem jurídico sacrificado for de valor igual ou superior ao bem protegido, ocorrerá o estado de necessidade excludente da culpabilidade. Elementos não constitutivos do crime Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão. 32

Romeiro 10 ensina que figurando a disciplina e hierarquia como bens jurídicos tutelados, em especial, no Título II da Parte Especial Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar, os quais são todos dolosos ou preterdolosos, havendo, portanto, a necessidade de consciência por parte de o agente estar infringindo tais bens jurídicos. Inexistindo tal cognição, impõe-se a descaracterização desses crimes. 10 Op. cit., pp. 143-145. Assim, se um soldado pratica violência, de que resulta lesão corporal, contra superior, desconhecendo essa qualidade, por estar ele, por exemplo, à paisana (trajes civis), não comete o crime previsto no artigo 157, 3.º (violência contra superior), mas somente o do artigo 209 (lesão corporal leve). Se, embora sabendo tratar-se de um superior, reage o militar à agressão deste, se o fizer nos limites da legítima defesa, nenhum crime comete; se, entretanto, exceder-se e provocar lesões corporais, o agente responderá por estas, na modalidade dolosa (art. 209) ou culposa (art. 210), conforme as circunstâncias. Imputabilidade A imputabilidade penal é o somatório de condições pessoais do agente que o tornam capaz de entender o caráter ilícito de um determinado fato e comportar-se adequadamente diante desse entendimento, o que proporciona ao Estado aplicar-lhe a sanção penal. Em síntese, a imputabilidade é a capacidade de entender e querer (autodeterminar-se). Adotou o CPM, nos moldes do CPB, o chamado sistema biopsicológico ou misto, que sincretiza os sistemas biológicos e psicológicos. O primeiro leva em consideração unicamente a saúde mental do agente, isto é, se o agente é ou não doente mental ou possui, ou não, um desenvolvimento mental incompleto (v.g., no caso dos menores de 18 anos e os silvícolas inadaptados) ou retardado (v.g., os idiotas, imbecis, débeis mentais). O segundo leva em consideração exclusivamente a capacidade que o agente possui para apreciar o caráter ilícito do fato ou de comportar-se de acordo com esse entendimento. Reconhecida a inimputabilidade do agente, o juiz deve absolvê-lo e aplicar-lhe medida de segurança. Essa espécie de absolvição é conhecida como absolvição imprópria (art. 439, letra d, in fine, e 2.º, letra c, do CPPM). 33

De acordo com o parágrafo único do artigo 48, podem ocorrer situações em que o agente, em face de perturbação da saúde mental ou desenvolvimento mental retardado, apresente considerável diminuição na capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser atenuada, sem prejuízo do disposto no artigo 113, que trata da aplicação da medida de segurança. Em tais casos o agente é considerado semi-imputável (fronteiriço) e duas soluções se apresentam: o agente é condenado e se lhe aplica uma pena atenuada, diante da culpabilidade diminuída; o agente condenado, que necessite de especial tratamento curativo, tem a pena privativa de liberdade substituída pela medida de segurança (art. 113). O legislador penal militar adotou, portanto, o critério vicariante que veda a aplicação simultânea ou concorrente de pena e medida de segurança, tal qual é permitido no sistema do duplo binário. Embriaguez (art. 49) A embriaguez é a intoxicação aguda e transitória resultante da ingestão do álcool ou de substância análoga, como éter, morfina e outras drogas sintéticas ou naturais. O Direito Penal Militar, igualmente à legislação penal comum, isenta de pena tão somente a embriaguez completa e decorrente de caso fortuito ou de força maior, também chamada de embriaguez involuntária. Para os casos em que a embriaguez involuntária apenas diminui, ainda que consideravelmente, a capacidade de entender o caráter ilícito ou de autodeterminar-se de acordo com esse entendimento, a aplicação de decreto condenatório se impõe, porém de forma reduzida (art. 49, parágrafo único). Para os casos de embriaguez voluntária (dolosa ou culposa) e preordenada (embriaguez com motivação à prática de crime) o agente responde pelo delito, haja vista a ação livre na causa (actio libera in causa), com a agravante genérica prevista no art. 70, II, letra c, e parágrafo único, do CPM. A embriaguez patológica ou crônica equipara-se à doença mental, ensejando o reconhecimento da imputabilidade ou semi-imputabilidade do agente, nos termos do artigo 48. 34

Menoridade (arts. 50 a 52) De acordo com os mencionados dispositivos legais, o CPM pretendeu reconhecer, em alguns casos, a responsabilidade penal do menor de 18 (dezoito) anos e maior de 16 (dezesseis), normas que não foram recepcionadas pela Constituição Federal (art. 228), restando como letra morta. Desse modo, somente o maior de 18 (dezoito) anos pode ser considerado imputável para a lei penal militar. Do concurso de agentes Art. 53 Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominada. Com tal assertiva, o CPM filiou-se, assim como o CP, à teoria monística ou unitária, pela qual o crime é sempre único e indivisível, tanto no caso de unidade de autoria, quanto no de concurso de agentes. Contudo, as atenuações à teoria monista são facilmente percebidas, senão vejamos: a) no artigo 53, 1.º, há uma ressalva no sentido de que a punibilidade de qualquer agente é independente da dos outros, determinando-se de acordo com sua própria culpabilidade; e b) no 3.º do artigo 53 foi prevista a atenuação da punição em relação ao agente cuja participação no crime tiver sido de menor importância. Figura particular ao Direito Penal Militar é a previsão do cabeça (art. 53, 4.º e 5.º) 4.º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação. e 5.º. Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais, são estes considerados cabeças, assim como os inferiores que exercem função de oficial. O cabeça tem a pena majorada nos crimes previstos nos artigos 142 (tentativa contra a soberania do Brasil), 149 (motim), 182 (amotinamento de presos) e 368 (motim em tempo de guerra). O agente que, de modo geral, promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; coage outrem à execução material do crime; instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; ou executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa, tem a pena agravada (art. 53, 2.º), de forma semelhante ao CP. 35

Casos de impunibilidade (art. 54) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. 11 Op. cit., p. 113. Saraiva 11 assevera que essa previsão comunga com a noção geral de que não bastam as exteriorizações do animus deliquendi, é necessário, ao menos, que se exponha o bem jurídico protegido a uma situação periclitante, embora alguns atos preparatórios sejam punidos por expressa previsão legal, diante de uma antecipação do legislador em resposta a um perigo iminente. Dicas de estudo A partir da redação contida no artigo 33 do Código Penal Militar, que trata da culpabilidade (dolo e culpa), analisar qual a teoria da ação adotada pelo legislador do Decreto-Lei 1001/69. Identificar quais são as excludentes da antijuridicidade e da culpabilidade previstas exclusivamente ou de modo particular no Código Penal Militar. Distinguir as teorias do erro adotadas no Código Penal Militar das contidas no Código Penal comum. Como sugestão, realizar a leitura do Capítulo IX, da obra Curso de Direito Penal, editora Saraiva, de Jorge Alberto Romeiro. Pesquisar na jurisprudência do Superior Tribunal Militar as decisões que admitem a participação de agente civil em crime propriamente militar praticado em concurso de agentes com militar da ativa. Compreender o conceito de cabeça e identificar os tipos penais que preveem expressamente essa figura peculiar do Direito Penal Militar. Identificar as hipóteses incidência dos elementos não constitutivos do crime, previstas no artigo 47 do CPM. Referências ABREU, Jorge Luiz Nogueira de. Direito Administrativo Militar. São Paulo: Método, 2010. 36

ASSIS, Jorge César. Comentários ao Código Penal Militar. (Parte geral). v. 1. 5. ed. Curitiba: Juruá Editora, 2004.. Comentários ao Código Penal Militar. (Parte especial). v. 2. 3. ed. Curitiba: Juruá Editora, 2004.. Direito Militar: aspectos penais, processuais penais e administrativos. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2007. DA COSTA, Álvaro Mayrink. Crime Militar. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005. FIGUEIREDO, Telma Angélica. Excludentes de Ilicitude no Direito Penal Militar. São Paulo: Lúmen Júris, 2005. KOERNER Jr., Rolf. Obediência Hierárquica. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Brasília: Brasília Jurídica, 1999. NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de Direito Penal Militar. (Parte geral). v. 1. São Paulo: Saraiva, 2005.. Apontamentos de Direito Penal Militar. (Parte especial). v. 2. São Paulo: Saraiva, 2007. NUCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. (Parte geral e Parte especial). 4. ed. 2. tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. PORTO, Mario André da Silva. Direito Penal Militar. Rio de Janeiro: Fundação Trompowski, 2008. ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. (Parte geral). São Paulo: Saraiva, 1994. ROTH, João Ronaldo. Temas de Direito Militar. São Paulo: Suprema Cultura, 2004. SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal. (Parte geral). 2. ed. Curitiba: ICPC; Lúmen Júris, 2007. SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Comentários à Parte Geral do Código Penal Militar. Fortaleza: ABC editora, 2007.. Crimes Contra a Administração Militar. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.. Crimes Militares. Fortaleza: Relevo Gráfica e Editora Ltda., 2010. 37