ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho ACÓRDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO n 200.2011.035413-7/001 RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho AGRAVANTE: Banco do Nordeste do Brasil S/A. ADVOGADA: Georgia Maria Almeida Gabinio AGRAVADAS: Adriana Targino Cruz e L'ana Débora Diniz Cruz ADVOGADO: Valdisio Vasconcelos de Lacerda Filho CIVIL Ação Ordinária de Nulidade de Garantia Hipotecária Tutela antecipada deferida Agravo de instrumento Concessão do efeito suspensivo Desnecessidade de outorga uxória no contrato celebrado na égide do CC/2002 Regime de bens de separação absoluta Art.1637 e 2035 do Código Civil Precedente do STJ - Provimento do recurso. - Ao contrato (cédula de crédito industrial) celebrado em 2009, deve ser aplicada a regra do novo Código Civil que permite gravar de ônus real bem imóvel, sem autorização do cônjuge do executado, ainda que o casamento, sob regime de separação absoluta, tenha sido celebrado quando vigente o antigo código civil que previa a necessidade de outorga uxória. acima identificados. VISTOS, relatados e discutidos, os autos
ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça, à unanimidade, em rejeitar a preliminar e, no mérito, dar provimento ao agravo, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de f1.418. RELATÓRIO Banco do Nordeste do Brasil S/A. interpôs agravo de instrumento, com pedido de atribuição de efeito suspensivo, nos autos da Ação Ordinária de Nulidade de Garantia Hipotecária, contra decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada a fim de que fosse dada baixa da hipoteca incidente sobre o imóvel situado na Av. Epitácio Pessoa, 1180. Aduz, nas razões do agravo, que o banco ajuizou duas ações de execução contra a empresa IPELSA Indústria de Papel da Paraíba S.A., representada pelos seus acionistas Olavo Bilac Cruz Neto e Renato Ribeiro Coutinho Cruz (maridos das agravadas), em virtude do não pagamento do que foi estipulado na cédula de crédito industrial (R$6.857.992,17), e que foi dado como garantia cio débito o referido imóvel. Alega o banco que o juiz singular entendeu ser nula a hipoteca dada em garantia porque, segundo o art.235 do CC de 1916, o marido não poderia hipotecar bens imóveis sem o consentimento da mulher, qualquer que seja o regime de bens. Todavia, argumenta o recorrente que a fumaça do bom direito reside no fato de que: a) o instrumento de crédito, garantido pela hipoteca, foi firmado em 2009, sendo regido pelas normas do novo Código Civil, o qual não exige a outorga uxória para concretização do gravame quando o regime de bens for de separação total; b) que o cancelamento de registro só pode ser feito após o trânsito em julgado da decisão judicial, conforme prescrevem os arts.249,250,i, e 259 da Lei n 6.015/73. Fundamenta também que o periculum in mora está configurado na medida em que a desvinculação do bem dado em garantia impossibilita o ressarcimento do crédito, uma vez que os executados podem não ter outros bens para satisfazer a execução. documentação necessária. suspensivo pleiteado. O recurso veio instruído com a Às fls.354/356 foi concedido o efeito
Contrarrazões apresentadas às fls.363/375 onde as agravadas alegam que a ação de execução no valor de R$ 6.341.882, 41 (seis milhões, trezentos e quarenta e um mil, oitocentos e oitenta e dois reais e quarenta e um centavos) está com o juízo garantido, por meio da penhora de bens móveis e imóveis no valor total de R$12.360.500,00 (doze milhões, trezentos e sessenta mil e quinhentos reais), de forma que existe excesso de garantia para a satisfação do crédito do agravante. Com base neste argumento, afirmam que não é caso de agravo de instrumento, mas de retido. Alegam também que, apesar do regime de bens das agravadas ser o da separação total de bens, as normas que regem a relação patrimonial das agravadas são as previstas no Código Civil de 1916, posto que o casamento foi celebrado na vigência do extinto código, e, assim, os bens não poderiam ser hipotecados sem o consentimento da mulher, devendo ser nula a alienação do bem imóvel. Ao final, requereu a conversão em agravo retido ou, não sendo este o entendimento, que seja negado provimento ao recurso. A Procuradoria de Justiça opinou pela rejeição da preliminar e, no mérito, pelo desprovimento do recurso (fls. 413/415). É o breve relato. VOTO Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada requerido pelo banco a fim de que fosse dada baixa da hipoteca incidente sobre o imóvel situado na Av. Epitácio Pessoa, 1180. DA PRELIMINAR As agravadas alegam que não é caso de agravo de instrumento, mas de retido porque existe excesso de garantia para a satisfação do crédito do agravante. A penhora de bens móveis e imóveis no valor total de R$12.360.500,00 (doze milhões, trezentos e sessenta mil e quinhentos reais) refere-se a outro processo (execução de n 001.2011.000.661-4). Portanto, não há que se falar em excesso de garantia. Portanto, podendo a decisão agravada causar lesão de difícil reparação, tendo em vista que a nulidade da hipoteca
permite a alienação do bem pelas agravadas, é cabível o agravo de instrumento. do mérito do recurso. Rejeito, assim, a preliminar. Passo à análise MÉRITO O cerne da questão é saber se ao contrato (cédula de crédito industrial) celebrado em 2009, deve ser aplicada a regra do novo Código Civil que permite gravar de ônus real bem imóvel sem autorização do cônjuge ou se deve prevalecer a norma do antigo Código Civil que exigia outorga uxória mesmo quando o casamento tivesse o regime de bens de separação absoluta. A cédula de crédito que deu origem a execução foi firmada em 2009 (fls.56175), portanto, sob a égide do novo Código Civil, que prescreve em seu artigo 1647: "Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: 1- alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis: (..)" As autoras da ação de nulidade de hipoteca (esposas dos executados) casaram sob regime de separação total de bens, conforme provam as certidões de casamento de fls.46 e 54. Por esta razão, entendi, ao proferir decisão liminar, que os executados podiam gravar de ônus real o bem. As agrava das contestaram este posicionamento alegando que, apesar do regime de bens das agravadas ser o da separação total de bens, as normas que regem a relação patrimonial das agravadas são as previstas no Código Civil de 1916, posto que o casamento foi celebrado na vigência do extinto código, e, assim, os bens não poderiam ser hipotecados sem o consentimento da mulher, devendo ser nula a alienação do bem imóvel. Todavia, a afirmação não se coaduna com a regra de transição prevista no art.2035 do novo Código Civil. Vejamos: "Art.2035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constiruídos antes da entrada em vigor deste código, obedece o disposto nas leis anteriores, referidas no art.2045, mas os seus efeitos, produzidos
após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, solvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução." Podemos extrair do referido artigo que as relações contratuais realizadas na égide do novo Código Civil não podem ser regidas indefinidamente pelas normas do código anterior em virtude do regime de bens dos contratantes. O art.2035 trata da retroatividade mínima, ou seja, a lei nova se aplica tão somente aos efeitos futuros dos atos jurídicos passados, de forma que não há, propriamente, retroatividade, mas sim aplicação imediata da lei ulterior (no caso, o CC/2002), posição hoje assente na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, uníssona no entendimento de que, sempre que a retroatividade da norma não ultrapasse o apontado "grau mínimo", configurar-se-á hipótese de aplicação imediata da lei nova e não de retroatividade. Neste sentido, cito precedente do STJ: LOCAÇÃO. IlANÇA PRESTADA SEM O CONSENTIMENTO DA MULHER. CASAMENTO SOB O REGIME DE SEPARAÇÃO ABSOLUTA DE BENS. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE. NOVA REGRA DO ART. 1.647 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, APLICÁVEL À ESPÉCIE POR FORÇA DO ART. 2.035 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. I - Não há contrariedade ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o acórdão embargado, bem como o aresto em que julgados os Embargos Declaratórios, contêm pronunciamento sobre todas as questões levantadas pelas partes, até mesmo esmerada manifestação sobre detalhes suscitados nos Embargos. II - Dispõe o ar!. 2.035 do novo Código Civil que a validade do negócio jurídico celebrado sob o regime do Código anterior ao regramento desse se submete, mas seus efeitos produzidos durante a vigência do novo diploma a esse se subordinam. III - Não é necessário o consentimento do cônjuge para prestar fiança quando o casamento se sujeita ao regime de separação absoluta de bens, consoante reza o art. 1.647 do Código Civil/2002. A regra é aplicável mesmo quanto ao pacto celebrado antes da vigência do novo diploma, de acordo com a regra de transição prevista no art. 2.035. IV - Recurso Especial desprovido.
(STJ, REsp I088994/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 04/12/2008, DJe 02/02/2009,) ('grifo nosso) Diante do exposto, entendo que ao contrato (cédula de crédito industrial) celebrado em 2009, deve ser aplicada a regra do novo Código Civil que permite gravar de ônus real bem imóvel, sem autorização do cônjuge do executado, ainda que o casamento, sob regime de separação absoluta, tenha sido celebrado quando vigente o antigo código civil que previa a necessidade de outorga uxória. Assim, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, confirmando a decisão de fls.354/356. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Genésio Gomes Pereira Filho. Participaram do julgamento, o Exmo. Des. Genésio Gomes Pereira Filho, o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos, e o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. Presente ao julgamento o Exmo. Dr. Francisco de Paula Ferreira Lavor, Promotor de Justiça convocado. Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,.loão Pessoa, 14 de agosto de 2012. Des. Gen sio Gomes P Relator
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