ANÁLISE PRELIMINAR DO USO DA TERRA E DO PROCESSO DE FRAGMENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO DO MUNICÍPIO DE RIO VERDE (GO) COM IMAGEM LANDSAT TM5 (2008).



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Transcrição:

ANÁLISE PRELIMINAR DO USO DA TERRA E DO PROCESSO DE FRAGMENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO DO MUNICÍPIO DE RIO VERDE (GO) COM IMAGEM LANDSAT TM5 (2008). Karla Maria Silva de Faria Doutoranda em Geografia (IESA) - Universidade Federal de Goiás - Instituto de Estudos Sócio Ambientais. Goiânia - Goiás. -karlaairam@gmail.com Gabriel Tenaglia Carneiro Doutorando em Ciências Ambientais (CIAMB) Universidade Federal de Goiás. Goiânia Goiás gabrieltenaglia@pop.com.br Dr a Selma Simões de Castro Professora Titular de Geografia Física do Instituto de Estudos Sócio Ambientais - Universidade Federal de Goiás- Goiânia- Goiás selma@iesa.ufg.br Resumo O município de Rio Verde, situado na região sudoeste do Estado de Goiás, foi selecionado como uma das 12 áreas para receber os incentivos diretos do Programa de Desenvolvimento das Áreas de Cerrados - POLOCENTRO (Política integrante do II Plano Nacional de Desenvolvimento) em meados da década de 1970. As atividades desse programa transformaram o município em um dos maiores produtores agrícolas, com destaque para o cultivo da soja, pastagem e atualmente com o cultivo da cana de açúcar, que substituíram as áreas de vegetação nativa e causaram degradações ambientais na área. A identificação de alternativas promotoras da sustentabilidade do desenvolvimento econômico, de planejamento e da capacidade de suporte ambiental diante dos diferentes manejos empregados da região pode ser obtida através de mapas de uso da terra. Na presente pesquisa esse mapa foi elaborado através de segmentação e interpretação da imagem de imagens de satélite LANDSAT TM5 (2008), no software SPRING. O mapa obtido indicou que dentre as atividades antrópicas, a atividade de agricultura é a predominante, correspondendo a 66,88% da área e que os remanescentes da vegetação nativa encontram-se restritos a fragmentos de cerrado, raramente grandes, as áreas de reserva legal, ou áreas onde não é possível implementar atividades agropecuárias, encontrando-se, portanto, ilhados pelo uso predominante de agricultura. Embora o presente mapeamento encontre-se em nível preliminar, sendo, ainda, necessário trabalho de campo para validação e melhor detalhamento das classes de usos, os remanescentes de vegetação identificados correspondem a 23,48% de toda a área municipal, quando somadas todas as áreas das fitofisionomias mapeadas (cerrado denso, mata de galeria/mata ciliar e cerrado ralo), mas que se encontra fragmentado. Dentre as fitofisionomias identificadas a classe Mata ciliar/galeria corresponde a 14% da área do município e foi registrada ao longo dos cursos d`água, apresentando-se também altamente fragmentada. Palavras chave: uso da terra, fragmentação da vegetação, Rio Verde (GO). Abstract The municipality of Rio Verde, located in the southwestern region of Goiás State, was selected as one of 12 areas to receive the direct incentives of the Program of Development of Areas of Cerrado - POLOCENTRO (Policy of the National Development Plan II) in the middle of 1970s. The activities of the program transformed the municipality into a major agricultural producers, with emphasis on the cultivation of soybeans, pasture and now with the cultivation of sugarcane, which have replaced the areas of native vegetation and caused environmental damage in the area. The identification of alternative promoters of sustainable economic development, planning and capacity to support environmental management in the face of various employees of the region can be obtained from maps of land use. In this study this map was drawn up by the image segmentation and interpretation of satellite images LANDSAT TM5 (2008), the software SPRING. The map obtained indicated that among the human activities, the activity of agriculture is the predominant, accounting for 66.88% of the area and the remnants of native vegetation, are restricted to patches of savanna, rarely large, the areas of legal reserve or areas where you can not implement agricultural activities and is therefore "isolated" by the predominant use of agriculture. Although this mapping is at the preliminary, and further, the field work necessary to validate and better details of the classes of uses, the remnants of vegetation identified correspond to 23.48% of the entire municipal area, when added up all mapped areas of vegetation (dense cerrado, gallery forest / savanna and riparian drain), but it is fragmented. Among the identified vegetation class Riparian forest / gallery is 14% of the area of the municipality and was recorded over the course d `water, presenting highly fragmented too. Key words: land use, fragmentation of vegetation, Rio Verde (GO).

Introdução O município de Rio Verde, situado na região sudoeste do Estado de Goiás, foi selecionado como uma das 12 áreas para receber os incentivos diretos do Programa de Desenvolvimento das Áreas de Cerrados POLOCENTRO, política de integração do Cerrado ao sistema produtivo, com base na cultura de grãos, algodão e carne voltados à exportação, integrante do II Plano Nacional de Desenvolvimento, em meados da década de 1970. Além dessa outras políticas posteriores, assentadas na perspectiva do agronegócio, adotadas a partir da década de 1990, contribuíram para maior incremento ainda da produção agrícola, através da instalação de agroindústrias no município, acompanhada de crédito rural, redução ou mesmo isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), o programa estadual Produzir e o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). A região Sudoeste Goiano, alvo das mesmas políticas, onde se encontra Rio Verde, até meados dos anos 2000, apresentou grande crescimento populacional induzido pela implantação das agroindústrias relacionadas à produção de grãos, sobretudo da soja. Atualmente, sobretudo a partir do ano de 2006, nota-se uma nova transformação no cenário do estado de Goiás e do Sudoeste Goiano em particular, quanto ao uso agrícola, observando-se a substituição de áreas relevantes de agropecuária para a inserção da monocultura de cana-de-açúcar e de todo seu aparato agroindustrial. Conforme Castro et al (2007), essa microrregião já apresenta cerca de 20 unidades industriais nas diferentes fases, ou seja, de análise ou de implantação do projeto, ou já em operação, isto é, em funcionamento. O cultivo da soja, das pastagens e atualmente o cultivo da cana-de-açúcar, sem dúvida incorporaram o município ao sistema produtivo com destaque para o desenvolvimento econômico, no entanto, do ponto de vista do meio ambiente, substituíram extensas áreas de vegetação nativa e são apontados como responsáveis por várias degradações ambientais resultantes dos impactos, tanto do desmatamento como do próprio uso e manejo das terras. Isto enseja a necessidade da identificação de alternativas promotoras da sustentabilidade do desenvolvimento econômico paralelamente ao planejamento em consonância com a capacidade de suporte ambiental diante dos diferentes manejos empregados da região, onde os mapas de uso da terra podem ser de grande utilidade. O mapeamento da cobertura vegetal e do uso da terra é, portanto, indispensável para o planejamento ambiental racional que poderá auxiliar a superar problemas relacionados ao processo de desenvolvimento econômico gerador de passivos ambientais e que conduzem à deterioração da qualidade ambiental. Esse tipo de mapa possibilita também a identificação de indicadores ambientais, a avaliação da capacidade de suporte ambiental, diante dos diferentes manejos empregados, contribuindo, então, para a identificação de alternativas promotoras da sustentabilidade do desenvolvimento (IBGE, 2006). O uso de sensores orbitais tem demonstrado grande utilidade na detecção de informações sobre os recursos naturais, principalmente quando relacionado à cobertura vegetal e ao uso da terra. A

obtenção das informações, a partir de sensores remotos integrados aos dados fornecidos pelo trabalho de campo, permite a adequação dos programas de planejamento e monitoramento dos ecossistemas e do uso da terra. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo a elaboração de mapa de uso da terra e de remanescentes com uso de imagens de satélite LANDSAT - TM, a fim de interpretar o uso do solo atual do município de Rio Verde. Materiais e Métodos A área de estudo O município de Rio Verde, que abrange uma área de 8.388 km², está localizado na porção sudoeste do estado de Goiás, entre as coordenadas geográficas de 17º 02 19 a 18º 23 24 de latitude Sul e 50º 18 33 a 51º 46 58 de longitude Oeste. Pertence a mesorregião Sul Goiano e à microrregião Sudoeste de Goiás constituída pelos municípios de Aporé, Mineiros, Aparecida do Rio Doce, Chapadão do Céu, Castelândia, Maurilândia, Serranópolis, Santa Helena de Goiás, Santo Antonio da Barra, Perolândia, Jataí, Portelândia, Rio Verde, Montividiu, Santa Rita do Araguaia, Mineiros, Doverlândia, Palestina de Goiás e Caiapônia. (Figura 1). Figura 1 - Localização do Município de Rio Verde - GO

Trata-se de um dos municípios mais antigos do estado (a criação do Município deus-e através da Lei Provincial N.º 08, de 06/11/1854), que, devido às características do meio físico, caracterizou-se desde o início pela atividade agropecuária, onde se destacam como principais produtos a soja, milho, sorgo granífero, e carne (bovina, suína e avícola), o que o identifica como predominantemente agrícola. Entretanto, segundo dados do IIBGE (2007), a população do município, estimada em 149.382 habitantes, encontra-se predominantemente na zona urbana (91%) com apenas 9% na zona rural. A Figura 2, obtida através de dados censitários do município, mostra que esse fato é histórico, pois sua população sempre esteve concentrada na área urbana. Evolução da população no municipio 140.000 120.000 100.000 N hab. 80.000 60.000 40.000 Rural Urbana 20.000 0 1980 1996 2000 2007 Anos Figura 2 Gráfico de evolução da população urbana e rural no município de Rio Verde. Fonte: IBGE, 2008. Convém observar, no entanto, que a Figura 2 também permite compreender que o contingente rural do município não é responsável único e nem mesmo o principal pelo aumento da população urbana, ou seja, o município cresceu mais devido grande contingente migratório, o qual coincide com o período imediatamente subseqüente às políticas econômicas relatadas, fato já interpretado por vários autores. Procedimentos metodológicos O mapa de uso da terra e de remanescentes foi realizado com base em imagem e satélite Landsat TM-5 (27 de julho de 2008) através da ferramenta de classificação segmentada por regiões, disponibilizada pelo software Spring. Esta ferramenta utiliza como critérios de análise para a classificação a informação espectral de cada pixel e relação deste entre seus vizinhos (MOREIRA, 2003). Como a interpretação para classificação da imagem considera interpretação fatores como cor, textura, forma e relevo, é necessário adotar-se uma composição de bandas com falsa-cor. Adotou-se,

então, a composição nas bandas 5R, 4G e 3B que apresenta forte semelhança com as cores da superfície terrestre e é freqüentemente utilizada por facilitar a interpretação da cobertura e uso da terra. A definição da nomenclatura/classes adotada para mapas de uso da terra deve ser compatível com a escala, o tamanho da área e ser adequada ao mapeamento da diversidade do território. Deve, portanto, ser clara e precisa para os usuários. No entanto, nem sempre é possível durante uma classificação para mapeamento de uso da terra, abranger toda a complexidade do alvo de estudo. Segundo Diniz (1984) as classificações só podem ser julgadas na esfera do adequado inadequado; significante não-significante, e jamais na do certo e errado. Conforme IBGE (2006 p.35): Classificar é agrupar objetos, elementos e eventos em conjuntos levando-se em conta suas propriedades consoante um método ou sistema de avaliação. Assim, foram identificadas áreas de uso antrópico (agricultura, pastagens, solo exposto, áreas urbanas), de remanescentes (Cerrado Denso, Cerrado Ralo, Mata Ciliar) e áreas de corpos d água, sendo adotada para a chave de interpretação as características apresentadas no Quadro 1. Quadro 1- Chave de interpretação da Imagem Landsat- TM-5. Características Textura Tonalidade Porte Classes de uso Mata Ciliar Homogêneo Verde escuro Alto Aspectos Associados Fundos de Vale; cursos d'água Cerrado Denso Homogêneo Verde médio Médio/Alto Formas irregulares Cerrado Ralo Grossa Verde claro Baixo Árvores isoladas Agricultura Pastagens Sitio Urbano Fina; aveludada e granular. Fina/homog ênea/aveluda da Grossa Rosa; verde claro. Clara com algumas variações Cinza claro e médio Rasteiro Baixo - Formas geométricas; carreadores/pivôs. Formas geométricas, trilhas/arvores isoladas. Formas geométricas/arrua mentos Solo Exposto grossa vermelho - Formas irregulares Corpos d água Lisa Cinza escuro a negro - Áreas rebaixadas e fundos de vale Na definição e classificação das classes de uso e remanescentes foram necessários alguns ajustes e agrupamentos, em virtude, especialmente, do tamanho da área e escala. Foram agrupadas: Áreas de agricultura temporária e permanente, assim como as áreas de culturas irrigadas (pivôs) e áreas destinadas a agricultura na Classe de Agricultura; A fisionomia associada aos córregos e rios da bacia foram todas classificadas como Mata Ciliar. Em função da escala e métodos, não foi possível a definição entre Mata

Ciliar e Mata de Galeria que segundo a classificação de Ribeiro e Walter (1998) baseia-se fundamentalmente em critérios florísticos; Ainda são necessários trabalhos de campo para validação do mapa especialmente dos remanescentes. A fim de se realizar uma análise comparativa da evolução do uso do solo no município enfocado, utilizaram-se os mapas elaborados por Santos (2006), para os anos de 1975 e 2005, que foram elaborados com imagens Landsat e CBERS, respectivamente, e classificados através de método não supervisionado disponibilizado pelo software ENVI. Como a metodologia utilizada para a elaboração destes mapas difere da utilizada para a elaboração do mapa de 2008, procedeu-se com o agrupamento das classes de uso, identificadas para os anos de 1975, 2005 e 2008, conforme classificação proposta pelo Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE. As classes de uso agrupadas são apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 Identificação do agrupamento de classes Classe agrupada Água Áreas de vegetação natural Áreas antrópicas não agrícolas Áreas antrópicas agrícolas Classes dos mapas originais Corpos d`água. Cerrado denso, cerrado aberto, cerrado ralo, mata ciliar e mata de galeria. Áreas urbanizadas Inclui todas as terras cultivadas, caracterizadas pelo delineamento de áreas cultivadas ou em descanso, encontram-se inseridas nesta categoria as lavouras temporárias e lavouras permanentes. Resultados e Discussões Uso da terra atual do município O atual mapa de uso da terra e de remanescentes do município de Rio Verde (Figura 3), obtido através de análise de imagens de satélite LANDSAT TM5, conforme metodologia já exposta indica que dentre as atividades antrópicas aplicadas à área a atividade de agricultura é a predominante, correspondendo a 66,88% da área. Esta se encontra distribuída por todo o município, o que confirma a vocação agrícola do mesmo. Ressalta-se que essa atividade utiliza-se de uma grande quantidade de insumos químicos e maquinários para a elevação da produtividade, o que pode conduzir ao desenvolvimento de inúmeros impactos ambientais. As atividades de pastagens concentram-se na porção sul do município e correspondem a 8,75 da área do município. Os outros usos antrópicos mapeados correspondem a 0,86% da área e são representados pelas áreas urbanas dos municípios e por áreas de solo exposto (áreas degradadas pelas atividades agrícolas que se encontram, na data da imagem, provavelmente abandonadas).

Figura 3 Mapa Preliminar de uso da terra do município de Rio Verde GO. Segundo a classificação de Ribeiro e Walter (1998) esses remanescentes foram identificados, em Mata Ciliar, Cerrado Denso, Cerrado Ralo. Os remanescentes da vegetação nativa mapeados, no referido ano encontram-se pulverizados e fragmentados pelo processo de antropização do município.

Restringem-se a fragmentos de cerrado, raramente grandes, às áreas de reserva legal, ou áreas onde não é possível atividade agropecuária. Encontram-se, portanto, ilhados pelo uso predominante de agricultura. Predominam fitofisionomias de Mata ciliar que correspondem a 14% da área do município e é identificada ao longo dos cursos d`água. Apresenta-se altamente fragmentada (descontínua), devido ao processo de desmatamento, sendo que alguns cursos d água chegam a não apresentar essa vegetação. Ribeiro e Walter (1998) alertam para ocorrência de transição, nem sempre evidente, entre essa fitofisionomia e as formações florestais, por isso acredita-se que as áreas de Mata Ciliar mapeadas possam estar superestimadas. A classe de Cerrado Denso corresponde a 5,3% da área e encontra-se dispersa na área do município. As áreas de Cerrado Ralo correspondem a 4,17% e também se apresentam de forma dispersa. Foram identificadas na área ainda a classe de corpos d água (classe água) que correspondem a 0,04% da área total do município. Os remanescentes do município correspondem, quando somadas todas as áreas das fisionomias mapeadas, a 1.966.274.098 km 2, ou seja, 23,48% de toda a área, mas que se encontra fragmentado pelas atividades antrópicas. A tabela 1 indica a participação de cada classe em relação a área total do município e para com a área total dos remanescentes. Tabela 1 Quantificação do uso do Município de Rio Verde Classes de usos Área (km2) % em relação a área total dos remanescentes % em relação a área total do município Cerrado Ralo 350.054.570 17,8 4,17 Cerrado Denso 444.797.451 22,6 5,3 Mata Ciliar 1.171.422.077 59,6 14 área total dos Remanescentes 1.966.274.098 100% 23,48 Usos antrópicos - % em relação à área total com usos - antrópicos Solo exposto 33.479.321 0,52 0,45 Pastagem 732.292.110 11,43 8,75 Agricultura 5.606.768.038 87,51 66,88 Área urbana 34.571.797 0,54 0,41 área total dos usos 6.407.111.266 100 76,49 Água (*) 3.525.164 100 0,04 Área total do município (remanescentes + usos+ classe água) 8.376.910.528 (*) canais de drenagem, lagos, represas. 100

Analisando-se a tabela 1 pode-se constatar que a cobertura vegetal natural não chega a 24% da área total do município e que os usos antrópicos ultrapassam ligeiramente os 76%, o que caracteriza o município como fortemente antropizado. Percebe-se também que as matas ciliares dominam largamente o tipo de cobertura vegetal natural, embora cubram aproximadamente apenas 14% da área total do município, sendo seguida pelo Cerrado Denso, que não alcança 23 % do total de remanescentes, os quais cobrem aproximadamente apenas pouco mais de 5% do município. Quanto aos usos antrópicos, domina o uso agrícola que corresponde a quase 67% da área, seguido pela área ocupada com pastagem que não alcança 9% da área total do município, mas junto com o uso anterior respondem por pouco mais de 75% da área total do município. Observa-se ainda, pela tabela 1 e Figura 3, quanto à cobertura vegetal, que as Matas Ciliares (Áreas de Preservação Permanente -APP, protegidas por lei), além de responderem pelo domínio em área de cobertura natural, não são contínuas, o que não se observa para os demais tipos de vegetação natural, cujo aspecto é de remanescentes fragmentários, aí se incluindo, certamente, as reservas legais e outros tipos de áreas de preservação permanente, além de eventuais unidades de conservação (UC) e reservas legais ( RL). No entanto, é necessário ainda trabalho de campo para validação do referido mapa (Figura 3) e consequentemente da respectiva tabela 1, assim como um maior detalhamento das classes de usos e das tipologias da vegetação. Evolução do Uso do Solo no Município A análise da evolução histórica do uso do solo, com base em diferentes anos auxilia na compreensão das formas de exploração, organização e ocupação do espaço e também induz às análises das tendências evolutivas da transformação da paisagem. Assim, após o agrupamento das classes de uso dos mapas de 1975, 2005 e 2008, pode-se constatar que após 1975 ocorreu uma notável conversão de áreas de vegetação natural em áreas antrópicas agrícolas (agricultura e pastagens), as quais foram mantidas nos anos de 2005 e 2008. Tratase praticamente de uma inversão de percentuais nessas duas categorias (Figura 4 e Tabela 2).

Evolução do Uso da Terra entre 1975 e 2008 80 70 60 50 Área (%) 40 30 20 10 Áreas de vegetação natural Áreas antrópicas agrícolas Áreas antrópicas não agrícolas Água 0 1975 2005 2008 Anos Figura 4 - Gráfico de evolução do uso do solo entre os anos de 1975 e 2008. Fonte: Santos, 2006; Faria, 2008. Tabela 2 - Evolução do Uso do Solo do Município de Rio Verde (1975 a 2008). Área (%) Diferenças Categorias/Classes entre os 1975 2005 2008 anos (%) Áreas de vegetação natural 78,719 19,04 23,48-55,23 Áreas antrópicas agrícolas 21,241 79,91 76,08 54,83 Áreas antrópicas não agrícolas 0,04 1,054 0,4 0,36 Água 0 0 0,04 0,04 Total 100 100 100 0 Fonte: Santos, 2006; Faria, 2008. Verifica-se que houve uma redução de 55,23% das áreas de vegetação natural, que foram convertidas em áreas antrópicas agrícolas, não agrícolas. Deve-se ressaltar que a partir do final dos anos de 1970 a substituição das áreas naturais por áreas antrópicas relaciona-se aos grandes investimentos para incorporação das áreas de cerrado ao sistema produtivo e através da modernização da agricultura. Certamente, isso é reflexo direto das Políticas integrantes do II PND, sobretudo do POLOCENTRO, para o qual o município fora selecionado, com já assinalado, para receber os incentivos. As análises da Figura 4 e da Tabela 2 ainda indicam outro fato notável, que entre os anos de 2005 e 2008 houve um acréscimo de 4,44 %, no ano de 2008 para a categoria de vegetação natural, todavia acredita-se que esse acréscimo tenha ocorrido em função das diferentes metodologias adotadas para a elaboração dos mapas e também das imagens utilizadas. Por outro lado, pode resultar também do fato de que quando a cobertura era nativa a mata ciliar se confundia com a cobertura de seu entorno, podendo ter sido classificada como outro tipo.

Considerações Finais Apontada por alguns autores como região metamorfoseada pelo capital (ARRAIS, 2004), a região sudoeste do estado de Goiás, onde se encontra o município de Rio Verde, vem apresentando, além do desenvolvimento econômico acelerado um processo contínuo de perda das características originais, que demandam a elaboração de mapas da cobertura vegetal e uso da terra, além da análise da evolução do uso para a elaboração de propostas de planejamento racional. O mapa elaborado, com base em imagem de satélite LANDSAT TM, indicou que o município de Rio Verde, apresenta alto índice de antropização, onde o uso predominante é da agricultura (67%) e que a vegetação original, pertencente ao Bioma Cerrado, encontra-se restrita a fragmentos remanescentes, que se apresentam de forma descontínua e possivelmente correspondem as áreas de reservas legais e outros tipos de áreas de preservação permanente, além de eventuais unidades de conservação (UC) e reservas legais (RL), sendo que a vegetação remanescente predominante corresponde atualmente à classe de matas ciliares (14% da área), e se encontra também de forma descontinua, ou seja, fragmentada e provavelmente muito comprometida pelo efeito de borda dos usos do entorno. Pode-se dizer que a taxa global de desmatamento no período foi de cerca de 55,23%, sendo que a conversão para a agropecuária foi de 54,83 %. A análise do uso do solo em escala evolutiva permitiu a visualização do processo de conversão das áreas naturais de vegetação em áreas produtivas após a implantação das ações do POLOCENTRO. No entanto, devido ausência de estudo de imagem intermediaria, por exemplo, da década de 80, não é possível separar neste momento os efeito diretos desse Programa e os que se deram posteriormente, após a consolidação das funções agropecuárias e agroindustriais do município. Ressalte-se, ainda, que são necessários trabalhos de campo para validação do mapa de uso e de detalhes relativos às classes das tipologias da vegetação mais impactadas pelo desmatamento, para o estabelecimento dos indicadores ambientais e sua espacialização e a elaboração de propostas de recomposição ambiental da área onde couber. Referências Bibliográficas ARRAIS, T. A. A SUDECO e o desafio do Desenvolvimento Regional. In: Revista Possibilidades, n.2, outubro de 2004. Disponível em: <http://www.observatoriogeogoias.com.br>. Acesso dia 05 de agosto de 2008. BRASIL. Manual Técnico de Uso da Terra. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 19852ª edição, Rio de Janeiro, 2006. DINIZ, J. A. F. Geografia da agricultura. São Paulo: DIFEL, 1984. 278 p. RIBEIRO, J. F.; WALTER, B., T. Fitofisionomias do bioma Cerrado. IN: SANO, S.M; ALMEIDA, S.P. Cerrado:ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA - CPAC. 1998. Cap.3 p. 88-166. SANTOS L.O. Mapas de uso da terra do Município de Rio Verde Anos de 1975 e 2005. Elaborados em junho de 2006.