TRIBUNAL DE JUSTIÇA TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 0215143-86.2013.8.19.0001 RECORRENTE: PETER EDUARDO SIEMSEN RECORRENTE: FLUMINENSE FOOTBALL CLUB RECORRIDO: RENAN RODRIGUES RELATORA: DES. MÔNICA TOLLEDO DE OLIVEIRA Recurso em sentido estrito. Crime de calúnia praticado em tese através de um blog da UOL. Irresignação contra a decisão que declinou de competência para uma das Varas Criminais do foro da Cidade de São Paulo, entendendo o magistrado que o local onde se encontra a sede do provedor do site é que definiria a competência. Cuida a hipótese de Queixa-Crime oferecida pelo Fluminense Football Club e seu Presidente, Peter Eduardo Siemsen, diante da prática, em tese, do crime de calúnia, positivada em notícia da lavra do Jornalista Renan Rodrigues, do portal de notícias UOL Universo Online. A questão é conflitante, porquanto existe decisão do Superior Tribunal de Justiça entendendo que a competência para julgamento de crimes cometidos em blogs jornalísticos na internet seria definida pelo local onde se encontra a sede do provedor do site, o que, no caso, seria em São Paulo a sede da UOL. Entretanto, ao meu sentir, a tese defendida pelo querelado consiste em ficção jurídica somente aplicável quando se desconhece em absoluto a proveniência do texto impugnado. Na hipótese dos autos, na própria matéria veiculada consta a informação de que ela é originária do UOL, no Rio de Janeiro, ou seja, da sucursal carioca do veículo de mídia. Como não bastasse, o referido Jornalista possui endereço conhecido nos autos, motivo pelo qual deve ser aplicada a regra prevista no artigo 73, do Código de Processo Penal: Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração..
A se prestigiar a decisão recorrida, bastaria que um jornalista se acobertasse sob veículos de comunicação estrangeiros, mediante o uso de servidores instalados fora do país, para ser agraciado com certa imunidade pelas suas palavras, já que o ofendido haveria de propor a ação no estrangeiro onde se localizasse o provedor alienígena. Provimento do recurso para fixar a competência do foro da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro para julgar a queixa-crime em referência. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos de Recurso em Sentido Estrito nº 0215143-86.2013.8.19.0001, em que figuram como recorrentes PETER EDUARDO SIEMSEN e FLUMINENSE FOOTBALL CLUB, e como recorrido o RENAN RODRIGUES. Acordam os Desembargadores que compõem a Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em prover o recurso para fixar a competência do foro da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro para julgar a queixa-crime em referência, nos termos do voto da Relatora. R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por Peter Eduardo Siemsen e Fluminense Football Club, contra a r. decisão de fls. 92/94, que declinou da competência para uma das Varas Criminais do foro da cidade de São Paulo. Em razões recursais de fls. 116/129, os Recorrentes aduzem que o foro competente para processar e julgar eventual ação penal envolvendo fatos relatados em blog da UOL hospedado em servidor da internet é do estado do Rio de Janeiro. 2
provimento do recurso. Contrarrazões da defesa, às fls. 134/142, sustentando o não A decisão recorrida foi mantida em sede de juízo de retratação (fl. 143). provimento do recurso. A douta Procuradoria de Justiça, as fls. 180/183, pugna pelo não É o relatório. V O T O Cuida a hipótese de Queixa-Crime oferecida pelo Fluminense Football Club e seu Presidente, Peter Eduardo Siemsen, diante da prática, em tese, do crime de calúnia, positivada em notícia da lavra do Jornalista Renan Rodrigues, do portal de notícias UOL Universo Online, conforme parte de seu conteúdo que trago à colação. 3
Em recentes decisões da Terceira Seção do STJ, foi firmado o entendimento de que em relação aos supostos delitos contra a honra, praticados por meio de reportagens veiculadas pela internet, deve-se fixar a competência da eventual persecução penal, no local onde se encontra o responsável pela divulgação das reportagens, o qual possui autonomia no gerenciamento das informações disponibilizadas na rede mundial de computadores, tendo em vista que nesta localidade é que ocorreram as publicações vedadas pelos tipos penais em apreço. Em resumo: segundo o STJ, o local onde se encontra a sede do provedor do site é que definiria a competência. Entretanto, está não é a hipótese dos autos, visto que na própria matéria veiculada consta a informação de que ela é originária da sucursal carioca: UOL, no Rio de Janeiro. Registra-se, ainda, que o referido Jornalista possui endereço conhecido na cidade do Rio de Janeiro (fl. 18), sendo que já restou intimado pessoalmente no local (fl. 32), motivo pelo qual deve ser aplicada a regra prevista no artigo 73, do Código de Processo Penal, que assim dispõe: Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. Os recorrentes - agremiação Fluminense Football Club e seu presidente Peter Eduardo Siemsen - possuem a faculdade legal de optar pelo foro do domicílio e residência do querelado, afastando-se a ficção jurídica da consumação da infração no local do servidor do portal de notícias. Com efeito, a tese defendida pelo querelado, sustentando que o local onde se hospeda o servidor do veículo de comunicação deve ser considerado o lugar de cometimento do delito, consiste em ficção jurídica somente aplicável quando se desconhece em absoluto a proveniência do texto impugnado. 4
A se prestigiar tal ficção sempre, bastaria que um jornalista se acobertasse sob veículos de comunicação alienígenas, mediante o uso de servidores instalados no estrangeiro para ser agraciado com certa imunidade pelas suas palavras, já que o ofendido haveria de propor a ação no estrangeiro onde se localizar o provedor. Por esta e outras é que entendo pela competência desta Comarca. Isto posto, voto pelo provimento do recurso para fixar a competência do foro da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro para julgar a queixa-crime em referência. Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2014. MÔNICA TOLLEDO DE OLIVEIRA DESEMBARGADORA 5