Capítulo 38. Queimaduras. Capítulo 38. Queimaduras 1. OBJETIVOS

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Transcrição:

Capítulo 38 Queimaduras 1. OBJETIVOS No final da sessão os formandos deverão ser capazes de: Listar e descrever os mecanismos de lesão e agentes mais frequentemente responsáveis por queimaduras. Listar e descrever as medidas de proteção da equipa, vítima e outros intervenientes. Listar e descrever a importância e os passos da avaliação da vítima. Descrever a importância da oxigenação da vítima queimada. Caracterizar a profundidade de uma queimadura. Caracterizar a extensão de uma queimadura utilizando a Regra dos Nove. Descrever as diferenças de aplicação da Regra dos Nove nos adultos e crianças. Caracterizar a gravidade de uma queimadura. Listar e descrever os objetivos do manuseamento da vítima queimada recorrendo a equipamento e materiais esterilizados. 1

2. INTRODUÇÃO As queimaduras são lesões da pele e/ou tecidos subjacentes, resultantes do contacto com o calor, substâncias químicas, eletricidade e radiações. As queimaduras constituem um dos acidentes mais frequentes, ocorrendo em variadíssimas circunstâncias e em todas as idades. A maioria consiste em pequenas lesões que decorrem sem grandes complicações. Contudo, algumas podem ser fatais ou potencialmente fatais, pelo que exigem um tratamento deve ser correto e o mais precoce possível, pois dele depende não só o resultado funcional e estético como também a sobrevivência. A atuação pré-hospitalar consiste resumidamente em arrefecer a queimadura, administrar oxigénio, prevenir a infeção, evitar a hipotermia. Sempre que existirem os meios humanos e materiais para se proceder ao suporte avançado de vida, proceder igualmente à reposição da volémia e controlo da dor. 3. CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS As queimaduras podem classificar-se de várias formas. Assim podem ser classificadas quanto: A causa. A extensão. A profundidade. Gravidade 3.1. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À CAUSA Queimaduras térmicas: aquelas que são provocadas por ação do calor ou frio. Podemos incluir as provocadas por fogo, sol, gelo, líquido fervente, etc. Queimaduras elétricas: A eletricidade consiste num movimento orientado de eletrões, ou seja um movimento de um ponto para outro de partículas carregadas de energia. Essas partículas provocam queimaduras quando em contacto com os tecidos humanos. Nas queimaduras elétricas e uma vez que a eletricidade é um movimento orientado, é importante ter presente que existe sempre uma porta de entrada (ponto de contacto com o corpo), um trajeto e uma porta de saída (local de saída da carga elétrica do organismo). As queimaduras elétricas podem ainda interferir com o normal funcionamento do sistema nervoso provocando paragem respiratória ou interferir como ritmo elétrico do coração com consequente paragem cardíaca. As fraturas ósseas também são frequentes pois as cargas elétricas podem provocar uma contração muscular para além da resistência do osso. 2

A identificação do local de entrada da corrente no organismo (porta de entrada) e do local de saída (porta de saída) permitem imaginar o seu trajeto e suspeitar de outras lesões associadas como alteração do ritmo elétrico do coração por exemplo, pelo que constitui também um aspeto importante. As queimaduras elétricas devem ser analisadas de acordo com a causa que as provocou, assim temos: Queimaduras de contacto (eletrocussão) À observação deteta-se habitualmente um ponto de entrada e um ponto de saída da eletricidade, sem outras lesões visíveis. Neste caso, há que suspeitar da existência de lesões ocultas (internas) as quais podem atingir vários níveis de gravidade. A passagem da corrente pelo corpo humano, pode ter provocado queimaduras internas, nomeadamente alterações do ritmo da ventilação, do rimo cardíaco e da função renal. Nas situações mais graves, pode mesmo provocar a morte por paragem respiratória ou cardíaca. Queimaduras por flash elétrico ou arco voltaico Em volta dos locais com alta voltagem existe um campo magnético capaz de exercer uma atração sobre o indivíduo provocando-lhe lesões pela passagem de corrente através desse mesmo campo. Após essa passagem de corrente surge frequentemente projeção do corpo a grande distância o que origina outras lesões associadas do foro traumático. Queimaduras por descarga direta São queimaduras provocadas pela descarga elétrica diretamente sobre a roupa ou ambiente circundante ao indivíduo, descarga que assume a forma de chama. A vítima de eletrocussão pode apresentar os seguintes sinais e sintomas: Obstrução parcial ou total das vias aéreas, por contractura muscular ou queda da língua; Paralisia dos membros, por lesão do sistema nervoso ou de origem traumática; Queimaduras locais, ao nível da porta de entrada e saída da eletricidade; Convulsões, originadas normalmente por alterações elétricas no cérebro ou por traumatismo crânioencefálico; Dificuldade respiratória; Alteração do ritmo cardíaco; Podem ainda surgir: paragem cardíaca ou respiratória, inconsciência, alteração da visão, lesões da coluna e fraturas (quer por excessiva contração muscular provocada pela descarga elétrica, quer pela projeção da vítima à distância); Queimaduras químicas. São as queimaduras provocadas por ação dos ácidos e bases. Mais comuns na indústria ou no domicílio devido à presença de muitas substâncias potencialmente capazes de provocar lesão nos tecidos do organismo. Queimaduras por radiação: São as lesões provocadas por ação das radiações sendo as mais comuns os Raios X e as Radiações Nucleares. 3

Manual de Tripulante de Ambulância de Socorro 3.2. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À EXTENSÃO Quanto maior for a área queimada, maior será a sua gravidade. A pele representa a principal barreira contra todos os agentes agressores do meio em que vivemos. Assim, quanto maior for a área de pele queimada, mais vulnerável fica a vitima, particularmente, às infeções. De facto, as infeções são a principal causa de mortalidade nos grandes queimados. Um outro aspeto importante prende-se com as grandes perdas de líquidos através das zonas queimadas, proporcionais à área atingida. Pelos motivos apontados, a determinação da área queimada é extremamente importante. Para determinar a extensão da superfície corporal queimada, a regra utilizada é a denominada Regra dos Nove. A aplicação desta regra difere nos Adultos (Fig. 38.1), crianças (Fig. 38.2) e no adulto (Fig.38.3). Enquanto a cabeça do adulto equivale a cerca de 9 % da área total corporal, na criança com 1 ano de idade equivale a 18 % e na criança de 5 anos a 14 %. Difere também nos membros inferiores, na medida em que cada membro do adulto representa cerca de 18 % da área corporal total, na criança com 1 ano 14 % e na criança com 5 anos 16 %. Fig. 38.2. Aplicação da Regra dos Nove em crianças Fig. 38.1. Aplicação da Regra dos nove ao adulto. Fig. 38.3. Aplicação da Regra dos Nove em bebés. 4

3.3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO Á PROFUNDIDADE A classificação das queimaduras quanto à profundidade faz-se por graus. Assim temos: 1º Grau São as menos graves pois envolvem apenas a epiderme (superfície exterior da pele). A pele fica vermelha, quente, sensível e dolorosa (Fig. 38.4). Fig. 38.4. Queimadura do 1º grau. 2º Grau. Envolve a primeira e segunda camadas da pele, respetivamente a epiderme e a derme. Localmente é possível visualizar pequenas bolhas com líquido flitenas situadas à superfície da pele e que resultam da tentativa do organismo para proteger e arrefecer a área queimada (Fig. 38.5). Fig. 38.5. Queimaduras do 2º grau. 3º Grau. Existe destruição de toda a espessura da pele (epiderme e derme) e dos tecidos subjacentes. A pele apresenta-se acastanhada ou negra se tiver sido causada por calor seco ou, pode ficar esbranquiçada se produzida por calor húmido. Estas queimaduras não são dolorosas devido a destruição das terminações nervosas sensitivas (Fig. 38.6) Fig. 38.6. Queimaduras de 3º grau. 5

3.4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À GRAVIDADE Esta classificação serve para nos indicar o potencial de risco que a queimadura pode trazer para a vítima. Nesta classificação para além de termos de saber qual a causa, qual a profundidade e qual a área atingida, temos de saber também qual o local atingido e qual a idade da vítima pois, é da conjugação dos três primeiros com estes dois últimos que podemos estabelecer um prognóstico da evolução da situação no sentido de estarmos despertos para o perigo de vida que aquela queimadura representa. Assim temos de ter presente que: As queimaduras das vias aéreas são sempre mais perigosas pois podem significar destruição do aparelho respiratório ou de parte dele. É sempre de suspeitar quando existem queimaduras da face, sobretudo à roda da boca. Geralmente, a vítima tosse expelindo partículas de carvão e sangue, e tem dificuldade respiratória devido ao edema da laringe, podendo ainda apresentar bolhas (flitenas) nos lábios e narinas. As queimaduras das mãos e pés, ou a nível de qualquer articulação são também mais complicadas pois podem conduzir a uma perda dos movimentos. As queimaduras associadas a feridas ou fraturas são sempre mais difíceis de resolver, quer a própria queimadura, quer a fratura ou a ferida. As queimaduras dos órgãos genitais constituem sempre uma situação grave. A idade da vítima é importante, uma vez que a recuperação de idosos e crianças é muito mais difícil. As queimaduras ditas circulares, ou seja as queimaduras de 2º ou 3º grau que se distribuam num círculo parcial ou total em torno de áreas como o tórax, pescoço, abdómen ou mesmo membros podem levar ao compromisso das estruturas localizadas nessa área devido à retração que originam; como por exemplo uma queimadura circular no tórax pode dar origem a insuficiência respiratória progressiva pela limitação que causa à expansão torácica. Baseados nestes princípios e na classificação anteriormente mencionada, temos queimaduras com diferentes graus de gravidade: Queimaduras Ligeiras ou Minor: Queimaduras do 2º grau, que envolvam menos de 15% da superfície corporal; Queimaduras do 3º Grau que envolvam menos de 2% da superfície corporal. Queimaduras Moderadas: Queimaduras do 2º grau, que envolvam 15 a 25% da superfície corporal; Queimaduras do 3º grau, que envolvam de 2 a 10% da superfície corporal 6

Queimaduras Graves ou Críticas Queimaduras do 2º grau, que envolvam mais de 25% da superfície corporal; Queimaduras do 3º grau, que envolvam mais de 10% da superfície corporal; Queimaduras de 2º ou 3º grau que envolvam as vias aéreas; Queimaduras de 2º ou 3º grau complicadas de fratura ou lesões dos tecidos moles; Queimaduras de 2º ou 3º grau que envolvam a face, períneo, mãos e pés; Queimaduras de 2º ou 3º grau que envolvam as articulações; Queimaduras de 2º ou 3º Grau de origem elétrica ou química; Queimaduras de 2º ou 3º Grau em doentes com patologia importante tal como Diabetes Mellitus, ou Doença Cardíaca; Queimaduras de 2º ou 3º Grau em crianças e idosos; Queimaduras circulares de 2º e 3º grau. 4. ATUAÇÃO O primeiro passo na atuação é o afastamento do agente que provoca a queimadura ou em alternativa da vítima relativamente ao agente. No caso de fogo, a vítima deve ser deitada de modo a diminuir a inalação de fumos. As chamas devem ser rapidamente extintas com um cobertor, com água (se disponível) ou soro. Nas queimaduras químicas, a medida inicial consiste em remover a roupa contaminada, limpar a pele com compressas secas e irrigar com grandes quantidades de água ou soro. A limpeza inicial com compressas é importante se o agente for em pó (exemplo: cal) ou insolúvel em água (exemplo: fenol). A lavagem pode durar, se possível, pelo menos 30 minutos e prosseguir mesmo durante o transporte até o hospital. A queimadura com ácido fluorídrico constitui exceção: a lavagem deve durar 5 a 10 minutos e a vítima rapidamente evacuada para o hospital para tratamento específico. De um modo geral, a neutralização química (utilização de um ácido para neutralizar uma base ou vice-versa) provoca uma reação em que se produz calor pelo que não deve ser realizada. A atitude correta é diluir o químico, mesmo quando este reage com água. Nas queimaduras elétricas, é necessário desligar a corrente elétrica e só depois observar a vítima. Nos acidentes com corrente de alta tensão, não se deve aproximar da vitima sem indicação do pessoal especializado no assunto (companhia da eletricidade, etc.) dado o risco de se provocar um arco voltaico, isto é a progressão da corrente elétrica pela atmosfera através de um campo magnético que existe em volta dos cabos ou terminais de alta tensão. 7

Controladas que estão as condições de segurança devemos partir para uma abordagem segundo o Exame da Vítima. Assim os cuidados a prestar a uma vítima de queimadura serão: Intervir sempre em função da AVALIAÇÂO PRIMÀRIA: ABCDE; Abordar a vítima, imobilizando a cabeça desta na posição neutra e assumir sempre a coexistência de TCE/TVM; Deve ser colocado um colar cervical em todos os queimados envolvidos em explosões e acidentes com desaceleração/projeção; Assegurar a permeabilidade da via aérea: As vítimas com queimaduras das vias aéreas ou com traumatismo da face, pescoço, ou tórax devem ser identificadas imediatamente, uma vez que podem necessitar de manobras de ventilação assistida. A inalação de vapor e gases quentes provoca edema da via aérea superior, que pode evoluir rapidamente para obstrução. Rouquidão progressiva é um sinal de obstrução iminente, pelo que deve redobrar a atenção e estar pronto a iniciar manobras de suporte básico de vida, quando depara com esta situação; Suspeitar que existe queimadura da via aérea quando: História de queimadura em espaço fechado; História de inalação de vapores; História de perda de conhecimento, eventualmente provocada por má oxigenação do cérebro; Queimadura da face; Queimadura dos pelos nasais; Queimadura da língua, lábios e cavidade oral; Respiração ruidosa, rouquidão ou tosse; Expetoração que apresente cinzas ou carvão; Administrar oxigénio: Garantir oximetria 95% (se grávida 97%; se DPOC entre 88-92%); 10 L/min; Se necessário, assistir a ventilação; Avaliar e registar sinais vitais; Despistar sinais de choque; Recolher o máximo de informação sobre o mecanismo do trauma e sobre a vítima recorrendo à nomenclatura CHAMU; Efetuar a observação sistematizada de modo a detetar eventuais lesões associadas; Não dar nada a beber; Manter a temperatura corporal; Durante a exposição, observação sistematizada e transporte da vítima devemos precaver o risco de hipotermia; Perante uma vítima queimada, e após parar o processo de queimadura, esta deve ser transportada sobre um lençol de queimados ou esterilizado e coberto com outro lençol semelhante; 8

Nas queimaduras não deve remover a roupa que se encontra aderente, de forma a não agravar as lesões; Nas queimaduras elétricas deve sempre pesquisar a porta de entrada, a porta de saída e estar atento para as lesões ocultas no trajeto entre as duas portas; Após a irrigação, para parar o processo de queimadura, as áreas queimadas devem ser cobertas com compressas humedecidas em Soro Fisiológico se a área corporal queimada for inferior a 10%. Se a área corporal queimada for superior a 10% cobrir queimaduras com compressas secas ou lençol esterilizado; É de extrema importância utilizar material esterilizado e cuidados rigorosos de modo a evitar a infeção uma vez que o risco é elevado pois a pele constitui uma importante barreira protetora aos microrganismos; Irrigar as áreas queimadas com grande quantidade de Soro Fisiológico ou água de forma a aliviar a dor e evitar o agravamento da queimadura em profundidade (no caso de queimaduras de 2º ou 3º grau com menos de 10% de área corporal, acima disto existe o risco de provocar hipotermia, algo não desejável). O arrefecimento precoce reduz a progressão da queimadura em profundidade e diminui a dor. Faz-se através de lavagem abundante com soro fisiológico ou água. É necessário cautela para evitar a hipotermia que se pode instalar rapidamente. O gelo pode agravar a lesão cutânea pelo que não deve ser utilizado; Nas queimaduras químicas, o tempo de lavagem é variável. Nas queimaduras por bases fortes, a lavagem pode prolongar-se por horas. No caso das queimaduras oculares, o tempo mínimo de lavagem recomendado é de 30 minutos. 9